Organização das Reuniões Mediúnicas

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Uma reunião mediúnica é trabalho que se desenvolve entre os dois planos da vida, o espiritual e o físico, havendo, portanto, duas equipes interagindo para a obtenção dos resultados. 

A natureza dos Espíritos que assessoram e participam das nossas reuniões mediúnicas é a que fazemos jus pelo processo de sintonia que sejamos capazes de oferecer. Se queremos a presença dos bons, temos que atraí-los pela elevação de nossos pensamentos e propósitos de edificação, como tão bem ensinava Kardec ao escrever, em O Livro dos Médiuns, capítulo XXIX, item 327: “Não basta que se evoquem bons Espíritos; é preciso, como condição expressa, que os assistentes estejam em condições propícias, para que eles assintam em vir”.

Assim sendo, todo esforço de organizar reuniões deve começar pela seleção adequada de seus integrantes. Ter sempre em mente esta colocação do Codificador, conforme se lê em O Livro dos Médiuns, capítulo XXIX, item 331: “Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá quanto mais homogêneo for”.

Como iremos conseguir essa coesão, essa unidade, com um grupo já desde o início excessivamente heterogêneo, se não temos critérios adequados para agregar novos elementos? Esperar que o valor da própria tarefa retifique características pessoais e psicológicas muito afastadas da média seria desconhecer os processos da natureza humana, que, normalmente, não da saltos.

 

Requisitos dos grupos mediúnicos

Ainda no capítulo XXIX, itens 329, 332, 333, 335 e 338 do primeiro tratado de paranormalidade humana, ao colocar o problema da homogeneidade, Kardec preocupou-se com inúmeras questões praticas, como o número de participantes, que não deveria ser excessivo, a regularidade das reuniões, a inconveniência da presença de médiuns obsidiados e a circunspecção que devemos ter na admissão de elementos novos, chegando mesmo a dizer: “As grandes assembleias excluem a intimidade, pela variedade dos elementos de que se compõem… Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor e há mais segurança quanto a eficácia dos elementos que para eles entram. O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família”.

Concluindo o seu excelente trabalho, listou no item 341, do capítulo já referido, os requisitos indispensáveis para o êxito de uma reunião mediúnica séria: “Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos; cordialidade recíproca entre todos os membros; ausência de todo sentimento contrario a verdadeira caridade cristã; o desejo único dos participantes de se instruírem e melhorarem por meio dos ensinos dos Espíritos; recolhimento e silêncio respeitosos; isenção, nos médiuns, de todo sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia”.

A essa tão ampla gama de requisitos, atrevemo-nos a acrescentar os seguintes: consciência clara dos objetivos da prática mediúnica; compreensão do papel a desempenhar, de acordo com a função de cada participante; esforços continuados de todos para se capacitarem; cooperação recíproca e motivação permanente.

Toda e qualquer atividade humana, para ter êxito, exige do candidato, sobretudo vocação para o empreendimento. Em seguida vêm os esforços do treinamento, da adaptação e valorização do trabalho, como formas de sustentar o interesse e liberar as forças criativas do indivíduo, latentes no imo de si mesmo. Porque no trabalho da mediunidade, onde lidamos com forças poderosas, desconcertantes mesmo e ainda não totalmente dominadas, teremos que improvisar e deixar que as coisas se resolvam por si mesmas?

 

Seleção dos participantes

Nos primeiros contatos com o Centro Espírita, as pessoas, via de regra, estão ansiosas, com feridas ainda não cicatrizadas oriundas dos relacionamentos sociais litigiosos, declarados ou não, sofrendo de neuroses, conflitos íntimos e incompreensões. Tem-se que permitir o asserenar dessas tensões, o amainar dessas tormentas psíquicas, a estabilização dessas energias descontroladas sob pena de se transformar tentativas de ajuda em maiores perturbações e dificuldades, daí advindo o desencanto e a apatia.

