Os Shakers e a Mediunidade

Shakers, “Batedores” ou “Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Vinda de Cristo” 


(Reprodução)

Os cristãos Shakers ou “batedores” surgiram na Inglaterra em 1747, na casa da missionária Ann Lee (1736-1784). Ann Lee ou Mãe Ann já havia participado de um grupo religioso conhecido como Quaker, quando teve uma revelação para formar o Shaker. Tanto os Quakers como os Shakers acreditavam que todas as pessoas poderiam encontrar Deus dentro de si, ao invés de recorrer ao clero ou a rituais. Os Shakers mostravam tendência a ser bem emotivos e efusivos em sua adoração. Eles também acreditavam que a vida deveria ser dedicada à contínua busca da perfeição, confessando seus pecados e tentando não repeti-los.

O Século 17 apresentou grande tumulto religioso nos Estados Unidos e na Europa, por conta da luta constante entre protestantes e católicos. Conflitos religiosos levaram muitos a acreditar que os tempos eram chegados, e as manifestações de espíritos se tornaram comuns. No Século 18, registrava-se inúmeras ocorrências de diferentes tipos de manifestação, inclusive com visões, profecias e transes. Estes movimentos influenciaram uma parte dos novos grupos religiosos, com maior incidência no norte da Europa, entre o fim do Século 17 e cerca de 1740, afetando a Grã-Bretanha e também as colônias americanas. Meio século mais tarde, os Estados Unidos e Inglaterra viam o surgimento de muitas seitas religiosas, algumas mais radicais em seus costumes e preceitos doutrinários,   formando algumas sociedades messiânicas, outras utopistas, como as comunidades deOneida, Millerites, Rappites e, naturalmente, os Shakers.

A história dos Shakers registra dois momentos importantes. O primeiro, em 1706, trata-se da chegada a Londres de cinco “profetas franceses”, conhecidos em fontes históricas como os “camisards” das Montanhas de Cévennes, no Sul de França. Os “Camisards” eram os protestantes calvinistas franceses. Escolheram esta denominação para se identificar durante sua insurreição de cinco anos contra o Rei Luiz XIV, que tentava erradicar o protestantismo do país em favor de catolicismo. Os Camisards foram derrotados, sendo forçados a se juntar aos milhares de exilados Huguenotes, que viviam em territórios protestantes da França, Inglaterra, África do Sul, América do Norte e em outras partes do mundo. Os cinco profetas franceses provavelmente teriam sido alguns destes exilados.
O segundo momento relevante para os Shakers é 1747, quando a líder de sua crença, a matriarca Ann Lee, fez seu primeiro contato com James Wardley, um pregador que mantinha um pequeno grupo de comunicação espiritual remanescente dos profetas franceses.

Os Shakers construíram 19 sedes, que atraíram aproximadamente 20.000 seguidores até o século 19. Crentes no celibato extremo, os Shakers mantinham seus grupos através da conversão de fieis e da adoção de órfãos. Ainda assim sua renovação era muito alta, e o grupo alcançou o tamanho de aproximadamente 6.000 membros ativos em 1840. Em dezembro de 2009 contavam com diminuto número de membros.

As comunidades Shaker instalavam-se sobretudo em áreas rurais, aonde se dedicavam ao trabalho agrícola e uso em comum de seus recursos. Além da dedicação à agricultura, mostravam-se exímios marceneiros e também desenvolviam trabalhos em couro. Reuniam-se em “famílias”, dividindo grandes casas, com entradas separadas para homens e mulheres. Louvavam os hábitos do trabalho, limpeza, honestidade e frugalidade.

Acreditavam na natureza dual de Deus, pois a criação do homem como macho e fêmea “à sua imagem” decorreria da sexualidade dual do Criador, ao mesmo tempo contendo em si os princípios masculino e feminino. Deste modo, defendiam a igualdade entre homens e mulheres. Para os Shakers, enquanto Jesus era a manifestação masculina do princípio divino, a forma feminina era a de sua matriarca Ann Lee.
Sua crença se pautava na promessa da segunda vinda de Jesus à Terra e nas quatro virtudes: pureza virginal, comunismo cristão, confissão dos pecados e vida à parte das coisas mundanas.

