Sobre Ensino Religioso

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(Reprodução)

ENSINO RELIGIOSO
Devemos ter um currículo específico de Educação religiosa nas Escolas? Ou cabe à família conduzir seus filhos no caminho dos valores religiosos? Se essa tarefa cabe à Escola, como atender às diferentes crenças numa mesma instituição?

A função primordial e específica da Escola é oferecer equipamentos próprios para o desnvolvimento intecto-moral do educando, recorrendo aos métodos psicopedagógicos mais compatíveis com a faixa etária e o desnvolvimento mental do mesmo.

Essencialmente leiga, a Escola deve primar pela inteireza moral dos seus mestres, que constituem modelos vivos para os alunos, jamais estabelecendo currículos de orientação religiosa, o que viria a contituir uma agressão aos direitos das doutrinas minoritárias, que teriam dificuldades em proporcionar educadortes especializados para que ministrem em todos os educandários os princípios que lhes constituem as bases. Ademais, o tempo aplicado em programa religioso seria retirado do horário que deve ser preenchido com as atividades pertinentes ao currículo leigo.

À família cabe, aliás, não somente a tarefa de condução dos filhos à religião que os seus pais professam, senão, também, e principalmente, da educação em geral, constituindo-se suporte-exemplo para o trabalho complementar da Escola que, além de instruir, amplia o seu labor com os recursos da educação no sentido mais amplo.
Toda tentativa de levar orientação religiosa à Escola, a fim de que ministre cursos doutrinários, constitui ameaça à liberdade do aluno, gerando-lhe constrangimento, quando não lhe impondo, em razão da intolerância que predomina em a natureza humana, atitudes imcompatíveis com seu desenvolvimeto moral.”

(Divaldo P. Franco, médium, Vianna de Carvalho, Espírito, in Atualidade do Pensamento Espírita, Salvador: Ed. LEAL, item 117)

(Colaboração de Rosselito Magalhães, CVDEE – Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo, www.cvdee.org.br)

Dever e Virtude (Reforma Íntima)

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Dever e Virtude (Reforma Íntima)

A Virgem das Rochas
A Virgem das Rochas

1-Conceito de reforma íntima

Conhecimento de si mesmo: identificação de qualidades, defeitos, pontos fortes e fracos, virtudes, objetivos de vida;

Transformação: processo de melhoria, aperfeiçoamento, crescimento;

Auto-renovação: substituir hábitos e conceitos inferiores por outros, que nos edifiquem.

2-O porquê da reforma íntima

-Sophrosýne: sanidade moral. Autocontrole e moderação; prudência; “nada em excesso”;

-Conhecermos nossa destinação;

-Desenvolvimento intelectual e moral.

3-Quando iniciar a reforma íntima

-Momento pessoal: velhice ou meia-idade, não importa, cada um tem o seu momento de reforma;

-Interesses: podem nos mostrar a expressão de nossas características, desejos, tendências.

4-Onde se inicia a reforma íntima

-Durante a encarnação: por que o véu do esquecimento nos beneficia, facilitando a interação em grupo e dando-nos oportunidade de convivência saudável.

5-Como começa a reforma íntima

-O processo começa à medida que cada um toma conhecimento de si mesmo, mas isto é gradual, surge após entrarmos na caminhada rumo a nossa  melhoria.

-Conhecimento do destino: as intuições derivadas dos nossos registros inconscientes, como nossas reflexões diárias, podem nos propiciar este conhecimento.

-Identificação de maus hábitos, vícios e virtudes.

O início do processo de reforma pode ser:

-A auto-análise de cada um;

-Experiências do convívio e diálogo com os outros;

-O aprendizado efetuado através da dor;

-Reflexão sobre a sua condição (cidadão, mãe, pai, filho, profissional, voluntário, consumidor, líder etc.).

6-Roteiro

-Definir metas, um propósito de vida;

-Busque um foco, uma meta por vez;

-Deixe seus objetivos bem claros.

7-Dificuldades

Podem prejudicar o processo de reforma íntima, como: falta de vontade; falta de motivação; procrastinação; apego.

8-Origem dos vícios

-Padrões mentais;

-Necessidades corpóreas;

-Traços reencarnatórios;

-Influências: presentes ou pretéritas; mundo físico ou invisível.

9-Recursos para iniciar sua reforma íntima

-Auto-sugestão;

-Evitar situações de apego;

-Prece;

-Serviço ao próximo;

-Boas leituras, bons pensamentos;

-Controle mental.

10-O que transformar

Cada um deve refletir e indagar-se, não desistindo de se melhorar e cultivando bons sentimentos, valores e atitudes.

11-Prática

Pode-se praticar a reforma íntima fazendo auto-análise; refletindo diariamente sobre o que se fez, deixou de fazer, aprendeu; ou simplesmente anotando estes aspectos, como num diário de mudança e melhoria pessoal.

12-Exemplos

-Perceba se são recorrentes em você: o ódio, os sentimentos punitivos ou os impulsos capazes de te dominar.

13-Reflexão importante

Hoje, nós estamos melhores do que ontem. Amanhã, estaremos melhores do que hoje.

“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” (Paulo de Tarso)

Leitura complementar:

Somos chamados à decantada reforma íntima, abrangendo como pensamos, o que fazemos.

Se sabemos que:

-Não transitamos pela Terra em jornada de férias.

-Somos seres imortais que já vivíamos antes do berço e continuaremos a viver depois do túmulo.

-Aqui estamos com o objetivo primordial de evoluir, superando limitações e mazelas.

-É preciso vencer o egoísmo, o elemento gerador de todos os males humanos.

-Devemos nos harmonizar com as pessoas de nossa convivência, superando desentendimentos do passado ou do presente.

-A vivência das virtudes evangélicas constitui um exercício diário indispensável.

Se aprendemos tudo isso, dá para perceber que o Espiritismo não é mero passaporte para as bem-aventuranças, além-túmulo. Situa-se muito mais como um roteiro. (Richard Simonetti, “Bem passada!”, Revista Reformador, Novembro/2005)

4º Ano – Aula 24

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

A Nova Geração

A Transição da Terra

A Terra é um mundo de provas e expiações, por isso a população do planeta apresenta sintonia moral e vibratória com essas condições, aonde têm presença majoritária os Espíritos atrasados e ainda inclinados ao mal. Os bons, em menor número, são sufocados pelos demais. A evolução para mundo de regeneração passará pela renovação dos habitantes do planeta, ou seja, superioridade numérica dos Espíritos mais adiantados e propensos ao bem, dando condições a uma nova moral, afinada com princípios elevados.

A Geração Atual

A população da Terra ainda sinaliza atraso espiritual por sua revolta contra Deus, em sua propensão a paixões degradantes e sentimentos antifraternos como egoísmo, orgulho, inveja, ciúme. Seus vícios e apego material constituem laços fortes dos quais ainda não puderam se desvencilhar. Como purgação, grandes catástrofes podem ocorrer pelas necessidades destes seres e para viabilizar sua saída em massa da Terra.

Por incompatibilidade de moral e de padrão mental os Espíritos mais atrasados ou retardatários serão levados a encarnações compulsórias em outros mundos, menos adiantados e mais adequados a suas limitações e estágios evolutivos.

“Se é verdade que os Filhos da Terra, no esforço de sua própria evolução, teriam de passar dificuldades e padecimentos, próprios dos passos iniciais do aprendizado moral, dúvidas também não restam de que a Terra, de alguma forma, foi maleficiada com a descida dos degredados, que para aqui trouxeram novos e mais pesados compromissos a resgatar e nos quais seriam envolvidos também os habitantes primitivos.” (Edgard Armond,“Os Exilados da Capela”, c.10)

A Nova Geração

A nova geração terrestre, que promoverá a mudança moral planetária, agrega Espíritos progressistas e se caracteriza por renovada natureza moral, distinguindo-se por inteligência e razão precoces, aliados ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas.

“A substituição das raças não se faz por cortes súbitos e completos, mas, normalmente, por etapas, permanecendo sempre uma parcela, como remanescente histórico e etnográfico.” (Armond,  op.cit., c.16)

É a modificação nas disposições morais o traço fundamental que alavancará a evolução do planeta e da coletividade de seus seres.

LEITURA COMPLEMENTAR – “Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta. Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos, caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição d’Aquele que é a Luz do princípio.

Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas organizações romanas.

Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados no globo terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos. (…) O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos.

No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível.(…)

Luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento. O homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua marcha gloriosa no Ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus escombros materiais a alma divina das religiões, que os homens perverteram, ligando-as no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado.  Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto das consciências.

Todos somos os chamados ao grande labor e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos do Escolhido.

Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio cortante neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. Lembremos a misericórdia do Pai e façamos as nossas preces. A noite não tarda e, no bojo de suas sombras compactas, não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção.” (F.C.Xavier, Emmanuel, “A Caminho da Luz”, c.25)

Bibliografia: Allan Kardec, “A Gênese”, c.18, it. 27 a 35.

4º ano – Aula 23

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

As Aristocracias

 

O Progresso da Humanidade

 

O progresso da humanidade se vai construindo de geração a geração. Ao longo da história, homem vai se afirmando diante dos desafios da natureza, das adversidades e divergências de entendimento.

No passado, as sociedades aceitavam o escravismo, hoje este é um crime torpe, combatido pelas nações e sistemas legais.

A marcha do progresso, coletivo e individual, é parte da irresistível escalada rumo à perfeição.

De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?

– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, e fazendo os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais encoberta pela dúvida, fará o homem compreender melhor que pode, desde agora, no presente, preparar seu futuro. Ao destruir os preconceitos de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos. (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, q. 799)

O Conceito de Aristocracia

Aristocracia vem do grego aristos, o melhor, aquele que se sobressai, e kratos, poder. Aristocracia, pois, em sua acepção literal, significa: poder dos melhores. Há-se de convir em que o sentido primitivo tem sido por vezes singularmente deturpado; mas, vejamos que influência o Espiritismo pode exercer na sua aplicação. (…)

Em nenhum tempo, nem no seio de nenhum povo, os homens, em sociedade, hão podido prescindir de chefes; com estes deparamos nas tribos mais selvagens. Decorre isto de que, em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte homens incapazes, que precisam ser dirigidos, homens fracos que reclamam proteção, paixões que exigem repressão.

Daí a necessidade imperiosa de uma autoridade.” (Kardec, Allan. “Obras Póstumas”, 1ª Parte, As Aristocracias, Brasília:Ed.FEB, tradução de Guillon Ribeiro, 2005)

Sociedade e diversidade de aptidões

Diz-nos Kardec que em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte:

-homens incapazes, que precisam ser dirigidos;

-homens fracos, que reclamam proteção;

-paixões, que exigem repressão.

A autoridade, ou seja, a necessidade de liderança social, investiu desse poder, sucessivamente:

1°) o ancião (patriarca), pela sua experiência;

2°) o chefe militar (autoridade da força bruta), pela sua força e inteligência;

3°) o descendente (aristocracia de nascimento, nobreza), pela sua herança filial.

