Inácio Bittencourt

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Espírita bastante popular na terra carioca, homem de bem e incansável trabalhador na seara cristã, Inácio Bittencourt nasceu em Portugal aos 19 de Abril de 1862, desencarnando no Rio de Janeiro na madrugada de 18 de Fevereiro de 1943.

Muito moço, emigrou para o Brasil, não com idéias de riquezas, mas em busca de um ideal que a intuição lhe dizia estar na terra irmã.

Só, sem proteção nem amparo, a não ser a seriedade do seu caráter e a retidão do seu espírito, empregou-se em Botafogo, em 1875, dias após a sua chegada ao Rio de Janeiro.

Deixando as bancas escolares aos 10 anos, premido pela necessidade, que poderia ter aprendido? Todavia, esse pouco, aliado ao forte desejo de saber e à clarividência de sua razão, o libertou da ignorância. Autodidata, adquiriu muitos e variegados conhecimentos.

Aos vinte e um anos, era, como tantos outros rapazes de sua época, um livre-pensador. Contraiu matrimônio aos 22 anos e nesse mesmo ano – 1885 -, ao ler “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, se fez espírita.

Sua convicção firmou-se pelo estudo e ei-lo transformado em ardoroso propagandista das novas doutrinas, quer pela palavra escrita e falada, quer pela excepcional mediunidade curadora que nele abrolharia pouco tempo depois.

Bem cedo, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espiritistas e, mesmo, fora deles.

Fundou a 1o. de Maio de 1912 e dirigiu o memorável periódico “Aurora”, jornal que por muitos anos disseminou a doutrina espírita em todas as direções do País.

Sob a sua presidência foi fundado, em 1o. de Janeiro de 1919, o “Abrigo Teresa de Jesus”, velha casa de caridade até hoje funcionando no Rio de Janeiro, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas de ambos os sexos.

Colaborou ativamente para a fundação da União Espírita Suburbana e do Círculo Cáritas. Da “União” chegou a ser presidente por muito tempo, tendo sucedido, em 1919, ao grande espírita Fernandes Figueira, que dirigira os destinos daquela Casa até a sua desencarnação.

Durante dois anos foi vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, onde a sua palavra era sempre ouvida com acatamento.

Presidiu, ainda, O Centro Humildade e Fé, onde outrora nasceu a “Tribuna Espírita”, órgão que ele dirigiu por algum tempo.

Foi um dos diretores do Asilo Legião do Bem, para a velhice desamparada.

Embora pobre e sobrecarregado de numerosa família, não lhe faltava tempo para dedicar-se de corpo e alma ao Espiritismo e ao trabalho da caridade.

Por não possuir instrução acadêmica, escrevia com simplicidade, mas corretamente. Seus artigos eram bem concatenados e solidamente fundamentados.

“Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira, o jornal “Aurora” e outros periódicos espíritas contêm vários escritos de Inácio Bittencourt.

Considerado “apóstolo e santo” pela boca do povo, sobre ele assim disse ilustre médico em sugestiva crônica publicada num vespertino carioca: “Perante a lei foi um contraventor – perante a Humanidade, um benfeitor!”.

Referia-se o ilustre médico à mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt, que foi processado algumas vezes por exercício ilegal da Medicina, sempre absolvido, como aconteceu, por exemplo, em 1923, por decisão do Supremo Tribunal Federal, em Acórdão de 27 de outubro.

Forte na fé, valoroso na humildade, impertérrito na caridade, tal se revelou constantemente este velho companheiro de lides espiritualistas e amigo muito benquisto.

Dissemos que a sua personalidade alcançara grande destaque e o seu nome enorme projeção nos meios espíritas e fora deles, pelo seu indefesso labor mediúnico, que foi realmente extraordinário e dos mais assinaláveis. Essa, com efeito, a verdade, porquanto, como médium receitista, Inácio Bittencourt se constituiu um como expoente, entre quantos, em nosso País, hão recebido, da misericórdia inesgotável do Pai celestial, o dom de veiculá-la para os sofredores, a fim de os livrar dos sofrimentos do corpo e da alma, ou de, pelo menos, proporcionar alívio a esses sofrimentos.

Apreciando em seu justo valor esse dom e em sua legítima significação, consciente da responsabilidade imensa com que lhe onerava o Espírito, exerceu-o o saudoso lidador como verdadeiro sacerdócio, disposto a todos os sacrifícios que lhe adviessem da necessidade de dar cumprimento ao dever, que a sua consciência cristã lhe impunha, ante o lema da doutrina a que servia com inteiro devotamento e abnegação – “Sem caridade não há salvação”.

E as curas, por seu intermédio, se multiplicavam, assumindo não poucas o caráter de assombrosas. Inúmeras vezes, considerado perdido o caso, um apelo a Inácio Bottencourt era o recurso extremo, e a volta da saúde ao enfermo se verificava, com espanto dos que, desanimados, já descriam do seu restabelecimento, operando-se, em conseqüência e em muitíssimas ocasiões, surpreendentes conversões ao Espiritismo. Tornou-se ele, desse modo, um ponto de convergência das vistas de toda gente, quer dos que de certa forma já simpatizavam com a Doutrina dos Espíritos, ou para seus ensinos propendiam, quer dos seus adversários e inimigos de todas as espécies. Crescia assim, continuamente, o número dos que se faziam espíritas.

Mas, como era natural, também crescia, do mesmo passo, contra o Espiritismo e, em particular, contra o seu destemeroso servidor, a onda dos ódios que a ignorância e a maldade geram nas almas dos que se comprazem na treva, por aborrecerem a luz e a verdade, donde aquela se irradia. Daí, conseguintemente, sem falar das tribulações intimas que lhe assaltavam o coração, as perseguições de que se viu alvo o infatigável trabalhador, os vários processos que lhe moveram por exercício ilegal da medicina, rematados todos, aliás, graças à bondade divina, com a sua absolvição, processos e perseguições que ele enfrentou invariavelmente com a serenidade e a humildade do lídimo cristão, que sabe só existir uma justiça reta e perfeita, a pairar soberana, dando a cada um, no momento oportuno, segundo suas obras, infinitamente acima da dos homens, sempre falha, claudicante e incongruente, porque justiça de pecadores cegos.

Entretanto, não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração que lhe cercavam a personalidade, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu ministério mediúnico, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava à tribuna doutrinária, conforme de contínuo sucedia na Federação, a cujas sessões públicas de estudo comparecia assíduo, até pouco antes de se lhe tornar difícil locomover-se. Era então de causar pasmo, e pasmo geral, ouvi-lo, a ele, que não lograra dispor de ampla cultura intelectual, discorrer de maneira fluente, até com eloqüência muitas vezes, sobre o ponto em estudo, proferindo discursos ricos de belas imagens e de conceitos profundos, que seriam de impressionar e abalar os ouvintes, mesmo quando enunciados por mentalidades de vasta erudição científica e filosófica.

Amigo da Federação, que entrou a freqüentar com marcada assiduidade, quando, contando já essa instituição alguns anos de existência, nela atuava, como seu presidente, o apóstolo sem igual, Bezerra de Menezes; partilhando de muitas das vicissitudes e provas a que se tem visto sujeita a Casa de Ismael, que, todavia, não teve a dita de contá-lo entre os seus fundadores, conservou-se-lhe sempre ligado pelos laços de uma afeição, que ela sobrestimava vivamente, jamais deixando de o arrolar entre os obreiros de mais vulto e de maior devotamento que há contado entre nós a sementeira evangélica, a seara do bem e da verdade, que é a de N.S. Jesus-Cristo; em suma, entre aqueles que mais abnegadamente hão trabalhado pelo ideal cristão, cheios do espírito do Cristianismo do Cristo, do qual só se enriquecem as almas dos que se fazem, qual ele se fez, seguidores do Evangelho em espírito e verdade.

(WANTUIL, Zêus. Grandes Espíritas do Brasil. Brasília: FEB, 4ª ed., 1990, p.384-388)

Terezinha Oliveira

(Fonte: Site do CEAK)

Na última quarta-feira, 28/8/13, retornou à pátria espiritual a médium e escritora Therezinha Oliveira.

Dirigente do Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, dedicou mais de 50 anos de sua vida à divulgação da Doutrina Espírita, tendo ministrado inúmeras aulas, palestras, cursos e seminários no Brasil e nos EUA.

Em nota, o site do Centro Espírita Allan Kardec dedicou a Therezinha: “[…] é hora de lembrarmos da Therezinha amiga e trabalhadora espírita, com serenidade e paz, envolvendo-a com pensamentos de amor e gratidão pela vida dedicada à divulgação das verdades espirituais, com simplicidade, clareza, coragem, disposição e alegria […]”.

Therezinha escreveu dezenas de livros, entre eles “A Doutrina e o Movimento”, “Na Luz do Evangelho”, “Parábolas que Jesus Contou” a coleção de obras  “Estudos e Cursos”, dentre outras. Um de seus últimos escritos foi “Na Luz da Reencarnação, A Vida é sempre vida”.

Abaixo trechos de seus vídeos:

[vimeo http://vimeo.com/10645199]
 
[youtube=http://youtu.be/rx6Skv8TxYo]

4º Ano – Aula 19 – Amparo Espiritual

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Objetivo: Levar o grupo a entender e esperar que apesar de nossos erros, todos somos amparados pela espiritualidade.

Bibliografia:

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Entre a Terra e o Céu”, cap. 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Missionários da Luz”, cap. 7

(*) F.C.Xavier/Emmanuel, “Seara dos Médiuns”, lição 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 7

Entre a Terra e o Céu, c. 34

-Odila clama auxílio a Zulmira, enferma, Amaro, esposo, e Júlio, enteado recém-desencarnado. Zulmira, deprimida, carrega culpa pela morte acidental de Júlio.

Clarêncio, instrutor de André Luiz, aplica-lhe passes.

-Mário Silva, enfermeiro, também alimenta remorsos pelo desencarne de Júlio.

Duas freiras,  entidades de uma ordem  católica, iam até a casa de Mário orar por ele. Clarêncio, em apoio, aplicou passes em Mário, tranquilizando-o.

