Dai de graça o que de graça recebeste

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(Public Domain Pictures) (Reprodução)

GRATUIDADE DO BEM

“Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curais os leprosos,
expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis
recebido.”Mateus, (cap. X, v. 8)

Em análise pela psicologia profunda, o texto de Jesus impõe reflexões graves, convidando o servidor do Bem à ação sem descanso, após a decodificação do seu enunciado. Para que a saúde seja restituída aos enfermos torna se necessária a radical transformação moral, porquanto do Espírito procedem todas as manifestações orgânicas, emocionais e psíquicas. Aquele que empreende a tarefa de ajudar no processo da saúde, trabalha os painéis do ser, auxiliando-o a recuperar o equilíbrio interno e o refazimento de conduta, mediante cujos comportamentos adquire harmonia perante as Leis soberanas da Vida.

Por isso, Jesus se refere à possibilidade de ressuscitar os mortos, despertando todos aqueles que se cadaverizam no erro, havendo perdido contato com a existência, por estarem mergulhados nas sombras da ignorância e da criminalidade, onde exaurem as forças vitais e entram em decomposição moral… Por outro lado, pode-se entender também aqueles que foram vítimasda morte aparente pela letargia ou catalepsia, à Sua época consideradas como término da existência física. A morte real do tronco encefálico deixa de funcionar, dando início a desencarnação, cujo processo pode prolongar-se por tempo que corresponda ao estado evolutivo e de apego ou não do Espírito ao corpo.

Ocorrendo esse fenômeno biológico, não mais é possível retorno do Espírito àquele corpo carnal, porque violentaria as próprias leis que regem a vida nas suas mais variadas expressões. Por outro lado, face à dificuldade de diagnóstico em torno das dermatoses muito comuns em todas as épocas, muitas delas foram sempre confundidas com hanseníase, cuja recuperação exige todo um processo de reorganização celular e eliminação do bacilo que lhe produz a degenerescência.

Igualmente, adaptando-se a linguagem do Mestre à atualidade psicológica, teremos nos demônios os Espíritos ignorantes e perversos, aqueles que são responsáveis pelos transtornos emocionais e psíquicos, bem como os fisiológicos de quantos lhes padecem a instância morbífica, infelicitadora. Falando a pessoas mergulhadas em sombra densa, fazia-se necessária a utilização de linguagem correspondente ao entendimento, através do qual permanecessem as lições inconfundíveis do Psicoterapeuta por excelência, vencendo os tempo e sendo atuais em todas as diferentes épocas do pensamento.

Não obstante, para que todos esses processos de recuperação se fizessem factíveis, uma condição tornava-se necessária: Dar de graça o que de graça se havia recebido. Desta forma a faculdade espiritual encarregada de produzir resultados saudáveis obedece à ética da dignidade que confere à energia curadora as ondas benéficas que podem propiciar o retorno do bem-estar, do equilíbrio, do refazimento.

Médiuns são todas as criaturas, em diferentes grau porque todas possuem recursos que facultam o registro do psiquismo daqueles com os quais convive no corpo, como daqueloutros que já transpuseram a barreira carnal e se encontram despojados da matéria. Naturalmente, destacam-se as pessoas que a possuem mais ostensivamente, produzindo fenômenos vigorosos que não podem ser confundidos com manifestações do inconsciente, nos seus vários aspectos, nem tampouco com o acaso, em razão de repetirem-se amiúde.

Os Apóstolos igualmente eram portadores de mediunidade, como o demonstraram por diversas vezes, particularmente no dia de Pentecostes, quando foram alvo da admirável xenoglossia, comunicando-se com os presentes nos respectivos idiomas que lhes eram familiares, assim demonstrando a interferência do Espírito sobre a matéria e advertindo para os chegados tempos da imortalidade em triunfo. Mais tarde, e durante toda a existência, exerceram-na com grandiosidade e abnegação, deixando rastros luminosos por onde passaram, graças a cuja conduta arrebanharam multidões para o Evangelho nascente.

Renunciando a qualquer interesse pessoal, demonstravam a qualidade da Boa Nova, convocando necessitados de luz para que participassem do banquete espiritual que lhes estava sendo oferecido. Fortemente vinculados a Jesus, nEle hauriam as energias necessárias para os cometimentos das curas físicas, psíquicas e principalmente morais, conduzindo todos quantos se beneficiavam ao encontro do Si, libertando-se do ego perturbador e iluminando o lado sombra, que antes neles predominava.