A conservação do estado de força e privilégios foi feita através das leis, mas o tempo, com a consequente necessidade de busca de recursos para sobrevivência, fez com que os dominados se insurgissem contra os dominadores. É a evolução, princípio básico da lei divina. Entretanto, uma nova autoridade surgiu: o dinheiro, mas por pouco tempo, pois que para adquiri-lo é preciso inteligência, que nos nossos dias é a autoridade estabelecida, chamada pelos pensadores atuais de conhecimento.

A inteligência, por si só, não equilibra o homem. O bom uso das faculdades depende da moral, que também não pode ficar isolada. A união da inteligência com a moral representa a verdadeira autoridade.

Homens moralizados e instruídos implantarão o reino do bem na Terra. (Mario, Marcos Alberto de, “O educando na visão social espírita”. Revista Reformador, Brasília: ed.FEB, Maio/1997)(grifos nossos)

O papel da Doutrina Espírita

“Uma organização social que respeite as leis naturais deve realizar-se primeiramente pela educação dos indivíduos que compõem essa coletividade. Kardec aponta esse fato quando, ao analisar as aristocracias, afirma que o progresso pode determinar a redução considerável do comportamento vicioso, fazendo com que ele seja uma exceção, à medida que cada homem se eduque.

Em vários pontos dos ensinos espíritas, percebemos esse cuidado em destacar o caráter individualizante da proposta educadora da Doutrina. Não há, pois, a intenção de se criar um movimento à semelhança dos sistemas religiosos, que já se estabeleceram na Terra com base no Cristianismo, que atuavam pela criação de um padrão de comportamento e imposição dogmática desse padrão aos adeptos, forçando-os a uma atitude de religiosidade apenas aparente, que não resistia à pressão dos impulsos ainda existentes na intimidade dessas criaturas. A História mostra que a hipocrisia institucionalizada foi o resultado dessa ação.

A ação espírita será a de difusão do conhecimento, para que o desenvolvimento de uma nova forma de entender a vida possa criar uma nova maneira de estar no mundo. O progresso do conjunto resultará do crescimento de cada um. “(…) a vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da atualidade.” (Souza, Dalva Silva, “O mundo em que vivemos”. Revista Reformador, Brasília: ed.FEB, Março/1997)

Uma nova ordem terrena, em que os bons suplantem em número aos maus, conduzirá os homens a outra realidade, com melhor uso de sua inteligência e extinção dos vícios, sejam eles físicos ou de caráter, abrindo-se o horizonte para tornar a Terra um mundo de regeneração.

Nós e César

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” – (Marcos, 12:17.)

Em todo lugar do mundo, o homem encontrará sempre, de acordo com os seus próprios merecimentos, a figura de César, simbolizada no governo estatal.

Maus homens, sem dúvida, produzirão maus estadistas.

Coletividades ociosas e indiferentes receberão administrações desorganizadas.

De qualquer modo, a influência de César cercará a criatura, reclamando-lhe a execução dos compromissos materiais.

É imprescindível dar-lhe o que lhe pertence.

O aprendiz do Evangelho não deve invocar princípios religiosos ou idealismo individual para eximir-se dessas obrigações.

Se há erros nas leis, lembremos a extensão de nossos débitos para com a Providência Divina e colaboremos com a governança humana, oferecendo-lhe o nosso concurso em trabalho e boa vontade, conscientes de que desatenção ou revolta não nos resolvem os problemas.

Preferível é que o discípulo se sacrifique e sofra a demorar-se em atraso, ante as leis respeitáveis que o regem, transitoriamente, no plano físico, seja por indisciplina diante dos princípios estabelecidos ou por doentio entusiasmo que o tente a avançar demasiadamente na sua época.

Há decretos iníquos?

Recorda se já cooperaste com aqueles que te governam a paisagem material.

Vive em harmonia com os teus superiores e não te esqueças de que a melhor posição é a do equilíbrio.

(Francisco Cândido Xavier/Emmanuel, “Pão Nosso”, it.102)

4º ano – aula 22

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Expiações Coletivas

1-As Expiações Coletivas e a Lei de Destruição

“Com frequência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.

Consequência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que se revestem.(…)

Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte são resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto, lhes constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se.(…)

Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes significam justiça integral que se realiza.

Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.” (Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, “Após a Tempestade”,c.1)

2-Expiações Coletivas e Libertação Terrena

“Sob a crista de serra alcantilada e selvagem, destroços de grande aeronave guardavam consigo as vítimas do acidente. Adivinhava-se que o piloto, certamente enganado pelo traiçoeiro oceano de espessa bruma, não pudera evitar o choque com os picos graníticos que se salientavam na montanha, silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos torreões de fortaleza agressiva. (…)

Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque,  algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos  próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas,  gritavam desesperados. em crises de inconsciência.(…)

Hilário abriu campo livre ao debate, perguntando, respeitoso, por que motivo era rogado o auxílio para a remoção de seis dos desencarnados, quando as vítimas eram catorze.

Druso, no entanto, replicou em tom sereno e firme:

—O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que  tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação.

Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito.

—Quantos dias? — clamou meu colega, incapaz de conter a emoção de que se via possuído.

—Depende do grau de animalização dos fluídos que que lhes retém o Espírito à atividade corpórea — respondeu-nos o mentor.

— Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias… Quem sabe?

Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa morte.

Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos, nelas encontrando combustível para dilatados enganos nas sombras do campo carnal, propriamente considerado. E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante a Lei. Assim é que «morte física» não é o mesmo que «emancipação espiritual».(…)

—Todavia — reparou Hilário —, não serão atraídos por criaturas desencarnadas, de inteligência perversa, já que não podem ser resguardados de imediato?

Druso estampou significativa expressão facial e ponderou:

—Sim, na hipótese de serem surdos ao bem, é possível se rendam às sugestões do mal, a fim de que, pelos tormentos do mal, se voltem para o bem. No assunto, entretanto, é preciso considerar que a tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida, de dentro para fora. A junção de nossas almas com os poderes infernais verifica-se em relação com o inferno que já trazemos dentro de nós.

A explicação não poderia ser mais clara.” (F.C.Xavier/André Luiz, “Ação e Reação”, c.18)

Leitura Complementar

Os tempos são chegados

Essa expressão é muito antiga. Para dar um exemplo meio recente, na Revista Espírita, traduzida por Julio Abreu Filho para a Editora Cultural Espírita – EDICEL – Ltda., Allan Kardec, no mês de outubro de 1866, página 289, já comentava sobre o assunto. Dizia ele:

“Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem de todos os lados, nos quais grandes acontecimentos vão realizar-se para a regeneração da humanidade. Em que sentido devem ser entendidas essas palavras proféticas?”

“Para os incrédulos não têm qualquer importância. Aos seus olhos não passam de expressão de crença pueril, sem fundamento. Para o maior número de crentes tem algo de místico e sobrenatural que lhes parece o precursor do desmoronamento das leis da natureza. As duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira porque implica a negação da Providência quando os fatos realizados provam a verdade dessas palavras; a segunda porque a expressão não anuncia a perturbação das leis da natureza, mas a sua realização.”

Allan Kardec nos diz ainda que em tudo há harmonia na obra da criação; este é o sentido mais racional.

Certas profecias equivocadamente interpretadas, ou analisadas de propósito para estabelecer confusão e vantagens pessoais, pregam datas, circunstâncias, etc., envolvendo o final dos tempos. Um planeta novo como o nosso ainda em processo de aprimoramento, que deve ser brevemente um planeta de regeneração, não pode acabar melancolicamente, implodindo-se. A mais recente predição é a deste ano de 2012, preconizado como data do fim do mundo! Mais uma tolice!

Acreditamos mesmo que Deus dará algum aviso prévio sobre como se desenrolarão os ciclos planetários? Avisou ele sobre a era glacial e sobre a extinção dos dinossauros? E caso houvesse confidenciado à humanidade as suas intenções, que poderia ela fazer para enfrentar o estabelecido pelas Leis Divinas?

O tempo material é diferente do espiritual, onde não há passado, presente ou futuro, porque tudo é simplesmente AGORA. Somente quando encarnados é que precisamos dos relógios e calendários para administrar nossa vida física. Temos a hora de dormir, de comer e de trabalhar e tudo deve ser feito comedida e equilibradamente.

Já que a Terra progride, como tudo o mais, à medida que ela melhora geologicamente é preciso que sua humanidade se aprimore moral e espiritualmente. Os tempos chegados para que haja uma seleção de seus habitantes, com expurgos e exílios, mas também com a chegada de espíritos mais evoluídos. Esse é o momento que está se instalando há muito tempo. Acontece todos os dias, sem dar-nos conta. Cada ser que desencarna e cada criança que chega ao planeta, acontecimentos naturais do cotidiano, são parte desse processo que identifica que o avanço dos tempos que são chegados.

Ninguém que seja equilibrado pode admitir que uma mudança desta grandeza possa operar-se de imediato. Como numa festa de ano novo em que abominamos o ano velho em 31 de dezembro para acreditar que tudo será diferente no dia 1o de janeiro. Mais uma das tantas ilusões que enganam os homens místicos e imprevidentes e beneficiam os oportunistas. Muita gente enriquece com tais balelas que chamam de profecias, simpatias, talismãs e semelhantes.

Não se negue que o mundo caminha acelerado na direção dos tempos chegados, apesar de fazê-lo quase que somente na área tecnológica. Quando a moral for do tamanho da ciência, o homem estará equilibrado e com suas duas asas completas, pronto para voar.

Com a chegada do Espiritismo, essa orientação deixou de ser restrita para abarcar toda a humanidade. Não muda apenas um país, um povo, uma raça, porque é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. A humanidade, diz Allan Kardec, é um ser coletivo no qual se operam as mesmas revoluções morais que em cada indivíduo. As partes compõem o todo.

Estamos vivendo um dos muitos momentos de transformação moral dos que sempre chegam a humanidade quando se faz necessário o seu crescimento. Não serve para os dias atuais a moral deturpada dos homens do passado. Nestes novos tempos todos os valores precisam ser revistos enérgica e corajosamente e só uma profunda reforma do homem poderá qualificá-lo a viver melhor nestes difíceis tempos do Apocalipse.

Sem perceber, os homens foram, ao longo do tempo, criando armas de autodestruição. E não são as bombas nucleares que nos causam mal; nem os tsunamis. São as armas de calibre moral. O culto ao corpo, a vaidade, os gastos descontrolados que levam o homem ao desequilíbrio e à desonestidade, à prepotência e à busca de privilégios sem que cada um se dê conta que nada tem de especial porque para Deus somos todos iguais. Sem mencionar a poluição química e a consequente destruição física.

Quanto mais o ser humano humilha o semelhante mais ele se enrola na corda da própria forca. Mais tarde implorará, como o Lázaro da parábola, para que o Senhor alerte seus descendentes para que não cometam os mesmo erros dele.

A quem mais é dado mais é pedido. Espíritas! Já que temos o privilégio do conhecimento ainda não alcançado pela maioria, façamos dele nosso roteiro de libertação e progresso. Já não podemos mais exigir privilégios materiais ou espirituais, recebendo na Terra as glórias que nos farão falta no céu. Não podemos mais ser prepotentes nem menosprezar o que sabe menos como se fôssemos pós-graduados em religião e moral. Não sejamos os fariseus do mundo moderno porque em vez de sermos chamados discípulos do Senhor não passaremos também de túmulos caiados.

