4º ano – aula 07

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 4º Ano – Aula 7 – Laboratório do Mundo Invisível

Objetivo:

Dotar os alunos de subsídios para melhor compreenderem e diferenciarem os vários tipos de fenômenos de efeito físico.

Tema: Ectoplasma.

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns” – cap. 8 (Laboratório do Mundo Invisível);

Allan Kardec, “A Gênese” – cap. 15 – itens 41, 44, 56 a 67;

(*) Hernani G. Andrade, “Espírito, Perispírito e Alma”, cap. 8;

(*) Zalmino Zimmermann, “Perispírito”,  cap. 11, pg. 282 a 291;

(*) F.C.Xavier, André Luiz. “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 28;

(*) Martins Peralva. “Estudando a Mediunidade”,  cap. XLII, XLIII e XLIV.

 Introdução

A partir do conteúdo estudado na última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-O que você entende por fenômenos anímicos?
2-Qual a relação entre as faculdades mediúnicas e o animismo?
3-Quais foram os precursores no estudo do animismo?
4-Cite alguns exemplos de fenômenos anímicos.

1-Recordando os Fluidos

1-1-Fluidos: “Chamamos fluidos aos estados da matéria em que ela é mais rarefeita do que no estado conhecido sobre o nome de gás.”

 (Gabriel Delanne. “O Espiritismo Perante a Ciência”, Rio de Janeiro, FEB,1993, 2 ª ed., p.281)

1-2-Fluido Cósmico Universal (FCU): Matéria elementar, primitiva, forma tudo o que há de material no universo, desde os objetos mais sutis até os mais tangíveis e densos.

O fluído cósmico que liga a criação ao criador, é fonte inexaurível, sempre ao alcance de todas as criaturas. É nele que a nossa mente espiritual busca e encontra a quintessência energética de que se sustenta, e é a partir dele que elabora a matéria mental que expede através do pensamento, sob a forma do fluído mentomagnético.” (Hernani T. Sant’Anna, médium, Espírito Áureo.“Universo e Vida”, FEB, 1994, 4ª ed., c.5,p.102)

1-3-Fluido Vital (FV): É o responsável pela força motriz que movimenta os corpos vivos.

2-Manipulação dos Fluidos

Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.

Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (Kardec, “A Gênese”, c. 14, it. 13 e 14)

3-Algumas Características dos Fluidos:

-Podem ser moldados pelo pensamento e pela vontade do Espírito;

-Podem variar entre o estado mais sutil e etéreo até o mais adensado e tangível;

-Combinam-se com a atmosfera e as características dos diferentes seres e mundos;

-Capacidade de transmitir vibrações, ondas, cargas elétricas etc.

4-Os Fluidos nas Manifestações Espirituais

-Fluidos Espirituais: Aqueles doados pelos Espíritos;

-Fluidos da Natureza: Fluidos encontrados no mundo, por exemplo, no orbe terrestre, em suas plantas, atmosfera, águas etc.;

-Fluidos do Médium: Fluidos com que a pessoa encarnada contribui para uma combinação fluídica e seus efeitos, durante o intercâmbio mediúnico.

5-Efeitos da Manipulação Fluídica:

-Vestuário dos Espíritos;

-Fenômeno de Voz Direta (Pneumafonia);

-Fenômeno de Escrita Direta (Pneumatografia);

-Formação Espontânea de Objetos Tangíveis;

-Modificação de Certas Propriedades da Matéria;

-Ação Magnética Curadora.

6-Ectoplasma e Materializações

Ectoplasma é o nome que se dá ao fluido, de natureza psicossomática, oriundo dos médiuns de materialização, e do qual se servem os Espíritos para tornar-se visíveis e tangíveis aos olhos e ao tato humanos. (Luciano dos Anjos, Hermínio C. Miranda, “Crônicas de Um e de Outro”, 1975, p. 254)

É matéria viva no seu estado mais indiferenciado, é notadamente sensível à ação do pensamento.(Jayme Cerviño, “Além do Inconsciente”, 1989, p. 182)

Substância incolor, ligeiramente vaporosa, fluida, sem cheiro, traços de detritos celulares e saliva.(Hermínio C. Miranda, “Reencarnação e Imortalidade”, 1991, p. 146)

No fenômeno da materialização, tão estudado pelo famoso físico inglês Willian Crookes e pelo prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, Charles Richet, os Espíritos tornam-se visíveis e palpáveis a todos os presentes à sessão de estudos. São percebidos e tocados em seus corpos espirituais. (…)

Embora a essência espiritual não tenha forma, pois é o princípio inteligente, os Espíritos possuem um corpo espiritual anatomicamente definido e com uma fisiologia própria da dimensão extrafísica.(…)

A energia cósmica universal ou fluído cósmico que banha ou permeia todo o universo é a matéria-prima que o comando mental dos Espíritos utiliza para a constituição dos objetos por eles manuseados. A este respeito, encontramos informações mais detalhadas reunidas por Kardec em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo – Do Laboratório do Mundo Invisível. (Ricardo di Bernardi, “Saúde e Anatomia do Corpo Espiritual” apud Portal do Espírito, www.espirito.com.br).

BIBLIOGRAFIA: Therezinha Oliveira, “Fluidos e Passes”, c.9; F.C.Xavier, André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, c.7.

4º ano – aula 06

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

4º Ano – Aula 6 – FACULDADES ANÍMICAS

Objetivo:

  • Informar ao aluno que todo o processo mediúnico apóia-se no sentido estrito do animismo (psiquismo) do médium, preparado para captar ou dar passagem ao pensamento do comunicante com possibilidade de sua interferência e explicar que fenômeno anímico, no sentido mais amplo, abrange todas as manifestações da alma, esclarecendo que os fenômenos anímicos e mediúnicos procedem de uma mesma causa: o espírito, diferenciando transe anímico do mediúnico.

Temas/ Bibliografia:

Animismo      e mediunidade:  fronteiras:   Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”,     cap. 24 – itens 224 e 225 e cap. 15 – itens 180 e 214;
Transe mediúnico e transe anímico: fronteira:      Divaldo P.Franco, “Mediunidade,  encontro com Divaldo”, MM Editora;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Mecanismo da Mediunidade”, cap. 23;
(*) Zalmiro Zimmermann, “Perispírito”.

Introdução
A partir do conteúdo estudado a última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como se dá a vidência?
2-Quais os tipos de médium vidente?
3-Toda ocorrência de vidência mediúnica é igual? Explique.
4-Qual é a importância da análise crítica das comunicações mediúnicas?

“Todas as percepções constituem atributos do Espírito e lhe são inerentes ao ser. Quando o reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam, porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.” (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, q. 249, item a.)

Os fenômenos anímicos e os espíritas

Segundo alguns autores, fenômenos espíritas seriam apenas os produzidos pêlos “mortos”; os produzidos pêlos “vivos” seriam os fenômenos anímicos.

Para Kardec, porém, “Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer durante a encarnação, quer no estado de erraticidade”. (Allan Kardec, “A Gênese”, cap. XIII, item 9.)

Em princípio, pois, os fenômenos espíritas englobam todos os fenômenos produzidos por ação de um espírito, quer encarnado, quer desencarnado.

Ao serem classificados quanto ao seu agente, os fenômenos espíritas poderão ser denominados de:

Fenômeno mediúnico: o produzido por um espírito desencarnado, através do concurso de um médium.

Fenômeno anímico: o produzido pelo encarnado com suas próprias faculdades espirituais, sem o uso dos sentidos físicos, graças à expansão do seu perispírito.

Quanto maior o grau de expansão do perispírito, mais expressivo poderá ser o fenômeno anímico, pois o encarnado passará a desfrutar de maior liberdade em relação ao corpo, agindo mais como um espírito liberto.

O estudo dos fenômenos anímicos

Alexandre Aksakof (sábio russo, primeiro a empregar o termo animismo); Charles Richet (criador da Metapsíquica), catalogou os fenômenos anímicos, dando-lhes denominação especial; Ernesto Bozzano (que afirmou “O animismo prova o Espiritismo”, nas conclusões do seu livro “Animismo ou Espiritismo?”).

 

Exemplos de fenômenos anímicos

 

l) Telepatia: É a transmissão ou recepção de pensamento à distância.

Termo composto das palavras gregas pathos (impressão exercida sobre a alma) e tele (que traduz distância), portanto: impressão exercida sobre a alma à distância.

Foi proposto por Frederic Myers, em 1882, e adotado nos tra­balhos da Societyfor Psychical Research (Londres).

Fenômeno conhecido pela humanidade desde as épocas mais remotas, não há quem não o tenha experimentado, ocasionalmente.

Nos tempos modernos, os estudos a respeito da telepatia apareceram ligados ao magnetismo e ao hipnotismo, na França (a partir de 1825). Atualmente, a Parapsicologia a inclui entre os fenômenos “psigama”.

Como se explica que duas pessoas, perfeitamente acordadas, tenham instantaneamente a mesma idéia?

São dois espíritos simpáticos que se comunicam e vêem reciprocamente seus pensamentos respectivos, embora sem estarem adormecidos. (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, q. 421.)

A rigor, a telepatia está entre os fenômenos anímicos. De encarnado para encarnado. Mas, no meio espírita, o conceito está se estendendo para o intercâmbio com o Além.

“(…) realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.” (F.C.Xavier/André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”.)

Porém, se for com desencarnados, ou sob estímulo deles, o fenômeno será mediúnico.

2) Clarividência e clariaudiência: Visão e audição sem o concurso dos olhos ou dos ouvidos, mesmo à distância e mesmo através de corpos opacos.

3) Ação sobre a matéria: Capacidade de movimentar objetos ou modificar substâncias, sem contato aparente e mesmo à distância.

Em parapsicologia se denomina psicocinesia, com as variedades de telecinesia, pirocinesia e levitação.

Ex.: Nina Kulagina, Uri Geller, fenômenos de combustão espontânea.