Missionários da Luz, c. 7

-Justina pede a Alexandre auxilio ao filho Antonio, adoentado e vítima dos próprios maus pensamentos.

Alexandre aconselhou Antonio, que, mesmo inconsciente, recebe seus conselhos. Em seguida, Alexandre ministrou tratamento de passes em áreas específicas da espinha dorsal, fígado e do córtex motor. O instrutor convocou o grupo do Irmão Francisco, uma equipe espiritual de auxílio. Recorreu-se também aos fluidos de Afonso, doados durante seu desdobramento no sono físico. Ocorreu, assim, reajustamento celular em Antonio.

Nos Domínios da Mediunidade, c. 7

Clementino auxilia o dirigente Raul Silva.

Frente aos Bons Espíritos, constituem méritos aspectos como moralidade, sentimento, educação e caráter.

O auxílio se estende a todos os trabalhadores, desde o dirigente e médiuns até os obreiros de sustentação.

Benfeitores desencarnados

Reunião pública de 12/12/60

Questão nº 267 – Parágrafo 17º

Perceberás, sem dificuldade, a presença deles.

Onde as vozes habituadas a escarnecer se mostram a ponto de condenar, eles falam a palavra da compaixão e do entendimento.

Onde as cruzes se destacam, massacrando ombros doridos, eles surgem, de Inesperado, por cireneus silenciosos, amparando os que caíram em desagrado e abandono.

Onde os problemas repontam, graves, prenunciando falência, eles semeiam a fé, cunhando valores novos de trabalho e esperança.

Onde as chagas se aprofundam, dilacerando corpo e alma, eles se convertem no remédio que sustenta a força e restaura a vida.

Onde o enxurro da ignorância cria a erosão do sofrimento, no solo do espírito, eles plantam a semente renovadora da elevação, regenerando o destino.

Onde os homens desistem de auxiliar, eles encontram vias diferentes de ação para a vitória do Amor Infinito.

Anseias pela convivência dos benfeitores desencarnados, com residência nos Planos Superiores, e tê-los-ás contigo, se quiseres.

Guarda, porém, a convicção de que todos eles são agentes do bem para todos e com todos, buscando agir através de todos em favor de todos.

Disse Jesus: “Quem me segue não anda em trevas.”

Se acompanhas os Bons Espíritos que, em tudo e por tudo, se revelam companheiros fiéis do Cristo, deixarás para sempre as sombras da retaguarda e avançarás para Deus, sob a glória da luz.

Essas outras mediunidades

Reunião pública de 29/4/60

Questão nº 185

Na expansão dos recursos medianímicos que te enriquecem a experiência, sob as diretrizes dos benfeitores desencarnados, não te despreocupes das faculdades edificantes, suscetíveis de te vincularem à elevação e à melhoria dos companheiros na Terra.

Pronuncias a palavra preciosa que os emissários da cultura e da inteligência te levam à boca, impressionando auditórios atentos.

Mas não negues o verbo da tolerância aos que te reclamam indulgência e carinho dentro de casa.

Doutrinas eficientemente os Espíritos transviados nas sombras da viciação e do crime, transmitindo conselhos e avisos da Esfera Superior.

Não recuses, porém, a conversação amorosa e paciente aos familiares ainda confinados à ignorância e à perturbação.

Escreves a frase escorreita, para entendimento do público, sob a influência de instrutores domiciliados no Plano Maior.

Grava, entretanto, no próprio caminho, a sinalização do bom exemplo, induzindo os semelhantes a que nobilitem a própria existência.

Contemplas quadros prodigiosos, através da clarividência, caindo em êxtase ante as alegrias sublimes que observas, por antecipação, na Glória Espiritual.

Não olvides, contudo, fitar as chagas dos que padecem, estendendo até eles migalha do teu conforto, por mensagem de auxilio.

Escutas vozes comovedoras do Grande Além, delas fazendo narrativas surpreendentes para os que te admiram as incursões no país do inabitual.

Busca, no entanto, ouvir as aflições dos irmãos sofredores, aprendendo a ser útil.

Estendes mãos fraternas, no passe balsamizante, em favor dos que te procuram, sedentos de alívio.

Não furtes, porém, os braços prestimosos ao trabalho de cooperação espontânea junto daqueles que o Senhor te confiou na intimidade doméstica.

Atende às faculdades múltiplas pelas quais se evidencie a bondade dos mensageiros divinos, mas não desdenhes essas outras mediunidades, tanta vez esquecidas, da renúncia e da paciência, da humildade e do serviço, da prudência e da lealdade, do devotamento e da correção, em que possas mostrar os teus préstimos diante daqueles que te partilham a luta, porque somente assim serás suporte firme da luz e chama da própria luz.

No diálogo de orientação

“Não se deve esquecer de que se trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação. Não é a força que age contra o Espírito, nem a elevação da voz, mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor. Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e violência em existências brutais em que o amor não floriu em seu coração.

Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual.

Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.”

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”)

Bibliografia: Francisco Cândido Xavier, médium, Emmanuel, Espírito, “Seara dos Médiuns”, c.30 e 90.

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A respeito da premonição

PREMONIÇÕES

       “Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante O Sono?”

       “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo quer do outro.”

*

       “Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.”        (“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, Capítulo 8, pergunta 402.)

Há sido objeto de muita meditação, por parte dos estudiosos dos acontecimentos psíquicos transcendentais, os curiosos fenômenos de premonições, pressentimentos e mesmo os de profecia. Frequentemente, cada um de nós é avisado, pelos protetores espirituais, durante o sono natural ou provocado, de fatos que mais tarde se realizam integralmente, tais como foram vistos durante aqueles transes. Dar-se-á então o caso de que os su­cessos da existência sejam estabelecidos fatalmente, por um programa preestabelecido no Além, programa que nós mesmos, os humanos, podemos ver e analisar con­templando a sua, por assim dizer, maqueta espiritual, durante um sonho, e, assim, avisados do que acontecerá?

É possível que, de algum modo, seja assim. Os fatos capitais da existência humana: provações, testemunhos, reparações, etc., foram delineados, com efeito, até certo limite, como o revela a Doutrina Espírita, antes da reencarnação. Nós próprios, se pretendentes lúcidos à reencarnação, co-participamos da elaboração do pro­grama que deveremos viver na Terra, e, portanto, a ciência de certos acontecimentos a se desenrolarem em torno de nós, ou conosco, ficará arquivada em nossa consciência profunda, ou subconsciência. Durante a vigília ou vida normal de relação, tudo jazerá esquecido, calcado nas profundidades da nossa alma. Mas, advindo a relativa liberdade motivada pelo sono, poderemos lem­brar-nos de muita coisa e os fatos a se realizarem em futuro próximo serão vistos com maior ou menor cla­reza, e, ao despertarmos, teremos sonhado o que então virá a ser considerado o aviso, ou a premonição.

É  evidente que tais possibilidades derivam de uma faculdade psíquica que possuimos, espécie de mediuni­dade, pois a premonição não existe no mesmo grau em todas as criaturas, embora seja disposição comum a qualquer ser humano, a qual, se bem desenvolvida, po­derá conceder importantes revelações e provas do inter­câmbio humano-espiritual, tais como as profecias de caráter geral, a se cumprirem futuramente, ou mesmo de caráter restrito ao próprio indivíduo e a outro que lhe seja afim. Alguns casos de premonições pelo sonho parecem mesmo tratar-se da interessante e bela facul­dade denominada <(onírica» (mediunidade pelo sonho), tão citada na Biblia e tão comum ainda hoje. Em im­portantes obras espíritas de absoluto critério vemos esse fenômeno investigado, estudado e descrito por eminentes pesquisadores dos fatos relacionados com a alma hu­mana e suas forças de ação. Os fatos modernos de premonições já não poderão causar sensação, embora continuem despertando interesse, e apenas vem para testemunhar os poderes espirituais que conosco carre­gamos e as relações com o mundo dos Espíritos desen­carnados.

Léon Denis, por exemplo, o eminente colaborador de Allam Kardec, tantas vezes por nós citado nestas páginas, a cuja dedicação à Doutrina Espírita tantas belas e elucidativas lições devemos, no seu importante’ livro “No Invisível”, oferece-nos excelentes casos desse’ fenômeno, casos rigorosamente comprovados pelos acon­tecimentos posteriores e ocorridos com personagens importantes da História. Transcreve ele valiosas citações. de outros autores, no capitulo 13º — Sonhos pre­monitórios, Clarividência. Pressentimentos»:

— “Nos sonhos são com frequência registrados fe­nômenos de premonição, isto é, comprova-se a facul­dade, que possuem certos sensitivos, de perceber, du­rante o sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos:

— “Plutarco (Vida de Júlio César) faz menção do sonho premonitório de Calpúrnia, mulher de César. Ela presenciou durante a noite a conjuração de Brútus e Cássius e o assassínio de César, e fêz todo o possível por impedir este de ir ao Senado.

“Pode-se também ver em Cícero (De Divinatione, 1, 27) o sonho de Simonides; em Valério Máximo (VII, parágrafo 1, 8) o sonho premonitório de Atério Rufo e (VII, parágrafo 1, 4) o do rei Creso, anunciando-lhe a morte de seu filho Athys.

“Em seus Comentários, refere Montlue que assis­tiu, em sonho, na véspera do acontecimento, à morte do Rei Henrique 2º (da França), traspassado por um golpe de lança, que num torneio lhe vibrou Montgomery.

“Sully, em suas Memórias (VII, 383), afirma que Henrique 4º (da França) tinha o pressentimento de que seria assassinado em uma carruagem.

“Fatos mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatóriamente mencionados:

Abraão Lincoln sonhou que se achava em uma calma silenciosa, como de morte, únicamente perturbada por soluços; levantou-se, percorreu várias salas e viu, finalmente, ao centro de uma delas, um catafalco em que jazia um corpo vestido de preto, guardado por sol­dados e rodeado de uma multidão em prantos. (Quem morreu na Casa Branca?» — perguntou Lincoln. —«O presidente!» — respondeu um soldado; — foi as­sassinado!» Nesse momento uma prolongada aclamação do povo o despertou. Pouco tempo depois morria ele assassinado».

