Espírito e tempo


(Salvador Dalí. A persistência da memória, óleo sobre tela, 1931) (Reprodução)
 

Desde as origens da humanidade, o tempo, na forma de questionamentos sobre temporalidade, o passar do tempo ou o infinito incomodam o homem.

O tempo, conquanto estudado por amplas vertentes, não encontra conciliação entre filósofos, religiosos, cientistas ou literatos.

Para os sábios da antiguidade, o tempo poderia ser como uma roda ou como uma flecha.

A roda seria o tempo cíclico, rotativo, enquanto a flecha expressaria o tempo contínuo, progressivo.

Nas palavras de Heráclito, “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”, porque no banho seguinte não são iguais nem a pessoa, nem mesmo o rio.

Isaac Newton, em Principia, apresentava o tempo como absoluto, verdadeiro e matemático, que flui sempre igual por si mesmo e por sua natureza, sem relação com coisa externa.(1)

O tempo de Newton é uniforme, independente de objetos externos ao observador.

Já Kant afirma que o tempo é a forma real da intuição interna.(2)

Nestas especulações vemos duas vertentes distintas: o tempo matemático e uniforme em contraposição ao produto da intuição.

Inúmeras são as elaborações filosóficas, mas vamos nos deter nas considerações da doutrina espírita.

Allan Kardec nos aponta o caráter relativo da experiência do homem frente ao tempo:

“O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias.” (3)

Ernesto Bozzano, em “A Crise da Morte”, Duodécimo Caso, cita relato mediúnico de “Cartas de Blaire”:
“Apercebi-me, em seguida, de que já não tinha nenhuma ideia do tempo, não chegando a fazer um conceito exato do meu passado, do meu presente e do meu futuro. Com efeito, essas categorias do vosso tempo se me apresentavam à mente de maneira simultânea.”
Considera Bozzano que “na subconsciência humana, existem, em estado latente, maravilhosas faculdades supranormais, capazes de devassarem o passado, o presente e o futuro, sem nenhuma limitação de tempo, nem de espaço”. Concluindo, em seguida: “No mundo espiritual, a noção de tempo deixa de existir.” (4)

A interação do Espírito com o tempo se mostra diretamente relacionada à densidade material do orbe em que nos situamos. O agente que o elabora é a mente, centralizadora de fenômenos e de sensações.

“O tempo somente se torna realidade por causa da mente, que se apresenta como o sujeito, o observador, o Eu que se detém a considerar o objeto, o observado, o fenômeno.
Esse tempo indimensional é o real, o verdadeiro, existente em todas as épocas, mesmo antes do princípio e depois do fim.
Aquele que determina as ocorrências, que mede, estabelecendo metas e dimensões, é o relativo, o ilusório, que define fases e períodos denominados ontem, hoje e amanhã, através dos quais a vida se expressa nos círculos terrenos e na visão lógica – humana – do Universo.” (5)

Em nossa permanência no corpo físico, nos encontramos vinculados a sensações, propriedades e restrições inerentes à dimensão material. No mundo terreno, a ciência já observou e postulou inúmeras propriedades, que perscrutaram desde o íntimo do átomo ao esplendor das estrelas que vagam no infinito.
Tempo é um padrão usado em nosso mundo para marcar a alternância de estações, períodos de plantio e colheita etc. Na espiritualidade não vigora nosso paradigma temporal, mas relações específicas de um plano etéreo e distituído de matéria bruta como a que experimentamos.

O entendimento do tempo pauta-se pela imprecisão de nossas sensações, sendo fator de incômodo enquanto encarnados, e também de perda das referências terrenas durante a erraticidade.

Notas:

1-WHITROW, G.J. O tempo na história. Rio de Janeiro: Zahar, 1993, p.147.

2-FIGUEIREDO, Vinicius Berlendis. Kant e a crítica da razão pura. Rio de Janeiro: Zahar, 2ª ed., 2010, p.30.
3-KARDEC, Allan. A Gênese, cap. 6, it.2.
4-BOZZANO, Ernesto. A crise da morte.
5-FRANCO, Divaldo Pereira. Impermanência e imortalidade. Rio de Janeiro: FEB, “Tempo, mente e ação”, 2005.

Precisamos entender a umbanda

(Wikipedia) (Reprodução)

NOTA: Atendendo aos alunos do Curso de Doutrina, trago este texto, trecho de tese de psicologia, abordando a umbanda.

A umbanda, religião nascida em solo brasileiro, é marcada pelo sincretismo oriundo de matrizes religiosas européias (catolicismo popular e kardecismo), africanas (crenças e rituais trazidos pelos escravos da África) e ameríndias (cultos e crenças dos índios nativos do Brasil). Contemporaneamente, podemos constatar a inserção de elementos religiosos orientais em alguns terreiros, como os do hinduismo e budismo, e de movimentos espiritualistas da “nova era”, o que demonstra a fluidez e permeabilidade desta religião em sua constituição e constante reformulação. Tradicionalmente, há a predominância dos três eixos religiosos citados acima, os quais dão a marca característica dos terreiros com os quais se trabalha nesta pesquisa.

Outra importante característica da umbanda é que esta se constitui como uma prática religiosa que estrutura vínculos entre a vida terrena e o “mundo espiritual” . Toda estrutura do culto, que é chamado de “gira” pelos praticantes, os rituais inicíaticos e o desenvolvimento dos médiuns, é organizada em função da crença na possibilidade de atuação das entidades espirituais no plano terreno, a partir da incorporação, destas, pelos médiuns. Com isto acreditam que médiuns e entidades poderão, por um lado fornecer ajuda àqueles que os procuram, e, por outro se beneficiarem desta prática para sua evolução no plano espiritual. Esta crença, a da incessante meta da evolução espiritual, é o eixo fundamental do sentido da vida para esta religião.