4) Ideoplastia: Projeção de imagens e até sua “materialização”.

Ex.: Ted Serios – obtinha fotografia de formas de pensamentos; estaria conseguindo impressionar as chapas fotográficas. Dr. Jule Eisenbud, professor da Universidade do Colorado, relatou, no seu livro “The World of Ted Serios”, série de experiências feitas com esse sensitivo, nos laboratórios daquela Universidade.

5) Bicorporeidade: Perispírito, em desdobramento, se tornando visível e, às vezes, tangível, inclusive à distância do corpo físico.

6) Precognição e retrocognição: Conhecimento prévio ou posterior de acontecimentos sem a possibilidade de acesso material aos fatos pêlos sentidos comuns.

Todos estes fenômenos são anímicos, desde que na sua produção não intervenham de alguma maneira outros espíritos, só o do próprio encarnado.

 

Animismo e mediunidade

 Ao lado dos fenômenos mediúnicos, ocorrem também os fenômenos anímicos, muitas vezes produção inconsciente dos médiuns.

“(…) é extremamente importante reconhecer e estudar a existência e a atividade desse elemento inconsciente da nossa natureza, nas suas variadas e mais extraordinárias manifestações, como as vemos no Animismo”, alerta Aksakof.

Podemos isolar o animismo da mediunidade, no fenômeno mediúnico?

Dificilmente, porque:

1) São as próprias faculdades anímicas dos médiuns que os fazem instrumento para as manifestações dos espíritos.

2) Nem sempre podemos definir, com exatidão, quando o fenômeno está ou não sendo provocado ou coadjuvado por espíritos.

Dessa íntima relação entre Animismo e Espiritismo, diz Bozzano: “Nem um, nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fenômenos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa única é o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espiríticos” (Leia-se, mediúnicos.)

 

BIBLIOGRAFIA: Thezinha Oliveira, “Mediunidade”.

Nina Kulagina


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=L61RptUUEqU&w=420&h=315]

Uri Geller
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=M9w7jHYriFo&w=420&h=315]
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Vidência ou Visão dos Espíritos

 CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 VIDÊNCIA

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”, cap. 14 (Médiuns Auditivos) – item 165; cap. 14 (Médiuns Videntes) – item 167; e cap. 6 – item 100 – q. 16, 26, 28 e item 105;
Eliseu Rigonatti, “A mediunidade sem lágrimas”;
(*) Marlene Nobre, “O Dom da Mediunidade”, parte III – item 24;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Mecanismos da Mediunidade”,  cap. 20;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 14.

Introdução

A partir do conteúdo estudado na última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como se dá a interação entre a entidade comunicante e o médium?
2-Toda mediunidade audiente é semelhante? Explique.
3-Quais são os tipos de mediunidade escrevente?
4-Explique os tipos de psicofonia?
5-Qual o papel da sintonia nas comunicações mediúnicas?
6-O que é o ajuste de vibrações na mediunidade?
7-Quais são as qualidades de um bom médium?

  

OS INSTRUMENTOS DA MEDIUNIDADE

A mediunidade é uma faculdade humana que envolve diversos instrumentos das esferas intelectuais, morais, espirituais e materiais.
No âmbito intelectual, temos o preparo e o estudo. As leituras necessárias são, antes de tudo a Codificação de Kardec, e, a seguir, obras dos autores devidamente afinados à Doutrina, como Gabriel Delanne, Leon Denis, Ernesto Bozzano.
No viés moral, sobressai a conduta moralizada do médium. O médium precisa ter consciência de que é exemplo de moralidade, dentro e fora das atividades medianímicas. Sem se deixar incorrer na afetação, deve preservar-se de vícios, por menores que sejam, e de vida social intensa.
As ferramentas espirituais da mediunidade podem ser ilustradas pela fé, sendo esta raciocinada, robusta
“A fé robusta nos confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas.” (Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, c.XIX, it.2)
E também há os aspectos materiais. O médium deve viver consoante o trabalho honesto, dentro de suas possibilidades, evitando sempre a ambição imoderada e se lembrando de que o homem não é mais do que um mordomo dos bens que lhe confere o Senhor.

OS MÉDIUNS VIDENTES

Faculdade da pessoa encarnada que, em estado normal e perfeitamente desperta, vê os Espíritos, mesmo que estes não tenham a intenção de ser vistos. A vidência não é contante, ocorrendo de forma momentânea e passageira.
A mediunidade, como diz André Luiz, é sintonia e filtragem. Assim, cada mente tem uma capacidade peculiar de percepção dos fenômenos. O mesmo contato medianímico pode ser percebido de maneiras diversas por um mesmo grupo mediúnico. Para certo médium, pode parecer um vulto, para outro, uma forma feminina, e outro, ainda, pode identificar o Espírito de uma mulher, descrevendo inclusive aspectos fisionômicos, trajes e detalhes bem minuciosos.
Segundo Divaldo P. Franco, na obra de co-autoria com Raul Teixeira, “Diretrizes de Segurança”, a utilidade da vidência é a de desvelar os painéis do mundo espiritual, sabendo observá-los, e, melhor ainda, mantendo discrição no traduzi-los, para não a transformar num informativo de leviandades.
Há três tipos de médium vidente:
1-médiuns videntes que vêem, tanto com os olhos abertos como com eles fechados;
2-médiuns que vêem somente com os olhos abertos;
3-os médiuns de visão mental.
No primeiro caso, é o perispírito do médium que recebe a imagem do espírito. Assim, o médium tanto pode estar com os olhos abertos como com eles fechados que verá os espíritos. A visão não lhe chega através dos olhos e sim através do perispírito. Estes médiuns são chamados clarividentes e a mediunidade que possuem chama-se clarividência. São raríssimos.
No segundo caso, a causa da vidência reside nos olhos do médium. Os olhos se tornam sensíveis sob a ação fluídica do espírito que se quer deixar ver e, nesse estado de sensibilidade ótica, o médium o vê em pensamento.
Os médiuns videntes são raros e a vidência nunca é permanente. Geralmente é uma mediunidade de curta duração.
Os médiuns videntes facilitam o estudo do mundo espiritual pelas descrições que fazem de seus habitantes. Entretanto, é preciso muito cuidado para que não sejamos vítimas da imaginação.

Considerações necessárias

 
Ensina-nos Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte – Questão 167:
O médium vidente acredita ver pelos olhos físicos; mas na realidade é a alma quem vê, e essa é a razão pela qual vêem tão bem com os olhos fechados como com os olhos abertos.
Martins Peralva, em “Estudando a Mediunidade”, assevera: Quantas vezes, tentando sustar uma visão desagradável, produzida por um Espírito menos esclarecido, o médium fecha os olhos e, quanto mais aperta, a visão se torna mais nítida e melhor se definem os contornos da entidade?
Bastaria isso, para a comprovação plena de que pela vidência não se vê os espíritos com os olhos corporais. Como disse Kardec, o médium vê através da mente, que, nesse caso, funciona à maneira de um prisma, de um filtro que reflete, diversamente, quadros e impressões, idéias e sentimentos iguais na sua origem.
Como desenvolver a mediunidade vidente:
Aos que já perceberam indícios de possuir este tipo de sensibilidade mediúnica, podem desenvolver esta mediunidade, procedendo-se, segundo Eliseu Rigonatti, em “A Mediunidade sem Lágrimas”, da seguinte maneira: concentrados, procurando ver, ora com os olhos abertos ora com eles fechados.
Depois de continuados exercícios, começaremos a perceber qualquer coisa, como que uma névoa rala e luminosa; essa névoa, aos poucos, adquirirá forma até que distinguimos os traços dos espíritos que estão presentes.
A visão mental se apresenta ao médium como se ele estivesse revendo alguém em pensamento. A princípio são apenas imagens vagas, que se tornarão nítidas à medida que o desenvolvimento progride.

Mundo material e sua estrutura

 

(Joseph Wright of Derby, “O alquimista descobrindo o fósforo”, 1771) (Reprodução)

Átomo Divino

Se você, leitor amigo, queimar lenha, observará vários fenômenos, que ocorrem na combustão:

Chamas – o fogo a se expandir.

Estalos – a água a ferver.

Fumaça – o ar a se agitar.

Cinzas – a terra a absorver.

Teríamos, portanto, quatro elementos primordiais:

Fogo, água, ar e terra.

Essa a teoria de Empédocles (490-430 a.C.), filósofo grego. Concebia que, a partir deles, ocorrem todos os fenômenos físicos e se formam os todos seres da Natureza, na fauna e na flora.
Deu o nome de raízes a esses elementos.
De suas combinações tudo nasceria e pereceria.
Empédocles pode ser considerado um precursor da teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882), que situa o aparecimento do Homem como a culminância de longa jornada evolutiva.
Teve início com o esfriamento da crosta terrestre e o aparecimento de organismos elementares que se desenvolveram em complexidade ao longo de bilhões de anos, até atingir a complexidade necessária ao aparecimento do homo sapiens.
Para um arranjo melhor de sua teoria, faltou a Empédocles assimilar as idéias de Demócrito (460-370 a.C.), seu contemporâneo, que dizia ser a matéria constituída de microscópicas partículas – os átomos.
Ar, fogo, terra e água seriam arranjos atômicos e não elementos básicos da matéria.

***

Além de estudioso dos fenômenos naturais, Empédocles era uma alma sensível.
Guardava poética visão do Universo.
Imaginava que os quatro elementos combinam-se ou se separam, a partir de duas forças imutáveis – o amor e o ódio.
Representam a convergência e a divergência, o bem e o mal.
A Doutrina Espírita nos oferece uma visão mais realista.
Os fenômenos naturais, mesmo aqueles que implicam em desagregação, como a morte, não se subordinam aos embates de forças antagônicas, agregadoras ou desagregadoras.
Obedecem à regência de leis divinas, segundo os desígnios insondáveis do Criador.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec concebe, sob inspiração dos mentores que o assistiam, uma Lei de Destruição que é sinônimo de renovação.
A questão 728 esclarece:

Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.