Prosseguindo nas interessantes relações dos fenô­menos aqui citados, Léon Denis lembra ainda um dos mais importantes, referido pelo astrônomo Camile Flam­marion em seu livro «O Desconhecido e os Problemas Psíquicos». O sensitivo aqui é o Sr. Bérard, antigo ma­gistrado e deputado:

— “Obrigado pelo cansaço, durante uma viagem, a pernoitar em péssima estalagem situada entre monta­nhas selváticas, ele (Sr. Bérard) presenciou, em sonhos, todos os detalhes de um assassínio que havia de ser cometido, três anos mais tarde, no quarto que ocupava, e de que foi vítima o advogado Vítor Arnaud. Graças à lembrança desse sonho é que o Sr. Bérard fêz descobrir os assassinos»“.

Cita também o caso romântico de uma jovem irmã de caridade (Nièvre) que viu em sonho o rapaz, para ela desconhecido, com quem depois se havia de casar. Graças a esse sonho, ela tornou-se Mnie. de la Bé­dollière».

Todavia, as obras mediúnicas espíritas e as obras clássicas do Espiritismo, particularmente, advertem que muitos detalhes, acidentes mesmo, enfermidades, contra­tempos, situações incômodas, etc., não foram progra­mados no Além, por ocasião da reencarnação do indi­viduo que as sofre, decorrendo, então, na Terra, em vista da imperfeição do próprio planeta ou por efeito do livre arbítrio do indivíduo, que poderá agir de forma tal, durante a encarnação, a criá-los e sofrer-lhes as consequências. O homem possui vontade livre, e, se não se conduz à altura da sensatez integral, poderá mesclar sua existência de grandes penúrias que seriam dispen­sáveis no seu presente roteiro, e que, por isso mesmo, serão apenas criação atual da sua vontade mal orien­tada e não programação trazida do Espaço, como fa­talidade.

Servindo-nos do direito que a Ciência Espírita con­cede ao seu adepto, de procurar instruir-se com os seus guias e amigos espirituais, sobre pontos ainda obscuros da mesma, como o fenômeno das premonições, para as quais não encontramos explicações satisfatórias em ne­nhum compêndio espírita consultado, certa vez interro­gamos o amigo Charles sobre a questão. Perguntámos, Valendo-nos da escrita:

—  “Podeis esclarecer-nos sobre o processo pelo qual somos avisados de certos acontecimentos, geralmente importantes e graves, a se realizarem conosco, e que muitas vezes se cumprem como os vimos em sonhos ou em visões?»

E ele respondeu, psicogràficamente:

      — “Existem vários processos pelos quais o homem poderá ser informado de um ou outro acontecimento fu­turo importante da sua vida. Comumente, se ele fêz jus a essa advertência, ou lembrete, pois isso implica certo mérito, ou ainda certo desenvolvimento psíquico, de quem o recebe, é um amigo do Além, um parente, o seu Espí­rito familiar ou o próprio Guardião Maior que lhe comu­nicam o fato a realizar-se, preparando-o para o evento, que geralmente é grave, doloroso, fazendo-se sempre em linguagem encenada, ou figurada, como de uso no Invi­sível, e daí o que chamais «avisos pelo sonho», ou seja, sonhos premonitórios». De outras vezes, é o próprio indivíduo que, recordando os acontecimentos que lhe ser­viriam de testemunhos reparadores, perante a lei da cria­ção, delineados no mundo Espiritual às vésperas da reencarnação, os vê tais como acontecerão, assim os casos de morte, sua própria ou de pessoas da família, desastres, dores morais, etc., etc. E os seus protetores espirituais, que”. igualmente conhecem o programa de pe­ripécias do pupilo, delineado no evento da reencarnação, com mais razão o advertirão no momento necessário, seja através do sonho ou intuitivamente. Pode aconte­cer que, num caso de traição de amor, por exemplo, provação que tanto fere os corações sensíveis e dedi­cados, e nos casos de deslealdade de um amigo, etc., o paciente, durante o sono, penetre a aura do outro, por quem se interessa, e aí descubra as suas intenções, lendo-lhe os pensamentos e os atos já realizados mentalmente, como num livro aberto ilustrado, tal a linguagem espiri­tual, e então verá o que o outro pretende concretizar em seu desfavor, como se fora a realização de um sonho, pois tudo foi habilmente gravado em sua consciência e as imagens fotografadas em seu cérebro, permitindo a lembrança ao despertar, não obstante empalidecidas. Futuramente o fato será realizado objetivamente e aí está o aviso…

       De outro modo, seguindo a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada, por deduções um amigo da espiritualidade se cientificará de um acontecimento que mais tarde se efetivará com precisão. Ele poderá comunicar o acontecimento ao seu amigo terreno e o fará de modo sutil, em sonho ou pressentimento. O es­tudo da lei de causa e efeito é matemática, infalível; concreta, para a observação das entidades espirituais de ordem elevada, e, assim sendo, ele se comunicará com o seu pupilo terreno através da intuição, do pressenti­mento, da premonição, do sonho, etc. O estudo da ma­temática de causa e efeito é mesmo indispensável, como que obrigatório, às entidades prepostas à carreira trans­cendente de guardiães, ou guias espirituais.

       Estudo pro­fundo, científico, que se ampliará até prever o futuro remoto da própria Humanidade e dos acontecimentos a se realizarem no globo terráqueo, como hecatombes físi­cas ou morais, guerras, fatos célebres, etc., daí então advindo a possibilidade das profecias quando o sensitivo, altamente dotado de poderes supra-normais, comportar o peso da transmissão fiel aos seus contemporâneos. Ë um dos estudos, portanto, que requerem um curso completo de especialização. Outrossim, acresce a impor­tante circunstância de que todos esses acontecimentos de um modo geral se prendem ao lastro da evolução do planeta como do indivíduo, e o sábio instrutor deste, como os auxiliares do governo do planeta, estão aptos a perceber o que sucederá daqui a um ano, um século ou um milênio, pelo estudo e deduções científicas sobre o programa da evolução da Criação, pois o tempo é inexis­tente nas esferas da espiritualidade e a entidade sábia facilmente deduzirá, e com certeza matemática, os su­cessos em geral, subordinados ao trabalho da evolução, como se se tratasse do momento presente.

O individuo que sofrerá esta ou aquela provação ou o que terá de apresentar testemunhos de valor moral pela expiação, jamais o ignora no seu estado espiritual de semiliberdade através do sono ou do transe mediúnico (pode-se cair em transe mediúnico sem ser espírita, mor­mente quando se dorme), visto que consentiu em experi­mentar todas essas lições reparadoras. Mas, se não conserva intuições a tal respeito no estado normal humano, almas amigas e piedosas poderão relembrá-las em sonhos ilustrados, assim preparando-o e auxiliando-o a adquirir forças e serenidade para o embate supremo. Casos há em que o aviso virá por outrem ligado ao paciente, mais acessível às infiltrações espirituais premonitórias. Agra­decei a Deus as advertências que vos são concedidas às vésperas das provações. Elas indicam que não sofrereis sozinhos, que amigos desvelados permanecem ao vosso lado dispostos a enxugar as vossas lágrimas com os bálsamos do santo amor espiritual inspirado pelo amor de Deus».

Com essas pequenas indicações e estudando tão in­teressantes fenômenos, cremos que chegaremos a vis­lumbrar algo sobre o mecanismo dos avisos transcen­dentes que tantos de nós temos recebido do mundo in­visível às vésperas de acontecimentos importantes de nossas vidas.

A seguir o leitor encontrará pequena série de adver­tências dessa natureza, concedida a nós e a pessoas do nosso conhecimento, e que não será destituída de inte­resse para os estudos transcendentais. Certamente que nos seria possível organizar um volume com o noticiário completo que a respeito nos tem vindo às mãos, além daqueles fatos ocorridos conosco. Julgamos, porém, que para o testemunho que a Doutrina Espírita de nós exige, para mais essa face da verdade que tivemos a felici­dade de poder comprovar, serão suficientes os que aqui registramos.

*

       — “Eu era, como ainda sou, médium de premonições. Qualquer acontecimento grave, feliz ou desditoso, que me diga respeito ou à família e, menos frequente­mente, em que se refira a amigos e à coletividade, é-me descrito em sonhos através de quadros encenados ou parábolas, muito antes que aconteça, exatamente como o processo pelo qual obtenho os livros românticos, me­diúnicos.

No ano de 1940, por exemplo, quando Benito Mussolini, poderoso primeiro ministro do Rei da Itália, se encontrava no auge do poder, durante um sonho (transe onírico, ou mediunidade pelo sonho, a que a Bíblia tanto se refere) foi-me revelado o seu trágico desaparecimento, tal como se verificou, até mesmo o seu cadáver profanado, suspenso de um poste, e os seus pobres olhos esbugalhados de horror, fora das órbitas, como mais tarde os clichês da imprensa e os filmes cinematográficos reproduziram, ao relatarem os aconteci­mentos de Milão, em 1945. No dia seguinte a esse sonho, referi o fato às pessoas da família como se tra­tando de uma previsão, mas não fui acreditada, pois não havia, efetivamente, nenhuma razão para eu ser in­formada, espiritualmente, do futuro que esperava o po­deroso «Duce», como era chamada aquela personagem. Ao demais, como poderia ele decair tanto do seu pres­tígio de verdadeiro César?

Os anos se passaram, porém, e, ao findar a segunda guerra mundial, os fatos se realizaram como eu a eles assistira em sonho, mesmo nos seus detalhes.

Mas porque tal aviso a mim? Teria eu, porventura, assistido a alguma aula do curso de «Causa e Efeito», no Espaço, e retido aqueles acontecimentos na lembran­ça? Ou que estranha corrente me levara à percepção de acontecimentos implicando essa personagem? Seria uma profecia? Mas com que finalidade se eu, absolutamente, não a levaria à publicidade? Seria porventura a existência de correntes favoráveis ao fato, que me animavam os pensamentos, visto que, meditando frequentemente naquela figura de estadista, nela eu supunha entrever a reencarnação de certo Imperador Romano, cujas ca­racterísticas muito se coadunavam com as do altivo «Duce»?