A autêntica doação, firmada no desinteresse pessoal, constituía-lhes o sinal de união com Deus, a demonstração de que trabalhavam para o êxito do Bem no mundo ante a certeza dos resultados da ação após a disjunção molecular. Os Espíritos Nobres, que os assessoravam, jamais aceitariam o nefando comércio monetário ou de benefícios materiais em favor dos que neles confiassem, beneficiando-se antes que servindo, aproveitando-se das faculdades mediúnicas para a lamentável intercâmbio de valores terrenos, que atraem os incautos e fazem sucumbir os ambiciosos que se perdem nas lutas infrutíferas dos triunfos do mundo..

Para viverem, trabalhavam, porque não desejavam ser pesados na economia social da comunidade, nem aproveitar-se para explorar aqueles que os amavam e neles se alimentavam espiritualmente, dando as lições mais eloquentes de grandeza moral e de verdadeira fraternidade, que a ninguém explora ou submete aos caprichos perniciosos da transitoriedade carnal.

Ainda hoje assim deve ser a conduta de todos quantos anelam pela Realidade, mergulhando no mundo íntimo em busca da legitimação dos seus valores espirituais. A mediunidade é conquista moral e espiritual que jamais privilegia sem que haja uma retaguarda de esforço pessoal e de realização dignificadora. Os perigos a que se expõem aquele que a exerce, constituem-lhe o grande desafio a fim de que possa ascender, superando-os a pouco e pouco, enquanto sublima os sentimentos e corrige as anfractualidades morais, trabalhando as aspirações íntimas que se devem elevar, facultando-lhe real felicidade e alegria de servir.

Quem realmente se dedica ao Bem e o faz com gratuidade, experimenta incomparável júbilo, que se expressa mediante a felicidade de poder doar ao invés de receber, ajudar antes que ser beneficiado… Ricos, portanto, dos tesouros da bondade e da abnegação, esses obreiros da solidariedade, através da mediunidade ampliam os horizontes da vida além da tumba, trazendo de volta ao convívio humano aqueles que se acreditam haver morrido, mas que estuam de alegria ou sofrem as consequências dos atos a que se entregaram.

Se infelizes, encontram-se, não obstante, amparados pela esperança do refazimento e da conquista de outros valores mais significativos do que aqueles a que se aferraram e os levaram ao naufrágio existencial. O ser real, perfeitamente sintonizado com as Fontes geradoras da vida, plenifica-se e engrandece-se, contribuindo de forma decisiva pela edificação da sociedade melhor, mais justa e mais ditosa do que a que tem vivenciado no processo de evolução no qual se encontra.

Harmonizado com o Bem, as forças morais geram energia curadora que altera a mitose celular, agindo nos fulcros do perispírito e recompondo-lhe a malha vibratória, a fim de que o organismo se beneficie e se refaça. Sintonizado com as Esferas superiores recebe as vibrações compatíveis com as necessidades dos pacientes e imprimem-nas nos seus fulcros energéticos, alterando o comportamento fisiológico que passa a ter novos dimensionamento e reorganização.

Concomitantemente, a renovação moral do enfermo faculta-lhe a fixação das energias saudáveis que irão trabalhar-lhe o ser, proporcionando-lhe bem-estar e paz. Por isso, jamais a mediunidade poderá transformar-se em profissão sob qualquer pretexto conforme se apresente. A Lei que vibra em toda parte é a do trabalho, da conquista do pão com o labor digno, pessoal, intransferível…

Exteriorizando harmonia moral e equilíbrio espiritual, os médiuns assim constituídos conseguem expulsar os Espíritos perversos que neles vêem verdadeiros exemplos de renovação, tornando-se-lhes modelos que podem ser seguidos, porque propiciam paz e felicidade; enquanto aquele que explora em nome da mediunidade, justificando-se ociosidade e oportunismo, atrai Entidades semelhantes que se lhe associam e passam a explorá-lo, vampirizando-o mais tarde sem qualquer complacência.