Nesse contexto, a única força desagregadora é o ser pensante da Criação, quando pretenda sobrepor-se aos desígnios divinos, enveredando por tortuosos caminhos de rebeldia.
Compromete-se, então, com sentimentos negativos como o ódio, a ambição, a inveja, o ciúme, passíveis de conturbar o ambiente em que se situa e aqueles com quem se relaciona.
Mas, ainda que detenha atilada inteligência e optando por guerrear a obra divina, assumindo a postura de um ser demoníaco, o Espirito jamais supera os limites de sua condição – a criatura diante do Criador, o relativo subordinado ao Absoluto.

***

Os átomos que compõem um pedaço de madeira podem arder em chamas, entrar em ebulição, difundir-se no ar, derramar-se em cinzas na terra, mas permanecerão íntegros em sua essência, aptos a compor outras formas.
Também o Espírito, ainda que se deixe arder em paixão, ferver em desatino, expandir-se em inconseqüência ou reduzir-se à indiferença, jamais perderá sua condição de átomo divino, destinado a brilhar na glória da Criação, sob as bênçãos de Deus.
Como tal, é regido por leis soberanas que disciplinam suas emoções e renovam suas idéias, reajustando seus caminhos e reconduzindo-o aos roteiros do Bem.
Assim, mesmo os seus desatinos acabarão por funcionar em seu próprio benefício, porquanto colherá sempre as conseqüências de suas iniciativas.
Aprenderá, à custa de sofrimentos e dores, a corrigir seus impulsos, ajustando-se à harmonia do Universo para atingir sua destinação suprema:

Co-participante na obra divina, filho perfeito de Deus!

RICHARD SIMONETTI, in “Luzes no Caminho”.

Psicografia e Psicofonia – a Escrita e a Fala na Comunicação Mediúnica

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

PSICOGRAFIA E PSICOFONIA

Introdução
A partir do conteúdo estudado a última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como você definiria uma casa espírita?
2-Como deve ser a sala e trabalho mediúnico?
3-O que ocorre durante a atividade mediúnica?
4-A disciplina e o preparo de trabalhadores e frequentadores do grupo mediúnico é imprescindível. Como você pode exemplificar as possíveis interferências à tarefa do grupo medianímico?
5-Segundo André Luiz, há faixas magnéticas protetoras aos trabalhos mediúnicos. De que se trata?
6-No passado, muitos denominavam a atividade mediúnica kardecista como “mesa branca”. Comente.

 

MÉDIUNS PSICÓGRAFOS E PSICOFÔNICOS

A interação medianímica se vale dos recursos perispirituais do médium, da receptividade de certas regiões de seu corpo físico, como pontos especiais do córtex cerebral, seus plexos ou centros de força, braços, mãos, garganta ou boca.  A partir da interação fluídica do perispírito da entidade comunicante com as áreas mais sensíveis e propícias do médium, dar-se-á o tipo de mediunidade externada pelo trabalhador encarnado.

1-MÉDIUNS AUDIENTES

1.1-Os que ouvem a voz dos Espíritos, como se estivessem ouvindo a fala de uma pessoa. Ação  sobre o cérebro e nervos auditivos do médium.

1.2-Os que ouvem a voz dos Espíritos dentro de si mesmos. Voz interior. É muito comum.

 

2-MÉDIUNS ESCREVENTES

Ação sobre porção do córtex cerebral ou ao braço e à mão.

2.1-MECÂNICOS: Não sabem o que os Espíritos escrevem durante a manifestação. São raros.

2.2-SEMI-MECÂNICOS: Sabem o que os Espíritos escrevem, à medida que se formam as palavras. São comuns.

 

3-MÉDIUNS FALANTES

Ação do Espírito sobre o aparelho vocal do médium ou a partir do córtex cerebral vinculado à fala.

3.1-CONSCIENTES: Sabem o que o Espírito manifestante está falando, à medida que as palavras estão sendo ditadas. Estes médiuns são comuns.

3.2-INCONSCIENTES ou SONAMBÚLICOS: Não sabem o que o Espírito manifestante diz.

 

4-MÉDIUNS INTUITIVOS

Os intuitivos captam os pensamentos e sentimentos dos Espíritos. Não sofrem o mesmo envolvimento que ocorre com os médiuns audientes.

O Mecanismo das Comunicações

1-SINTONIA: Entendimento, harmonia, compreensão de idéias; Familiaridade (intelectual, cultural, planetária, quadros mentais); Mesma faixa de pensamento e vontade; Harmonia psíquica; afinidade. Duas pessoas sintonizadas estarão, evidentemente, com as mentes perfeitamente entrosadas, havendo, entre elas, uma ponte magnética a vinculá-las, imantando-as profundamente.

2-RESSONÂNCIA: Frequências vibratórias coincidentes; Formação de uma corrente.

3-VIBRAÇÕES COMPENSADAS

Equivalentes tanto no médium quanto no Espírito comunicante;

Compensação: redução ou aumento da frequência vibratória;

Redução do padrão vibratório: Espírito superior se impregna de matéria sutil colhida no próprio ambiente;

Elevação do tom vibratório: o Espírito usará sua própria concentração para elevar suas vibrações.

Os Espíritos podem ver no íntimo de cada indivíduo seus pensamentos, suas preocupações, suas dores e desilusões. Quando um Espírito superior toma um médium e se dirige aos ouvintes sabe exatamente quais os pontos a abordar. E depois de lhe ouvirmos a sábia exortação, quantos pensamentos tristes se dissiparam; quantas preocupações desapareceram; quantas dores se mitigaram; quantas desilusões se esqueceram; quantas esperanças se renovaram!

Se tu, meu irmão ou minha irmã, possuís a mediunidade falante, roga ao Pai que a transforme em fonte de consolo para todos os que sofrem.

Eliseu Rigonatti

Leitura Complementar:

Qualidades de um bom médium

Rigorosamente falando, os bons médiuns são raros.

A maioria, geralmente, apresenta um ou outro defeito que lhes diminui a qualidade de bons.

O defeito, por pequeno que seja, é sempre de origem moral. Entretanto, o médium que reunir as cinco virtudes seguintes pode ser qualificado de bom: SERIEDADE, MODÉSTIA, DEVOTAMENTO, ABNEGAÇÃO e DESINTERESSE.

A seriedade é a virtude que um médium possui de utilizar sua mediunidade para fins verdadeiramente úteis, exercendo-a como um nobre sacerdócio.

A modéstia é a virtude pela qual um médium reconhece que é um simples instrumento da vontade do Senhor e, por isso, não se envaidece nem se orgulha de sua mediunidade.

Não faz alarde das comunicações que recebe, porque sabe que foi apenas um simples intermediário. Não se julga ao abrigo das mistificações e, quando é mistificado, compreende que isso aconteceu em virtude das falhas de seu caráter ou devido a algum erro de sua conduta; procura, então, corrigir-se para afastar de si os espíritos mistificadores.

O devotamento é a virtude pela qual um médium se dedica ardentemente ao benefício de seus irmãos que sofrem. O médium devotado considera-se um servo do Senhor e, por isso, não despreza nenhuma oportunidade de servi-lo, auxiliando a todos quantos necessitam dos cuidados dos espíritos de Deus.

A abnegação é a virtude pela qual um médium leva seu devotamento até ao sacrifício. O médium abnegado não hesita em renunciar a seus prazeres, a seus hábitos, a seus gostos, quando se trata de prestar socorros mediúnicos a quem quer que seja.

O desinteresse é a virtude pela qual um médium dá de graça o que de graça recebeu. O médium desinteressado nem mesmo esperará um agradecimento dos homens.

Eis expostas as cinco virtudes que devemos cultivar,  se quisermos merecer o qualificativo de bons médiuns. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade sem Lágrimas”)

Melhoramento moral e as paixões humanas

As paixões: Uma breve análise filosófica e espírita
delacroix-barque-dante
(Eugène Delacroix (1798-1863), “A barca de Dante” (1822))(Reprodução)

Silvio Seno Chibeni

Resumo:

Neste trabalho desenvolve-se um estudo das paixões da alma com base na seção intitulada “Paixões” do capítulo “Da perfeição moral” de O Livro dos Espíritos, bem como em tópicos da obra de René DescartesAs Paixões da Alma.

1. Introdução

Abrindo a seção sobre as paixões de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: [2]

907. Será intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na Natureza?

Antes de analisarmos a resposta dos Espíritos, detenhamo-nos um pouco sobre a própria questão.

O primeiro ponto a ser notado é que Kardec indaga acerca do princípio originário das paixões, e não delas próprias, ou seja, procura esclarecimento sobre a origem, a fonte de onde promanam as paixões.

A segunda observação importante é que há, na pergunta, uma afirmação categórica: esse princípio do qual provêm as paixões está na Natureza, isto é, faz parte da ordem natural das coisas.

Ora, o conceito ordinário de paixão, adotado pelo homem comum, traz consigo uma conotação negativa evidente: associa-se paixão a desequilíbrio, tumulto emocional ou desvios patológicos do sentimento, sendo mesmo freqüente ouvir-se frases como ‘Isto não é amor, é paixão’, ou ‘Fulano está cego de paixão’.

A questão proposta por Kardec motiva-se exatamente pelo conflito entre essa acepção vulgar do termo ‘paixão’ e a análise filosófica das paixões (de que trataremos na seção seguinte), que indica serem elas provenientes de causas naturais. Considerando que tudo aquilo que pertence à ordem natural obedece a uma sabedoria e a uma bondade supremas, tendo, em outras palavras, sido instituído por Deus, como poderia essa fonte sábia e boa levar, em última instância, a sentimentos intrinsecamente maus?