Em consonância com estas crenças, os consulentes procuram os guias e entidades devido a problemas cotidianos como: a busca de emprego, a resolução para problemas financeiros, amorosos, doença, ajuda para se livrar ou livrar alguém do uso de drogas, bebida, vão em busca de conselhos, de uma palavra de conforto em momentos de dificuldades, em busca de obter respostas para as crises existenciais sobre a morte, para saber de parentes que já se foram, como e onde estão. Assim alicerçados na esperança e na crença de que os médiuns têm o poder de promover a re-ligação entre o plano terrestre e o espiritual, onde tudo se sabe e onde há sempre a possibilidade de se obter ajuda e repostas.

Para além destes aspectos a umbanda também organiza e reflete relações sociais e as condições de existência de seus praticantes, tornando-se extremamente importante na formação da identidade destes, sendo um fator de preservação cultural e social das suas comunidades.

Fenômenos como a incorporação, o transe, as previsões feitas por médiuns videntes e entidades, os sonhos, os devaneios, visões, práticas como o benzimento, as rezas, as manipulações de objetos da natureza, os trabalhos efetuados para os orixás e entidades, ganham importância fundamental no exercício efetivo da religião e na própria manutenção de sua existência.

Fábio Ricardo Leme

(LEME, F. R. Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista. 164 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. )

OBSERVAÇÕES DESTE BLOG:

1-Cabe reflexão sobre a organização dos trabalhos, os temas de consultas, os eixos religiosos fundadores, a organização dos rituais e a estrutura hierárquica peculiar aos umbandistas.

2-Diferentemente de uma casa espírita assentada na Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, a umbanda adota as “giras” ou rituais, diferenciados quanto a dia, proposta e grupo de entidades atuantes, que seguem categorias próprias entre umbandistas e sem correspondentes no Espiritismo.

3-A estrutura do ritual de umbanda, com seu colorido, danças, comidas e aparatos, refere-se a suas raízes, que guardam histórico de saber popular e de legado de diversas fontes culturais, mas não representa o tipo de atividade mediúnica que se exerce em uma casa espírita kardecista, a qual dispensa paramentos, cantorias, adereços, curimbás, o contexto das “giras”, defumações, oferendas, trabalhos ritualísticos, festas de santos e as chamadas obrigações.

4-E cabe ainda citar:

“Há os que confundem o Espiritismo com práticas de umbanda, quimbanda e candomblé, por total ignorância, pois não tiveram oportunidade de tomar conhecimento da absoluta diferença. Mas, há, também, os que sabem dessa diferença; porém, levados pelo radicalismo e pela intolerância, insistem em pregar a vinculação.” (Alamar Régis Carvalho,  “Sob a Ótica Espírita” apud Carlos Eduardo Parchen, internet: http://www.carlosparchen.net/oquee291005.html)

Dai de graça o que de graça recebeste

summer-day-1362416318qCN

(Public Domain Pictures) (Reprodução)

GRATUIDADE DO BEM

“Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curais os leprosos,
expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis
recebido.”Mateus, (cap. X, v. 8)

Em análise pela psicologia profunda, o texto de Jesus impõe reflexões graves, convidando o servidor do Bem à ação sem descanso, após a decodificação do seu enunciado. Para que a saúde seja restituída aos enfermos torna se necessária a radical transformação moral, porquanto do Espírito procedem todas as manifestações orgânicas, emocionais e psíquicas. Aquele que empreende a tarefa de ajudar no processo da saúde, trabalha os painéis do ser, auxiliando-o a recuperar o equilíbrio interno e o refazimento de conduta, mediante cujos comportamentos adquire harmonia perante as Leis soberanas da Vida.

Por isso, Jesus se refere à possibilidade de ressuscitar os mortos, despertando todos aqueles que se cadaverizam no erro, havendo perdido contato com a existência, por estarem mergulhados nas sombras da ignorância e da criminalidade, onde exaurem as forças vitais e entram em decomposição moral… Por outro lado, pode-se entender também aqueles que foram vítimasda morte aparente pela letargia ou catalepsia, à Sua época consideradas como término da existência física. A morte real do tronco encefálico deixa de funcionar, dando início a desencarnação, cujo processo pode prolongar-se por tempo que corresponda ao estado evolutivo e de apego ou não do Espírito ao corpo.

Ocorrendo esse fenômeno biológico, não mais é possível retorno do Espírito àquele corpo carnal, porque violentaria as próprias leis que regem a vida nas suas mais variadas expressões. Por outro lado, face à dificuldade de diagnóstico em torno das dermatoses muito comuns em todas as épocas, muitas delas foram sempre confundidas com hanseníase, cuja recuperação exige todo um processo de reorganização celular e eliminação do bacilo que lhe produz a degenerescência.

Igualmente, adaptando-se a linguagem do Mestre à atualidade psicológica, teremos nos demônios os Espíritos ignorantes e perversos, aqueles que são responsáveis pelos transtornos emocionais e psíquicos, bem como os fisiológicos de quantos lhes padecem a instância morbífica, infelicitadora. Falando a pessoas mergulhadas em sombra densa, fazia-se necessária a utilização de linguagem correspondente ao entendimento, através do qual permanecessem as lições inconfundíveis do Psicoterapeuta por excelência, vencendo os tempo e sendo atuais em todas as diferentes épocas do pensamento.

Não obstante, para que todos esses processos de recuperação se fizessem factíveis, uma condição tornava-se necessária: Dar de graça o que de graça se havia recebido. Desta forma a faculdade espiritual encarregada de produzir resultados saudáveis obedece à ética da dignidade que confere à energia curadora as ondas benéficas que podem propiciar o retorno do bem-estar, do equilíbrio, do refazimento.

Médiuns são todas as criaturas, em diferentes grau porque todas possuem recursos que facultam o registro do psiquismo daqueles com os quais convive no corpo, como daqueloutros que já transpuseram a barreira carnal e se encontram despojados da matéria. Naturalmente, destacam-se as pessoas que a possuem mais ostensivamente, produzindo fenômenos vigorosos que não podem ser confundidos com manifestações do inconsciente, nos seus vários aspectos, nem tampouco com o acaso, em razão de repetirem-se amiúde.