Um número razoável de pessoas tem-se inutilizado no expressar de suas possibilidades mediúnicas, por um largo período, ao serem colocadas em reuniões praticas antes do tempo, despreparadas. Nada mais negativo do que tentar engajamentos precipitados de pessoas com distúrbios psicológicos, ainda que relacionados com a eclosão da mediunidade. Se há mediunidade em afloramento e efetivo interesse do portador em educa-la, acolhe-se o neófito, da-se-lhe assistência fraterna, orienta-se-lhe o estudo, facilita-se—lhe a integração no trabalho da Casa, a fim de que ele, na ocasião oportuna, possa canalizar suas forças medianímicas de uma forma segura.

Colocando a questão da seleção dos participantes para as reuniões mediúnicas, diremos com Nilson de Souza Pereira, presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção, que devemos selecioná-los pelo seu empenho, assiduidade, carater, devotamento e interesse em querer participar ativa e responsavelmente do grupo. Esta colocação de Nilson remete-nos a ideia de que trabalho mediúnico é para pessoas integradas a vida do Centro Espírita.

Devemos entender integração como uma realização permanente, um esforço continuado de vivência do ideal e de convivência fraterna. E preciso descobrir o prazer de estar junto, de construir solidariamente a seara de amor que o Senhor nos confiou, e esses estar e caminhar juntos significam, sobretudo, um compromisso de trabalho com alegria.

 

Atitudes sempre necessárias

Lembraríamos alguns programas integrativos de real valor para as nossas equipes mediúnicas:

Participação nas atividades do Centro — Essa é uma responsabilidade grande dos dirigentes de reuniões que, além de participar, devem estimular todo o grupo para esse mister. De relevância, nesse particular, os trabalhos assistenciais da Casa, pois, refletindo com André Luiz, os Espíritos acompanham os trabalhadores da mediunidade examinando lhes os exemplos.

Na opinião de Suely C. Schubert, com a qual concordamos plenamente, o grupo mediúnico não pode se constituir um corpo isolado dentro da Instituição.

Conversação Edificante — Bastam os seguintes conselhos de André Luiz: Claro que, terminada a reunião, se sintam os integrantes do grupo inclinados a entrelaçar pensamentos e palavras na conversação construtiva… Falemos cultivando bondade e otimismo. Importante que a palavra não descambe para qualquer expressão negativa

Nunca é demais esclarecer que a conversação deve passar-se fora da sala onde se desenrolam os trabalhos, pois que a saída dos participantes dar-se-a, necessariamente, em clima de absoluta harmonia e silêncio.

Estudo — Poucas coisas integram mais do que o estudo. A desmotivação geralmente toma corpo quando as pessoas, não tendo ânimo para o estudo metódico dos assuntos pertinentes a mediunidade, deixam de apreender, o quanto poderiam as lições e os resultados auferidos nas reuniões. Há um aprendizado muito rico que se adquire na conversação sadia, na troca de experiências, o qual, muitas vezes, deixa-se de absorver dada a pressa de retorno ao lar ou de voltar mentalmente para as faixas comuns em que habitualmente nos movimentamos.

Esse aprendizado pratico obtido pela reflexão, pelos questionamentos que façamos aos mais experientes, e tão importante quanto o estudo metódico organizado que a Instituição, ou o grupo, devera promover, mas do qual se incumbirá, também, o seareiro, por iniciativa pessoal, num esforço de autodidatismo dos mais valiosos.

Culto do Evangelho no Lar — As diretrizes para a sua correta feitura podem ser encontradas no livro Messe de Amor, psicografia de Divaldo Franco, do Espírito Joanna de Ângelis, capítulo 59. André Luiz coloca a sua necessidade, tendo em vista atender os Espíritos que habitualmente estacionam em nossos lares e os que para ali são conduzidos antes ou após as tarefas da desobsessão. O trabalhador da mediunidade precisa manter, no lar, a lâmpada da oração permanentemente acesa.