Vejamos o que respondem os Espíritos:

“Não, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.”

A resposta corrobora, portanto, aquilo que está implícito na afirmação de Kardec: o princípio originário das paixões é bom, tendo sido “posto no homem para o bem”. O mal que vulgarmente se associa às paixões é o resultado de uma distorção do sentimento original. Do contexto é justo depreender que essa distorção corre por conta do livre arbítrio humano na condução de seus sentimentos, não podendo ser imputada à fonte natural e neutra de onde provêm.

Na questão seguinte, de número 908, Kardec indaga como se pode “determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más”, obtendo esta resposta:

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.”

Vemos, pois, que o limite natural das paixões se estabelece com base em dois critérios: 1) a capacidade de seu controle; e, 2) os males que possam causar a terceiros ou àquele próprio que as vivencia.

2. A natureza das paixões

Inegavelmente, dada a ordinária carga negativa associada ao conceito de paixão, a afirmativa de Kardec e dos Espíritos de que a fonte original das paixões é boa tende a causar estranheza na maioria das pessoas. Por tal motivo julgamos importante fazer uma incursão, ainda que breve e simplificada, nos domínios da filosofia, que tem as paixões como um de seus temas mais discutidos. Os fundamentos dessa afirmativa serão, desse modo, elucidados.

Como ocorre com boa parte dos vocábulos das línguas naturais, a palavra ‘paixão’ comporta diversos significados. Na acepção popular em nossos dias, ela designa certos sentimentos fortes, exacerbados, tumultuados, que em geral se associam à afeição votada a pessoas e mesmo a coisas e atividades: ‘Matou-se por paixão’, ‘É apaixonado por carros’, ‘Tem paixão pelo futebol’.

Do ponto de vista filosófico, porém, o termo ‘paixão’ possui significados mais amplos e neutros quanto ao bem e ao mal. Em seu significado etimológico, paixão se contrapõe a ação. Isso fica mais claro nas línguas inglesa e francesa, em que esses vocábulos, passion e action, estão mais próximos de sua origem latina. Ação atuar, agir; paixão sofrer a ação, recebê-la passivamente.

Nesse sentido básico, e hoje em dia em desuso, poder-se-ia dizer que ação e paixão são como as faces de uma mesma moeda. Sempre que algo age, alguma outra coisa sofre paixão. Eu bato na mesa ação; a mesa recebe a pancada paixão. O mesmo fenômeno que para mim é ação, para a mesa é paixão.

Aqui estamos interessados não em coisas em geral, mas no ser humano, que pode, ele também, agir e sofrer paixão. Nesse caso, porém, o conceito de paixão se tornará mais específico, como veremos.

Na visão de homem estabelecida pelo Espiritismo, ele é um ser dual, composto de corpo (matéria) e alma (espírito). Embora remonte à Antigüidade, essa visão dualista tornou-se proeminente na filosofia a partir da contribuição de René Descartes (1596-1650). Um dos maiores filósofos e cientistas de todos os tempos, Descartes foi o principal responsável pela inauguração da filosofia moderna, renovando amplamente as teorias e conceitos filosóficos anteriores. Esteve ainda entre os criadores da ciência moderna, ao lado de Galileo e Newton, Boyle e Huygens, entre outros.

Em sua doutrina, o sábio francês dissociou da alma a função de mantenedora da vida orgânica, tomando-a unicamente como o ser pensante, independente da matéria. Uma análise cuidadosa revela muitos pontos comuns entre as visões espírita e cartesiana do homem. Não podemos adentrar esse vasto e difícil assunto neste pequeno texto. Iremos apenas destacar alguns elementos mais diretamente ligados à questão das paixões. O último livro de Descartes publicado durante sua vida trata especificamente das paixões, intitulando-se justamente As Paixões da Alma (Les Passions de l’Âme, 1649). Essa obra exerceu grande influência no futuro das discussões filosóficas acerca das paixões, só sendo rivalizado, no século seguinte, pelas obras do grande filósofo escocês David Hume (1711-1776), escritas dentro de perspectiva filosófica bastante diversa.

Dadas as grandes transformações por que passou a física em nosso século, não é possível expressar em linguagem ordinária como a ciência contemporânea caracteriza a matéria. Na concepção cartesiana, que prevaleceu e influenciou profundamente toda a ciência por quase trezentos anos, matéria é a substância extensa, com forma e movimento, que preenche todo o universo e atua exclusivamente por forças mecânicas de contato. No nível dos objetos com que lidamos enquanto homens comuns, podemos pensar na matéria aproximadamente ao longo dessas linhas, mas apenas para fixar idéias, conscientes de que essas noções não mais bastam às novas teorias físicas.

Quanto ao espírito, para Descartes ele era, como já indicamos, a substância pensante, a sede do pensamento, da vontade e dos sentimentos. Ao contrário de sua concepção de matéria, essa idéia de espírito mostra-se perfeitamente adaptável ao que conhecemos hoje, não mais pelas ciências acadêmicas, que por sua natureza não se ocupam com isso, mas pela ciência espírita, inaugurada por Allan Kardec.[3]

Podemos, para os nossos propósitos aqui, considerar a alma ou espírito como tendo três “faculdades” (termo de Descartes):

1. vontade;
2. pensamento;
3. percepção.

A vontade se exerce quando a alma quer algo; o pensamento, quando ela raciocina, duvida, compara, abstrai etc. Pensamento e vontade assim definidos são, por assim dizer, as “dimensões” ativas da alma. A percepção seria, por outro lado, sua dimensão passiva. Isso fica mais claro quando enumeramos as formas gerais dessa percepção:

a. sensações dos corpos (formas, solidez, cores, sons etc.);
b. percepções das operações da própria alma (percepção de que está raciocinando, duvidando, querendo, imaginando, sentindo etc.); e
c. sentimentos (amor, ódio, tristeza, alegria etc.)

Em um sentido filosófico um pouco mais específico do que aquele já apontado, ligado à etimologia do termo ‘paixão’, todos esses três tipos de percepção poderiam ser ditos (e o são por Descartes) paixões da alma, porque ao contrário dos atos volitivos e intelectuais, acontecem passivamente à alma quando ela se encontra em determinadas situações. Quando o corpo a que está associada tem seus sentidos despertos e em bom funcionamento, postos em contato com uma vela acesa, por exemplo, a alma sentirá, quer queira, quer não, uma certa forma, uma certa luz, um certo calor (sensações). Quando a alma se auto-examina, ou, em linguagem filosófica, reflete, introspecta, não pode deixar de perceber que está raciocinando, ou duvidando, ou querendo algo, se de fato estiver (percepções das operações da alma). Por fim, diante de um gesto amigo ou de um carinho, sentirá a alma o amor; diante de uma ofensa, poderá sentir ódio ou mágoa; recebendo uma boa notícia, perceberá sua alegria, e assim por diante (sentimentos).

Chegamos, finalmente, ao ponto pretendido. Em seu sentido filosófico mais estrito a palavra ‘paixão’ denota exatamente esta última modalidade de percepções da alma: sentimentos como o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a admiração e o desejo.

Descartes considerava que as seis paixões que acabamos de enumerar eram básicas, enquanto que as demais, tais como o orgulho e a humildade, a veneração e o desdém, a esperança e o desespero, o medo e a coragem, a vergonha e a cólera, o remorso e a piedade seriam derivadas das paixões fundamentais por combinações e variações.

Não haveria espaço para explicar ou reproduzir aqui a complexa teoria cartesiana das paixões. Tampouco nos deteremos sobre a interessante análise que faz de cada paixão em particular, análise que ocupa boa parte do livro As Paixões da Alma. Ressaltaremos, entretanto, alguns pontos que podem contribuir para a nossa compreensão da natureza desses sentimentos.

No referido livro, assim como em outras obras, Descartes elabora detalhada teoria fisiológica que, embora hoje em dia possa parecer tosca e quimérica em muitos aspectos, representou um trabalho pioneiro, exercendo significativa influência no posterior desenvolvimento da ciência biológica.

A teoria cartesiana descrevia o corpo humano, como aliás todo universo material, em termos de um conjunto incrivelmente complexo de corpúsculos que agem sob leis mecânicas, leis que o próprio Descartes havia deduzido de pressupostos racionalistas na obra Os Princípios da Filosofia, de 1644. Ele foi um dos primeiros cientistas a reconhecer a teoria da circulação do sangue, proposta por William Harvey no início do século XVII. Descartes mantinha (de forma não totalmente original) que no sangue havia certos corpúsculos materiais extremamente pequenos e móveis, chamados espíritos animais. Não obstante o nome, não se tratava de modo algum de espíritos no sentido de seres inteligentes, mas de matéria pura e simples. Essas partículas diminutas eram como que “filtradas” nos “poros” do cérebro, passando a percorrer os nervos. O fluxo dos espíritos animais no sistema nervoso é a chave para explicar, na teoria cartesiana, fenômenos fisiológicos e psico-fisiológicos fundamentais, como o funcionamento dos sentidos, as motricidades voluntária e involuntária, e as próprias paixões da alma. Embora as paixões sejam percepções da alma, tinham, segundo essa teoria, uma contraparte fisiológica essencial. Infelizmente não poderemos fornecer detalhes aqui.

Abrimos um parêntese para mencionar um aspecto da teoria psico-fisiológica de Descartes que chama a atenção de pesquisadores espíritas: o papel central atribuído à glândula pineal, ou epífise, situada na base do cérebro. Até bem recentemente, a ciência acadêmica considerava que essa glândula não exercia nenhuma função relevante no homem adulto, julgando, pois, errônea a teoria de Descartes. No entanto, descobertas recentes vêm levando uma revisão dessa posição; a pineal parece ter determinante influência no controle de outras glândulas importantes, e portanto em toda a economia orgânica. Décadas antes que se começasse a perceber isso nos círculos oficiais, o cientista espírita desencarnado André Luiz recuperou e desenvolveu os elementos aproveitáveis da teoria cartesiana. Ambos, Descartes e André Luiz, atribuem à pineal o papel mais importante na ligação alma-corpo; seria, nas palavras do primeiro deles, como que a “principal sede da alma”, o lugar do mundo orgânico onde a alma “exerce imediatamente suas funções” (As Paixões da Alma, § 32).