São indagações para as quais não encontro solução… Um ano antes desse estranho acontecimento impli­cando o Sr. Benito Mussolini, ou seja, pelo mês de Ja­neiro de 1939, e residindo eu então em Minas Gerais, entrei a sonhar frequentemente com um cortejo fúnebre muito concorrido e com todas as características da reali­dade. A frente do mesmo seguia um homem carregando linda coroa de flores naturais. Eu acompanhava o fére­tro logo após o esquife mortuário, banhada em lágrimas e sentindo o coração se me despedaçar de angústia, mas ignorando a identidade do morto. Durante cerca de seis meses a mesma visão prosseguiu, em sonhos, sistemàtica­mente, incomodativa, irritante. Também durante os des­dobramentos em corpo astral eu via o mesmo féretro, acompanhava-o e chorava angustiosamente. Charles apa­recia então e me falava, de certo palavras consoladoras, mas das quais jamais recordava ao despertar. Uma noite, no entanto, ao acompanhar o cortejo, que persistia nos sonhos, vi que os acompanhantes pararam. Trouxeram uma banqueta e o caixão mortuário foi descansado sobre ela. Reconheci o local da cena: certa rua da cidade de Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, à margem da linha férrea da Central do Brasil, a qual se enca­minha para o cemitério local, e onde residia minha mãe.

Aproximei-me do esquife, como que movida por irresis­tível automatismo. Suspenderam a tampa do caixão sem que eu percebesse quem o fizera, e vi um cadáver co­berto de flores. Retirei o lenço que velava o rosto do morto e então reconheci minha mãe.

Com efeito, pelo mês de Setembro daquele mesmo ano minha mãe adoeceu gravemente. A 1 de Outubro, pela manhã, eu procurava repousar algumas horas, de­pois de uma noite insone velando a querida doente. Adormeci levemente e logo um sonho muito lúcido mos­trou-me meu pai, falecido quatro anos antes, aproximan­do-se de meu leito para dizer com satisfação e viva­cidade:

— Esperamos sua mãe aqui no dia 17… Faremos uma recepção a ela, que bem a merece… Está tudo bem…

A 18 de Outubro ela expirava sob nossas preces resignadas, porque durante todo o dia 17 apenas vivera da vida orgânica, sob a ação de óleo canforado. E os detalhes entrevistos durante a série de sonhos, com que eu fora informada dos acontecimentos a se realizarem, lá estavam: O cadáver de minha mãe foi rodeado de lin­das flores, oferecidas por suas amigas, e o cortejo idên­tico ao dos sonhos, mesmo com o homem à frente car­regando linda coroa de flores naturais, como de uso na localidade pela época, e o trânsito, a pé, pela mesma rua, a caminho do cemitério.

*

       Várias são as formas pelas quais os nossos amigos do mundo espiritual nos participam os grandes aconteci­mentos de nossa vida. Também a morte de meu pai foi descrita antes que ocorresse, mas através de suave pará­bola criada pelo Espírito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

       Conforme se verá mais abaixo, a visão pelo sonho nem foi tão forte nem tão dramática como o foi a relativa à morte de minha mãe, embora encerrasse o mesmo aviso premonitório. Ao que parece, o caráter dos instru­tores espirituais muito influi na forma pela qual criam as visões ou advertências que nos concedem, nessas ou em outras circunstâncias, assinalando-as com a própria personalidade. O Espírito Charles, embora a sua eleva­ção moral-espiritual e inequívoco amor que consagra ao meu espírito, caracteriza-se pelo modo enérgico de agir, e, se relata fatos, se adverte, imprime o próprio tom positivo na forma de proceder. Como já tive oportuni­dade de relatar nestas páginas, no que me diz respeito ele exige o máximo das minhas forças mediúnicas, e, quanto às provações por que tenho passado, chegou francamente a declarar que não me pouparia nenhuma delas porque me são necessárias à reeducação do cará­ter, apenas prometendo sofrê-las comigo e ajudar-me a bem suportá-las. Os dois livros por ele a mim concedidos mediunicamente — Amor e Ódio e Nas Voragens do Pecado — se revelam como obras fortes, vigorosas na dramaticidade exposta, capazes de levarem a emoção à alma do leitor. O sonho premonitório anunciando a desencarnação de minha mãe caracterizou-se por cenas do mesmo tipo dramático, emocionantes pelo realismo e também pela persistência, visto que durante cerca de seis meses as visões me perseguiram de modo constante. Adolfo Bezerra de Menezes, porém, caráter doce e como que receoso de molestar o próximo, refere-se a assuntos igualmente dramáticos suavizando o enredamento com expressões mais delicadas. Assim são os seus livros mediúnicos a mim concedidos, assim também o anúncio do trespasse de meu pai para o mundo espiritual, anún­cio que dulcificou com a própria presença, como que a inspirar confiança e sugerir proteção. Assim foi que, um mês antes da morte de meu pai, ocorrida em Janeiro de 1935, eu me vi, durante um sonho, ao lado do mesmo excelente mentor espiritual e diante de uma tela que se diria cinematográfica. Meu pai adoecera havia já um ano, mas, por aquela ocasião, melhorara considerável-mente e ninguém esperava o seu desenlace tão cedo.

Eu me sentava diante da referida tela, junto de meu pai, enquanto Bezerra de Menezes, em plano mais elevado, se mantinha de pé, apontando para a tela, criando-a, certamente, com um pequeno bastão de ala­bastro. E disse:

— Verás agora o que sucederá a teu pai dentro de bem poucos dias… Esses fatos são naturais na vida de um Espírito e não devemos lamentá-los…

Apresentou-se então, na tela, um prédio, tipo de pequena mansão antiga, que possuía a sua beleza clás­sica, mas em ruínas. A cada momento o predio osci­lava ameaçando desmoronar. As paredes se mostravam fendidas, os vidros das janelas quebrados, a pintura enegrecida, enquanto ratos iam e vinham por dentro e fora da casa, vorazes, roendo as paredes e o madeira­mento e tudo perfurando. Súbitamente o prédio desmo­ronou com estrondo. Ouvi o ruído das paredes desabando até aos alicerces, vi a poeira levantar-se e o montão de escombros jazendo por terra.

Mas em seu lugar outro prédio ficara, o mesmo tipo de mansão, grandioso e belo, de linhas clássicas, porém, novo, leve, gracioso, como construído em doces neblinas cintilantes. Compreendi o significado da cena e pus-me a chorar. Mas o meu próprio pai, que se achava presente, em espírito, abraçou-me carinhosamente, ao mesmo tempo que exclamava, sorridente:

— Então, que é isso, minha filha? Pois não és espírita? Porque choras?..

Um mês depois meu pai morria repentinamente, vi­timado por um edema pulmonar agudo, que se rompera, sufocando-o no sangue. E eu, com efeito, muito sofri e chorei depois da sua morte, pois, dentre todos os filhos, eu, justamente, fui a que mais padeceu com a sua au­sência. Por sua vez, ele próprio, meu pai, ao adoecer, um ano antes, fora avisado de que dentro de um ano seria chamado à pátria espiritual e que, por isso mesmo, se preparasse para o inevitável evento.

Atendendo, or­ganizou papéis de família, pondo tudo em ordem e assim evitando preocupações da mesma após o seu decesso. O aviso, porém, viera através da vidência em vigília, durante a hemorragia nasal que tivera a duração de dezessete horas e que marcara o início da sua enfermi­dade. Tratava-se, portanto, de manifestação espírita, com o aviso premonitório. E os amigos espirituais que então o visitaram foram sua mãe e Charles, a quem ele chamava «Dr. Carlos».

Deduz-se que, com mais frequência, somos adverti­dos dos fatos dolorosos, pois muito mais raras são as notícias que temos de um feliz futuro.

O  fato que a seguir apresentamos, rodeia-se da dramaticidade observada naquele referente à desencar­nação de minha mãe. Dir-se-ia que o guia espiritual informante possuía o mesmo caráter enérgico e positivo de Charles. Todavia, suas particularidades apresentam certa dose de romantismo e beleza — pois existe beleza em tudo isso — de que não desejamos privar o leitor.

*

— Uma amiga de minha família, cujo poético nome era Rosa Amélia S. G., residente em antiga cidade flu­minense, estava para casar-se e encomendara o vestido, para a cerimônia do dia do casamento, a antiga casa de modas «Parc-Royal», do Rio de Janeiro. Faltavam apenas quinze dias para o auspicioso evento quando a feliz noiva, que contava apenas dezoito primaveras, em certa noite sonhou que recebera pelo Correio o volume esperado, com o enxoval. Muito satisfeita, levou-o para o interior da casa, vendo-se rodeada das pessoas da fa­milha, que acorreram, curiosas. Mas, ao abrir a caixa e retirar as peças, o que ela encontrara fora um traje completo para viúva, com o véu negro denominado «cho­rão, como de uso na época para as viúvas recentes. A jovem soltou um grito de horror, fechou a caixa violentamente e despertou em gritos, chorando convul­sivamente. Conservou-se consternada durante uns dois ou três dias. Mas a perspectiva feliz do próximo enlace, os preparativos para os festejos, a presença amável do noivo, que desfrutava boa saúde e se rira muito das preocupações e do nervosismo da prometida, que receava perdê-lo, a tranquilizaram em seguida, fazendo-a esque­cer o (pesadelo). Na semana do casamento, efetivamen­te, chegara o volume pelo Correio, e ela própria o rece­bera, tal como sonhara, não mais se recordando do sonho que tivera e constatando, encantada, a beleza do seu vestido de bodas, que era em cetim branco e todo ornado de flores de laranjeira, e o véu de tule vaporoso e lindo, e a grinalda simbólica. Realizou-se, finalmente, o casamento no sábado seguinte. Dois meses depois, no entanto, o jovem esposo, tendo necessidade de visitar o Rio de Janeiro, adquiriu ali uma infecção tífica, re­gressando a casa, já em estado grave, e morrendo alguns dias depois. E sômente quando já na missa do sétimo dia, foi que a jovem viúva se lembrou do sonho que tivera às vésperas das próprias núpcias, pois que se reconheceu trajada exatamente como o sonho pro­fetizara.