Os tempos realmente são chegados; há muito tempo. Atualmente apenas se aceleraram. Importante, então, avaliar qual é o nosso comportamento para aproveitar as oportunidades desta transição da Terra na sua caminhada de transformação planetária de mundo expiatório para mundo de regeneração. Reencarnaremos por aqui quando o planeta já estará renovado ou seremos exilados repetindo-se o episódio de Capela? A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Octávio Caúmo Serrano

(Revista Internacional de Espiritismo, Matão: Clarim, Junho/2012)

Bibliografia: Allan Kardec, “Obras Póstumas”, Primeira Parte, Questões e Problemas; “O Livro dos Espíritos”, questões nºs. 165 e 548; Francisco Cândido Xavier, médium, André Luiz, Espírito, “Ação e Reação”, c.18; Divaldo P.Franco, médium, Joanna de Ângelis, Espírito, “Após a Tempestade”, c.1.

Terezinha Oliveira

(Fonte: Site do CEAK)

Na última quarta-feira, 28/8/13, retornou à pátria espiritual a médium e escritora Therezinha Oliveira.

Dirigente do Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, dedicou mais de 50 anos de sua vida à divulgação da Doutrina Espírita, tendo ministrado inúmeras aulas, palestras, cursos e seminários no Brasil e nos EUA.

Em nota, o site do Centro Espírita Allan Kardec dedicou a Therezinha: “[…] é hora de lembrarmos da Therezinha amiga e trabalhadora espírita, com serenidade e paz, envolvendo-a com pensamentos de amor e gratidão pela vida dedicada à divulgação das verdades espirituais, com simplicidade, clareza, coragem, disposição e alegria […]”.

Therezinha escreveu dezenas de livros, entre eles “A Doutrina e o Movimento”, “Na Luz do Evangelho”, “Parábolas que Jesus Contou” a coleção de obras  “Estudos e Cursos”, dentre outras. Um de seus últimos escritos foi “Na Luz da Reencarnação, A Vida é sempre vida”.

Abaixo trechos de seus vídeos:

[vimeo http://vimeo.com/10645199]
 
[youtube=http://youtu.be/rx6Skv8TxYo]

4º Ano – Aula 21 – Desafios da Vida II (Vícios Morais)

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

1-Os bens materiais

A Doutrina Espírita não condena aqueles que visam os bens materiais,  nem mesmo a riqueza, sobretudo aquela originária do trabalho. O que nos adverte a Doutrina é a respeito da busca desenfreada de riqueza e bens, em detrimento do equilíbrio e do bom senso, transformando o indivíduo em escravo da matéria, alheio a sua utilização construtiva para si e aos outros.

2-Qualidades intelectuais

A busca de conhecimento científico é apreciável, pois concorre para o aprimoramento pessoal. O acúmulo de conhecimentos, tanto morais quanto intelectuais, constituem instrumentos para o trabalho do Espírito no caminho para sua perfeição.

Quanto mais aprendemos, mais podemos ser úteis a nossa melhoria e a dos outros.

3-Imperfeições humanas

O que caracteriza a imperfeição humana é o hábito da pessoa de voltar-se somente para suprir seus interesses pessoais, nutrindo em demasia o apego às coisas materiais. Estes aspectos retardam o crescimento do Espírito, condicionando-o ao intenso desfrute material e intensificando o seu egoísmo.

Podemos superar nossas imperfeições. Primeiro, precisamos desejar esta mudança, esforçando-nos e dando atenção aos outros, auxiliando-os de forma desinteressada.

4-Paixões

As paixões humanas não são propriamente males. O erro ligado às paixões, como também aos interesses materiais, refere-se aos excessos, isto é, aos abusos com que o homem se entrega a estes aspectos. Não se pode desmerecer que na busca por melhoria material ou na concretização de paixões pode o homem descortinar oportunidades para a obra do bem e o exercício da caridade.

5-Como cultivar o desinteresse?

Nutrir o desinteresse não significa dar as costas ao mundo e se entregar a uma vida em isolamento.

Uma vida útil e desinteressada é aquela em que cada um se esforça por fazer tanto bem quanto lhe for possível, utilizando adequadamente seus dons e recursos intelectuais e materiais.

6-Como aprender a ouvir o outro?

Para que possamos saber ouvir o outro é necessário sermos indulgentes em relação a seus defeitos. Ser indulgente é saber reconhecer primeiro os nossos defeitos antes de fazermos alguma crítica, pois muitas vezes o mal que condenamos nos outros é justamente o que identificamos em nós mesmos.

7-O verdadeiro espírita

“O Espiritismo não criou nenhuma moral nova. Ele facilita aos homens o entendimento e a prática da moral do Cristo, dando uma fé sólida e esclarecida ao que duvidam ou hesitam.

Muitos, no entanto, dos que crêem no fato das manifestações não compreendem suas consequências nem seu desdobramento moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos.” (…) “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más tendências.” (Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, c.XVII, it.4)

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4º Ano – Aula 20 – Desafios da Vida I (Vícios Físicos)

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Hieronymus Bosch (1450-1516), detalhe de “A tentação de Santo Antonio”

1-Desregramentos considerados infrações às leis naturais:

-Crueldade;

-Suicídio direto;

-Suicídio indireto:

–Desprezo ao perigo (Imprudência; Irresponsabilidade);

–Excessos (Alimentação, Trabalho, Lazer, Sexo);

–Vícios (Jogo, Drogas).

2-Classificação das Drogas segundo L.Chaloult:

2.1-Depressores da Atividade do Sistema Nervoso Central (SNC): grupo de substâncias que diminuem a atividade do cérebro, ou seja, deprimem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique “desligada”, “devagar”, desinteressada pelas coisas. Substâncias também chamadas de psicolépticas: Álcool; Inalantes/solventes; Ansiolíticos; Barbitúricos; Opiáceos (derivados do ópio, naturais ou sintetizados: Ópio, Pó de Ópio, Morfina, Codeína; Heroína; Zipeprol, Metadona).

2.2-Estimulantes da Atividade do SNC: grupo de substâncias que aumentam a atividade do cérebro, ou seja, estimulam o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique mais “ligada”, “elétrica”, sem sono. Substâncias também chamadas de psicoanalépticas, nooanalépticas, timolépticas: Cafeína; Nicotina; Anfetamina; Cocaína; metilenodioximetanfetamina (MDMA), mais conhecida por Ecstasy.

2.3-Perturbadores do SNC: modificam qualitativamente a atividade do cérebro, ou seja, perturbam, distorcem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa passe a perceber as coisas deformadas, parecidas com as imagens dos sonhos. Tambem chamados de alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos, psicodislépticos, psicometamórficos, alucinantes: Anticolinérgicos – medicamentos; Anticolinérgicos – planta; Maconha (delta-9-tetrahidrocanabinol ou THC); Cacto (Lopophora williansi, peyote ou mescalina); Cogumelo (Psylocybe mexicana, Psylocibe cubensis, ou gênero Paneoulus); LSD-25 (Ácido Lisérgico). (www imesc.sp.gov.br e Revista do IMESC, nº3, 2001)

3-Tormentos provocados pelas drogas no Perispírito

“Às vezes, os órgãos genitais se deformam e em seu lugar formam-se enormes feridas que corroem.” (I.P.Machado, Luiz Sérgio, “Mãos Estendidas”, 1ªed., p.96)

“Às vezes, o perispírito se atrofia e regride a embrião.” (I.P.Machado, Luiz Sérgio, “Ninguém está sozinho”, 3ªed., p.154)

“A agulha da fatídica picada permanece irremovível na veia do desencarnado.” (I.P.Machado, Luiz Sérgio, “Os Miosótis Voltam a Florir”, 3ªed., p.39)

“O Vale dos Picos: um lugar sombrio e terrível onde agrupam-se os toxicômanos desencarnados emperdenidos (ainda sem assistência). O ‘Vale’ é comandado por uma entidade perversa, de grande poder sobre a mente dos toxicômanos, encarnados e desencarnados.” (I.P.Machado, Luiz Sérgio, “Na Esperança de Uma Nova Vida”, 2ªed.,p.62)

“A overdose provoca a desencarnação e é comparável a uma queda do décimo sexto andar de um edifício. O cordão fluídico que liga o perispírito ao corpo é estraçalhado; portanto, se o corpo físico sofre violência, mais ainda o Perispírito.” (I.P.Machado, Luiz Sérgio, “Consciência”, 1ªed.,p.103)

4-Como é a vida de um desencarnado toxicômano

Ao desencarnar, o Perispírito mantém integralmente as mesmas sensações experimentadas na jornada terrena.

Encontra no mundo espiritual inúmeros Espíritos, invariavelmente similares, em tendências, gostos, graus de evolução. Com eles conviverá.

O toxicômano, em particular, conviverá com desencarnados viciados. Verá que seu Perispírito (igual ao seu corpo físico), está depauperado, destrambelhado, cheirando mal, repleto de náuseas e mazelas – frio, fome, dor… Desgraçadamente, terá consciência desses tormentos, de maneira plena e permanente: não dorme, não desmaia… Fica vagando por regiões cinzentas, sem água, sem sol.

5-Vampirismo e drogas

O viciado, ao desencarnar, percebendo que agora tudo está mais difícil, pois além de não poder satisfazer a ânsia da droga, ainda está doente, fraco, faminto etc., mais do que nunca desejará as drogas.

Carente, e sem nenhuma proteção, ficará à mercê de legiões de malfeitores espirituais. Será sim, admitido nessas legiões, mas como elemento escravo, desprezível, inferior… Aprenderá, rápido, que só no plano material poderá dar vazão ao vício. Qual vampiro, poucas vezes sozinho – quase sempre em bando – acorrerá aos lares dos toxicômanos encarnados, aderindo aos mesmos, mente a mente, induzindo-os ao consumo das drogas, caso já não o estejam fazendo. Sem nenhuma reserva moral, em troca de alguma satisfação do vício, será submetido a uma série de perversidades. (Eurípedes Kühl, “Os tóxicos: duas viagens”, Belo Horizonte: Ed.Fonte Viva, 3ª ed., 1995, c.10)

6-Obsessão e drogas

Ninguém está só, seja no Bem ou no Mal: as leis da atração e da sintonia funcionam invariavelmente em ambas as situações.

O obsidiado é quase sempre um enfermo, acompanhado de uma legião de doentes invisíveis ao olhar humano. O toxicômano raramente poderá ser excluído dessa categoria.

7-Cura dos toxicômanos

Tratamento que envolve acima de tudo o interesse da pessoa, mais o apoio familiar, além de acompanhamento médico, psicológico, psiquiátrico e terapêutica apropriada de desintoxicação.

8-Atuação da Casa Espírita em prol dos toxicômanos

A Casa Espírita pode contribuir como célula de apoio social, que ajuda a família a fortalecer-se frente ao desafio de dar suporte aos adictos e drogadictos.

O apoio pode ser realizado por orientadores e grupos de difusão do Evangelho, associados a campanhas de prevenção.