Voltando à análise do conceito restrito de paixão, enfatizemos que ele preserva o elemento essencial da noção abrangente: a passividade. Amor, ódio, alegria, tristeza e demais paixões são algo que “se apodera” de nós de forma involuntária: pelo menos na sua gênese imediata não temos nenhuma participação voluntária. Embora Descartes não se tenha servido desta expressão, poderíamos dizer, simplificadamente, que para ele as paixões eram o resultado de uma espécie de automatismo psico-fisiológico. Na esfera fisiológica, esse automatismo envolvia, de forma essencial, o fluxo dos espíritos animais e sua interação com a pineal; na mente, manifestava-se como as percepções de amor, ódio etc., que cada homem sabe o que são por experiência direta.

Desnecessário notar que a ciência contemporânea não mais utiliza a noção de espíritos animais. No entanto, temos aqui mais um caso típico da história da ciência em que, embora rejeitados pela evolução da ciência, conceitos e teorias do passado aparecem ainda, embora bastante modificados, refinados e complementados, nas teorias mais recentes. A idéia geral de que algo percorre os nervos, trazendo as informações sensoriais para o encéfalo e conduzindo para os órgãos motores os impulsos nele originados mostrou-se fecunda e sustentável, estando presente na teorias científicas contemporâneas, que descrevem esse algo em termos de correntes elétricas.

Também a associação das paixões a um certo automatismo pode ser mantida até hoje. Estendendo de maneira profunda e segura a investigação do ser humano, o Espiritismo modificou e complementou a descrição desse automatismo, que deixa de estar centrado na estrutura fisiológica, residindo antes no próprio espírito, em sua existência que antecede e sucede à do corpo denso, com possíveis influências também do seu envoltório perispiritual. Assim é que se constata por observação direta que os Espíritos desencarnados continuam tendo sentimentos aparentemente semelhantes às nossas paixões. Isso indica que a causa imediata das paixões não se pode reduzir a processos referentes ao corpo denso, como achava Descartes. O fato de que diante de determinados estímulos externos ou internos a alma é automaticamente objeto daqueles sentimentos que chamamos paixões deve-se a uma faculdade inerente à própria alma, que tem uma razão de ser providencial, conforme vimos na introdução deste trabalho. (Retomaremos esse tópico mais adiante.)

Detenhamo-nos agora sobre as causas mediatas ou primeiras das paixões. Estas eram por Descartes classificadas em três grupos (As Paixões da Alma, § 51):

i. os objetos dos sentidos: alguém escuta uma boa notícia e sente alegria;  uma criança sendo maltratada e sente indignação ou cólera; cheira fumaça e sente medo de incêndio;

ii. as ações da alma: alguém pensa em suas qualidades e sente orgulho ou humildade; duvida da sinceridade de um amigo e sente tristeza; imagina os efeitos de uma tragédia e sente pena dos envolvidos;

iii. o “temperamento do corpo” e as “impressões que se encontram fortuitamente no cérebro”. São desse tipo, por exemplo, as paixões que temos “quando nos sentimos tristes ou alegres sem que possamos dizer o motivo”.

Este último item enseja aos pesquisadores espíritas outra oportunidade de complementar o que afirmou Descartes. Pelas investigações científicas dos fenômenos espíritas, conhecemos inúmeros fatos e leis da realidade espiritual que o filósofo aparentemente ignorava. É indubitável que alterações diversas do corpo, especialmente do sistema nervoso, podem de fato fazer surgir sentimentos ou paixões na alma. No entanto, sabemos que em muitas ocasiões em que não encontramos sua causa última naquilo que explicitamente observamos, quer no mundo exterior e em nossos corpos, quer em nossa alma, podem dever-se a fatores espirituais, tais como as vivências no mundo espiritual durante o sono, as influências obsessivas e telepáticas de um modo geral, ou a emersão parcial de nosso pretérito remoto.

3. O controle das paixões

Chegamos agora a um ponto saliente do estudo das paixões, enfatizado na seção de O Livro dos Espíritosque estamos analisando, e que recebeu também grande atenção da parte de Descartes: a questão de seu controle, domínio ou governo. Dada a própria conceituação de paixão, ou seja, de algo que acontece involuntariamente em nossa alma, uma impressão preliminar poderia ser a de que as paixões escapam, por sua própria natureza, a toda possibilidade de controle voluntário. No entanto, o assunto é complexo, e exige exame mais detido. Comecemos transcrevendo o item 909 de O Livro dos Espíritos:

909. Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, por vezes, fazendo esforços pequenos. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”

Embora não se fale aqui explicitamente em paixões, está claro a partir do contexto que as referidas “más inclinações” estão associadas ao desvirtuamento dos sentimentos naturais que estão na origem das paixões. Temos, por exemplo, uma tendência que parece natural, maior ou menor conforme a pessoa, de sentir orgulho quando nos elogiam, mágoa quando nos ofendem, inveja quando vemos alguém possuir aquilo que queríamos para nós próprios. Nos itens 910 e 911 a referência às paixões se torna explícita. No primeiro deles assevera-se que os bons Espíritos podem nos auxiliar a vencer as más paixões, pois que “é essa a missão deles.” O segundo vai agora transcrito em sua íntegra:

911. Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis, que a vontade seja impotente para dominá-las?

“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como “querem”. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em conseqüência de sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.”

Repare-se que nessas passagens o conceito de paixão está sendo restringido ao seu uso mais ordinário, de algo com conotação negativa, que requer controle ou superação. Isso não implica que devamos dissociá-lo de sua significação filosófica original, esboçada na seção precedente. Tudo o que nela foi visto aplica-se também aqui, onde se trata de paixões particulares, aquelas que redundam em um mal qualquer para algo ou alguém.

Feitas essas ressalvas, retomemos o cerne desses três quesitos de O Livro dos Espíritos. Neles se afirma resolutamente que as paixões negativas podem ser controladas pela vontade. Como fica então a conclusão a que havíamos chegado pela análise filosófica de que as paixões são aparentemente incontroláveis? Veremos agora que esse é um conflito apenas aparente, que se dissolve diante de um exame mais acurado. Descartes empreendeu ele próprio esse exame, e podemos aproveitá-lo quase que integralmente aqui, com as necessárias simplificações. Esses estudos de grande beleza e profundidade encontram-se principalmente nos parágrafos 44 a 50, e 137 a 148 de As Paixões da Alma.

Iniciemos pelo parágrafo 46. Quando sofremos uma paixão qualquer, embora seu afloramento seja espontâneo, involuntário, dado o automatismo que opera em nós, podemos, por nossa vontade, não consentir em seus efeitos e reter muitos dos movimentos aos quais ela dispõe o corpo. Por exemplo, se a cólera faz levantar a mão para bater, a vontade pode comumente retê-la; se o medo incita as pernas a fugir, a vontade pode detê-las, e assim por diante. [4]

Eis, portanto, uma constatação simples, porém altamente relevante para o controle das paixões: sustar os seus efeitos maléficos sobre as coisas e pessoas. Isso está em nosso poder, desde que tenhamos vontade firme e discernimento moral para reconhecer quais os efeitos bons e quais os ruins. (Abordaremos o assunto do senso moral na próxima seção.)

No entanto, ainda que exercida eficazmente essa limitação das manifestações externas das más paixões resta o fato de que elas continuam existindo enquanto fenômenos de nosso mundo íntimo, ou seja, os sentimentos continuam presentes em nossa alma, prejudicando-nos a paz interior. O que fazer agora?

Descartes enfatiza que a vontade não tem o poder de excitar ou suprimir diretamente as paixões (§ 45). Um pouco de reflexão leva-nos a concordar com ele. Bastará ao orgulhoso simplesmente querer ser humilde? De alguma coisa adiantará ao que está triste dizer para si próprio: ‘Ficarei alegre agora’? Vencerá alguém a mágoa simplesmente desejando alijar-se dela? Parece que não; falta algo além da vontade.

O que seria esse algo não se explicita na seção em exame de O Livro dos Espíritos. A resposta está implícita no conjunto da obra e suas complementações. Um dos méritos do texto de Descartes é justamente o de enfocar o problema de forma quase explícita. (Dissemos quase porque o que exporemos a seguir é fruto de uma elaboração de várias observações e asserções de Descartes.)

O filósofo francês afirma, notemos bem, que não temos controle direto sobre as paixões. Isso não significa que não possamos controlá-las indiretamente, mediante certos artifícios. Consideremos uma útil analogia de que Descartes lança mão no parágrafo 44. Constitui fato patente que há certos movimentos corporais sobre os quais a vontade é incapaz de atuar diretamente, como a abertura ou fechamento das pupilas: ninguém as abre ou fecha voluntariamente. No entanto, podemos facilmente fazê-las se fechar ou abrir indiretamente, voltando nossos olhos para uma região mais clara ou outra mais escura. Sobre os movimentos dos olhos, pálpebras e face temos pleno controle e, explorando o automatismo fisiológico, logramos controlar a abertura das pupilas de forma indireta. As paixões, diz Descartes (§ 45), podem, de forma análoga, ser excitadas ou suprimidas indiretamente pela representação das coisas que costumam estar unidas às paixões que queremos ter, e que são contrárias às que queremos rejeitar. Assim, para excitarmos em nós a coragem e suprimirmos o medo, não basta ter a vontade de fazê-lo, mas é preciso aplicar-nos a considerar as razões, os objetos ou os exemplos que persuadem de que o perigo não é grande; de que há sempre mais segurança na defesa do que na fuga; de que teremos a glória e a alegria de havermos vencido, ao passo que não poderemos esperar da fuga senão o pesar e a vergonha de termos fugido, e coisas semelhantes.