Os Apóstolos igualmente eram portadores de mediunidade, como o demonstraram por diversas vezes, particularmente no dia de Pentecostes, quando foram alvo da admirável xenoglossia, comunicando-se com os presentes nos respectivos idiomas que lhes eram familiares, assim demonstrando a interferência do Espírito sobre a matéria e advertindo para os chegados tempos da imortalidade em triunfo. Mais tarde, e durante toda a existência, exerceram-na com grandiosidade e abnegação, deixando rastros luminosos por onde passaram, graças a cuja conduta arrebanharam multidões para o Evangelho nascente.

Renunciando a qualquer interesse pessoal, demonstravam a qualidade da Boa Nova, convocando necessitados de luz para que participassem do banquete espiritual que lhes estava sendo oferecido. Fortemente vinculados a Jesus, nEle hauriam as energias necessárias para os cometimentos das curas físicas, psíquicas e principalmente morais, conduzindo todos quantos se beneficiavam ao encontro do Si, libertando-se do ego perturbador e iluminando o lado sombra, que antes neles predominava.

A autêntica doação, firmada no desinteresse pessoal, constituía-lhes o sinal de união com Deus, a demonstração de que trabalhavam para o êxito do Bem no mundo ante a certeza dos resultados da ação após a disjunção molecular. Os Espíritos Nobres, que os assessoravam, jamais aceitariam o nefando comércio monetário ou de benefícios materiais em favor dos que neles confiassem, beneficiando-se antes que servindo, aproveitando-se das faculdades mediúnicas para a lamentável intercâmbio de valores terrenos, que atraem os incautos e fazem sucumbir os ambiciosos que se perdem nas lutas infrutíferas dos triunfos do mundo..

Para viverem, trabalhavam, porque não desejavam ser pesados na economia social da comunidade, nem aproveitar-se para explorar aqueles que os amavam e neles se alimentavam espiritualmente, dando as lições mais eloquentes de grandeza moral e de verdadeira fraternidade, que a ninguém explora ou submete aos caprichos perniciosos da transitoriedade carnal.

Ainda hoje assim deve ser a conduta de todos quantos anelam pela Realidade, mergulhando no mundo íntimo em busca da legitimação dos seus valores espirituais. A mediunidade é conquista moral e espiritual que jamais privilegia sem que haja uma retaguarda de esforço pessoal e de realização dignificadora. Os perigos a que se expõem aquele que a exerce, constituem-lhe o grande desafio a fim de que possa ascender, superando-os a pouco e pouco, enquanto sublima os sentimentos e corrige as anfractualidades morais, trabalhando as aspirações íntimas que se devem elevar, facultando-lhe real felicidade e alegria de servir.

Quem realmente se dedica ao Bem e o faz com gratuidade, experimenta incomparável júbilo, que se expressa mediante a felicidade de poder doar ao invés de receber, ajudar antes que ser beneficiado… Ricos, portanto, dos tesouros da bondade e da abnegação, esses obreiros da solidariedade, através da mediunidade ampliam os horizontes da vida além da tumba, trazendo de volta ao convívio humano aqueles que se acreditam haver morrido, mas que estuam de alegria ou sofrem as consequências dos atos a que se entregaram.

Se infelizes, encontram-se, não obstante, amparados pela esperança do refazimento e da conquista de outros valores mais significativos do que aqueles a que se aferraram e os levaram ao naufrágio existencial. O ser real, perfeitamente sintonizado com as Fontes geradoras da vida, plenifica-se e engrandece-se, contribuindo de forma decisiva pela edificação da sociedade melhor, mais justa e mais ditosa do que a que tem vivenciado no processo de evolução no qual se encontra.

Harmonizado com o Bem, as forças morais geram energia curadora que altera a mitose celular, agindo nos fulcros do perispírito e recompondo-lhe a malha vibratória, a fim de que o organismo se beneficie e se refaça. Sintonizado com as Esferas superiores recebe as vibrações compatíveis com as necessidades dos pacientes e imprimem-nas nos seus fulcros energéticos, alterando o comportamento fisiológico que passa a ter novos dimensionamento e reorganização.

Concomitantemente, a renovação moral do enfermo faculta-lhe a fixação das energias saudáveis que irão trabalhar-lhe o ser, proporcionando-lhe bem-estar e paz. Por isso, jamais a mediunidade poderá transformar-se em profissão sob qualquer pretexto conforme se apresente. A Lei que vibra em toda parte é a do trabalho, da conquista do pão com o labor digno, pessoal, intransferível…

Exteriorizando harmonia moral e equilíbrio espiritual, os médiuns assim constituídos conseguem expulsar os Espíritos perversos que neles vêem verdadeiros exemplos de renovação, tornando-se-lhes modelos que podem ser seguidos, porque propiciam paz e felicidade; enquanto aquele que explora em nome da mediunidade, justificando-se ociosidade e oportunismo, atrai Entidades semelhantes que se lhe associam e passam a explorá-lo, vampirizando-o mais tarde sem qualquer complacência.

No seu severo discurso, igualmente rico de esperanças e consolo, Jesus adverte que concede a todos aqueles que O sigam sinceramente, os tesouros da transferência de saúde e paz, ressuscitando-os do túmulo da ignorância e do sono pesado a que se entregam, tornando-se fonte de luz, desde que o façam, cada um dando gratuitamente o que gratuitamente haja recebido.

Joanna de Ângelis

(Divaldo P.Franco/Joanna De Ângelis. “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”)

A alma dos animais

Public Domain Pictures (Reprodução)

Antes de entrarmos no mérito da questão, necessário se faz a conceituação da palavra alma, para que nosso pensamento seja claro e objetivo, embasado no bom-senso kardequiano, através da magistral “Introdução ao Estudo da Doutrina dos Espíritos”, inserida em “O Livro dos Espíritos”, onde no inciso II, explica o Codificador Espírita:

“Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica. Não tem existência própria e se aniquila com a vida: é o materialismo puro”.