É uma boa prática o grupo mediúnico fazer o culto do Evangelho, periodicamente, na residência de cada um de seus membros, mediante revezamento entre os que desejam. Convém manter, nessas ocasiões, um compromisso de simplicidade, servindo tão somente agua fluidificada, para evitar que o evento transforme-se num acontecimento social, com lanches e outras iguarias, o que inibe, naturalmente, os que não podem oferecê-los ao nível dos demais. Reforçar, sobretudo, nesses encontros, a inconveniência das comunicações ostensivas.

 

Preparo dos participantes

Uma outra questão a tratar, ainda que de passagem, é a preparação dos participantes. Habilidade e esforços fazem-se necessários para superar o cansaço natural decorrente das lutas e preocupações existenciais, de modo a assegurar a condição de recolhimento íntimo preconizado por Kardec.

João Cléofas, Espírito, na obra Suave Luz nas Sombras, psicografia de Divaldo Franco, adverte-nos contra as ciladas contínuas da insensatez, do cansaço, da desmotivação, da rotina, além de outros inconvenientes imagináveis, como forma de se evitar que a mente sonolenta e indisposta perturbe o fluxo da corrente vibratória do mundo espiritual para a Terra e desta para aquele, comprometendo o resultado da reunião.

Há problemas compreensíveis gerados pela agitação da vida moderna, principalmente nos grandes centros urbanos. Como são raras as pessoas que se podem colocar a salvo dessas dificuldades, paga-se o ônus correspondente. A solução para a problemática passa por uma decisão séria: economizar forças, não gastar energias com o culto a inutilidade; jamais se afadigar por coisas e valores dispensáveis; meditar, o quanto possível, buscando colocar a mente em temas superiores quanto edificantes.

Manoel Philomeno de Miranda recomenda-nos dormir um maior número de horas no dia que antecede o compromisso mediúnico, como um pré-operatório, usando expressão de Divaldo Franco, que também nos ensina que a frequência as reuniões doutrinárias e um dos recursos para superar esses impedimentos, porque o trabalhador já se vai ajustando ao circuito de forças do labor mediúnico.

 

Características da sala de reuniões mediúnicas

Uma outra condição importante a se considerar seria o cuidado com o ambiente, que, segundo a maioria dos autores especializados no assunto, deveria ser o mais confortável possível (ventilado, amplo, asseado, etc.). Sobretudo considerar, com André Luiz, que os labores da desobsessão — e por que não dizer das reuniões mediúnicas em geral — “requerem o ambiente do templo espírita para se desenvolverem com segurança”. Reservá-lo, portanto, exclusivamente, para tal mister e atividades afins. Não seria preciso aprofundar o quanto é prejudicial a harmonia do trabalho realizado pelos Espíritos, muitos deles antecipadamente, a utilização desse santuário para outras atividades incompatíveis com o labor mediúnico, em que nossa mente pudesse distraidamente prejudicar as operações permanentes da Equipe Espiritual ou impregnar aquele espaço dedicado a oração e a enfermagem espiritual com vibrações mentais de teor menos digno.

 

Recomendações

Finalizando, abordaremos a questão da assiduidade, que merece uma atenção especial dos participantes do grupo mediúnico, uma vez que os Benfeitores Espirituais, no dizer de Andre Luiz, esperam que “estejamos atentos às obrigações que depositam em nossas mãos e nas quais não devemos falhar”. A ausência de um companheiro, entre outros prejuízos, causa apreensão no grupo, contribuindo para a indisciplina mental.

Assumido o compromisso, coloquemo-lo na pauta de nossas prioridades e, a não ser por motivo justificável pela nossa consciência, jamais deixemos de comparecer, no horário previsto, ao labor do intercâmbio espiritual.

(AZEVEDO, G. de, NEVES, J., FERRAZ, J. e CALAZANS, N. Reuniões mediúnicas. Projeto Manoel P. de Miranda (Reuniões mediúnicas), Salvador: LEAL, 5ª ed., 1993, pp. 23-30)

Objetivos das Reuniões Mediúnicas

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No capítulo XXIX, item 324, de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec classifica as reuniões mediúnicas, segundo a natureza, em frívolas, experimentais e instrutivas.