Como no caso da abertura das pupilas, podemos estudar o automatismo das paixões e colocá-lo a nosso serviço. O exemplo dado por Descartes refere-se à paixão do medo. Tentemos ver como seria no caso da mágoa. Diante de uma ofensa, pode acontecer de ficarmos magoados, quer queiramos ou não. Reconhecendo porém os malefícios desse sentimento, aplicamo-nos em combatê-lo. Para tanto, temos que nos “representar” coisas que sabemos estar unidas ao perdão e que são contrárias à mágoa. Podemos, por exemplo, ponderar que o ofensor é uma pessoa infeliz; que não teve ainda a glória de ascender a um patamar comportamental melhor; que pode ter agido sob o peso de problemas que desconhecemos; que pode não ter encontrado na infância pais devotados e bons que lhe ensinassem a virtude por palavras e atos; que ele colherá frutos amargos de sua ação; que, de nosso lado, havemos de possuir em nosso passado fatores que determinaram a necessidade ou conveniência de enfrentarmos semelhante provação. Examinando as obras espíritas voltadas à orientação moral, é fácil encontrar muitas considerações desse teor. Os bons autores espíritas sabem que a melhoria moral da criatura não é uma questão de prescrições, de proibições, mas de esclarecimento e de substituição de hábitos.

Falamos em hábitos e isso nos conduz a outro tópico da análise cartesiana. Quando recorremos à noção de automatismo para explicar o mecanismo das paixões devemos esclarecer mais sua natureza, se é permanente e inalterável ou não. Pois bem: Descartes sustentava que esse automatismo das paixões (embora, repitamos, não tenha usado essa expressão) podia ser alterado. Essa possibilidade era por ele entendida em termos das associações de pensamentos e movimentos corporais com os fluxos dos espíritos animais. Ele assumia que a Natureza determinava essas associações, mas que podíamos até certo ponto alterá-las “por hábito” (§ 50). Lembra, por comparação, que mesmo os animais podem ter suas reações naturais parcialmente alteradas por condicionamento (como diríamos hoje). O cão, que por uma disposição natural é levado a correr na direção da perdiz para apanhá-la, pode ser treinado para deter-se quando a vê, esperando pelo caçador. E conclui (§ 50):

Ora, essas coisas são úteis de saber para nos encorajar a aprender a regrar nossas paixões. Pois dado que se pode, com um pouco de engenho, mudar os movimentos do cérebro nos animais desprovidos de razão, é evidente que se pode fazê-lo melhor ainda nos homens, e que mesmo aqueles que possuem as almas mais fracas poderiam adquirir um império bem absoluto sobre todas as suas paixões, se empregassem bastante engenho em domá-las e conduzi-las.

Deve estar claro que o “engenho” ou habilidade a que se refere Descartes é precisamente a aludida técnica de a alma “representar” para si as coisas que tendam a diminuir as paixões que quer combater e a incrementar as que lhe são contrárias. Desse modo, novas associações mentais se estabelecem (para ele seriam associações psico-fisiológicas), e as más paixões se vão amainando, até voltarem à sua condição natural e primitiva, incapaz de produzir males. A cólera, por exemplo, iria se transmudando em mágoa, e esta depois se reduziria à mera desaprovação, ao mero desagrado, natural e decorrente do próprio senso moral, de que não se pode nem deve abdicar.

4. As paixões e a moral

Até aqui tentamos analisar as paixões dos pontos de vista fisiológico, psicológico e anímico. Utilizamos as noções de paixões boas e más, de efeitos bons e maus, de malefícios e benefícios sem questionar a distinção do bem e do mal. É evidente que para aplicarmo-nos ao controle de nossas paixões é preciso antes saber distinguir o bem do mal. Isso cabe à área da filosofia denominada moral ou ética. Descartes e a maior parte dos grandes filósofos atribuíram grande importância ao estudo da moral, procurando determinar o critério do bem e do mal e os fundamentos nos quais se apóie. Não podemos adentrar esse assunto aqui. Iremos nos ater unicamente a alguns aspectos das relações entre as paixões e a moral, tratados em As Paixões da Alma.

No parágrafo 47, Descartes fornece uma explicação para o fenômeno psicológico do conflito entre aquilo que a alma quer e o que sente como paixão.[5] Não se trata, diz Descartes, de um combate entre a “parte inferior” e a “parte superior” da alma, conforme se costuma imaginar. A alma é una, não se concebe que tenha partes. A explicação do fato liga-se àquilo que, em adaptação da terminologia cartesiana, vimos denominando automatismo das paixões. Não desceremos aos detalhes dessa complexa explicação. Notemos apenas que é fácil entender o referido conflito quando se nota que a alma responde às situações, no nível das paixões, segundo reflexos parcialmente incondicionados e parcialmente condicionados, conforme vimos anteriormente. No plano intelectual e moral, porém, essas mesmas situações passam por exames via de regra conscientes e deliberados, podendo daí resultar serem apreendidas de modo diverso. Quando tratamos do controle das paixões estava implícito esse descompasso entre senso moral e paixões, pois o controle só é percebido como necessário quando as paixões não se harmonizam com aquilo que se julga ser correto ou bom.

O parágrafo 48 aborda a questão do esforço que a alma faz para superar esse conflito íntimo. Inspecionemos na íntegra esse interessante parágrafo (os destaques são nossos):

Ora, é pelo desfecho desses combates que cada qual pode conhecer a força ou a fraqueza de sua alma. Pois aqueles cuja vontade pode, naturalmente, com maior facilidade, vencer as paixões e sustar os movimentos do corpo que os acompanham têm, sem dúvida, as almas mais fortes. Há, porém, os que não podem comprovar a própria força porque nunca levam a combate sua vontade juntamente com suaspróprias armas, mas apenas com as que lhes fornecem algumas paixões para resistir a algumas outras. O que denomino próprias armas da vontade são os juízos firmes e determinados sobre o conhecimento do bem e do mal, consoante os quais ela resolveu conduzir as ações de sua vida. E as almas mais fracas são aquelas cuja vontade não se decide assim a seguir certos juízos, deixando-se arrastar continuamente pelas paixões presentes, que, sendo muitas vezes contrárias umas às outras, puxam-na sucessivamente cada uma para o seu lado e, fazendo-a combater contra si mesma, colocam-na no estado mais deplorável possível. Assim, por exemplo, quando o medo representa a morte como um extremo mal, que só pode ser evitado pela fuga [do perigo], e a ambição, de outro lado, representa a infâmia dessa fuga como um mal pior que a morte, essas duas paixões agitam diversamente a vontade, que, obedecendo ora a uma, ora a outra, se opõe continuamente a si própria, tornando assim a alma escrava e infeliz.

A “força” da alma é definida com referência à sua vontade. As pessoas de vontade fraca deixam-se simplesmente levar pelas paixões, tão amiúde contrárias umas às outras, do que resulta o mais deplorável estado de alma. No entanto, só a vontade forte não basta; é necessária a utilização das “armas” da vontade, que são “juízos firmes e determinados sobre o conhecimento do bem e do mal”. Ou seja, a alma precisa saber distinguir de forma segura o bem do mal. Tem de possuir critérios morais sólidos, caso contrário poderá aplicar sua vontade sobre alvos errados, dando combate a paixões boas ou cultivando paixões más, como acontece, por exemplo, com quem alega que a humildade não se coaduna com a dignidade humana, ou que o ciúme é necessário ao amor.

No parágrafo seguinte (49), Descartes observa que “há pouquíssimos homens tão fracos e irresolutos que nada queiram senão o que suas paixões lhes ditam”. Isso, porém, não é tudo:

Há, entretanto, grande diferença entre as resoluções que procedem de alguma falsa opinião e as que se apóiam tão-somente no conhecimento da verdade, visto que se seguirmos estas últimas estaremos certos de não ter jamais do que nos lamentar nem arrepender, ao passo que o teremos sempre, se seguirmos as primeiras, quando lhes descobrimos o erro.

O conhecimento moral é, pois, de capital importância para que a alma alcance o equilíbrio interior, pela indispensável iluminação do processo de controle das paixões. E nesse particular o Espiritismo tem contribuições de alta relevância para fazer. De modo pioneiro na história do pensamento, forneceu à moral um embasamento seguro e objetivo, a partir da análise racional dos fatos da vida humana, vistos de uma perspectiva muito ampliada e detalhada com relação àquelas do materialismo ou das religiões dogmáticas. À luz do conhecimento espírita, o critério do bem e do mal, do certo e do errado, dos deveres e direitos, não é mais uma questão de gosto, de prescrições, de cultura ou de época, nem se funda “em algumas paixões pelas quais a vontade se deixou anteriormente vencer ou seduzir” (ibid., § 49). Resulta, antes, do exame objetivo das conseqüências de nossas ações, com vistas à aproximação gradual da felicidade.[6]

Para exemplificar o raciocínio, consideremos as paixões do amor e do ódio, da humildade e do orgulho, da piedade e da dureza, da esperança e do desespero, da coragem e do medo. Se perguntarmos quais delas devem ser cultivadas e quais reprimidas, a resposta pressuporá um certo critério moral. Evidentemente existe na humanidade terrena, em seu presente estado evolutivo, uma multiplicidade de critérios morais, capazes de levar a diferentes classificações das paixões enumeradas. Há quem julgue, por exemplo, que a humildade rebaixa a criatura; que a piedade é apanágio das almas frágeis; que a desesperança é a postura correta diante da triste situação do mundo e da natureza humana…

Com sua ética objetiva, o Espiritismo pode pôr termo a tais disparidades de opinião, indicando claramente quais as paixões e atitudes que melhor conduzem o homem à almejada felicidade, concebida em termos amplos e perenes. Na lista que demos, por exemplo, são as primeiras paixões de cada par, nunca as segundas, aquelas que devemos permitir que vicejem em nossas almas.