Com esta conceituação de alma, poderíamos dizer que as plantas, os animais e os homens teriam alma, mas incorreríamos em erro, pois com essa opinião estaríamos fazendo da alma efeito e não causa. Outra opinião seria:

“Pensam outros que a alma é o princípio da inteligência universal do qual cada ser absorve uma certa porção”.

Com esta opinião, espiritualista panteísta, descartaríamos o materialismo, mas, não resolveríamos a questão, pois, seríamos como gotas no oceano, sem individualidade, sem consciência de nós mesmos, seríamos centelhas da grande alma universal. Apesar de diferir da opinião procedente por não confundir princípio vital com princípio espiritual, os profitentes desta crença não explicam, complicam, pois confundem o todo com as partes ou o contrário se preferirem.

E para finalizarmos vamos a terceira opinião:

“Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte”.

Sem dúvida esta é a opinião mais aceita e vai ao encontro das crenças instintivas, aceita na antiguidade e atestada por historiadores e antropólogos. Nem materialismo, nem panteísmo, mas espiritualismo, porque a alma deixa de ser efeito e passa a ser causa.

Daí conclui o Codificador:

“A fim de evitar todo equívoco, seria necessário restringir-se a acepção do termo alma a uma daqueles idéias. A escolha é indiferente;o que se faz mister é o entendimento, entre todos, reduzindo-se o problema a uma simples questão de convenção. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua acepção vulgar e por isso chamamos ALMA ao Ser imaterial, e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo”.

Diante do exposto podemos avaliar a questão, concluindo que o termo “alma”, é ambíguo, pois, não expõe uma opinião ou sistema, mas sim, um proteu, como expõe o Codificador espírita nas linhas claras e precisas do seu pensamento.

E para maior clareza da tese em questão, Allan Kardec, o Espírita por excelência, encerra este assunto polêmico com as palavras:

“Evitar-se-ia igualmente a confusão, embora usando-se do termo alma nos três, desde que se lhe acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se está colocado, ou a aplicação que se faz da palavra. Esta teria, então, um caráter genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o da inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo genérico as palavras hidrogênio, oxigênio, ou azoto. Poder-se-ia, assim, dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital – indicando o princípio da vida material; a alma intelectual – o princípio da inteligência, e a alma espírita – o da nossa, individualidade após a morte. Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e a alma espírita somente ao homem.”

Se as instruções dadas por Allan Kardec, fossem incorporadas no estudo metódico de todas instituições espíritas, questões como essa, não seriam motivo para discussões intermináveis dos detentores da palavra inflamada que incendeia os meios ditos espíritas, que valoriza o romance preterindo as obras básicas da Codificação em completo alienamento da Doutrina Espírita.

Mas, afinal, os animais tem alma?

Deixaremos a resposta em pauta, para os Espíritos superiores, que nas questões 597 e 598 de “O Livro dos Espíritos”, diante das perguntas de Kardec, advertem:

“Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?

– Há e que sobrevive ao corpo.

Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?

– É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.

Após, a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?

“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu Eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.”

Sem comentários, encerramos, esperando que o bom-senso kardequiano e a sabedoria dos Espíritos superiores, ilumine nossa casa mental, tocando os nossos corações, porque somos seres em evolução e o que realmente importa é o respeito a vida em todos os níveis.

Bernardino da Silva Moreira

(CORREIO FRATERNO DO ABC, Ano XXXIV, Nº 370, Novembro de 2001 e republicado no Nº 374, Março de 2002 apud Portal do Espírito)

Eurípedes Barsanulfo

Eurípedes Barsanulfo Nasceu em Sacramento, no estado de Minas Gerais, no dia 1º de maio de 1880.

Aluno do Colégio Miranda, auxiliava os professores, ensinando aos próprios companheiros de classe. Conquistou o respeito de todos os colegas e professores, pelo seu comportamento e extrema dedicação ao estudo. Graças à sua vontade de querer saber cada vez mais, ele conseguiu uma excelente formação cultural, nos mais variados campos do saber. Saindo do colégio, passou a trabalhar como guarda-livros, no escritório comercial de seu pai, auxiliando, assim, desde cedo, a manutenção do lar.

Aos 22 anos, com seus antigos professores, Dr. João Gomes Vieira de Melo, Inácio Martins de Melo e outros, fundou o Liceu Sacramento, onde lecionava, quando necessário, todas as matérias do curso. Alguns alunos do Liceu fundaram um serviço de assistência aos necessitados, denominado “Sociedade dos Amiguinhos dos Pobres”. Na mesma época, participou da fundação do jornal semanal “Gazeta de Sacramento”, em que publicava artigos sobre Economia, Literatura, Filosofia, etc, estreando, assim, como jornalista, tendo colaborado intensamente em outros jornais.

Possuía profundos conhecimentos de Medicina e Direito, além de Astronomia, Filosofia, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Literatura, sem ter cursado escola superior.

Tornou-se líder, em sua cidade, pelo seu trabalho no magistério, e na imprensa, pelo seu nobre caráter e bom coração pronto a ajudar os necessitados. Foi assim, eleito vereador, quando, durante seis anos, beneficiou a população de sua cidade com luz e bondes elétricos, água encanada e cemitério público. Nessa ocasião, Eurípedes Barsanulfo, como fervoroso católico, era o presidente da Conferência de São Vicente de Paulo.

Seu primeiro contato com a Doutrina foi em 1903, através do seu tio, conhecido como Sinhô, que, após tentar explicar os pontos básicos da Doutrina Espírita, emprestou ao sobrinho o livro “Depois da Morte”, de Léon Denis. Ocorre, então, uma transformação em sua vida. Mudou-se da casa de seus pais e fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade, em 1905, onde, além de realizar reuniões mediúnicas e doutrinárias, também prestava auxílio aos mais necessitados. Foi médium inspirado, vidente, audiente, receitista, psicofônico, psicógrafo, de desdobramento e de bicorporeidade. Como médium receitista, psicograva prescrições do Espírito Bezerra de Menezes.