As reuniões frívolas são constituídas de pessoas que se interessam predominantemente pelo aspecto do passatempo e do divertimento por meio das manifestações de Espíritos levianos que, nessas circunstâncias têm a inteira liberdade para espicaçarem a curiosidade e o interesse dos participantes com relação as coisas banais, adivinhando a idade das pessoas, o que trazem nas bolsas, fazendo previsões para o futuro, oferecendo pseudossoluções para os “casos de amor” e outros segredinhos de somenos importância.

As reuniões experimentais têm mais particularmente por finalidade a produção de manifestações físicas, de fenômenos objetivos. Kardec afirma que, para muitas pessoas, representam um espetáculo mais curioso que instrutivo, não sendo raro os incrédulos saírem delas mais espantados que convencidos. Essas reuniões são promovidas pelos Espíritos superiores para que sejam reveladas aos homens as leis que regem o mundo invisível e suas relações com o mundo físico, constituindo-se poderoso meio de convicção para muitos.

É importante observar que os Espíritos, ao promoverem tais experiências, utilizam-se da forma de expressão científica de cada época para chamarem a atenção dos homens.

Enquanto a percepção de mundo da Ciência não ia além do aspecto mecânico, os fenômenos espíritas evidenciavam-se por meio dos raps, apports e movimentos físicos de varia ordem. Voltou-se ela para o universo do homem, descobrindo as leis da genética e aprofundando o interesse pela compreensão da vida, já os Espíritos colocaram-se nessa direção, revestindo formas ectoplásmicas, transitórias, compostas a partir de material produzido pela célula humana, em condições especiais de manipulação. Na atualidade, ao abandonar a posição rígida do materialismo mecanicista para perceber os fenômenos cósmicos como manifestações de ondas e vibrações, criando a cibernética, as conquistas tecnológicas da eletrônica, dos computadores, e eis que os Espíritos passam a atuar nessa area, interferindo nos circuitos, inserindo suas faixas de pensamento na frequência desses aparelhos para revelar aos homens a indestrutibilidade da vida e a realidade espiritual.

As reuniões instrutivas, como o próprio nome indica, são as que ensejam orientações e experiências de crescimento intelecto-moral para as pessoas que delas participam. O ascendente moral da presença dos Espíritos nobres deve ser assegurado mediante interesse dos encarnados pelas questões sérias, o que denota aspiração sincera de se instruírem e melhorarem. Kardec reforça a seriedade como condição primordial, esclarecendo que, séria, na acepção integral da palavra, só o é a reunião que cogita de assuntos úteis com exclusão de tudo mais. A base de raciocínio do Codificador para tal assertiva é o não poder aliar-se o sublime ao trivial nem se obter o concurso dos bons Espíritos sem se criarem condições propícias para que eles venham as reuniões.

São nessas reuniões instrutivas e sérias que se pode receber os ensinos da Doutrina e aprofundá-los mediante exame das proposições morais dadas pelos Espíritos, do estudo dos fatos e da pesquisa sobre a teoria e causa das manifestações mediúnicas. Essas são as reuniões que, hoje, denominamos, no Movimento Espírita, de mediúnicas, e que serão objeto de uma série de reflexões para sinalizarmos alguns aspectos indispensáveis, à guisa de modesta contribuição, para quantos delas participam, no sentido de conscientiza-los melhor quanto as responsabilidades inerentes a essa participação.

Arguido, em seminário promovido pela USE, (abril/1980), Divaldo Franco declarou que existem pessoas que afirmam gostar das reuniões mediúnicas porque nelas vão fazer a caridade. Esse pensamento não é correto, porque, na verdade, ali é o lugar onde vamos aprender e receber a caridade, esclareceu o médium e tribuno baiano. Justificando o seu conceito, Divaldo elucida que o Espírito em sofrimento, a quem pressupomos estar socorrendo, é que nos esta fazendo a caridade, porque está dizendo sem palavras: Olhe o que aconteceu comigo. Ou você muda de comportamento ou vai acontecer com você a mesma coisa! 