Conforme o quadro de trabalhadores, a Casa Espírita pode realizar visitas aos viciados para diálogo fraterno (no lar, nos hospitais ou nas clínicas).

Há a possibilidade de associação a outros credos religiosos, em campanhas educativas.

Criação de grupos de orientadores especializados na questão dos desencarnados toxicômanos.

Não nos esqueçamos que a vitória sobre o álcool e outras drogas envolve apoio da sociedade e o indispensável compromisso pessoal para superação do quadro vicioso.

9-O programa dos 12 passos

Criado em 1935 por William Griffith e Doutor “Bob” Smith, o “Programa dos Doze Passos” surgiu nos Estados Unidos,  inicialmente voltado para o tratamento de alcoolismo,  estendido posteriormente para todos os tipos de dependência química. Trata-se da estratégia central da maioria dos grupos de autoajuda para o tratamento das dependências químicas ou compulsões.

Os 12 Passos

Trata-se do programa criado por William Griffith e Dr. Bob Smith, em 1935, nos Estados Unidos, visando a princípio traçar um roteiro para o tratamento de alcoolatras. Suas diretrizes são as seguintes:

1-Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

2-Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.

3-Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.

4-Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5-Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.

6-Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7-Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8-Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

9-Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10-Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

11-Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.

12-Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.

10-Os Vícios e suas Reparações Futuras

“Compassivos, os fluidos beneficentes que a seguir nos faziam assimilar – terapêutica divina – iriam, gradualmente, auxiliar-nos a corrigir as impressões de fome e de sede; a postergar a insana sensação de frio intenso, que num suicida resulta da gelidez cadavérica que ao perispírito se comunica; a atenuar os apetites e arrastamentos inconfessáveis, tais os vícios sexuais, o álcool, o fumo, cujas repercussões e efeitos produziam desequilíbrios chocantes em nossos sentidos espirituais, interceptando possibilidades de progresso na adaptação e impondo-nos humilhações singulares, por assinalar a ínfima categoria a que pertencíamos, na respeitável sociedade dos Espíritos que nos rodeavam. (…)

Excessivamente maculadas, deixavam à mostra, em sua configuração astral, os estigmas do vício a que se haviam entregado, alguns oferecendo mesmo a ideia de se acharem leprosos, ao passo que outros exalavam odores fétidos, repugnantes, como se a mistura do fumo, do álcool, dos entorpecentes, de que tanto abusaram, fermentassem exalações pútridas cujas repercussões contaminassem as próprias vibrações que, pesadas, viciadas, traduzissem o vírus que havia envenenado o corpo material! (…)

Os exemplos que apresento neste momento são irremediáveis na vida espiritual! Nada, aqui, poderá sanar as ferazes angústias que os oprimem, nem modificar a situação embaraçosa que para si mesmos entreteceram com as atitudes selvagens da incontinência, da imprevidência sacrílega em que acharam por bem se locupletarem, no livre curso aos vícios com que se diminuíram! Eles mesmos, unicamente eles, serão agentes de misericórdia para consigo próprios, já que voluntariamente se responsabilizaram pelos desvios de que se não quiseram furtar! Mas isto lhes custará desgostos, opressões e dores infinitamente amargosas, diante dos quais uma individualidade normal se quedaria estarrecida! Para que se convençam da situação própria, submetendo-se mais ou menos resignadamente às consequências futuras das passadas imprevidências, torna-se necessário da nossa parte, enquanto aqui se demorarem, trabalho árduo de catequese, aplicações incansáveis de terapêutica moral e fluídica especial, carinhosa assistência de irmãos investidos de sagrada responsabilidade.

Acontece frequentemente, no entanto, que muitos destes infelizes trazem a revolta no coração, a raiva impenitente pela desgraça de que se consideram vítimas e não responsáveis. Não se resignam à evidência do presente e, inconformados, partem a tomar novo envoltório terreno, agravando a situação própria com a má-vontade em que se entrincheiram, a insubmissão e a impaciência, acovardados ante a expectativa dos embates tormentosos da expiação irremediável!” (Yvonne A. Pereira, Camilo Castelo Branco, “Memórias de um Suicida”, c.3 e 5)

11-Prevenção contra as Drogas

“Existem muitas divergências sobre informação e prevenção, que devem ser avaliadas por quem deseja trabalhar com drogados. É desagradável para o viciado e para quem deseja ajudá-lo ouvir um milhão de palavras inúteis sobre repressão e ameaças. O que se deve fazer é levar a pessoa a se interessar por si mesma, a se gostar, mostrar-lhe o quanto a sociedade perde por tê-la tão distante, agonizante mesmo. A pessoa precisa conhecer o perigo que está enfrentando.

Quem a está ajudando não está fazendo isso apenas por fazer, mas sim porque é um conhecedor do assunto. Cabe explicar ao possível consumidor, ou já dependente, que o drogado carrega um estigma, por parte da comunidade, de difícil aceitação para a família.” Samita  (Irene Pacheco Machado, Luiz Sérgio, “Driblando a Dor”, ed.Recanto, 2002, 10ª ed., p.11)

“O jovem, quando busca o tóxico, o faz por alguma causa. Se buscarmos a origem encontraremos, primeiramente a fraqueza familiar, ou seja, pais inseguros, lar desequilibrado, filhos negligenciados ou super-protegidos, quer dizer mimo ou desprezo. Ainda mais: dinheiro fácil, excesso de liberdade.” Carlos (Machado, op.cit., p.11)

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4º Ano – Aula 19 – Amparo Espiritual

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Objetivo: Levar o grupo a entender e esperar que apesar de nossos erros, todos somos amparados pela espiritualidade.

Bibliografia:

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Entre a Terra e o Céu”, cap. 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Missionários da Luz”, cap. 7

(*) F.C.Xavier/Emmanuel, “Seara dos Médiuns”, lição 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 7

Entre a Terra e o Céu, c. 34

-Odila clama auxílio a Zulmira, enferma, Amaro, esposo, e Júlio, enteado recém-desencarnado. Zulmira, deprimida, carrega culpa pela morte acidental de Júlio.

Clarêncio, instrutor de André Luiz, aplica-lhe passes.

-Mário Silva, enfermeiro, também alimenta remorsos pelo desencarne de Júlio.

Duas freiras,  entidades de uma ordem  católica, iam até a casa de Mário orar por ele. Clarêncio, em apoio, aplicou passes em Mário, tranquilizando-o.

Missionários da Luz, c. 7

-Justina pede a Alexandre auxilio ao filho Antonio, adoentado e vítima dos próprios maus pensamentos.

Alexandre aconselhou Antonio, que, mesmo inconsciente, recebe seus conselhos. Em seguida, Alexandre ministrou tratamento de passes em áreas específicas da espinha dorsal, fígado e do córtex motor. O instrutor convocou o grupo do Irmão Francisco, uma equipe espiritual de auxílio. Recorreu-se também aos fluidos de Afonso, doados durante seu desdobramento no sono físico. Ocorreu, assim, reajustamento celular em Antonio.

Nos Domínios da Mediunidade, c. 7

Clementino auxilia o dirigente Raul Silva.

Frente aos Bons Espíritos, constituem méritos aspectos como moralidade, sentimento, educação e caráter.

O auxílio se estende a todos os trabalhadores, desde o dirigente e médiuns até os obreiros de sustentação.

Benfeitores desencarnados

Reunião pública de 12/12/60

Questão nº 267 – Parágrafo 17º

Perceberás, sem dificuldade, a presença deles.

Onde as vozes habituadas a escarnecer se mostram a ponto de condenar, eles falam a palavra da compaixão e do entendimento.

Onde as cruzes se destacam, massacrando ombros doridos, eles surgem, de Inesperado, por cireneus silenciosos, amparando os que caíram em desagrado e abandono.

Onde os problemas repontam, graves, prenunciando falência, eles semeiam a fé, cunhando valores novos de trabalho e esperança.

Onde as chagas se aprofundam, dilacerando corpo e alma, eles se convertem no remédio que sustenta a força e restaura a vida.

Onde o enxurro da ignorância cria a erosão do sofrimento, no solo do espírito, eles plantam a semente renovadora da elevação, regenerando o destino.

Onde os homens desistem de auxiliar, eles encontram vias diferentes de ação para a vitória do Amor Infinito.

Anseias pela convivência dos benfeitores desencarnados, com residência nos Planos Superiores, e tê-los-ás contigo, se quiseres.

Guarda, porém, a convicção de que todos eles são agentes do bem para todos e com todos, buscando agir através de todos em favor de todos.

Disse Jesus: “Quem me segue não anda em trevas.”

Se acompanhas os Bons Espíritos que, em tudo e por tudo, se revelam companheiros fiéis do Cristo, deixarás para sempre as sombras da retaguarda e avançarás para Deus, sob a glória da luz.

Essas outras mediunidades

Reunião pública de 29/4/60

Questão nº 185

Na expansão dos recursos medianímicos que te enriquecem a experiência, sob as diretrizes dos benfeitores desencarnados, não te despreocupes das faculdades edificantes, suscetíveis de te vincularem à elevação e à melhoria dos companheiros na Terra.

Pronuncias a palavra preciosa que os emissários da cultura e da inteligência te levam à boca, impressionando auditórios atentos.

Mas não negues o verbo da tolerância aos que te reclamam indulgência e carinho dentro de casa.

Doutrinas eficientemente os Espíritos transviados nas sombras da viciação e do crime, transmitindo conselhos e avisos da Esfera Superior.

Não recuses, porém, a conversação amorosa e paciente aos familiares ainda confinados à ignorância e à perturbação.

Escreves a frase escorreita, para entendimento do público, sob a influência de instrutores domiciliados no Plano Maior.

Grava, entretanto, no próprio caminho, a sinalização do bom exemplo, induzindo os semelhantes a que nobilitem a própria existência.

Contemplas quadros prodigiosos, através da clarividência, caindo em êxtase ante as alegrias sublimes que observas, por antecipação, na Glória Espiritual.

Não olvides, contudo, fitar as chagas dos que padecem, estendendo até eles migalha do teu conforto, por mensagem de auxilio.

Escutas vozes comovedoras do Grande Além, delas fazendo narrativas surpreendentes para os que te admiram as incursões no país do inabitual.

Busca, no entanto, ouvir as aflições dos irmãos sofredores, aprendendo a ser útil.

Estendes mãos fraternas, no passe balsamizante, em favor dos que te procuram, sedentos de alívio.

Não furtes, porém, os braços prestimosos ao trabalho de cooperação espontânea junto daqueles que o Senhor te confiou na intimidade doméstica.

Atende às faculdades múltiplas pelas quais se evidencie a bondade dos mensageiros divinos, mas não desdenhes essas outras mediunidades, tanta vez esquecidas, da renúncia e da paciência, da humildade e do serviço, da prudência e da lealdade, do devotamento e da correção, em que possas mostrar os teus préstimos diante daqueles que te partilham a luta, porque somente assim serás suporte firme da luz e chama da própria luz.

No diálogo de orientação

“Não se deve esquecer de que se trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação. Não é a força que age contra o Espírito, nem a elevação da voz, mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor. Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e violência em existências brutais em que o amor não floriu em seu coração.

Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual.

Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.”