Em 31 de janeiro de 1907, criou o primeiro educandário brasileiro com orientação espírita, o Colégio Allan Kardec, onde os alunos recebiam aulas de Evangelho, e, ainda, instituiu um Curso de Astronomia.
Essa conversão custou à incompreensão de toda a cidade, chegando mesmo a ser processado, em 1917, processo esse, que foi arquivado por falta de pronunciamento competente.

Mesmo com essas dificuldades, ele executou um trabalho de fé e caridade gigantesco, em Sacramento. As farmácias, o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita Esperança e Caridade foram apenas algumas das obras desse homem que foi chamado “O Apóstolo do Triângulo Mineiro”.
Desencarnou em Sacramento, no dia 1º de novembro de 1918, vitimado pela gripe espanhola, porém sua obra continua viva até hoje, não só em Sacramento, mas em todas as casas espíritas guiadas pelo seu nome.

Eurípedes Barsanulfo é mentor espiritual das reuniões de tratamento espiritual da quarta-feira na Feig.

(Fraternidade Espírita Irmão Glacus, http://www.feig.org.br/index.php/nstituicao/nossos-mentores/120-euripedes-barsanulfo)

Bittencourt Sampaio

Bittencourt_Sampaio

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio nasceu em Laranjeiras (SE) dia 11 de fevereiro de 1834 e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de outubro de 1895.

Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista, literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita.

Militante na política, filiou-se ao partido liberal. Foi eleito deputado para a Assembléia Geral Legislativa nas legislaturas 1864-1866 e 1867-1870. Neste último período foi Presidente do Espírito Santo, nomeado por carta imperial.

Em 1870 abraçou as idéias republicanas. Com Saldanha da Gama, Quintino Bocaiúva e outros assinou o célebre manifesto de 03 de dezembro de 1870, importantíssimo documento histórico. Foi um dos fundadores do Partido Republicano.

Jornalista, colaborou em diversos órgãos de imprensa no Rio e em S. Paulo. Não só era reputado pelo brilho de seus artigos mas também grandemente respeitado pela elevação, sinceridade e firmeza com que sustentava e defendia os seus ideais.

Foi o primeiro administrador da biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Autor de diversas obras em prosa e verso, foi considerado por Sylvio Romero e João Ribeiro o primeiro dos autores líricos brasileiros, logo depois de Gonçalves Dias.

Entre suas obras merece destaque “A Divina Epopéia de João Evangelista”. Trata-se de uma reprodução do Evangelho de João, em versos decassílabos, de rara beleza e grandiosidade.

Como espírita, desenvolveu sua mediunidade de receitista no “Grupo Confúcio”, no Rio de Janeiro.

Em 1876 fundou a “Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade”.

Antônio Luís Saião, convertido ao Espiritismo graças à mediunidade curadora de Bittencourt Sampaio, fundou o “Grupo Ismael”. Ali Bittencourt Sampaio recebeu belas e instrutivas mensagens de Espíritos Superiores.

Quando desencarnou José Bonifácio, o “Moço”, Bittencourt Sampaio dedicou-lhe os seguintes versos:

Sim! Ele entrou, de bênçãos radiantes,
Pelo portão de luz da eternidade,
Qual águia que dos céus na imensidade,
Livre revoa, tão de nós distante!

Depois de sua desencarnação, através do médium Frederico Júnior, Bittencourt Sampaio escreveu “Jesus perante a Cristandade”, “De Jesus para as Crianças” e “Do Calvário ao Apocalipse”.

No livro mediúnico “Voltei”, o Irmão Jacob, através do médium Francisco Cândido Xavier, revela que Bittencourt Sampaio colabora nos planos superiores da Espiritualidade, na supervisão do Espiritismo evangélico no Brasil.

Fonte: Livro “Personagens do Espiritismo”, de Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy – Edições FEESP.

Inácio Bittencourt

inacio-bittencourt

Espírita bastante popular na terra carioca, homem de bem e incansável trabalhador na seara cristã, Inácio Bittencourt nasceu em Portugal aos 19 de Abril de 1862, desencarnando no Rio de Janeiro na madrugada de 18 de Fevereiro de 1943.

Muito moço, emigrou para o Brasil, não com idéias de riquezas, mas em busca de um ideal que a intuição lhe dizia estar na terra irmã.

Só, sem proteção nem amparo, a não ser a seriedade do seu caráter e a retidão do seu espírito, empregou-se em Botafogo, em 1875, dias após a sua chegada ao Rio de Janeiro.

Deixando as bancas escolares aos 10 anos, premido pela necessidade, que poderia ter aprendido? Todavia, esse pouco, aliado ao forte desejo de saber e à clarividência de sua razão, o libertou da ignorância. Autodidata, adquiriu muitos e variegados conhecimentos.

Aos vinte e um anos, era, como tantos outros rapazes de sua época, um livre-pensador. Contraiu matrimônio aos 22 anos e nesse mesmo ano – 1885 -, ao ler “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, se fez espírita.

Sua convicção firmou-se pelo estudo e ei-lo transformado em ardoroso propagandista das novas doutrinas, quer pela palavra escrita e falada, quer pela excepcional mediunidade curadora que nele abrolharia pouco tempo depois.

Bem cedo, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espiritistas e, mesmo, fora deles.

Fundou a 1o. de Maio de 1912 e dirigiu o memorável periódico “Aurora”, jornal que por muitos anos disseminou a doutrina espírita em todas as direções do País.

Sob a sua presidência foi fundado, em 1o. de Janeiro de 1919, o “Abrigo Teresa de Jesus”, velha casa de caridade até hoje funcionando no Rio de Janeiro, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas de ambos os sexos.

Colaborou ativamente para a fundação da União Espírita Suburbana e do Círculo Cáritas. Da “União” chegou a ser presidente por muito tempo, tendo sucedido, em 1919, ao grande espírita Fernandes Figueira, que dirigira os destinos daquela Casa até a sua desencarnação.

Durante dois anos foi vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, onde a sua palavra era sempre ouvida com acatamento.

Presidiu, ainda, O Centro Humildade e Fé, onde outrora nasceu a “Tribuna Espírita”, órgão que ele dirigiu por algum tempo.