Não fui informada se os trajes da viuvez chegaram pelo Correio, como os do noivado, expedidos pela mesma casa. O de que estou bem certa é que a jovem Rosa Amélia se conservou viúva durante vinte anos. Mas, por essa época, quando a conheci pessoalmente, encontrou aquele que deveria ser o seu verdadeiro esposo, pro­vindo da Europa, pois tratava-se de um estrangeiro, o qual como que era realmente a outra metade do seu coração e que permanecera ausente até àquela data. Casou-se com ele e viveu felicíssima outros tantos vinte anos, talvez mais, e, apesar do romantismo da sua vida, esta foi a expressão de uma realidade que em parte eu mesma presenciei, dela própria ouvindo a descrição do que aqui relato.

*

Dir-se-ia que a técnica espiritual para tais casos permite que se repitam os caracteres dos avisos, pois muitos deles se parecem uns com os outros, como os dois seguintes, que se assemelham, um com o citado pelo escritor espírita Léon Denis, relativo ao anúncio da morte do Presidente Abraão Lincoln, dos Estados Unidos da América do Norte, e o outro com o ocorrido a meu pai durante a noite em que adoecera, implicando não própria-mente um sonho, mas a manifestação espírita através da vidência, com a particularidade de ser uma partici­pação do desenlace já ocorrido:

— A boníssima Senhora B. C. M., residente em certa localidade fluminense, a duas horas de viagem do Rio de Janeiro, era mãe de nove filhos e esperava o décimo para dentro de um mês, aproximadamente. Nada fazia supor, no estado da dita Senhora, uma possibilidade fatal, pois a mesma se sentia bem, encontrava-se sob assistência médica e fora felicíssima em seus partos anteriores. Cerca de um mês antes do décimo sucesso, no entanto, ela sonhou que se encontrava no interior da casa e percebia um movimento desusado na mesma, choro continuado dos seus filhos e irmãos, pessoas tra­jadas de negro entravam na casa e dela saíam, silen­ciosas e consternadas.

Muito admirada, dirigiu-se ao salão de visitas a fim de se inteirar do que se passava, pois o fato insólito enervava-a. Ao chegar àquele com­partimento viu uma eça erguida e sobre ela um caixão mortuário, roxo, rodeado de velas; as paredes cobertas de coroas fúnebres, visitas chorosas e os próprios filhos dela rodeando a eça, desfeitos em pranto. Interrogou então a uma das visitas, mais admirada ainda:

— Que é isso? Quem morreu aqui em casa?

— Olha e vê! — respondeu a visita.

Ela chegou-se à eça, retirou o lenço que velava o rosto do morto e reconheceu-se a si mesma.

Um mês depois a Senhora B dava à luz o seu décimo filho, mas uma circunstância imprevista fê-la abandonar o fardo carnal para atingir as consoladoras estâncias espirituais. Ora, o movimento em sua residência, no dia dos seus funerais, mostrou-se exatamente como o entrevisto du­rante o sonho, consoante descrições dela própria à fa­mília e aos amigos, antes de morrer.

O  outro caso, não menos dramático e real, mostra-se, entretanto, inteiramente diverso, passando-se da se­guinte forma:

— A Senhora N. O. residia em famosa cidade mi­neira, mas fora ao Rio de Janeiro a fim de se submeter a melindrosa operação cirúrgica. Seu filho mais moço, jovem de quinze anos de idade, era aluno de conceituado colégio religioso da cidade, e, deixando-o ali interno, sob os cuidados dos mestres, a Senhora N. O. hospitali­zara-se naquela cidade, então capital da República, sub­metendo-se à necessária operação. Três dias havia que fora operada quando todo o colégio, onde internara o filho, aproveitando uma bela manhã de domingo, visi­tara a represa de água potável, que supria a cidade. Temeràriamente, os cento e vinte jovens, acompanhados dos mestres, pretenderam atravessar, em massa, a frágil ponte de madeira, para uso dos funcionários, a qual se estendia de uma margem à outra da represa. Mas a ponte não resistiu ao peso, ruiu ao meio, atirando às águas numerosos jovens, dentre os quais o jovem Ale­xandre, filho da enferma, que pereceu afogado com mais quatro rapazes. Temerosos de participarem à mãe en­ferma o trágico decesso do seu caçula, os familiares silenciaram, esperando pelo seu restabelecimento. Mas cinco dias depois do desastre, pela madrugada, a enfer­ma, ainda no quarto do hospital, em penumbra, confessa ter distinguido a formação de uma como que «cerração», que inundou o quarto. Ela própria era que narrava:

— Tive a impressão — dizia — de que a cerração se elevava do leito de um grande rio. Meu filho foi-se elevando lentamente, como surgindo do fundo das águas. Reconheci-o e ele me disse:

— Mamãe, venho participar à Senhora que no do­mingo, pela manhã, morri afogado na represa de…

E os familiares nada mais tiveram a fazer senão confirmar o acontecimento à pobre mãe, a qual, ao que parece, mereceu demência dos Céus, pois suportou com heroismo a grande provação.

*

Por minha vez, manifestação do mesmo gênero, mas com perspectivas diferentes, acaba de se apresentar em minha vida de médium praticante, com impressionante realismo:

— Meu irmão Paulo Aníbal, funcionário da Cia. Si­derúrgica Nacional, na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, adoecera gravemente em De­zembro de 1964. Tratava-se de antigo caso de nefrite que se agravara, tomando-o hipertenso com frequentes ameaças de edemas pulmonares e dispnéias muito dolo­rosas. Em Maio de 1965, seu estado se agravara de tal forma que tememos o desenlace imediato. Era ele o irmão caçula dentre uma prole de sete, o mais amado pelos seis irmãos que o viram nascer, e nossa tristeza se acentuava a cada dia que se passava, pois, conquanto a Doutrina Espírita seja consoladora, tornando o adepto compreensivo aos ditames das leis naturais, resignado ante as provações de cada dia, a morte na Terra ainda constitui provação para aqueles que vêem partir seus entes amados para o outro plano da vida, e nenhum de nós ficará, certamente, indiferente ante a perspectiva do inevitável fato.

Eu acompanhava o querido enfermo na sua perma­nência num leito de hospital, onde se viu retido durante treze meses, e a 25 do mês de Maio, pela madrugada, um tanto fatigada pelas inquietações da noite, insone, reclinei-me junto ao leito do enfermo e ligeira sono­lência sobreveio, verificando-se o estado de semitranse, tão próprio ao bom intercâmbio com o Invisível. vi então que minha mãe, falecida havia vinte e seis anos, se aproximava de nós, olhava atentamente o doente e depois se voltava para mim, dizendo com naturalidade:

— Fica descansada e pode repousar. Ele só mor­rerá em Janeiro de 1966.

E meu irmão Paulo Aníbal, com efeito, veio a fale­cer a 18 de Janeiro de 1966.

*

Mas outros avisos existem que trazem felicidade, os quais parecem antes revelações protetoras, encer­rando mesmo caridade para com aquele que os recebe e ainda provando as simpatias que uma pessoa possa inspirar aos seres desencarnados, não obstante ser en­carnada.

Alguns desses avisos, tal o que em seguida aqui relataremos, dir-se-iam como que intrigas, ou male­dicência, mas, se analisarmos o fato na sua verdadeira estrutura, constataremos que, em vez de intrigas, eles demonstram antes o espírito de justiça e de proteção ao ser mais fraco. Um exemplo bastará para meditar­mos todos, não só sobre a necessidade de nos dedicarmos ao cultivo do verdadeiro Espiritismo, cheio de vigor e sutis belezas, a fim de o praticarmos nobremente, tal como deve ser, como também sobre a cautela que nos cumpre observar ao decidirmos dar certos passos graves em nossa vida de relação, pois, conforme ficou dito, nem todas as provações que experimentamos na Terra foram programadas como necessidade irremovível da nossa jornada.

Muitas aflições, desgostos e sofrimentos são antes o fruto das inconsequências do momento, a displicência dos nossos atos sob a ação da nossa exclu­siva vontade livre, na presente existência.

— Uma jovem espírita do meu conhecimento, resi­dente em Minas Gerais, era médium e possuidora de grande espírito de caridade para com os Espíritos sofredores desencarnados. Sua ternura afetiva para com os obsessores, os suicidas, os endurecidos do mundo invisível, era comovente e digna de ser imitada. Ela os cercava de proteção e amor, orando por eles diàriamente, em súplicas veementes; lia trechos da Doutrina Espírita e do Evangelho, convidando-os a ouvi-la, com­partilhando da sua comunhão com o Alto; oferecia dá­divas aos órfãos, aos velhos e aos enfermos em home­nagem a eles mesmos, enfim, era coração sentimental e romântico, até na prática da Doutrina dos Espíritos, pois que lhes oferecia flores colhidas do seu jardim, assim como cultivava com as próprias mãos canteiros de margaridas, de rosas e de violetas, que lhes oferecia em prece afetuosa, dizendo-lhes em pensamento, enquan­to revolvia a terra ou espargia água sobre os arbustos:

— Vinde, meus queridos irmãozinhos, e vêde: Estas flores são vossas, cultivo-as para vós.

Vêde como Deus é bom e generoso, que, valendo-se de um pequeno es­forço nosso, permite que do seio misterioso da terra despontem estas lindas dádivas para o encantamento da nossa vida.

Tudo é belo, bom e generoso dentro da Natureza e ao nosso derredor, desde o Sol, que nos alumia e aquece, protegendo-nos a vida, até a terra, que nos presenteia com os frutos da sua fecundidade. Porque somente nós havemos de ser maus? Pratiquemos antes de tudo o que for belo e agradável, saibamos cultivar o amor em nossos corações para com todas as coisas, e veremos que tudo sorrirá em volta de nós, tornando-nos alegres e felizes, com horizontes novos em nossos des­tinos para conquistas sempre maiores e melhores.»