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”)

Bibliografia: Francisco Cândido Xavier, médium, Emmanuel, Espírito, “Seara dos Médiuns”, c.30 e 90.

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A respeito da premonição

PREMONIÇÕES

       “Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante O Sono?”

       “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo quer do outro.”

*

       “Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.”        (“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, Capítulo 8, pergunta 402.)

Há sido objeto de muita meditação, por parte dos estudiosos dos acontecimentos psíquicos transcendentais, os curiosos fenômenos de premonições, pressentimentos e mesmo os de profecia. Frequentemente, cada um de nós é avisado, pelos protetores espirituais, durante o sono natural ou provocado, de fatos que mais tarde se realizam integralmente, tais como foram vistos durante aqueles transes. Dar-se-á então o caso de que os su­cessos da existência sejam estabelecidos fatalmente, por um programa preestabelecido no Além, programa que nós mesmos, os humanos, podemos ver e analisar con­templando a sua, por assim dizer, maqueta espiritual, durante um sonho, e, assim, avisados do que acontecerá?

É possível que, de algum modo, seja assim. Os fatos capitais da existência humana: provações, testemunhos, reparações, etc., foram delineados, com efeito, até certo limite, como o revela a Doutrina Espírita, antes da reencarnação. Nós próprios, se pretendentes lúcidos à reencarnação, co-participamos da elaboração do pro­grama que deveremos viver na Terra, e, portanto, a ciência de certos acontecimentos a se desenrolarem em torno de nós, ou conosco, ficará arquivada em nossa consciência profunda, ou subconsciência. Durante a vigília ou vida normal de relação, tudo jazerá esquecido, calcado nas profundidades da nossa alma. Mas, advindo a relativa liberdade motivada pelo sono, poderemos lem­brar-nos de muita coisa e os fatos a se realizarem em futuro próximo serão vistos com maior ou menor cla­reza, e, ao despertarmos, teremos sonhado o que então virá a ser considerado o aviso, ou a premonição.

É  evidente que tais possibilidades derivam de uma faculdade psíquica que possuimos, espécie de mediuni­dade, pois a premonição não existe no mesmo grau em todas as criaturas, embora seja disposição comum a qualquer ser humano, a qual, se bem desenvolvida, po­derá conceder importantes revelações e provas do inter­câmbio humano-espiritual, tais como as profecias de caráter geral, a se cumprirem futuramente, ou mesmo de caráter restrito ao próprio indivíduo e a outro que lhe seja afim. Alguns casos de premonições pelo sonho parecem mesmo tratar-se da interessante e bela facul­dade denominada <(onírica» (mediunidade pelo sonho), tão citada na Biblia e tão comum ainda hoje. Em im­portantes obras espíritas de absoluto critério vemos esse fenômeno investigado, estudado e descrito por eminentes pesquisadores dos fatos relacionados com a alma hu­mana e suas forças de ação. Os fatos modernos de premonições já não poderão causar sensação, embora continuem despertando interesse, e apenas vem para testemunhar os poderes espirituais que conosco carre­gamos e as relações com o mundo dos Espíritos desen­carnados.

Léon Denis, por exemplo, o eminente colaborador de Allam Kardec, tantas vezes por nós citado nestas páginas, a cuja dedicação à Doutrina Espírita tantas belas e elucidativas lições devemos, no seu importante’ livro “No Invisível”, oferece-nos excelentes casos desse’ fenômeno, casos rigorosamente comprovados pelos acon­tecimentos posteriores e ocorridos com personagens importantes da História. Transcreve ele valiosas citações. de outros autores, no capitulo 13º — Sonhos pre­monitórios, Clarividência. Pressentimentos»:

— “Nos sonhos são com frequência registrados fe­nômenos de premonição, isto é, comprova-se a facul­dade, que possuem certos sensitivos, de perceber, du­rante o sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos:

— “Plutarco (Vida de Júlio César) faz menção do sonho premonitório de Calpúrnia, mulher de César. Ela presenciou durante a noite a conjuração de Brútus e Cássius e o assassínio de César, e fêz todo o possível por impedir este de ir ao Senado.

“Pode-se também ver em Cícero (De Divinatione, 1, 27) o sonho de Simonides; em Valério Máximo (VII, parágrafo 1, 8) o sonho premonitório de Atério Rufo e (VII, parágrafo 1, 4) o do rei Creso, anunciando-lhe a morte de seu filho Athys.

“Em seus Comentários, refere Montlue que assis­tiu, em sonho, na véspera do acontecimento, à morte do Rei Henrique 2º (da França), traspassado por um golpe de lança, que num torneio lhe vibrou Montgomery.

“Sully, em suas Memórias (VII, 383), afirma que Henrique 4º (da França) tinha o pressentimento de que seria assassinado em uma carruagem.

“Fatos mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatóriamente mencionados:

Abraão Lincoln sonhou que se achava em uma calma silenciosa, como de morte, únicamente perturbada por soluços; levantou-se, percorreu várias salas e viu, finalmente, ao centro de uma delas, um catafalco em que jazia um corpo vestido de preto, guardado por sol­dados e rodeado de uma multidão em prantos. (Quem morreu na Casa Branca?» — perguntou Lincoln. —«O presidente!» — respondeu um soldado; — foi as­sassinado!» Nesse momento uma prolongada aclamação do povo o despertou. Pouco tempo depois morria ele assassinado».

Prosseguindo nas interessantes relações dos fenô­menos aqui citados, Léon Denis lembra ainda um dos mais importantes, referido pelo astrônomo Camile Flam­marion em seu livro «O Desconhecido e os Problemas Psíquicos». O sensitivo aqui é o Sr. Bérard, antigo ma­gistrado e deputado:

— “Obrigado pelo cansaço, durante uma viagem, a pernoitar em péssima estalagem situada entre monta­nhas selváticas, ele (Sr. Bérard) presenciou, em sonhos, todos os detalhes de um assassínio que havia de ser cometido, três anos mais tarde, no quarto que ocupava, e de que foi vítima o advogado Vítor Arnaud. Graças à lembrança desse sonho é que o Sr. Bérard fêz descobrir os assassinos»“.

Cita também o caso romântico de uma jovem irmã de caridade (Nièvre) que viu em sonho o rapaz, para ela desconhecido, com quem depois se havia de casar. Graças a esse sonho, ela tornou-se Mnie. de la Bé­dollière».

Todavia, as obras mediúnicas espíritas e as obras clássicas do Espiritismo, particularmente, advertem que muitos detalhes, acidentes mesmo, enfermidades, contra­tempos, situações incômodas, etc., não foram progra­mados no Além, por ocasião da reencarnação do indi­viduo que as sofre, decorrendo, então, na Terra, em vista da imperfeição do próprio planeta ou por efeito do livre arbítrio do indivíduo, que poderá agir de forma tal, durante a encarnação, a criá-los e sofrer-lhes as consequências. O homem possui vontade livre, e, se não se conduz à altura da sensatez integral, poderá mesclar sua existência de grandes penúrias que seriam dispen­sáveis no seu presente roteiro, e que, por isso mesmo, serão apenas criação atual da sua vontade mal orien­tada e não programação trazida do Espaço, como fa­talidade.

Servindo-nos do direito que a Ciência Espírita con­cede ao seu adepto, de procurar instruir-se com os seus guias e amigos espirituais, sobre pontos ainda obscuros da mesma, como o fenômeno das premonições, para as quais não encontramos explicações satisfatórias em ne­nhum compêndio espírita consultado, certa vez interro­gamos o amigo Charles sobre a questão. Perguntámos, Valendo-nos da escrita:

—  “Podeis esclarecer-nos sobre o processo pelo qual somos avisados de certos acontecimentos, geralmente importantes e graves, a se realizarem conosco, e que muitas vezes se cumprem como os vimos em sonhos ou em visões?»

E ele respondeu, psicogràficamente:

      — “Existem vários processos pelos quais o homem poderá ser informado de um ou outro acontecimento fu­turo importante da sua vida. Comumente, se ele fêz jus a essa advertência, ou lembrete, pois isso implica certo mérito, ou ainda certo desenvolvimento psíquico, de quem o recebe, é um amigo do Além, um parente, o seu Espí­rito familiar ou o próprio Guardião Maior que lhe comu­nicam o fato a realizar-se, preparando-o para o evento, que geralmente é grave, doloroso, fazendo-se sempre em linguagem encenada, ou figurada, como de uso no Invi­sível, e daí o que chamais «avisos pelo sonho», ou seja, sonhos premonitórios». De outras vezes, é o próprio indivíduo que, recordando os acontecimentos que lhe ser­viriam de testemunhos reparadores, perante a lei da cria­ção, delineados no mundo Espiritual às vésperas da reencarnação, os vê tais como acontecerão, assim os casos de morte, sua própria ou de pessoas da família, desastres, dores morais, etc., etc. E os seus protetores espirituais, que”. igualmente conhecem o programa de pe­ripécias do pupilo, delineado no evento da reencarnação, com mais razão o advertirão no momento necessário, seja através do sonho ou intuitivamente. Pode aconte­cer que, num caso de traição de amor, por exemplo, provação que tanto fere os corações sensíveis e dedi­cados, e nos casos de deslealdade de um amigo, etc., o paciente, durante o sono, penetre a aura do outro, por quem se interessa, e aí descubra as suas intenções, lendo-lhe os pensamentos e os atos já realizados mentalmente, como num livro aberto ilustrado, tal a linguagem espiri­tual, e então verá o que o outro pretende concretizar em seu desfavor, como se fora a realização de um sonho, pois tudo foi habilmente gravado em sua consciência e as imagens fotografadas em seu cérebro, permitindo a lembrança ao despertar, não obstante empalidecidas. Futuramente o fato será realizado objetivamente e aí está o aviso…

       De outro modo, seguindo a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada, por deduções um amigo da espiritualidade se cientificará de um acontecimento que mais tarde se efetivará com precisão. Ele poderá comunicar o acontecimento ao seu amigo terreno e o fará de modo sutil, em sonho ou pressentimento. O es­tudo da lei de causa e efeito é matemática, infalível; concreta, para a observação das entidades espirituais de ordem elevada, e, assim sendo, ele se comunicará com o seu pupilo terreno através da intuição, do pressenti­mento, da premonição, do sonho, etc. O estudo da ma­temática de causa e efeito é mesmo indispensável, como que obrigatório, às entidades prepostas à carreira trans­cendente de guardiães, ou guias espirituais.

       Estudo pro­fundo, científico, que se ampliará até prever o futuro remoto da própria Humanidade e dos acontecimentos a se realizarem no globo terráqueo, como hecatombes físi­cas ou morais, guerras, fatos célebres, etc., daí então advindo a possibilidade das profecias quando o sensitivo, altamente dotado de poderes supra-normais, comportar o peso da transmissão fiel aos seus contemporâneos. Ë um dos estudos, portanto, que requerem um curso completo de especialização. Outrossim, acresce a impor­tante circunstância de que todos esses acontecimentos de um modo geral se prendem ao lastro da evolução do planeta como do indivíduo, e o sábio instrutor deste, como os auxiliares do governo do planeta, estão aptos a perceber o que sucederá daqui a um ano, um século ou um milênio, pelo estudo e deduções científicas sobre o programa da evolução da Criação, pois o tempo é inexis­tente nas esferas da espiritualidade e a entidade sábia facilmente deduzirá, e com certeza matemática, os su­cessos em geral, subordinados ao trabalho da evolução, como se se tratasse do momento presente.