Foi um dos diretores do Asilo Legião do Bem, para a velhice desamparada.

Embora pobre e sobrecarregado de numerosa família, não lhe faltava tempo para dedicar-se de corpo e alma ao Espiritismo e ao trabalho da caridade.

Por não possuir instrução acadêmica, escrevia com simplicidade, mas corretamente. Seus artigos eram bem concatenados e solidamente fundamentados.

“Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira, o jornal “Aurora” e outros periódicos espíritas contêm vários escritos de Inácio Bittencourt.

Considerado “apóstolo e santo” pela boca do povo, sobre ele assim disse ilustre médico em sugestiva crônica publicada num vespertino carioca: “Perante a lei foi um contraventor – perante a Humanidade, um benfeitor!”.

Referia-se o ilustre médico à mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt, que foi processado algumas vezes por exercício ilegal da Medicina, sempre absolvido, como aconteceu, por exemplo, em 1923, por decisão do Supremo Tribunal Federal, em Acórdão de 27 de outubro.

Forte na fé, valoroso na humildade, impertérrito na caridade, tal se revelou constantemente este velho companheiro de lides espiritualistas e amigo muito benquisto.

Dissemos que a sua personalidade alcançara grande destaque e o seu nome enorme projeção nos meios espíritas e fora deles, pelo seu indefesso labor mediúnico, que foi realmente extraordinário e dos mais assinaláveis. Essa, com efeito, a verdade, porquanto, como médium receitista, Inácio Bittencourt se constituiu um como expoente, entre quantos, em nosso País, hão recebido, da misericórdia inesgotável do Pai celestial, o dom de veiculá-la para os sofredores, a fim de os livrar dos sofrimentos do corpo e da alma, ou de, pelo menos, proporcionar alívio a esses sofrimentos.

Apreciando em seu justo valor esse dom e em sua legítima significação, consciente da responsabilidade imensa com que lhe onerava o Espírito, exerceu-o o saudoso lidador como verdadeiro sacerdócio, disposto a todos os sacrifícios que lhe adviessem da necessidade de dar cumprimento ao dever, que a sua consciência cristã lhe impunha, ante o lema da doutrina a que servia com inteiro devotamento e abnegação – “Sem caridade não há salvação”.

E as curas, por seu intermédio, se multiplicavam, assumindo não poucas o caráter de assombrosas. Inúmeras vezes, considerado perdido o caso, um apelo a Inácio Bottencourt era o recurso extremo, e a volta da saúde ao enfermo se verificava, com espanto dos que, desanimados, já descriam do seu restabelecimento, operando-se, em conseqüência e em muitíssimas ocasiões, surpreendentes conversões ao Espiritismo. Tornou-se ele, desse modo, um ponto de convergência das vistas de toda gente, quer dos que de certa forma já simpatizavam com a Doutrina dos Espíritos, ou para seus ensinos propendiam, quer dos seus adversários e inimigos de todas as espécies. Crescia assim, continuamente, o número dos que se faziam espíritas.

Mas, como era natural, também crescia, do mesmo passo, contra o Espiritismo e, em particular, contra o seu destemeroso servidor, a onda dos ódios que a ignorância e a maldade geram nas almas dos que se comprazem na treva, por aborrecerem a luz e a verdade, donde aquela se irradia. Daí, conseguintemente, sem falar das tribulações intimas que lhe assaltavam o coração, as perseguições de que se viu alvo o infatigável trabalhador, os vários processos que lhe moveram por exercício ilegal da medicina, rematados todos, aliás, graças à bondade divina, com a sua absolvição, processos e perseguições que ele enfrentou invariavelmente com a serenidade e a humildade do lídimo cristão, que sabe só existir uma justiça reta e perfeita, a pairar soberana, dando a cada um, no momento oportuno, segundo suas obras, infinitamente acima da dos homens, sempre falha, claudicante e incongruente, porque justiça de pecadores cegos.

Entretanto, não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração que lhe cercavam a personalidade, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu ministério mediúnico, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava à tribuna doutrinária, conforme de contínuo sucedia na Federação, a cujas sessões públicas de estudo comparecia assíduo, até pouco antes de se lhe tornar difícil locomover-se. Era então de causar pasmo, e pasmo geral, ouvi-lo, a ele, que não lograra dispor de ampla cultura intelectual, discorrer de maneira fluente, até com eloqüência muitas vezes, sobre o ponto em estudo, proferindo discursos ricos de belas imagens e de conceitos profundos, que seriam de impressionar e abalar os ouvintes, mesmo quando enunciados por mentalidades de vasta erudição científica e filosófica.

Amigo da Federação, que entrou a freqüentar com marcada assiduidade, quando, contando já essa instituição alguns anos de existência, nela atuava, como seu presidente, o apóstolo sem igual, Bezerra de Menezes; partilhando de muitas das vicissitudes e provas a que se tem visto sujeita a Casa de Ismael, que, todavia, não teve a dita de contá-lo entre os seus fundadores, conservou-se-lhe sempre ligado pelos laços de uma afeição, que ela sobrestimava vivamente, jamais deixando de o arrolar entre os obreiros de mais vulto e de maior devotamento que há contado entre nós a sementeira evangélica, a seara do bem e da verdade, que é a de N.S. Jesus-Cristo; em suma, entre aqueles que mais abnegadamente hão trabalhado pelo ideal cristão, cheios do espírito do Cristianismo do Cristo, do qual só se enriquecem as almas dos que se fazem, qual ele se fez, seguidores do Evangelho em espírito e verdade.

(WANTUIL, Zêus. Grandes Espíritas do Brasil. Brasília: FEB, 4ª ed., 1990, p.384-388)

Práticas Espíritas e Não Espíritas

Objetivo: Diferenciar o espiritismo e espiritualismo e suas diferentes práticas, esclarecendo com respeito e amor.

Bibliografia:

(*) Religião dos Espíritos – Emmanuel – cap. “Fenômenos Mediúnicos”

(*) Loucura e Obsessão – Manoel Philomeno de Miranda.