Ao mesmo tempo em que nos esclarece acerca do bem e do mal, o Espiritismo fornece os meios para podermos executar o controle das “más inclinações”, ao longo das linhas sugeridas por Descartes. Na seção anterior, exemplificamos esse processo no caso da mágoa. Procedendo de modo semelhante com as demais paixões, elas serão reconduzidas ao seu estado de pureza original, conforme se expressa nas questões 907 e 908 de O Livro dos Espíritos. Nos judiciosos comentários que as seguem, Kardec afirma que as paixões “são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência”. A finalidade boa das paixões é destacada em termos equivalentes por Descartes no parágrafo 52 de As Paixões da Alma: “o emprego de todas as paixões consiste apenas no fato de disporem a alma a querer coisas que a Natureza dita serem úteis a nós, e a persistir nessa vontade, assim como a mesma agitação dos espíritos [animais] que costuma causá-las dispõe o corpo aos movimentos que servem à execução dessas coisas”. (Ver também os parágrafos 137 e 138.)

Detenhamo-nos ainda um pouco sobre esse tópico. À primeira vista, é fácil reconhecer que o amor, a coragem e alegria, por exemplo, provêm de princípios bons e concorrem para o nosso bem. No entanto, mesmo essas paixões boas podem ser mal conduzidas e desvirtuadas, levando, respectivamente, ao ciúme, à temeridade e ao estouvamento.

Por outro lado, não é imediata a identificação de origens boas e providenciais das quais paixões como a cólera ou o orgulho possam provir. Descartes, Kardec e os Espíritos que com ele colaboraram nos asseguram que os há, todavia. Ensaiemos uma busca.

A cólera é o sentimento violento de desagrado e revolta que costuma surgir de ofensas físicas ou morais graves, não raro desaguando em ações retaliatórias variadas. Examinando o caso, percebemos que a face moralmente insustentável da cólera é a vingança, bem como o tumulto interior a que arroja. Entretanto, em suas origens podemos localizar algo bom: a desaprovação da agressão. Ora, tal desaprovação deflui naturalmente do senso moral, da faculdade de discernir o certo do errado, de que não podemos abdicar sem retroceder ao estágio da animalidade. O perdão que a ética espírita e cristã recomenda de modo algum significa a aprovação moral das ofensas.

O orgulho, por sua vez, é o sentimento de superioridade em relação aos semelhantes, capaz de induzir-nos a desprezá-los e até mesmo a subjugá-los, quando temos poder para tanto. Embora patentemente injustificável frente ao conhecimento espírita, remontando aos seus princípios talvez possamos identificar algo como a confiança nas próprias potencialidades. Sentimento benéfico, essa auto-confiança é indispensável para que não nos amolentemos, não descreiamos de nosso aprimoramento físico, intelectual, artístico e moral. É somente quando, por excesso, ultrapassa seus limites naturais, que ela se transmuda em orgulho pernicioso.

5. Na direção do Infinito

Não poderíamos concluir este pequeno trabalho sem mencionar que no final da terceira parte de seu livro Descartes apresenta brevemente um outro aspecto das percepções da alma, complementar ao das paixões, tais quais as entendia. Vimos que para ele estas últimas tinham sempre uma “contraparte” orgânica. Sugerimos, por nossa vez, que esse aspecto talvez não seja central nas paixões, que parecem antes ser inerentes à própria alma.

De qualquer modo, dentro do referencial que elaborou, Descartes também notou que há percepções da alma que radicam nela própria, ou, em suas palavras, “emoções interiores que são excitadas na alma apenas pela própria alma” (§ 147; grifamos). Um dos exemplos que dá é a “alegria intelectual” que sentimos quando lemos um romance ou assistimos a uma peça teatral em que as situações excitam em nós diversas paixões, como a alegria, a tristeza, o ódio, o amor, trazendo-nos todas uma espécie de prazer de ordem superior.

Vejamos estas belas passagens do parágrafo 148, em que Descartes desenvolve o tema:

Ora, visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma.

Descartes aponta, assim, uma espécie de sublimação dos sentimentos, na direção da alegria perene e sem mácula que resulta tão-somente da prática da virtude. Essa a alegria que viveremos um dia, quando, pelos nossos esforços, lograrmos alcançar a excelsa condição de Espíritos puros.

Notas

1. Gostaria de agradecer a Márcio Corrêa, Cosme Massi e Matthieu Tubino pelos comentários feitos a versões preliminares deste trabalho.

2. Nesta e demais citações do Livro dos Espíritos utilizamos o texto original, aproveitando em grande parte a tradução de Guillon Ribeiro, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

3. Sobre a ciência espírita, ver nossos artigos “O paradigma espírita” e “A excelência metodológica do Espiritismo”, bem como as referências neles contidas.

4. Nesta e demais citações desse livro utilizamos o original francês, aproveitando, quando possível, a tradução brasileira indicada na lista bibliográfica.

5. Essa tensão já havia aliás sido comentada, em termos diversos, por Paulo no capítulo 7 da Epístola aos Romanos.

6. Para uma análise sucinta desse ponto ver nosso artigo “Os fundamentos da ética espírita”.

Referências

 CHIBENI, S.S. “Os fundamentos da ética espírita”, Reformador, junho de 1985, pp. 166-9.

• —-. “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-33, e dezembro de 1988, pp. 373-78.

• —-. “O paradigma espírita”, Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.

• DESCARTES, R. Les Passions de l’Âme. In: Adam, C. e Tannery, P. (eds.) Oeuvres de Descartes. Tomo XI, pp. 291-497. Paris, Vrin, 1967. (As Paixões da Alma. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. In: Descartes – Obra Escolhida, pp. 295-404. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.)

• KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 64a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.)

(Artigo publicado em Reformador, abril/1998, pp. 112-15 e 125-7.)

Texto base para o Seminário desenvolvido por Cosme Massi Sobre as paixões, em Umuarama, Paraná, ao ensejo da realização do 9º Endesp – Encontro de Dirigentes Espíritas, promovido pela Inter-Regional Noroeste, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2008.

Da página da Federação Espírita do Paraná

O Preparo Espiritual da Sala

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

O Preparo Espiritual da Sala

Objetivo:

Levar os alunos a compreenderem sua responsabilidade em relação ao ambiente em que se dará a reunião, o papel do evangelho como auxiliar no fortalecimento moral do médium e perceber a necessidade de vivenciar as normas da conduta nele contida.

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”,  2ª parte – cap. XXIX – item 341; (*) Suely Caldas Schubert, “Transtornos Mentais”,  cap. 2 (Estrutura Espiritual da Reunião); (*) F. C. Xavier, André Luiz,  “Desobsessão”, cap. 4 (Preparo para a Reunião) e cap. 27 (Livros para Leitura).

Introdução

A partir do estudo da última aula, reflita sobre os seguintes pontos:

1-O que é espiritualismo?
2-O que é mediunismo?
3-Como você pode conceituar o homem de bem?
4-Que reflexão fez o filósofo Platão sobre a origem da vida terrena?
5-Qual a importância da concentração no desenvolvimento medianímico?
6-À luz do que vimos sobre a orientação mediúnica, podemos acreditar em todos os espíritos?

1-A Casa Espírita

Segundo Herculano Pires, o Centro ou Casa Espírita não é um templo nem um laboratório, mas um ponto de convergência da Doutrina Espírita.

2-A sala de trabalho mediúnico

A sala é o local da reunião mediúnica. É preparada por trabalhadores encarnados (as equipes do Centro) e desencarnados, como os protetores da instituição, os benfeitores associados às tarefas, aos grupos de tarefeiros ou às pessoas atendidas.

3-Atividades na sala mediúnica

-Coleta, manipulação e direcionamento de energias;

-Cirurgias perispirituais;

-Anulação de fixações mentais;

-Terapia sobre registros mentais atuais ou pretéritos.

4-Recursos da espiritualidade

 

-Painéis ou quadros fluídicos;

-Instrumentos de apoio da equipe espiritual;

-Aparatos que lembram instalações hospitalares terrenas, etc.

5-Interferências

-Maus pensamentos e má vontade dos participantes, encarnados ou não;

-Vibrações deprimentes;

-Ideoplastias;

-Sentimentos como raiva, revolta, orgulho etc.

FAIXAS MAGNÉTICAS PROTETORAS

As faixas magnéticas servem para proteger os trabalhos e manter a pureza fluídica necessária ao tratamento dos Espíritos atendidos nas reuniões mediúnicas.

Primeira Faixa: proteção à mesa, ao grupo de trabalho, à assistência e aos Espíritos em tratamento naquela tarefa.

Segunda Faixa: envolve as pessoas e os desencarnados não atuantes na reunião, fora do recinto, mas ainda dentro da Casa Espírita.

Terceira Faixa: circunda toda a Casa Espírita, a parte exterior do edifício, contando com apoio da vigilância de sentinelas da espiritualidade, isolando magneticamente toda a instituição de uma multidão de Espíritos, muitas vezes hostis.

Entre uma e outra faixas, há rede energética de proteção, para amparo e controle de algum Espírito mais rebelde ou teimoso. (F.C.Xavier, Médium, Efigênio S. Vitor, Espírito,“Mensagens Psicofônicas”, Um irmão de regresso)

Corrente e Semi-corrente

Quando os médiuns estão sentados à mesa e firmemente concentrados, emitem um forte fluxo de fluidos que se ligam e formam uma espécie de nuvem mais ou menos luminosa e altamente magnetizada: é a corrente magnética. Ela é fortificada pelos espíritos que velam pela sessão e constitui uma poderosa fonte de fluidos curadores.