Ora, assim como os nossos maus pensamentos rea­gem em nosso próprio desfavor, infelicitando-nos, por atraírem correntes espirituais negativas, assim também os pensamentos bons, um sentimento suave, uma atitude afável reagirão benevolamente, atraindo correntes amo­rosas que nos suavizarão as peripécias de cada dia. E assim como as nossas más ações são vistas pelos desencarnados, atraindo os de ordem inferior para o nosso convívio diário, até, por vezes, ao extremo de uma obsessão, assim também as nossas atitudes boas igual­mente os alcançarão, atraindo os bons para o nosso convívio diário e reagindo sobre os inferiores por lhes tolher as tentativas menos boas contra nós, e reedu­cando-os com os nossos exemplos. A jovem em questão tornou-se, certamente, benquista no Além-Túmulo, mes­mo nas regiões menos felizes, em vista da dedicação demonstrada para com os sofredores, os quais passaram a estimá-la, nela reconhecendo uma amiga, uma abne­gada protetora. Graças à sua bondade, tomou ascen­dência sobre aqueles infelizes que se encontravam no seu raio de atividades mediúnicas, os quais gostariam de um dia lhe poderem demonstrar igualmente amizade e gratidão. O certo foi que essa jovem, cujo nome era Márcia, enamorou-se de um varão, o Sr. R.S.M., ao qual, no entanto, conhecia superficialmente, e tornou-se sua prometida quando foi por ele pedida em casamento. Dadas as circunstâncias prementes da sua vida, pois a jovem Márcia era órfã e sofria a angústia da própria situação social, visto não poder contar com sólida pro­teção de qualquer membro da família, entendeu ela que o matrimônio solveria todos os problemas que a afligiam, e que aquele homem, que tão dedicado se mostrava, seria, com efeito, o amigo dileto que o Céu lhe enviava para seu protetor na Terra, bênção que a consolaria de todos os desgostos por que vinha passando na sua qualidade de órfã pobre. Era sincera e agia certa de que o noivo também o era, sentimental e romântica, mes­clando todos os atos da própria vida com os delicados matizes do próprio caráter. Cerca de quinze dias após a oficialização do compromisso, no entanto, entrou a sonhar que um grupo de Espíritos de humilde categoria do Espaço, ou antes, de categoria moral sofrível, me­díocre, avisava-a contra as intenções do prometido e da espécie negativa do seu caráter, como das próprias ações da sua vida particular.

— É um hipócrita! — exclamavam em conjunto, indignados, apontando para o pretendente, que durante os sonhos aparecia a seu lado. — um hipócrita, capaz de todas as vilezas! Supõe-te herdeira de uma fortuna e é o interesse, ünicamente, que o move… Ele não te ama, pois é caráter incapaz de amar ninguém… e se insistires nesse compromisso grandes desordens afli­girão a tua vida sem razão de ser…

E passavam a enumerar as más qualidades do Sr. R.S.M. e a série de deslizes por ele já praticados.

Das primeiras vezes que tal sonho adveio, a jovem Márcia atribuiu-o às suas próprias preocupações e até a mistificações de Espíritos perturbadores, que deseja­riam prejudicá-la. Mas porque o mesmo se repetisse com insistência, impressionou-se de tal forma que providen­ciou melhores averiguações em torno do individuo a quem confiaria a própria vida, constatando então a jus­tiça dos avisos contidos nos sonhos que tivera, avisos que só poderiam partir de corações sensatos e amigos. O compromisso foi rompido… e a jovem espírita con­tinuou na sua doce tarefa de aconselhar os necessitados do mundo astral com as manifestações da sua ternura toda espiritual e evangelizadora…

 *

 Finalmente, concluindo a exposição, que já vai longa, o mais interessante de quantos sonhos premoni­tórios me advertiram, ocorrido em minha juventude, quando já eu adotara convictamente os compromissos com a Doutrina Espírita e os dezoito anos floresciam repletos de sonhos e aspirações ternas e lindas. Trata-se de uma parábola por mim vivida sob as sugestões da entidade espiritual designada para a advertência que me deveria fortalecer para renúncias muito dolorosas e difíceis, a tempo de maiores dissabores não infelicita­rem ainda mais os dias de minha existência.

Como ve­remos, a técnica usada pelos instrutores espirituais, a fim de me profetizarem as lutas e os sofrimentos por que eu deveria passar, foi semelhante às das demais premonições e também idênticas às encenações vividas para o recebimento dos livros românticos que me foram concedidos através da psicografia. É de notar que esse sonho, lúcido por excelência, mostrava cenários tão reais e cenas tão vivas que eu afirmaria que tudo era sólido, material», e não fruto de uma sugestão forte, durante a qual fora criado, pelo poder da vontade mental, O cer­to foi que eu me vi, pelos meus dezoito anos de idade, diante de uma grande ponte em ruínas, que eu deveria atravessar para galgar a margem oposta. Em baixo rolava em turbilhões um rio tenebroso, de águas en­cachoeiradas e revoltas, rugindo e sacudindo a ponte a cada novo embate das águas convulsionadas, que pa­reciam ocasionadas por uma grande enchente. Eu me via lindamente trajada com vestes vaporosas, como de gaze imaculada, que voejavam ao soprar dos ventos que subiam do leito das águas, cabelos soltos e coroada de rosas brancas. A noite, aclarada pelo plenilúnio, era bela e sugestiva, deixando ver o azul do céu e as estre­las que brilhavam, límpidas. Á meu lado percebi uma entidade elevada, que reconheci como sendo Bittencourt Sampaio, envolta em túnica romana vaporosa e luci­lante, e coroada de louros, como os antigos intelectuais romanos e gregos.

E ele dizia:

— «Será necessário que atravesses… É o único re­curso que tens… Serás auxiliada…»

Pus-me a chorar, desencorajada, pois. se ensaiava entrar na ponte, esta oscilava com o meu peso. Ele, então, Bittencourt Sampaio, tomou do meu braço, am­parando-me, e repetiu:

— «Vamos, sem temor! Tudo consegue. aquele que quer! Não sabes que «a fé transporta montanhas»? Serás ajudada, confia! »

Assim amparada, atravessei a ponte, timidamente, desfeita em lágrimas, enquanto as águas rugiam em baixo, ameaçando tragá-la e também a mim. A cada passo novas oscilações da ponte, cujo soalho em ruínas me deixava entrever o abismo que corria sob meus pés. Em chegando ao lado oposto, lembro-me ainda de que o grande amigo repetiu o aviso do futuro que me es­perava, o que não constituía novidade para mim, por­que outras profecias já eu tivera sobre o assunto:

— «É o único recurso que terás para poder vencer:

       Dedicar-se ao Evangelho do Cristo de Deus, à Doutrina dos Espíritos. Nada esperes do mundo, porque o mundo nada terá para te conceder. És espírito culpado, a quem a demência do Céu estende a mão para se poder reer­guer do opróbrio do pretérito. Não conhecerás o matrimônio, não possuirás um lar, e espinhos e lutas se acumularão sob teus passos… Mas, unida a Jesus e à Verdade, obterás forças e tranquilidade para tudo su­portar e vencer…»

Com efeito, a premonição realizou-se integralmente, dia a dia, minuto a minuto: minha existência há sido travessia constante sobre um caudal de dores que o Consolador amparou e fortaleceu.

 *

        Muitos outros exemplos poderíamos citar. Esse ca­bedal copioso, que todas as criaturas colhem do círculo das próprias relações de amizade ou da observação, po­deria resultar em um ou mais volumes interessantes, para deleite dos estudiosos dos fatos supranormais. Mas os que aqui foram colecionados, apesar de não oferece­rem novidades, pois esses fatos são comuns, bastam para lembrar a todos nós que, acima de tudo, eles nos oferecem grandes demonstrações da verdade eterna, que não convém desprezarmos, manifestações do mundo es­piritual, o qual se entrechoca e se relaciona conosco, tomando parte em todos os sucessos de nossa vida. Provam, ao demais, a existência da alma além da morte, suas complexas possibilidades, sua individualidade mar­cante após o desprendimento dos liames carnais, os di­reitos que lhe são concedidos, pela lei da Criação, de se entender com os homens, com estes mantendo rela­ções afetivas ou protetoras; seu humanitário interesse pelos mesmos, os novos poderes por ela adquiridos de­pois da morte; o amparo que nos dispensam aqueles caridosos seres que, com seus avisos às vésperas das nossas provações ou dos grandes acontecimentos que nos surpreendem, nos preparam para os embates inevitáveis da existência, prontos a suavizarem quanto pos­sível as dores dos nossos testemunhos. E de tudo tam­bém ressalta que uma Doutrina assim completa, como o é o Espiritismo, assim perfeita, que se rodeia de beleza nos mínimos detalhes examinados, realmente merece do nosso coração muita renúncia e devoção para que seja bem estudada, compreendida e praticada, pois o certo é que não será licito a nenhum de nós encarar com indiferença o alto padrão dessa Ciência Celeste que em hora feliz adotAmos para, sob suas diretrizes, atingirmos a finalidade gloriosa a que a Criação Suprema nos destina.

(Yvonne do Amaral Pereira, médium, Bezerra de Menezes, Espírito. Recordações da Mediunidade, c.9)

Vidência ou Visão dos Espíritos

 CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 VIDÊNCIA

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”, cap. 14 (Médiuns Auditivos) – item 165; cap. 14 (Médiuns Videntes) – item 167; e cap. 6 – item 100 – q. 16, 26, 28 e item 105;
Eliseu Rigonatti, “A mediunidade sem lágrimas”;
(*) Marlene Nobre, “O Dom da Mediunidade”, parte III – item 24;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Mecanismos da Mediunidade”,  cap. 20;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 14.