1-Espiritualismo x Espiritismo

 

Espiritualismo é uma designação para diversas doutrinas filosóficas ou religiosas que admitem: a existência de Deus; as forças universais; e a alma.

 

O filósofo Platão (428-347a.C.) afirmava a existência de um plano de realidade não material, incorpóreo e imutável, o “plano das idéias”, que seria a origem dos objetos físicos, representando meras cópias imperfeitas e transitórias de modelos imateriais.

 

“A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendiam Sócrates e Platão) é, a de tomar o maior cuidado com a alma, menos pelo que respeita a esta vida, que não dura mais que um instante, do que tendo em vista a eternidade. Desde que a alma é, imortal, não será prudente viver visando a eternidade?” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Introdução)

 

O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.

 

“Se a alma é imaterial, tem de passar, após essa vida, a um mundo igualmente invisível e imaterial, do mesmo modo que o corpo, decompondo-se, volta à matéria, Muito importa, no entanto, distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se alimente, como Deus, de ciência e pensamentos, da alma mais ou menos maculada de impurezas materiais, que a impedem de elevar-se para o divino e a retêm nos lugares da sua estada na Terra.

 

Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Insistem na diversidade de situação que resulta para elas da sua maior ou menor pureza. O que eles diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos que nos põe sob as vistas.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Introdução)

 

Como no platonismo, as crenças espiritualistas afirmam a sobrevivência da alma, princípio reconhecido no Espiritismo. Diferem Espiritualismo e Espiritismo em outros aspectos. Muitos espiritualistas adotam sacerdotes, rituais, cantos de evocação, sacrifícios animais, oferendas e atos de adoração, características estas que o Kardecismo não esposa.


2-Mediunidade

A Mediunidade é a faculdade de intercâmbio entre as inteligências de pessoas encarnadas e desencarnadas. A prática mediúnica é tão antiga quanto a humanidade.

 

“As formas primitivas de mediunidade provêm das selvas e das regiões geladas ou áridas em que a vida humana permaneceu em condições rudimentares. O homem é um ser mediúnico e todo o seu desenvolvimento seguiu as linhas da evolução da sua potencialidade mediúnica. A idéia da Divindade, de um poder superior que criou o mundo é inata no homem, como o demonstram as pesquisas antropológicas.” (J.Herculano Pires, “Mediunidade”, c.VI)

 

3-Mediunismo

 

“A expressão mediunismo, criada por Emmanuel, designa as formas primitivas de Mediunidade, que fundamentam as crenças e religiões primitivas. Todas as formas de religiões primitivas, sem desenvolvimento cultural e intelectual, caracterizam-se por práticas mágicas ligadas ao mediunismo.” (J.Herculano Pires, “Mediunidade”, c.VI)

 

A diferença entre Mediunismo e Mediunidade está no modo de se exercer a prática mediúnica.

 

No Mediunismo, sobretudo entre os povos primitivos, não havia reflexão sobre os fenômenos, seu sentido e sua natureza. As ações se resumiam na simples aceitação dos fatos e em eventuais tentativas de sua utilização prática.

 

“A Mediunidade, na concepção da Doutrina Espírita ou Kardecismo, é o Mediunismo aprimorado, desenvolvido, racionalizado e submetido à reflexão religiosa e filosófica e às pesquisas científicas necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e suas leis.” (J.Herculano Pires, “Mediunidade”, c.VI)

4-“Não creiais em todos os Espíritos”

 

O Espiritismo revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados: a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes venerados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas ideias. Antes que se conhecessem as relações mediúnicas, eles atuavam de maneira menos ostensiva, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, audiente ou falante. É considerável o número dos que, em diversas épocas, mas, sobretudo, nestes últimos tempos, se hão apresentado como alguns dos antigos profetas, como o Cristo, como Maria, sua mãe, e até como Deus. S. João adverte contra eles os homens, dizendo: “Meus bem-amados, não acrediteis em todo Espírito; mas, experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se tem levantado no mundo.” O Espiritismo nos faculta os meios de experimentá-los, apontando os caracteres pelos quais se reconhecem os bons Espíritos, caracteres sempre morais, nunca materiais.(…)

 

Julgam-se os Espíritos pela qualidade de suas obras, como uma árvore pela qualidade dos seus frutos. (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, c.26, it.7)

DOUTRINA ESPÍRITA E O CONGELAMENTO DE CORPOS

(Reprodução)

A humanidade sempre alimentou o sonho de prolongar a vida e postergar o momento da morte.
O uso de baixas temperaturas com fins medicinais teria surgido ainda na Antiguidade, cerca de 2500 a.C, no Egito.
James Arnott, em 1845, emprega pela primeira vez a criocirurgia.
Em 1946, na Inglaterra, Christopher Polge e Smith descobrem o glicerol, substância crioprotetora (usada na preservação celular)
Christopher Polge, em 1949, usa o glicerol para preservação de células (sêmen de touro)
No ano de 1960, Robert Ettinger escreve “Prospecto da Imortalidade”, defendendo que, com a Criogenia, a morte se tornará reversível.

Nos anos 1970, surgiram nos Estados Unidos clínicas de criogenia, propondo preservar os corpos de pessoas com doenças incuráveis, a pretexto de serem descongelados no futuro, quando a ciência conquistar a cura para suas enfermidades. No início do século 21, as empresas remanescentes contavam com algumas dezenas de pessoas conservadas por criogenia, ao custo de 100 a 150 mil dólares. Contudo, após meio século de difusão da criogenia, não há caso de pessoa que tenha sofrido o congelamento de seu corpo sendo posteriormente descongelada e vivificada por tais clínicas. A imortalidade do congelamento permanece entre os sonhos do homem.

CRIOGENIA é palavra que vem da combinação de dois verbetes gregos: Kryos, frio, e gennao, nascido.  É a parte da Física que se dedica à produção e manutenção de baixas temperaturas e ao estudo das propriedades da matéria e dos sistemas a elas submetidos. Suas pesquisas focam as criotemperaturas próximas do zero absoluto (-273,16 ºC). (cf. Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 1692)

CRIOBIOLOGIA – é o estudo da vida a baixas temperaturas.
CRIÔNICA – é a preservação a baixas temperaturas de humanos ou mamíferos com o objetivo de serem reanimados no futuro. Não é considerada parte da Criobiologia.