No seu severo discurso, igualmente rico de esperanças e consolo, Jesus adverte que concede a todos aqueles que O sigam sinceramente, os tesouros da transferência de saúde e paz, ressuscitando-os do túmulo da ignorância e do sono pesado a que se entregam, tornando-se fonte de luz, desde que o façam, cada um dando gratuitamente o que gratuitamente haja recebido.

Joanna de Ângelis

(Divaldo P.Franco/Joanna De Ângelis. “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”)

A alma dos animais

Public Domain Pictures (Reprodução)

Antes de entrarmos no mérito da questão, necessário se faz a conceituação da palavra alma, para que nosso pensamento seja claro e objetivo, embasado no bom-senso kardequiano, através da magistral “Introdução ao Estudo da Doutrina dos Espíritos”, inserida em “O Livro dos Espíritos”, onde no inciso II, explica o Codificador Espírita:

“Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica. Não tem existência própria e se aniquila com a vida: é o materialismo puro”.

Com esta conceituação de alma, poderíamos dizer que as plantas, os animais e os homens teriam alma, mas incorreríamos em erro, pois com essa opinião estaríamos fazendo da alma efeito e não causa. Outra opinião seria:

“Pensam outros que a alma é o princípio da inteligência universal do qual cada ser absorve uma certa porção”.

Com esta opinião, espiritualista panteísta, descartaríamos o materialismo, mas, não resolveríamos a questão, pois, seríamos como gotas no oceano, sem individualidade, sem consciência de nós mesmos, seríamos centelhas da grande alma universal. Apesar de diferir da opinião procedente por não confundir princípio vital com princípio espiritual, os profitentes desta crença não explicam, complicam, pois confundem o todo com as partes ou o contrário se preferirem.

E para finalizarmos vamos a terceira opinião:

“Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte”.

Sem dúvida esta é a opinião mais aceita e vai ao encontro das crenças instintivas, aceita na antiguidade e atestada por historiadores e antropólogos. Nem materialismo, nem panteísmo, mas espiritualismo, porque a alma deixa de ser efeito e passa a ser causa.

Daí conclui o Codificador:

“A fim de evitar todo equívoco, seria necessário restringir-se a acepção do termo alma a uma daqueles idéias. A escolha é indiferente;o que se faz mister é o entendimento, entre todos, reduzindo-se o problema a uma simples questão de convenção. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua acepção vulgar e por isso chamamos ALMA ao Ser imaterial, e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo”.

Diante do exposto podemos avaliar a questão, concluindo que o termo “alma”, é ambíguo, pois, não expõe uma opinião ou sistema, mas sim, um proteu, como expõe o Codificador espírita nas linhas claras e precisas do seu pensamento.

E para maior clareza da tese em questão, Allan Kardec, o Espírita por excelência, encerra este assunto polêmico com as palavras:

“Evitar-se-ia igualmente a confusão, embora usando-se do termo alma nos três, desde que se lhe acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se está colocado, ou a aplicação que se faz da palavra. Esta teria, então, um caráter genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o da inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo genérico as palavras hidrogênio, oxigênio, ou azoto. Poder-se-ia, assim, dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital – indicando o princípio da vida material; a alma intelectual – o princípio da inteligência, e a alma espírita – o da nossa, individualidade após a morte. Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e a alma espírita somente ao homem.”

Se as instruções dadas por Allan Kardec, fossem incorporadas no estudo metódico de todas instituições espíritas, questões como essa, não seriam motivo para discussões intermináveis dos detentores da palavra inflamada que incendeia os meios ditos espíritas, que valoriza o romance preterindo as obras básicas da Codificação em completo alienamento da Doutrina Espírita.

Mas, afinal, os animais tem alma?

Deixaremos a resposta em pauta, para os Espíritos superiores, que nas questões 597 e 598 de “O Livro dos Espíritos”, diante das perguntas de Kardec, advertem:

“Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?

– Há e que sobrevive ao corpo.

Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?

– É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.

Após, a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?

“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu Eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.”

Sem comentários, encerramos, esperando que o bom-senso kardequiano e a sabedoria dos Espíritos superiores, ilumine nossa casa mental, tocando os nossos corações, porque somos seres em evolução e o que realmente importa é o respeito a vida em todos os níveis.

Bernardino da Silva Moreira

(CORREIO FRATERNO DO ABC, Ano XXXIV, Nº 370, Novembro de 2001 e republicado no Nº 374, Março de 2002 apud Portal do Espírito)