Objetivos

Então, o primeiro objetivo das reuniões mediúnicas é a instrução dos participantes encarnados. Que seja, portanto, o nosso propósito constante o de aproveitar cada lição, cada depoimento, como uma oportunidade de aprender, uma instrução prática que os bons Espíritos estão nos ensejando. ]amais nos coloquemos diante do fato espírita como se o mesmo nada tivesse a ver conosco, como se, pretensiosamente, já tivéssemos superado totalmente aquele problema-lição que nos chega.

No livro O que é o Espiritismo, Capítulo II, item 50, Allan Kardec afirma: O fim providencial das comunicações é convencer os incrédulos de que tudo para o homem não se acaba com a vida terrestre, e dar aos crentes ideias mais justas sobre o futuro.  Mais uma vez aparece claramente a importância do aprendizado para os participantes das reuniões mediúnicas, os crentes, no dizer de Kardec.

Daí surge uma colocação adicional: o convencimento dos incrédulos, propiciado como decorrência das comunicações obtidas nas reuniões mediúnicas. Esse é o segundo objetivo dessas reuniões. Não deveremos entendê-lo como um proselitismo vulgar de arremessar informações espíritas contra as crenças alheias, sem qualquer preocupação com o respeito devido as liberdades individuais. Nem se entenda que para convencer os incrédulos devamos abrir as nossas reuniões mediúnicas aos negadores sistemáticos, materialistas e gozadores de todo jaez, sem o mínimo conhecimento do que ali se passa e totalmente desarmonizados para tão relevante cometimento, pois foi exatamente o contrário o que preconizou Kardec no item 34 de O Livro dos Médiuns, capítulo III, intitulado Do Método, e em todo o capítulo XXIX da monumental obra. No nosso entender, o que Kardec quis colocar é que as reuniões devem produzir comunicações convincentes, de qualidade, verdadeiras e instrutivas, de modo a revigorar o corpo da Doutrina e fazê-la avançar para que permaneça como farol norteando a caminhada evolutiva do homem.

Convencer os incrédulos é tarefa muito mais da Doutrina que do fenômeno, pois que aquela transcende a este, conferindo-lhe bases interpretativas legítimas e sólidas. Se fenômenos impressionantes aparecem na esfera de responsabilidade de alguns médiuns (uns de prova, outros em missão,) a Doutrina pode e deve brotar de cada grupo mediúnico sério (e todos devem sê-lo) como um minadouro de água cristalina.

Nas reuniões mediúnicas, os princípios revelar-se-ão nos detalhes, a lei mostrar-se-a nos exemplos, o substrato moral far-se-á remédio e orientação, tudo isso compondo uma massa crítica de informações e transformações energéticas que inevitavelmente ira irradiar-se, promovendo o progresso alvitrado por Kardec e pelos Espíritos.

O espiritista adestrado nas lides mediúnicas saberá expor os fatos espíritas com entusiasmo e critério. Por outro lado, em se transformando moralmente, mostrará a força equilibradora dos postulados abraçados, transformando-se num divulgador natural da Doutrina: a fé restaurada sob as bases do conhecimento imortalista.

Poderíamos dizer que os materialistas por sistema e os incrédulos de má vontade e de má fé, que Kardec situou claramente na obra e capítulo anteriormente citados, por enquanto inabilitados e bloqueados para o ensino direto da Doutrina, recebem benefícios indiretos por meio do progresso que o conhecimento espírita introjeta na Sociedade.

Mas, não somente esses são incrédulos. Também o são a imensa multidão dos desanimados, dos que perderam momentaneamente a esperança de encontrar um caminho para a fé no meio de tantas aflições que experimentam, e os ingênuos que, cansados do ludibrio e da exploração vil a que foram submetidos, batem as portas da Casa Espírita procurando o abrigo do Consolador.