O individuo que sofrerá esta ou aquela provação ou o que terá de apresentar testemunhos de valor moral pela expiação, jamais o ignora no seu estado espiritual de semiliberdade através do sono ou do transe mediúnico (pode-se cair em transe mediúnico sem ser espírita, mor­mente quando se dorme), visto que consentiu em experi­mentar todas essas lições reparadoras. Mas, se não conserva intuições a tal respeito no estado normal humano, almas amigas e piedosas poderão relembrá-las em sonhos ilustrados, assim preparando-o e auxiliando-o a adquirir forças e serenidade para o embate supremo. Casos há em que o aviso virá por outrem ligado ao paciente, mais acessível às infiltrações espirituais premonitórias. Agra­decei a Deus as advertências que vos são concedidas às vésperas das provações. Elas indicam que não sofrereis sozinhos, que amigos desvelados permanecem ao vosso lado dispostos a enxugar as vossas lágrimas com os bálsamos do santo amor espiritual inspirado pelo amor de Deus».

Com essas pequenas indicações e estudando tão in­teressantes fenômenos, cremos que chegaremos a vis­lumbrar algo sobre o mecanismo dos avisos transcen­dentes que tantos de nós temos recebido do mundo in­visível às vésperas de acontecimentos importantes de nossas vidas.

A seguir o leitor encontrará pequena série de adver­tências dessa natureza, concedida a nós e a pessoas do nosso conhecimento, e que não será destituída de inte­resse para os estudos transcendentais. Certamente que nos seria possível organizar um volume com o noticiário completo que a respeito nos tem vindo às mãos, além daqueles fatos ocorridos conosco. Julgamos, porém, que para o testemunho que a Doutrina Espírita de nós exige, para mais essa face da verdade que tivemos a felici­dade de poder comprovar, serão suficientes os que aqui registramos.

*

       — “Eu era, como ainda sou, médium de premonições. Qualquer acontecimento grave, feliz ou desditoso, que me diga respeito ou à família e, menos frequente­mente, em que se refira a amigos e à coletividade, é-me descrito em sonhos através de quadros encenados ou parábolas, muito antes que aconteça, exatamente como o processo pelo qual obtenho os livros românticos, me­diúnicos.

No ano de 1940, por exemplo, quando Benito Mussolini, poderoso primeiro ministro do Rei da Itália, se encontrava no auge do poder, durante um sonho (transe onírico, ou mediunidade pelo sonho, a que a Bíblia tanto se refere) foi-me revelado o seu trágico desaparecimento, tal como se verificou, até mesmo o seu cadáver profanado, suspenso de um poste, e os seus pobres olhos esbugalhados de horror, fora das órbitas, como mais tarde os clichês da imprensa e os filmes cinematográficos reproduziram, ao relatarem os aconteci­mentos de Milão, em 1945. No dia seguinte a esse sonho, referi o fato às pessoas da família como se tra­tando de uma previsão, mas não fui acreditada, pois não havia, efetivamente, nenhuma razão para eu ser in­formada, espiritualmente, do futuro que esperava o po­deroso «Duce», como era chamada aquela personagem. Ao demais, como poderia ele decair tanto do seu pres­tígio de verdadeiro César?

Os anos se passaram, porém, e, ao findar a segunda guerra mundial, os fatos se realizaram como eu a eles assistira em sonho, mesmo nos seus detalhes.

Mas porque tal aviso a mim? Teria eu, porventura, assistido a alguma aula do curso de «Causa e Efeito», no Espaço, e retido aqueles acontecimentos na lembran­ça? Ou que estranha corrente me levara à percepção de acontecimentos implicando essa personagem? Seria uma profecia? Mas com que finalidade se eu, absolutamente, não a levaria à publicidade? Seria porventura a existência de correntes favoráveis ao fato, que me animavam os pensamentos, visto que, meditando frequentemente naquela figura de estadista, nela eu supunha entrever a reencarnação de certo Imperador Romano, cujas ca­racterísticas muito se coadunavam com as do altivo «Duce»?

São indagações para as quais não encontro solução… Um ano antes desse estranho acontecimento impli­cando o Sr. Benito Mussolini, ou seja, pelo mês de Ja­neiro de 1939, e residindo eu então em Minas Gerais, entrei a sonhar frequentemente com um cortejo fúnebre muito concorrido e com todas as características da reali­dade. A frente do mesmo seguia um homem carregando linda coroa de flores naturais. Eu acompanhava o fére­tro logo após o esquife mortuário, banhada em lágrimas e sentindo o coração se me despedaçar de angústia, mas ignorando a identidade do morto. Durante cerca de seis meses a mesma visão prosseguiu, em sonhos, sistemàtica­mente, incomodativa, irritante. Também durante os des­dobramentos em corpo astral eu via o mesmo féretro, acompanhava-o e chorava angustiosamente. Charles apa­recia então e me falava, de certo palavras consoladoras, mas das quais jamais recordava ao despertar. Uma noite, no entanto, ao acompanhar o cortejo, que persistia nos sonhos, vi que os acompanhantes pararam. Trouxeram uma banqueta e o caixão mortuário foi descansado sobre ela. Reconheci o local da cena: certa rua da cidade de Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, à margem da linha férrea da Central do Brasil, a qual se enca­minha para o cemitério local, e onde residia minha mãe.

Aproximei-me do esquife, como que movida por irresis­tível automatismo. Suspenderam a tampa do caixão sem que eu percebesse quem o fizera, e vi um cadáver co­berto de flores. Retirei o lenço que velava o rosto do morto e então reconheci minha mãe.

Com efeito, pelo mês de Setembro daquele mesmo ano minha mãe adoeceu gravemente. A 1 de Outubro, pela manhã, eu procurava repousar algumas horas, de­pois de uma noite insone velando a querida doente. Adormeci levemente e logo um sonho muito lúcido mos­trou-me meu pai, falecido quatro anos antes, aproximan­do-se de meu leito para dizer com satisfação e viva­cidade:

— Esperamos sua mãe aqui no dia 17… Faremos uma recepção a ela, que bem a merece… Está tudo bem…

A 18 de Outubro ela expirava sob nossas preces resignadas, porque durante todo o dia 17 apenas vivera da vida orgânica, sob a ação de óleo canforado. E os detalhes entrevistos durante a série de sonhos, com que eu fora informada dos acontecimentos a se realizarem, lá estavam: O cadáver de minha mãe foi rodeado de lin­das flores, oferecidas por suas amigas, e o cortejo idên­tico ao dos sonhos, mesmo com o homem à frente car­regando linda coroa de flores naturais, como de uso na localidade pela época, e o trânsito, a pé, pela mesma rua, a caminho do cemitério.

*

       Várias são as formas pelas quais os nossos amigos do mundo espiritual nos participam os grandes aconteci­mentos de nossa vida. Também a morte de meu pai foi descrita antes que ocorresse, mas através de suave pará­bola criada pelo Espírito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

       Conforme se verá mais abaixo, a visão pelo sonho nem foi tão forte nem tão dramática como o foi a relativa à morte de minha mãe, embora encerrasse o mesmo aviso premonitório. Ao que parece, o caráter dos instru­tores espirituais muito influi na forma pela qual criam as visões ou advertências que nos concedem, nessas ou em outras circunstâncias, assinalando-as com a própria personalidade. O Espírito Charles, embora a sua eleva­ção moral-espiritual e inequívoco amor que consagra ao meu espírito, caracteriza-se pelo modo enérgico de agir, e, se relata fatos, se adverte, imprime o próprio tom positivo na forma de proceder. Como já tive oportuni­dade de relatar nestas páginas, no que me diz respeito ele exige o máximo das minhas forças mediúnicas, e, quanto às provações por que tenho passado, chegou francamente a declarar que não me pouparia nenhuma delas porque me são necessárias à reeducação do cará­ter, apenas prometendo sofrê-las comigo e ajudar-me a bem suportá-las. Os dois livros por ele a mim concedidos mediunicamente — Amor e Ódio e Nas Voragens do Pecado — se revelam como obras fortes, vigorosas na dramaticidade exposta, capazes de levarem a emoção à alma do leitor. O sonho premonitório anunciando a desencarnação de minha mãe caracterizou-se por cenas do mesmo tipo dramático, emocionantes pelo realismo e também pela persistência, visto que durante cerca de seis meses as visões me perseguiram de modo constante. Adolfo Bezerra de Menezes, porém, caráter doce e como que receoso de molestar o próximo, refere-se a assuntos igualmente dramáticos suavizando o enredamento com expressões mais delicadas. Assim são os seus livros mediúnicos a mim concedidos, assim também o anúncio do trespasse de meu pai para o mundo espiritual, anún­cio que dulcificou com a própria presença, como que a inspirar confiança e sugerir proteção. Assim foi que, um mês antes da morte de meu pai, ocorrida em Janeiro de 1935, eu me vi, durante um sonho, ao lado do mesmo excelente mentor espiritual e diante de uma tela que se diria cinematográfica. Meu pai adoecera havia já um ano, mas, por aquela ocasião, melhorara considerável-mente e ninguém esperava o seu desenlace tão cedo.

Eu me sentava diante da referida tela, junto de meu pai, enquanto Bezerra de Menezes, em plano mais elevado, se mantinha de pé, apontando para a tela, criando-a, certamente, com um pequeno bastão de ala­bastro. E disse:

— Verás agora o que sucederá a teu pai dentro de bem poucos dias… Esses fatos são naturais na vida de um Espírito e não devemos lamentá-los…

Apresentou-se então, na tela, um prédio, tipo de pequena mansão antiga, que possuía a sua beleza clás­sica, mas em ruínas. A cada momento o predio osci­lava ameaçando desmoronar. As paredes se mostravam fendidas, os vidros das janelas quebrados, a pintura enegrecida, enquanto ratos iam e vinham por dentro e fora da casa, vorazes, roendo as paredes e o madeira­mento e tudo perfurando. Súbitamente o prédio desmo­ronou com estrondo. Ouvi o ruído das paredes desabando até aos alicerces, vi a poeira levantar-se e o montão de escombros jazendo por terra.

Mas em seu lugar outro prédio ficara, o mesmo tipo de mansão, grandioso e belo, de linhas clássicas, porém, novo, leve, gracioso, como construído em doces neblinas cintilantes. Compreendi o significado da cena e pus-me a chorar. Mas o meu próprio pai, que se achava presente, em espírito, abraçou-me carinhosamente, ao mesmo tempo que exclamava, sorridente:

— Então, que é isso, minha filha? Pois não és espírita? Porque choras?..

Um mês depois meu pai morria repentinamente, vi­timado por um edema pulmonar agudo, que se rompera, sufocando-o no sangue. E eu, com efeito, muito sofri e chorei depois da sua morte, pois, dentre todos os filhos, eu, justamente, fui a que mais padeceu com a sua au­sência. Por sua vez, ele próprio, meu pai, ao adoecer, um ano antes, fora avisado de que dentro de um ano seria chamado à pátria espiritual e que, por isso mesmo, se preparasse para o inevitável evento.