Introdução

A partir do conteúdo estudado na última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como se dá a interação entre a entidade comunicante e o médium?
2-Toda mediunidade audiente é semelhante? Explique.
3-Quais são os tipos de mediunidade escrevente?
4-Explique os tipos de psicofonia?
5-Qual o papel da sintonia nas comunicações mediúnicas?
6-O que é o ajuste de vibrações na mediunidade?
7-Quais são as qualidades de um bom médium?

  

OS INSTRUMENTOS DA MEDIUNIDADE

A mediunidade é uma faculdade humana que envolve diversos instrumentos das esferas intelectuais, morais, espirituais e materiais.
No âmbito intelectual, temos o preparo e o estudo. As leituras necessárias são, antes de tudo a Codificação de Kardec, e, a seguir, obras dos autores devidamente afinados à Doutrina, como Gabriel Delanne, Leon Denis, Ernesto Bozzano.
No viés moral, sobressai a conduta moralizada do médium. O médium precisa ter consciência de que é exemplo de moralidade, dentro e fora das atividades medianímicas. Sem se deixar incorrer na afetação, deve preservar-se de vícios, por menores que sejam, e de vida social intensa.
As ferramentas espirituais da mediunidade podem ser ilustradas pela fé, sendo esta raciocinada, robusta
“A fé robusta nos confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas.” (Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, c.XIX, it.2)
E também há os aspectos materiais. O médium deve viver consoante o trabalho honesto, dentro de suas possibilidades, evitando sempre a ambição imoderada e se lembrando de que o homem não é mais do que um mordomo dos bens que lhe confere o Senhor.

OS MÉDIUNS VIDENTES

Faculdade da pessoa encarnada que, em estado normal e perfeitamente desperta, vê os Espíritos, mesmo que estes não tenham a intenção de ser vistos. A vidência não é contante, ocorrendo de forma momentânea e passageira.
A mediunidade, como diz André Luiz, é sintonia e filtragem. Assim, cada mente tem uma capacidade peculiar de percepção dos fenômenos. O mesmo contato medianímico pode ser percebido de maneiras diversas por um mesmo grupo mediúnico. Para certo médium, pode parecer um vulto, para outro, uma forma feminina, e outro, ainda, pode identificar o Espírito de uma mulher, descrevendo inclusive aspectos fisionômicos, trajes e detalhes bem minuciosos.
Segundo Divaldo P. Franco, na obra de co-autoria com Raul Teixeira, “Diretrizes de Segurança”, a utilidade da vidência é a de desvelar os painéis do mundo espiritual, sabendo observá-los, e, melhor ainda, mantendo discrição no traduzi-los, para não a transformar num informativo de leviandades.
Há três tipos de médium vidente:
1-médiuns videntes que vêem, tanto com os olhos abertos como com eles fechados;
2-médiuns que vêem somente com os olhos abertos;
3-os médiuns de visão mental.
No primeiro caso, é o perispírito do médium que recebe a imagem do espírito. Assim, o médium tanto pode estar com os olhos abertos como com eles fechados que verá os espíritos. A visão não lhe chega através dos olhos e sim através do perispírito. Estes médiuns são chamados clarividentes e a mediunidade que possuem chama-se clarividência. São raríssimos.
No segundo caso, a causa da vidência reside nos olhos do médium. Os olhos se tornam sensíveis sob a ação fluídica do espírito que se quer deixar ver e, nesse estado de sensibilidade ótica, o médium o vê em pensamento.
Os médiuns videntes são raros e a vidência nunca é permanente. Geralmente é uma mediunidade de curta duração.
Os médiuns videntes facilitam o estudo do mundo espiritual pelas descrições que fazem de seus habitantes. Entretanto, é preciso muito cuidado para que não sejamos vítimas da imaginação.

Considerações necessárias

 
Ensina-nos Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte – Questão 167:
O médium vidente acredita ver pelos olhos físicos; mas na realidade é a alma quem vê, e essa é a razão pela qual vêem tão bem com os olhos fechados como com os olhos abertos.
Martins Peralva, em “Estudando a Mediunidade”, assevera: Quantas vezes, tentando sustar uma visão desagradável, produzida por um Espírito menos esclarecido, o médium fecha os olhos e, quanto mais aperta, a visão se torna mais nítida e melhor se definem os contornos da entidade?
Bastaria isso, para a comprovação plena de que pela vidência não se vê os espíritos com os olhos corporais. Como disse Kardec, o médium vê através da mente, que, nesse caso, funciona à maneira de um prisma, de um filtro que reflete, diversamente, quadros e impressões, idéias e sentimentos iguais na sua origem.
Como desenvolver a mediunidade vidente:
Aos que já perceberam indícios de possuir este tipo de sensibilidade mediúnica, podem desenvolver esta mediunidade, procedendo-se, segundo Eliseu Rigonatti, em “A Mediunidade sem Lágrimas”, da seguinte maneira: concentrados, procurando ver, ora com os olhos abertos ora com eles fechados.
Depois de continuados exercícios, começaremos a perceber qualquer coisa, como que uma névoa rala e luminosa; essa névoa, aos poucos, adquirirá forma até que distinguimos os traços dos espíritos que estão presentes.
A visão mental se apresenta ao médium como se ele estivesse revendo alguém em pensamento. A princípio são apenas imagens vagas, que se tornarão nítidas à medida que o desenvolvimento progride.

Psicografia e Psicofonia – a Escrita e a Fala na Comunicação Mediúnica

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

PSICOGRAFIA E PSICOFONIA

Introdução
A partir do conteúdo estudado a última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como você definiria uma casa espírita?
2-Como deve ser a sala e trabalho mediúnico?
3-O que ocorre durante a atividade mediúnica?
4-A disciplina e o preparo de trabalhadores e frequentadores do grupo mediúnico é imprescindível. Como você pode exemplificar as possíveis interferências à tarefa do grupo medianímico?
5-Segundo André Luiz, há faixas magnéticas protetoras aos trabalhos mediúnicos. De que se trata?
6-No passado, muitos denominavam a atividade mediúnica kardecista como “mesa branca”. Comente.

 

MÉDIUNS PSICÓGRAFOS E PSICOFÔNICOS

A interação medianímica se vale dos recursos perispirituais do médium, da receptividade de certas regiões de seu corpo físico, como pontos especiais do córtex cerebral, seus plexos ou centros de força, braços, mãos, garganta ou boca.  A partir da interação fluídica do perispírito da entidade comunicante com as áreas mais sensíveis e propícias do médium, dar-se-á o tipo de mediunidade externada pelo trabalhador encarnado.

1-MÉDIUNS AUDIENTES

1.1-Os que ouvem a voz dos Espíritos, como se estivessem ouvindo a fala de uma pessoa. Ação  sobre o cérebro e nervos auditivos do médium.

1.2-Os que ouvem a voz dos Espíritos dentro de si mesmos. Voz interior. É muito comum.

 

2-MÉDIUNS ESCREVENTES

Ação sobre porção do córtex cerebral ou ao braço e à mão.

2.1-MECÂNICOS: Não sabem o que os Espíritos escrevem durante a manifestação. São raros.

2.2-SEMI-MECÂNICOS: Sabem o que os Espíritos escrevem, à medida que se formam as palavras. São comuns.

 

3-MÉDIUNS FALANTES

Ação do Espírito sobre o aparelho vocal do médium ou a partir do córtex cerebral vinculado à fala.

3.1-CONSCIENTES: Sabem o que o Espírito manifestante está falando, à medida que as palavras estão sendo ditadas. Estes médiuns são comuns.

3.2-INCONSCIENTES ou SONAMBÚLICOS: Não sabem o que o Espírito manifestante diz.

 

4-MÉDIUNS INTUITIVOS

Os intuitivos captam os pensamentos e sentimentos dos Espíritos. Não sofrem o mesmo envolvimento que ocorre com os médiuns audientes.

O Mecanismo das Comunicações

1-SINTONIA: Entendimento, harmonia, compreensão de idéias; Familiaridade (intelectual, cultural, planetária, quadros mentais); Mesma faixa de pensamento e vontade; Harmonia psíquica; afinidade. Duas pessoas sintonizadas estarão, evidentemente, com as mentes perfeitamente entrosadas, havendo, entre elas, uma ponte magnética a vinculá-las, imantando-as profundamente.

2-RESSONÂNCIA: Frequências vibratórias coincidentes; Formação de uma corrente.

3-VIBRAÇÕES COMPENSADAS

Equivalentes tanto no médium quanto no Espírito comunicante;

Compensação: redução ou aumento da frequência vibratória;

Redução do padrão vibratório: Espírito superior se impregna de matéria sutil colhida no próprio ambiente;

Elevação do tom vibratório: o Espírito usará sua própria concentração para elevar suas vibrações.

Os Espíritos podem ver no íntimo de cada indivíduo seus pensamentos, suas preocupações, suas dores e desilusões. Quando um Espírito superior toma um médium e se dirige aos ouvintes sabe exatamente quais os pontos a abordar. E depois de lhe ouvirmos a sábia exortação, quantos pensamentos tristes se dissiparam; quantas preocupações desapareceram; quantas dores se mitigaram; quantas desilusões se esqueceram; quantas esperanças se renovaram!

Se tu, meu irmão ou minha irmã, possuís a mediunidade falante, roga ao Pai que a transforme em fonte de consolo para todos os que sofrem.

Eliseu Rigonatti

Leitura Complementar:

Qualidades de um bom médium

Rigorosamente falando, os bons médiuns são raros.

A maioria, geralmente, apresenta um ou outro defeito que lhes diminui a qualidade de bons.

O defeito, por pequeno que seja, é sempre de origem moral. Entretanto, o médium que reunir as cinco virtudes seguintes pode ser qualificado de bom: SERIEDADE, MODÉSTIA, DEVOTAMENTO, ABNEGAÇÃO e DESINTERESSE.

A seriedade é a virtude que um médium possui de utilizar sua mediunidade para fins verdadeiramente úteis, exercendo-a como um nobre sacerdócio.

A modéstia é a virtude pela qual um médium reconhece que é um simples instrumento da vontade do Senhor e, por isso, não se envaidece nem se orgulha de sua mediunidade.