Se, durante a sessão, um médium rogar ao Pai por uma pessoa que esteja enferma ou em aflição, os espíritos curadores podem fazer chegar até essa pessoa a força magnética capaz de curá-la ou aliviá-la. É o que se chama um passe a distância. Da mesma maneira, se os assistentes da sessão orarem com fé atrairão para si os benefícios que a corrente magnética lhes pode proporcionar.

semi-corrente é formada na primeira fileira, logo atrás dos médiuns, e é composta dos médiuns que não tiveram lugar na mesa e pelos doentes que necessitam serem banhados pelos eflúvios magnéticos que se irradiam diretamente da corrente. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade Sem Lágrimas”, Ed.Pensamento, 2000, p.75)

A Mesa nas Sessões Espíritas

Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não obstante, há quem considere esse ato puramente místico e mágico, lembrando a evocação e a prece.

Não nos sentamos em torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito, mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da doutrinação.

É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos, de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos. Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos. Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a conversação necessária e logo depois eles desaparecem como apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite.

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”, pp. 49-50)

A questão das materializações e da percepção medianímica

Materialização

SAULO – Pois parece, podemos dizer ao telespectador, que uma etapa do mundo israelita aqui está presente. É o professor Beni, que, em nome deste grupo de São Paulo, formula a sua pergunta. Ele tem um pouco de sotaque, porque não se trata de brasileiro.

PROFESSOR BENI – Tenho grande prazer de estar aqui, porque me interesso muito pelo estudo do espiritismo, não?
Gostaria de saber, eu fui convidado por umas pessoas do professor Herculano Pires para assistir um trabalho de materialização, e eu cumpri as recomendações que me foram concedidas previamente. Eu presenciei alguma coisa, vi algo lá, não me lembro, aqui num bairro de São Paulo. A pessoa que foi comigo, uma outra pessoa israelita, eu vi tudo isto lá, e ele me disse que não viu, absolutamente, e me acusou de mistificador.
Eu gostaria de saber porque que eu vi esta manifestação, e esta pessoa não viu?

ALMIR – Entendeu, Chico? Ele participou de uma sessão de fenômenos de materialização, ele assistiu, viu as pessoas, viu os espíritos se materializarem, e o amigo não viu, e o amigo então o tachou de embusteiro, de mistificador. Ele quer saber porque em sessões desta natureza, algumas pessoas podem observar a verificação destes fenômenos, e outras não?

CHICO XAVIER – Cremos que o problema estará filiado à sensibilidade visual do ponto-de-vista psíquico, de nosso amigo, porque muitas vezes temos ido pessoalmente a reuniões, verificamos a presença de determinadas entidades, que muitos amigos não as vêem. Acreditamos que o nosso amigo é portador do que nós chamamos clarividência mediúnica, talvez não muito desenvolvida, por enquanto, mas suscetível de encontrar um grau muito elevado de evolução, propiciando a ele mesmo ensinamentos muito grandes e lições que serão para ele verdadeiras bênçãos da espiritualidade superior.

(F.C.Xavier, “Dos Hippies aos Problemas do Mundo”. São Paulo: LAKE, 4ª.ed, 2003, pp. 78-79)

Comentário:
O texto acima é um fragmento da entrevista de Chico Xavier que deu vez à sua segunda participação no programa “Pinga-Fogo”, da TV Tupi, Canal 4 de São Paulo, que foi ao ar em 20/12/1971.
A respeito dos fenômenos de materialização, lembramos que semelhante evento é de extrema raridade.
Em primeiro lugar, a pouco ocorrência se deve à enorme quantidade de recursos da espiritualidade que se precisa reunir para realizar o fenômeno.
Em segundo lugar, todo fenômeno de materialização exige, além do médium adequado, recursos da espiritualidade e do grupo, que lhe permitam consumar-se. Não basta o interesse do grupo e a presença do medianeiro adequado, mister se fará criar as condições fluídicas e vibratórias propícias ao evento e o devido apoio espiritual.
Vale lembrar que há de prevalecer sempre a utilidade do fenômeno na senda do bem e a moralidade elevada em toda tarefa espiritual séria.

Conhecemos vários casos relevantes, como as materializações de Irmã Josefa, de Katie King e do cavalheiro com a tabaqueira, este citado por Kardec na “Revista Espírita”, em sua edições de março de 1859 e em maio de 1861.
Para melhor ilustrar o comentário, reproduzo trecho de artigo do sítio Lampadário Espírita:
Alexandre Aksakof, na obra “Um Caso de Desmaterialização Parcial do corpo dum Médium”, define como três as espécies de materializações:
1º – Materialização invisível – que envolve movimentos de objetos e sensações de contacto que se experimenta nas sessões e que se atribui a uma mão invisível;
2º – Materialização visível e tangível – aparição de forma parcial e incompleta de mãos, cabeças, etc.

3º – Materialização completa – de uma forma humana completamente visível e tangível que, para a vista comum, não difere em nada de um corpo humano vivo. É o fenômeno mais elevado da materialização, durante o qual o médium acha-se geralmente em transe (sono magnético).
Aksakof vai mais além, afirmando que toda materialização necessita de uma desmaterialização correspondente do médium. Daí, as vezes, o Espírito materializado apresentar semelhança com o médium.
O que se verificou com o Espírito Katie King e a médium que lhe cedia os necessários fluidos de materialização, Florence Cook.

Victor Hugo e os fenômenos mediúnicos

Contatos do escritor Victor Hugo com espíritos são tema de exposição em Paris

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Em 1852, o escritor francês Victor Hugo (1802-1885), autor de livros como “Os Miseráveis” e um dos maiores poetas de todos os tempos, exilou-se na ilha de Jersey, entre a França e a Inglaterra, por motivos políticos.

Ali, viveu um episódio muito controverso da história cultural francesa.

(Reprodução)

Ectoplasma sai da boca de mulher em sessão mediúnica de 1918


Ectoplasma sai da boca de mulher em sessão mediúnica de 1918

Realizou, entre 1853 e 1855, inúmeras sessões de mesa falante (ou girante), a fim de se comunicar com espíritos –com sua filha Léopoldine, que havia morrido aos 19 anos, em 1843, afogada no Sena, mas também com William Shakespeare (1564-1616) e Dante (1265-1321).

Essa experiência é tema de uma interessantíssima exposição em cartaz (até 20 de janeiro) no museu Maison de Victor Hugo, em Paris: “Entrée des Médiums – Spiritisme et Art d’Hugo à Breton”.

O título, “Entrada dos Médiuns”, vem de um texto do escritor André Breton (1896-1966), líder do surrealismo, movimento literário e artístico que se interessou pelos fenômenos mediúnicos e chamou a atenção para a obra de médiuns-pintores.

PARANORMAIS

A primeira parte da mostra trata das relações de Hugo e sua família com o espiritualismo, expondo desenhos do poeta, fotos feitas por seu filho (e principal médium) Charles Hugo, além de manuscritos com as transcrições de mensagens colhidas na mesa falante de Jersey.

A segunda e a terceira partes trazem trabalhos de artistas-médiuns e de médiuns-artistas, todos eles pouco conhecidos e em geral classificados como “art brut”, tais como Fernand Desmoulin (1853-1914), Victorien Sardou (1831-1908) e Hélène Smith (1861-1929), por exemplo.

O principal interesse da sessão sobre a metapsíquica (corrente de estudos criada pelo cientista Charles Richet com a finalidade de pesquisar fenômenos paranormais) é a série de fotos da médium Marthe Béraud expelindo ectoplasmas (materializações de espíritos).

As imagens são extraordinárias, “verdadeiras esculturas conceituais”, nas palavras de Gérard Audine, diretor do museu.

As relações intensas, mas pouco ortodoxas, dos surrealistas com a metapsíquica, a vidência e o espiritismo concluem a mostra, com obras de Robert Desnos (1900-1945), André Masson (1896-1987), Yves Tanguy (1900-1955) e outros.

Além de incomum, a exposição é audaciosa por abordar temas e crenças que sempre são tratados com muita discrição na França –pátria de Voltaire (1694-1778), mas também de Allan Kardec (1804-1869).

(Folha de S.Paulo, Ilustrada, 28/12/2012, p.C-5)

Nossos Entes Queridos

Um ponto importante, nas relações afetivas: a nossa atitude para com os entes amados. Habitualmente, em nossa dedicação, somos tentados a escolher caminhos que supomos devam eles trilhar.

Inclinação esta mais do que justa, porquanto muito instintivamente desejamos para os outros alegrias semelhantes às nossas.

Urge considerar, entretanto, que Deus não dá cópias.

Dos pés à cabeça e de braço a braço, cada criatura é um mundo por si, gravitando para determinadas metas evolutivas, em órbitas diferentes.

À face disso, cada pessoa possui necessidades originais e tem o passo marcado em ritmo diverso.

A vida, como sucede à escola, é igual para todos nos valores do tempo; no entanto, cada aprendiz da experiência humana, qual ocorre no educandário, estagia provisoriamente em determinado caminho de lições.

*

Aquele companheiro terá tomado corpo na Terra a fim de casar-se e construir a família; outro, porém, ter-se-á incorporado no plano físico para a geração de obras espirituais com imperativos de serviço muito diferentes daqueles da procriação propriamente considerada.

*

Essa irmã terá nascido no mundo para a formação de filhos destinados à sustentação da vida planetária; aquela outra, todavia, terá vindo ao campo dos homens a fim de servir a causas generosas em regime de celibato.

*

Cada coração pulsa em faixa específica de interesses afetivos.

Cada pessoa se ajusta a certa função, compreendendo assim, sempre que a nossa ternura se proponha traçar caminhos para os entes amados, saibamos consagrar-lhes, em silêncio, respeitoso carinho, e, se quisermos auxiliá-los, oremos por eles, rogando à Sabedoria Divina os inspire e ilumine, de vez que só Deus sabe no íntimo de nós todos aquilo que mais convém ao burilamento e à felicidade de cada um.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Rumo Certo.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
5a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991.