Atendendo, or­ganizou papéis de família, pondo tudo em ordem e assim evitando preocupações da mesma após o seu decesso. O aviso, porém, viera através da vidência em vigília, durante a hemorragia nasal que tivera a duração de dezessete horas e que marcara o início da sua enfermi­dade. Tratava-se, portanto, de manifestação espírita, com o aviso premonitório. E os amigos espirituais que então o visitaram foram sua mãe e Charles, a quem ele chamava «Dr. Carlos».

Deduz-se que, com mais frequência, somos adverti­dos dos fatos dolorosos, pois muito mais raras são as notícias que temos de um feliz futuro.

O  fato que a seguir apresentamos, rodeia-se da dramaticidade observada naquele referente à desencar­nação de minha mãe. Dir-se-ia que o guia espiritual informante possuía o mesmo caráter enérgico e positivo de Charles. Todavia, suas particularidades apresentam certa dose de romantismo e beleza — pois existe beleza em tudo isso — de que não desejamos privar o leitor.

*

— Uma amiga de minha família, cujo poético nome era Rosa Amélia S. G., residente em antiga cidade flu­minense, estava para casar-se e encomendara o vestido, para a cerimônia do dia do casamento, a antiga casa de modas «Parc-Royal», do Rio de Janeiro. Faltavam apenas quinze dias para o auspicioso evento quando a feliz noiva, que contava apenas dezoito primaveras, em certa noite sonhou que recebera pelo Correio o volume esperado, com o enxoval. Muito satisfeita, levou-o para o interior da casa, vendo-se rodeada das pessoas da fa­milha, que acorreram, curiosas. Mas, ao abrir a caixa e retirar as peças, o que ela encontrara fora um traje completo para viúva, com o véu negro denominado «cho­rão, como de uso na época para as viúvas recentes. A jovem soltou um grito de horror, fechou a caixa violentamente e despertou em gritos, chorando convul­sivamente. Conservou-se consternada durante uns dois ou três dias. Mas a perspectiva feliz do próximo enlace, os preparativos para os festejos, a presença amável do noivo, que desfrutava boa saúde e se rira muito das preocupações e do nervosismo da prometida, que receava perdê-lo, a tranquilizaram em seguida, fazendo-a esque­cer o (pesadelo). Na semana do casamento, efetivamen­te, chegara o volume pelo Correio, e ela própria o rece­bera, tal como sonhara, não mais se recordando do sonho que tivera e constatando, encantada, a beleza do seu vestido de bodas, que era em cetim branco e todo ornado de flores de laranjeira, e o véu de tule vaporoso e lindo, e a grinalda simbólica. Realizou-se, finalmente, o casamento no sábado seguinte. Dois meses depois, no entanto, o jovem esposo, tendo necessidade de visitar o Rio de Janeiro, adquiriu ali uma infecção tífica, re­gressando a casa, já em estado grave, e morrendo alguns dias depois. E sômente quando já na missa do sétimo dia, foi que a jovem viúva se lembrou do sonho que tivera às vésperas das próprias núpcias, pois que se reconheceu trajada exatamente como o sonho pro­fetizara.

Não fui informada se os trajes da viuvez chegaram pelo Correio, como os do noivado, expedidos pela mesma casa. O de que estou bem certa é que a jovem Rosa Amélia se conservou viúva durante vinte anos. Mas, por essa época, quando a conheci pessoalmente, encontrou aquele que deveria ser o seu verdadeiro esposo, pro­vindo da Europa, pois tratava-se de um estrangeiro, o qual como que era realmente a outra metade do seu coração e que permanecera ausente até àquela data. Casou-se com ele e viveu felicíssima outros tantos vinte anos, talvez mais, e, apesar do romantismo da sua vida, esta foi a expressão de uma realidade que em parte eu mesma presenciei, dela própria ouvindo a descrição do que aqui relato.

*

Dir-se-ia que a técnica espiritual para tais casos permite que se repitam os caracteres dos avisos, pois muitos deles se parecem uns com os outros, como os dois seguintes, que se assemelham, um com o citado pelo escritor espírita Léon Denis, relativo ao anúncio da morte do Presidente Abraão Lincoln, dos Estados Unidos da América do Norte, e o outro com o ocorrido a meu pai durante a noite em que adoecera, implicando não própria-mente um sonho, mas a manifestação espírita através da vidência, com a particularidade de ser uma partici­pação do desenlace já ocorrido:

— A boníssima Senhora B. C. M., residente em certa localidade fluminense, a duas horas de viagem do Rio de Janeiro, era mãe de nove filhos e esperava o décimo para dentro de um mês, aproximadamente. Nada fazia supor, no estado da dita Senhora, uma possibilidade fatal, pois a mesma se sentia bem, encontrava-se sob assistência médica e fora felicíssima em seus partos anteriores. Cerca de um mês antes do décimo sucesso, no entanto, ela sonhou que se encontrava no interior da casa e percebia um movimento desusado na mesma, choro continuado dos seus filhos e irmãos, pessoas tra­jadas de negro entravam na casa e dela saíam, silen­ciosas e consternadas.

Muito admirada, dirigiu-se ao salão de visitas a fim de se inteirar do que se passava, pois o fato insólito enervava-a. Ao chegar àquele com­partimento viu uma eça erguida e sobre ela um caixão mortuário, roxo, rodeado de velas; as paredes cobertas de coroas fúnebres, visitas chorosas e os próprios filhos dela rodeando a eça, desfeitos em pranto. Interrogou então a uma das visitas, mais admirada ainda:

— Que é isso? Quem morreu aqui em casa?

— Olha e vê! — respondeu a visita.

Ela chegou-se à eça, retirou o lenço que velava o rosto do morto e reconheceu-se a si mesma.

Um mês depois a Senhora B dava à luz o seu décimo filho, mas uma circunstância imprevista fê-la abandonar o fardo carnal para atingir as consoladoras estâncias espirituais. Ora, o movimento em sua residência, no dia dos seus funerais, mostrou-se exatamente como o entrevisto du­rante o sonho, consoante descrições dela própria à fa­mília e aos amigos, antes de morrer.

O  outro caso, não menos dramático e real, mostra-se, entretanto, inteiramente diverso, passando-se da se­guinte forma:

— A Senhora N. O. residia em famosa cidade mi­neira, mas fora ao Rio de Janeiro a fim de se submeter a melindrosa operação cirúrgica. Seu filho mais moço, jovem de quinze anos de idade, era aluno de conceituado colégio religioso da cidade, e, deixando-o ali interno, sob os cuidados dos mestres, a Senhora N. O. hospitali­zara-se naquela cidade, então capital da República, sub­metendo-se à necessária operação. Três dias havia que fora operada quando todo o colégio, onde internara o filho, aproveitando uma bela manhã de domingo, visi­tara a represa de água potável, que supria a cidade. Temeràriamente, os cento e vinte jovens, acompanhados dos mestres, pretenderam atravessar, em massa, a frágil ponte de madeira, para uso dos funcionários, a qual se estendia de uma margem à outra da represa. Mas a ponte não resistiu ao peso, ruiu ao meio, atirando às águas numerosos jovens, dentre os quais o jovem Ale­xandre, filho da enferma, que pereceu afogado com mais quatro rapazes. Temerosos de participarem à mãe en­ferma o trágico decesso do seu caçula, os familiares silenciaram, esperando pelo seu restabelecimento. Mas cinco dias depois do desastre, pela madrugada, a enfer­ma, ainda no quarto do hospital, em penumbra, confessa ter distinguido a formação de uma como que «cerração», que inundou o quarto. Ela própria era que narrava:

— Tive a impressão — dizia — de que a cerração se elevava do leito de um grande rio. Meu filho foi-se elevando lentamente, como surgindo do fundo das águas. Reconheci-o e ele me disse:

— Mamãe, venho participar à Senhora que no do­mingo, pela manhã, morri afogado na represa de…

E os familiares nada mais tiveram a fazer senão confirmar o acontecimento à pobre mãe, a qual, ao que parece, mereceu demência dos Céus, pois suportou com heroismo a grande provação.

*

Por minha vez, manifestação do mesmo gênero, mas com perspectivas diferentes, acaba de se apresentar em minha vida de médium praticante, com impressionante realismo:

— Meu irmão Paulo Aníbal, funcionário da Cia. Si­derúrgica Nacional, na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, adoecera gravemente em De­zembro de 1964. Tratava-se de antigo caso de nefrite que se agravara, tomando-o hipertenso com frequentes ameaças de edemas pulmonares e dispnéias muito dolo­rosas. Em Maio de 1965, seu estado se agravara de tal forma que tememos o desenlace imediato. Era ele o irmão caçula dentre uma prole de sete, o mais amado pelos seis irmãos que o viram nascer, e nossa tristeza se acentuava a cada dia que se passava, pois, conquanto a Doutrina Espírita seja consoladora, tornando o adepto compreensivo aos ditames das leis naturais, resignado ante as provações de cada dia, a morte na Terra ainda constitui provação para aqueles que vêem partir seus entes amados para o outro plano da vida, e nenhum de nós ficará, certamente, indiferente ante a perspectiva do inevitável fato.

Eu acompanhava o querido enfermo na sua perma­nência num leito de hospital, onde se viu retido durante treze meses, e a 25 do mês de Maio, pela madrugada, um tanto fatigada pelas inquietações da noite, insone, reclinei-me junto ao leito do enfermo e ligeira sono­lência sobreveio, verificando-se o estado de semitranse, tão próprio ao bom intercâmbio com o Invisível. vi então que minha mãe, falecida havia vinte e seis anos, se aproximava de nós, olhava atentamente o doente e depois se voltava para mim, dizendo com naturalidade:

— Fica descansada e pode repousar. Ele só mor­rerá em Janeiro de 1966.

E meu irmão Paulo Aníbal, com efeito, veio a fale­cer a 18 de Janeiro de 1966.

*

Mas outros avisos existem que trazem felicidade, os quais parecem antes revelações protetoras, encer­rando mesmo caridade para com aquele que os recebe e ainda provando as simpatias que uma pessoa possa inspirar aos seres desencarnados, não obstante ser en­carnada.

Alguns desses avisos, tal o que em seguida aqui relataremos, dir-se-iam como que intrigas, ou male­dicência, mas, se analisarmos o fato na sua verdadeira estrutura, constataremos que, em vez de intrigas, eles demonstram antes o espírito de justiça e de proteção ao ser mais fraco. Um exemplo bastará para meditar­mos todos, não só sobre a necessidade de nos dedicarmos ao cultivo do verdadeiro Espiritismo, cheio de vigor e sutis belezas, a fim de o praticarmos nobremente, tal como deve ser, como também sobre a cautela que nos cumpre observar ao decidirmos dar certos passos graves em nossa vida de relação, pois, conforme ficou dito, nem todas as provações que experimentamos na Terra foram programadas como necessidade irremovível da nossa jornada.