Não faz alarde das comunicações que recebe, porque sabe que foi apenas um simples intermediário. Não se julga ao abrigo das mistificações e, quando é mistificado, compreende que isso aconteceu em virtude das falhas de seu caráter ou devido a algum erro de sua conduta; procura, então, corrigir-se para afastar de si os espíritos mistificadores.

O devotamento é a virtude pela qual um médium se dedica ardentemente ao benefício de seus irmãos que sofrem. O médium devotado considera-se um servo do Senhor e, por isso, não despreza nenhuma oportunidade de servi-lo, auxiliando a todos quantos necessitam dos cuidados dos espíritos de Deus.

A abnegação é a virtude pela qual um médium leva seu devotamento até ao sacrifício. O médium abnegado não hesita em renunciar a seus prazeres, a seus hábitos, a seus gostos, quando se trata de prestar socorros mediúnicos a quem quer que seja.

O desinteresse é a virtude pela qual um médium dá de graça o que de graça recebeu. O médium desinteressado nem mesmo esperará um agradecimento dos homens.

Eis expostas as cinco virtudes que devemos cultivar,  se quisermos merecer o qualificativo de bons médiuns. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade sem Lágrimas”)

O Preparo Espiritual da Sala

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

O Preparo Espiritual da Sala

Objetivo:

Levar os alunos a compreenderem sua responsabilidade em relação ao ambiente em que se dará a reunião, o papel do evangelho como auxiliar no fortalecimento moral do médium e perceber a necessidade de vivenciar as normas da conduta nele contida.

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”,  2ª parte – cap. XXIX – item 341; (*) Suely Caldas Schubert, “Transtornos Mentais”,  cap. 2 (Estrutura Espiritual da Reunião); (*) F. C. Xavier, André Luiz,  “Desobsessão”, cap. 4 (Preparo para a Reunião) e cap. 27 (Livros para Leitura).

Introdução

A partir do estudo da última aula, reflita sobre os seguintes pontos:

1-O que é espiritualismo?
2-O que é mediunismo?
3-Como você pode conceituar o homem de bem?
4-Que reflexão fez o filósofo Platão sobre a origem da vida terrena?
5-Qual a importância da concentração no desenvolvimento medianímico?
6-À luz do que vimos sobre a orientação mediúnica, podemos acreditar em todos os espíritos?

1-A Casa Espírita

Segundo Herculano Pires, o Centro ou Casa Espírita não é um templo nem um laboratório, mas um ponto de convergência da Doutrina Espírita.

2-A sala de trabalho mediúnico

A sala é o local da reunião mediúnica. É preparada por trabalhadores encarnados (as equipes do Centro) e desencarnados, como os protetores da instituição, os benfeitores associados às tarefas, aos grupos de tarefeiros ou às pessoas atendidas.

3-Atividades na sala mediúnica

-Coleta, manipulação e direcionamento de energias;

-Cirurgias perispirituais;

-Anulação de fixações mentais;

-Terapia sobre registros mentais atuais ou pretéritos.

4-Recursos da espiritualidade

 

-Painéis ou quadros fluídicos;

-Instrumentos de apoio da equipe espiritual;

-Aparatos que lembram instalações hospitalares terrenas, etc.

5-Interferências

-Maus pensamentos e má vontade dos participantes, encarnados ou não;

-Vibrações deprimentes;

-Ideoplastias;

-Sentimentos como raiva, revolta, orgulho etc.

FAIXAS MAGNÉTICAS PROTETORAS

As faixas magnéticas servem para proteger os trabalhos e manter a pureza fluídica necessária ao tratamento dos Espíritos atendidos nas reuniões mediúnicas.

Primeira Faixa: proteção à mesa, ao grupo de trabalho, à assistência e aos Espíritos em tratamento naquela tarefa.

Segunda Faixa: envolve as pessoas e os desencarnados não atuantes na reunião, fora do recinto, mas ainda dentro da Casa Espírita.

Terceira Faixa: circunda toda a Casa Espírita, a parte exterior do edifício, contando com apoio da vigilância de sentinelas da espiritualidade, isolando magneticamente toda a instituição de uma multidão de Espíritos, muitas vezes hostis.

Entre uma e outra faixas, há rede energética de proteção, para amparo e controle de algum Espírito mais rebelde ou teimoso. (F.C.Xavier, Médium, Efigênio S. Vitor, Espírito,“Mensagens Psicofônicas”, Um irmão de regresso)

Corrente e Semi-corrente

Quando os médiuns estão sentados à mesa e firmemente concentrados, emitem um forte fluxo de fluidos que se ligam e formam uma espécie de nuvem mais ou menos luminosa e altamente magnetizada: é a corrente magnética. Ela é fortificada pelos espíritos que velam pela sessão e constitui uma poderosa fonte de fluidos curadores.

Se, durante a sessão, um médium rogar ao Pai por uma pessoa que esteja enferma ou em aflição, os espíritos curadores podem fazer chegar até essa pessoa a força magnética capaz de curá-la ou aliviá-la. É o que se chama um passe a distância. Da mesma maneira, se os assistentes da sessão orarem com fé atrairão para si os benefícios que a corrente magnética lhes pode proporcionar.

semi-corrente é formada na primeira fileira, logo atrás dos médiuns, e é composta dos médiuns que não tiveram lugar na mesa e pelos doentes que necessitam serem banhados pelos eflúvios magnéticos que se irradiam diretamente da corrente. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade Sem Lágrimas”, Ed.Pensamento, 2000, p.75)

A Mesa nas Sessões Espíritas

Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não obstante, há quem considere esse ato puramente místico e mágico, lembrando a evocação e a prece.

Não nos sentamos em torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito, mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da doutrinação.

É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos, de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos. Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos. Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a conversação necessária e logo depois eles desaparecem como apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite.

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”, pp. 49-50)

A questão das materializações e da percepção medianímica

Materialização

SAULO – Pois parece, podemos dizer ao telespectador, que uma etapa do mundo israelita aqui está presente. É o professor Beni, que, em nome deste grupo de São Paulo, formula a sua pergunta. Ele tem um pouco de sotaque, porque não se trata de brasileiro.

PROFESSOR BENI – Tenho grande prazer de estar aqui, porque me interesso muito pelo estudo do espiritismo, não?
Gostaria de saber, eu fui convidado por umas pessoas do professor Herculano Pires para assistir um trabalho de materialização, e eu cumpri as recomendações que me foram concedidas previamente. Eu presenciei alguma coisa, vi algo lá, não me lembro, aqui num bairro de São Paulo. A pessoa que foi comigo, uma outra pessoa israelita, eu vi tudo isto lá, e ele me disse que não viu, absolutamente, e me acusou de mistificador.
Eu gostaria de saber porque que eu vi esta manifestação, e esta pessoa não viu?

ALMIR – Entendeu, Chico? Ele participou de uma sessão de fenômenos de materialização, ele assistiu, viu as pessoas, viu os espíritos se materializarem, e o amigo não viu, e o amigo então o tachou de embusteiro, de mistificador. Ele quer saber porque em sessões desta natureza, algumas pessoas podem observar a verificação destes fenômenos, e outras não?

CHICO XAVIER – Cremos que o problema estará filiado à sensibilidade visual do ponto-de-vista psíquico, de nosso amigo, porque muitas vezes temos ido pessoalmente a reuniões, verificamos a presença de determinadas entidades, que muitos amigos não as vêem. Acreditamos que o nosso amigo é portador do que nós chamamos clarividência mediúnica, talvez não muito desenvolvida, por enquanto, mas suscetível de encontrar um grau muito elevado de evolução, propiciando a ele mesmo ensinamentos muito grandes e lições que serão para ele verdadeiras bênçãos da espiritualidade superior.

(F.C.Xavier, “Dos Hippies aos Problemas do Mundo”. São Paulo: LAKE, 4ª.ed, 2003, pp. 78-79)

Comentário:
O texto acima é um fragmento da entrevista de Chico Xavier que deu vez à sua segunda participação no programa “Pinga-Fogo”, da TV Tupi, Canal 4 de São Paulo, que foi ao ar em 20/12/1971.
A respeito dos fenômenos de materialização, lembramos que semelhante evento é de extrema raridade.
Em primeiro lugar, a pouco ocorrência se deve à enorme quantidade de recursos da espiritualidade que se precisa reunir para realizar o fenômeno.
Em segundo lugar, todo fenômeno de materialização exige, além do médium adequado, recursos da espiritualidade e do grupo, que lhe permitam consumar-se. Não basta o interesse do grupo e a presença do medianeiro adequado, mister se fará criar as condições fluídicas e vibratórias propícias ao evento e o devido apoio espiritual.
Vale lembrar que há de prevalecer sempre a utilidade do fenômeno na senda do bem e a moralidade elevada em toda tarefa espiritual séria.

Conhecemos vários casos relevantes, como as materializações de Irmã Josefa, de Katie King e do cavalheiro com a tabaqueira, este citado por Kardec na “Revista Espírita”, em sua edições de março de 1859 e em maio de 1861.
Para melhor ilustrar o comentário, reproduzo trecho de artigo do sítio Lampadário Espírita:
Alexandre Aksakof, na obra “Um Caso de Desmaterialização Parcial do corpo dum Médium”, define como três as espécies de materializações:
1º – Materialização invisível – que envolve movimentos de objetos e sensações de contacto que se experimenta nas sessões e que se atribui a uma mão invisível;
2º – Materialização visível e tangível – aparição de forma parcial e incompleta de mãos, cabeças, etc.

3º – Materialização completa – de uma forma humana completamente visível e tangível que, para a vista comum, não difere em nada de um corpo humano vivo. É o fenômeno mais elevado da materialização, durante o qual o médium acha-se geralmente em transe (sono magnético).
Aksakof vai mais além, afirmando que toda materialização necessita de uma desmaterialização correspondente do médium. Daí, as vezes, o Espírito materializado apresentar semelhança com o médium.
O que se verificou com o Espírito Katie King e a médium que lhe cedia os necessários fluidos de materialização, Florence Cook.