CRIOPRESERVAÇÃO – é a tecnologia em que células, tecidos ou embriões são preservados por arrefecimento a baixas temperaturas.

MÉTODOS DE CRIOPRESERVAÇÃO

Em todos os processos pesquisados, colhe-se tecidos (amostras de células), que são colocadas em um meio líquido.

1-Congelamento lento e progressivo. As células são submetidas a, pelo menos, quatro estágios de temperatura: -10°C, -20°C, -30 a -60°C, -196º, passando desde a formação de cristais de gelo até a vitrificação da água intracelular;

2-Congelamento rápido. Com o uso de crioprotetores, partes da célula (citoplasma) são protegidas. Submete-se a amostra a poucos estágios de congelamento: -30° a -60°C; e -196º. Forma-se gelo intracelular, contudo as estruturas da célula são destruídas;

3-Congelamento ultra-rápido. As células ou tecidos são imersos em pequena quantidade de líquido e passam por um acelerado estágio de redução de temperatura a -196°C, ocorrendo vitrificação dos líquidos intracelulares e formação de gelo.

O CONGELAMENTO DE CORPOS
1º-O corpo é levado para a clínica de criogenia;
2º-Todo o sangue e o plasma são retirados e substituídos por crioprotetores (líquidos conservantes) e anticongelantes;
3º-Imersão do corpo em um tanque com 200 litros de gás Nitrogênio a -196º C.

Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, no livro “Lições de Sabedoria”, Editora Folha Espírita, p. 45, comenta:

“O congelamento do corpo ocupado pelo Espírito, em processo desencarnação, pode retê-lo, por algum tempo, junto à forma física, ocasionando para ele dificuldades e perturbações. Isso, de algum modo, já sucedia no Egito Ancião, quando o embalsamamento nos retinha, por tempo indeterminado, ao pé das formas que teimávamos em conservar. Semelhante retenção, porém, só se verifica na pauta da lei de causa e efeito.

E, quanto ao congelamento, se algum dos interessados — por força da provação deles mesmos — retomarem o corpo frio a fim de reaquecê-lo, a Ciência não pode assegurar-lhes um equipamento orgânico claramente ideal como seria de desejar, especialmente no tocante ao cérebro que o congelamento indeterminado deixará em condições por agora imprevisíveis.”

Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 11, registra:

“(…) o perispírito, ou “corpo astral”, é revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o “duplo etérico”, formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico (…) destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora.”

Eurípedes Kuhl esclarece:

“Criogenização” já vem sendo largamente feito, com células e embriões.

Mas entre um caso e outro, há uma diferença fundamental: o material mantido criogenizado em laboratório apresenta a condição de estar “ativo” no momento da criogenização, isto é, não danificado, em perfeitas condições naturais. No cadáver estas condições inexistem, pois a morte desencadeia total e irreversível cessação do metabolismo.

Para nós, espíritas, é penoso imaginar que uma pessoa, em vida, desconhecendo totalmente a existência do Plano Espiritual, e principalmente dos mecanismos divinos da vida, consubstanciados nas vidas sucessivas (reencarnação), tenha a preocupação de cuidar do “ressuscitamento” de seu corpo, após a morte (quase sempre causada por doença incurável), mantendo-o congelado, com a expectativa de que num futuro próximo ou distante venha a obter cura pela Medicina e volte a viver…”

Irene Pacheco Machado, pelo Espírito Luiz Sérgio, em “Lírios Colhidos” cita um Espírito que, estando com sofrimento nessas condições (congelamento do seu corpo físico doente, após a morte, com vistas a futura cura e respectiva ressurreição), teve que ser levado a banhos de sol, por bondosos assistentes de uma Colônia do Plano Espiritual, para “derreter o gelo” ao qual ele se sentia preso, congelado.

CONCLUSÃO

A criopreservação é a aplicação de princípios da criogenia com a promessa de preservar a vitalidade de tecidos, embriões, órgãos e corpos de animais e pessoas.

O uso de baixíssimas temperaturas propõe a preservação celular, impedindo sua degradação molecular e biológica.

Conquanto se possa adiar por longo tempo a morte de células, tecidos e corpos, a vitalidade depende de fatores que não se limitam a características materiais, mas também fluídicas. O perispírito, corpo sutil que intermedia a ligação do espírito com o corpo material, é dependente de energia e de condições fluídicas aptas a preservar sua ligação entre os corpos energético, semi-material e material.

Por mais aperfeiçoadas que sejam as condições de manutenção do veículo material, a ciência terrena ainda não domina as propriedades e multiplicidade de funções do perispírito, entre as quais as relacionadas ao equilíbrio fluídico entre os corpos que constituem o homem e se mantêm ao longo do período da encarnação.

-BIBLIOGRAFIA:

Congelar a morte, um debate americano. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=3613>.

JORGE, MELINA PEREIRA, “CRIOGENIA SOB A ÉGIDE LEGAL BRASILEIRA”. Marília: Fundação de Ensino “Eurípedes Soares da Rocha”, Centro Univ. “Eurípedes de Marília”, UNIVEM, 2007.

Kauffmann-Zeh, Andrea. “Corpos congelados, o jeito de não morrer”, http://galileu.globo.com/edic/115/ensaio.htm

Pereira, Robson. “O mercado pós-vida explode na internet”.

<http://www.sincep.com.br/noticias/273.asp>.

Versignassi, Alexandre. “O que é criogenia humana?”, disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/ciencia/pergunta_286711.shtml

-FILMES QUE ABORDAM O TEMA:

-“2001:Uma odisséia no espaço” (1968);

-“Austin Powers: um agente nada discreto” (1997);

“Eternamente Jovem” (1992);

-“O Dorminhoco” (“Sleeper”) (1973).