Muitas aflições, desgostos e sofrimentos são antes o fruto das inconsequências do momento, a displicência dos nossos atos sob a ação da nossa exclu­siva vontade livre, na presente existência.

— Uma jovem espírita do meu conhecimento, resi­dente em Minas Gerais, era médium e possuidora de grande espírito de caridade para com os Espíritos sofredores desencarnados. Sua ternura afetiva para com os obsessores, os suicidas, os endurecidos do mundo invisível, era comovente e digna de ser imitada. Ela os cercava de proteção e amor, orando por eles diàriamente, em súplicas veementes; lia trechos da Doutrina Espírita e do Evangelho, convidando-os a ouvi-la, com­partilhando da sua comunhão com o Alto; oferecia dá­divas aos órfãos, aos velhos e aos enfermos em home­nagem a eles mesmos, enfim, era coração sentimental e romântico, até na prática da Doutrina dos Espíritos, pois que lhes oferecia flores colhidas do seu jardim, assim como cultivava com as próprias mãos canteiros de margaridas, de rosas e de violetas, que lhes oferecia em prece afetuosa, dizendo-lhes em pensamento, enquan­to revolvia a terra ou espargia água sobre os arbustos:

— Vinde, meus queridos irmãozinhos, e vêde: Estas flores são vossas, cultivo-as para vós.

Vêde como Deus é bom e generoso, que, valendo-se de um pequeno es­forço nosso, permite que do seio misterioso da terra despontem estas lindas dádivas para o encantamento da nossa vida.

Tudo é belo, bom e generoso dentro da Natureza e ao nosso derredor, desde o Sol, que nos alumia e aquece, protegendo-nos a vida, até a terra, que nos presenteia com os frutos da sua fecundidade. Porque somente nós havemos de ser maus? Pratiquemos antes de tudo o que for belo e agradável, saibamos cultivar o amor em nossos corações para com todas as coisas, e veremos que tudo sorrirá em volta de nós, tornando-nos alegres e felizes, com horizontes novos em nossos des­tinos para conquistas sempre maiores e melhores.»

Ora, assim como os nossos maus pensamentos rea­gem em nosso próprio desfavor, infelicitando-nos, por atraírem correntes espirituais negativas, assim também os pensamentos bons, um sentimento suave, uma atitude afável reagirão benevolamente, atraindo correntes amo­rosas que nos suavizarão as peripécias de cada dia. E assim como as nossas más ações são vistas pelos desencarnados, atraindo os de ordem inferior para o nosso convívio diário, até, por vezes, ao extremo de uma obsessão, assim também as nossas atitudes boas igual­mente os alcançarão, atraindo os bons para o nosso convívio diário e reagindo sobre os inferiores por lhes tolher as tentativas menos boas contra nós, e reedu­cando-os com os nossos exemplos. A jovem em questão tornou-se, certamente, benquista no Além-Túmulo, mes­mo nas regiões menos felizes, em vista da dedicação demonstrada para com os sofredores, os quais passaram a estimá-la, nela reconhecendo uma amiga, uma abne­gada protetora. Graças à sua bondade, tomou ascen­dência sobre aqueles infelizes que se encontravam no seu raio de atividades mediúnicas, os quais gostariam de um dia lhe poderem demonstrar igualmente amizade e gratidão. O certo foi que essa jovem, cujo nome era Márcia, enamorou-se de um varão, o Sr. R.S.M., ao qual, no entanto, conhecia superficialmente, e tornou-se sua prometida quando foi por ele pedida em casamento. Dadas as circunstâncias prementes da sua vida, pois a jovem Márcia era órfã e sofria a angústia da própria situação social, visto não poder contar com sólida pro­teção de qualquer membro da família, entendeu ela que o matrimônio solveria todos os problemas que a afligiam, e que aquele homem, que tão dedicado se mostrava, seria, com efeito, o amigo dileto que o Céu lhe enviava para seu protetor na Terra, bênção que a consolaria de todos os desgostos por que vinha passando na sua qualidade de órfã pobre. Era sincera e agia certa de que o noivo também o era, sentimental e romântica, mes­clando todos os atos da própria vida com os delicados matizes do próprio caráter. Cerca de quinze dias após a oficialização do compromisso, no entanto, entrou a sonhar que um grupo de Espíritos de humilde categoria do Espaço, ou antes, de categoria moral sofrível, me­díocre, avisava-a contra as intenções do prometido e da espécie negativa do seu caráter, como das próprias ações da sua vida particular.

— É um hipócrita! — exclamavam em conjunto, indignados, apontando para o pretendente, que durante os sonhos aparecia a seu lado. — um hipócrita, capaz de todas as vilezas! Supõe-te herdeira de uma fortuna e é o interesse, ünicamente, que o move… Ele não te ama, pois é caráter incapaz de amar ninguém… e se insistires nesse compromisso grandes desordens afli­girão a tua vida sem razão de ser…

E passavam a enumerar as más qualidades do Sr. R.S.M. e a série de deslizes por ele já praticados.

Das primeiras vezes que tal sonho adveio, a jovem Márcia atribuiu-o às suas próprias preocupações e até a mistificações de Espíritos perturbadores, que deseja­riam prejudicá-la. Mas porque o mesmo se repetisse com insistência, impressionou-se de tal forma que providen­ciou melhores averiguações em torno do individuo a quem confiaria a própria vida, constatando então a jus­tiça dos avisos contidos nos sonhos que tivera, avisos que só poderiam partir de corações sensatos e amigos. O compromisso foi rompido… e a jovem espírita con­tinuou na sua doce tarefa de aconselhar os necessitados do mundo astral com as manifestações da sua ternura toda espiritual e evangelizadora…

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 Finalmente, concluindo a exposição, que já vai longa, o mais interessante de quantos sonhos premoni­tórios me advertiram, ocorrido em minha juventude, quando já eu adotara convictamente os compromissos com a Doutrina Espírita e os dezoito anos floresciam repletos de sonhos e aspirações ternas e lindas. Trata-se de uma parábola por mim vivida sob as sugestões da entidade espiritual designada para a advertência que me deveria fortalecer para renúncias muito dolorosas e difíceis, a tempo de maiores dissabores não infelicita­rem ainda mais os dias de minha existência.

Como ve­remos, a técnica usada pelos instrutores espirituais, a fim de me profetizarem as lutas e os sofrimentos por que eu deveria passar, foi semelhante às das demais premonições e também idênticas às encenações vividas para o recebimento dos livros românticos que me foram concedidos através da psicografia. É de notar que esse sonho, lúcido por excelência, mostrava cenários tão reais e cenas tão vivas que eu afirmaria que tudo era sólido, material», e não fruto de uma sugestão forte, durante a qual fora criado, pelo poder da vontade mental, O cer­to foi que eu me vi, pelos meus dezoito anos de idade, diante de uma grande ponte em ruínas, que eu deveria atravessar para galgar a margem oposta. Em baixo rolava em turbilhões um rio tenebroso, de águas en­cachoeiradas e revoltas, rugindo e sacudindo a ponte a cada novo embate das águas convulsionadas, que pa­reciam ocasionadas por uma grande enchente. Eu me via lindamente trajada com vestes vaporosas, como de gaze imaculada, que voejavam ao soprar dos ventos que subiam do leito das águas, cabelos soltos e coroada de rosas brancas. A noite, aclarada pelo plenilúnio, era bela e sugestiva, deixando ver o azul do céu e as estre­las que brilhavam, límpidas. Á meu lado percebi uma entidade elevada, que reconheci como sendo Bittencourt Sampaio, envolta em túnica romana vaporosa e luci­lante, e coroada de louros, como os antigos intelectuais romanos e gregos.

E ele dizia:

— «Será necessário que atravesses… É o único re­curso que tens… Serás auxiliada…»

Pus-me a chorar, desencorajada, pois. se ensaiava entrar na ponte, esta oscilava com o meu peso. Ele, então, Bittencourt Sampaio, tomou do meu braço, am­parando-me, e repetiu:

— «Vamos, sem temor! Tudo consegue. aquele que quer! Não sabes que «a fé transporta montanhas»? Serás ajudada, confia! »

Assim amparada, atravessei a ponte, timidamente, desfeita em lágrimas, enquanto as águas rugiam em baixo, ameaçando tragá-la e também a mim. A cada passo novas oscilações da ponte, cujo soalho em ruínas me deixava entrever o abismo que corria sob meus pés. Em chegando ao lado oposto, lembro-me ainda de que o grande amigo repetiu o aviso do futuro que me es­perava, o que não constituía novidade para mim, por­que outras profecias já eu tivera sobre o assunto:

— «É o único recurso que terás para poder vencer:

       Dedicar-se ao Evangelho do Cristo de Deus, à Doutrina dos Espíritos. Nada esperes do mundo, porque o mundo nada terá para te conceder. És espírito culpado, a quem a demência do Céu estende a mão para se poder reer­guer do opróbrio do pretérito. Não conhecerás o matrimônio, não possuirás um lar, e espinhos e lutas se acumularão sob teus passos… Mas, unida a Jesus e à Verdade, obterás forças e tranquilidade para tudo su­portar e vencer…»

Com efeito, a premonição realizou-se integralmente, dia a dia, minuto a minuto: minha existência há sido travessia constante sobre um caudal de dores que o Consolador amparou e fortaleceu.

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        Muitos outros exemplos poderíamos citar. Esse ca­bedal copioso, que todas as criaturas colhem do círculo das próprias relações de amizade ou da observação, po­deria resultar em um ou mais volumes interessantes, para deleite dos estudiosos dos fatos supranormais. Mas os que aqui foram colecionados, apesar de não oferece­rem novidades, pois esses fatos são comuns, bastam para lembrar a todos nós que, acima de tudo, eles nos oferecem grandes demonstrações da verdade eterna, que não convém desprezarmos, manifestações do mundo es­piritual, o qual se entrechoca e se relaciona conosco, tomando parte em todos os sucessos de nossa vida. Provam, ao demais, a existência da alma além da morte, suas complexas possibilidades, sua individualidade mar­cante após o desprendimento dos liames carnais, os di­reitos que lhe são concedidos, pela lei da Criação, de se entender com os homens, com estes mantendo rela­ções afetivas ou protetoras; seu humanitário interesse pelos mesmos, os novos poderes por ela adquiridos de­pois da morte; o amparo que nos dispensam aqueles caridosos seres que, com seus avisos às vésperas das nossas provações ou dos grandes acontecimentos que nos surpreendem, nos preparam para os embates inevitáveis da existência, prontos a suavizarem quanto pos­sível as dores dos nossos testemunhos. E de tudo tam­bém ressalta que uma Doutrina assim completa, como o é o Espiritismo, assim perfeita, que se rodeia de beleza nos mínimos detalhes examinados, realmente merece do nosso coração muita renúncia e devoção para que seja bem estudada, compreendida e praticada, pois o certo é que não será licito a nenhum de nós encarar com indiferença o alto padrão dessa Ciência Celeste que em hora feliz adotAmos para, sob suas diretrizes, atingirmos a finalidade gloriosa a que a Criação Suprema nos destina.

(Yvonne do Amaral Pereira, médium, Bezerra de Menezes, Espírito. Recordações da Mediunidade, c.9)