Esses incrédulos podem e devem receber os benefícios diretos da fé. Muitos deles estão desencarnados e constituem a nossa clientela de trabalho nos labores mediúnicos, onde recebem as terapias desalienantes quanto consoladoras de que carecem. Outros tantos estão encarnados e igualmente acorrem as nossas Casas com as mesmas motivações e necessidades. Recebidos e aclimatados, aliviados e esclarecidos, podem pleitear, se o desejarem, o labor mediúnico onde se esclarecerão em profundidade enquanto servem.

Não passou despercebido a Kardec um outro aspecto das reuniões mediúnicas, a finalidade complementar da instrução e sua consequência lógica, ou seja: a ação benfazeja, a oportunidade de sermos úteis aos nossos semelhantes enquanto nos instruímos. Foi por isso que ele escreveu no capítulo XXV de O Livro dos Médiuns, item 281: a evocação dos Espíritos tem, além disso, a vantagem de nos pôr em contato com Espíritos sofredores, que podemos aliviar e cujo adiantamento podemos facilitar por meio de bons conselhos...

Este é o terceiro objetivo das reuniões mediúnicas, decorrente dos demais. Esta finalidade esta perfeitamente embasada em posições religiosas, pois Jesus definiu claramente a importância das terapias socorristas aos Espíritos sofredores da Erraticidade ao recomenda-las aos seus discípulos, conforme anotou Mateus no capítulo 10, versículo 4: “Tendo chamado os doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades” e, também no versículo 8: “curai enfermos, ressuscitai os mortos, purificai leprosos, expeli demônios,- de graça recebestes, de graça dai…”

Desse modo, aponta-se como tarefa precípua do Cristianismo, hoje restaurado em sua essência pelo Espiritismo, pelo menos nessa fase histórica em que vivemos, de planeta de expiações e provas, a cura das feridas morais dos indivíduos e a desobsessão coletiva da Sociedade, sem o que o progresso social e moral tornar-se-a mais difícil e demorado.

 

Na mensagem intitulada Enfermagem Espiritual Libertadora, constante do livro Temas da Vida e da Morte, psicografia de Divaldo Franco, diz o autor espiritual, Manoel P. de Miranda, que as terapias de socorro aos Espíritos sofredores já eram praticadas no plano espiritual, como ainda hoje o são, antes do advento do Espiritismo. Com a sua chegada ao universo dos homens, criaram-se regras e orientações seguras para o exercício mediúnico, e as reuniões de objetivos elevados passaram a ser realizadas de modo vasto, no plano físico, com o intuito de acelerar a marcha de regeneração da Humanidade.

Esses apontamentos do Amigo Espiritual fazem-nos recordar o Pai-nosso que nos leva sempre a repetir: seja feita a tua vontade na Terra como no céu.

Isso significa uma transferência de qualidade, uma proposta de trabalho para que sejamos capazes de implantar em nosso plano o que já existe nas esferas da Vida Maior. Portanto, fazer reuniões mediúnicas entre nós, multiplicá-las em quantidade e, sobretudo, em qualidade, esta no contexto desse grande projeto divino de fazer com que seja assim na Terra como no céu.

Assim, o lidador das tarefas mediúnicas deve ter sempre em mente os magnos objetivos do intercâmbio espiritual: instruir-se e aperfeiçoar-se moralmente com vistas ao futuro espiritual; produzir comunicações convincentes para que a Doutrina possa convencer os incrédulos e, por fim, colaborar com os Espíritos superiores na tarefa de aliviar e aconselhar os Espíritos sofredores, facultando-lhes o burilamento moral mediante bons conselhos e exemplos salutares. 

(AZEVEDO, G. de, NEVES, J., FERRAZ, J. e CALAZANS, N. Reuniões mediúnicas. Projeto Manoel P. de Miranda (Reuniões mediúnicas), Salvador: LEAL, 5ª ed., 1993, pp. 15-22)