Os Shakers tinham um tipo de espiritualidade intensa. O maior período de suas manifestações espirituais ocorreu entre 1837 e 1847. As cerimônias religiosas podiam ser em recintos fechados ou a céu aberto. Geralmente suas comunidades tinham um grande espaço para os que participavam do rito, bem como uma área para a assistência.
Inicialmente, homens e mulheres formavam suas fileiras. Dançavam ou marchavam, balançando os braços, avançando e parando. Logo giravam o corpo, olhando para a parede lateral, em seguida avançando e parando.
Podiam formar duas rodas, com as mulheres no círculo interno e os homens no externo. Começavam a se mover devagar, aumentando a velocidade. Cantavam, gritavam, alguns girando o corpo, outros mexiam-se intensamente, outros mantinham-se em uma dança pessoal.
Vários fieis entravam em transe, alguns passavam a falar rapidamente, muitos davam comunicações espirituais, e alguns até chegavam a falar em outros idiomas (xenoglossia).

 

Hino dos Shakers – “The gift to be simple”

‘Tis the gift to be simple, ‘Tis the gift to be free,
‘Tis the gift to come down where you ought to be,
And when we find ourselves in the place just right,
‘Twill be in the valley of love and delight.


When true simplicity is gained
To bow and to bend we shan’t be ashamed,
To turn, turn will be our delight,
‘Till by turning, turning we come round right.

Bibliografia:
Raymond Buckland, “The Spirit Book – The Encyclopedia of Clairvoyance, Channeling, and Spirit Communication”. Detroit: Visible Ink, 2005.

Aura Celeste

aura-celeste

Adelaide Augusta Câmara (“Aura Celeste”)
Nascida em Natal/RN em 11/1/1874, Adelaide Augusta Câmara teve formação protestante.
Aos 22, vai ao Rio de Janeiro, onde se torna professora no Colégio Ram Williams.
Por volta de 1898, se iniciam suas manifestações mediúnicas e passa a frequentar o Centro Espírita Ismael, por orientação de Bezerra de Menezes.
Sua mediunidade era ampla, envolvendo as modalidades audiente, vidente, psicógrafa e de cura.
Em sua lide de assistente, destaca-se o orientador espiritual Dr. Joaquim Murtinho.
Em 1924 volta-se à assistência, dedicando-se ao cuidado de órfãos e de idosos.
No bairro de Botafogo, funda em 1927 o Asilo Espírita “João Evangelista”, dedicado à educação juvenil.
Escreveu livros, alguns deles psicografados, como: “Vozes d’Alma” e “Sentimentais” (livros de versos); “Aspectos da Alma” (contos); “Palavras Espíritas” (palestras), “Rumo à Verdade”; e “Luz do Alto”.
Desencarnou no Rio de Janeiro, em 24/10/1944.

Precisamos entender a umbanda

(Wikipedia) (Reprodução)

NOTA: Atendendo aos alunos do Curso de Doutrina, trago este texto, trecho de tese de psicologia, abordando a umbanda.

A umbanda, religião nascida em solo brasileiro, é marcada pelo sincretismo oriundo de matrizes religiosas européias (catolicismo popular e kardecismo), africanas (crenças e rituais trazidos pelos escravos da África) e ameríndias (cultos e crenças dos índios nativos do Brasil). Contemporaneamente, podemos constatar a inserção de elementos religiosos orientais em alguns terreiros, como os do hinduismo e budismo, e de movimentos espiritualistas da “nova era”, o que demonstra a fluidez e permeabilidade desta religião em sua constituição e constante reformulação. Tradicionalmente, há a predominância dos três eixos religiosos citados acima, os quais dão a marca característica dos terreiros com os quais se trabalha nesta pesquisa.

Outra importante característica da umbanda é que esta se constitui como uma prática religiosa que estrutura vínculos entre a vida terrena e o “mundo espiritual” . Toda estrutura do culto, que é chamado de “gira” pelos praticantes, os rituais inicíaticos e o desenvolvimento dos médiuns, é organizada em função da crença na possibilidade de atuação das entidades espirituais no plano terreno, a partir da incorporação, destas, pelos médiuns. Com isto acreditam que médiuns e entidades poderão, por um lado fornecer ajuda àqueles que os procuram, e, por outro se beneficiarem desta prática para sua evolução no plano espiritual. Esta crença, a da incessante meta da evolução espiritual, é o eixo fundamental do sentido da vida para esta religião.

Em consonância com estas crenças, os consulentes procuram os guias e entidades devido a problemas cotidianos como: a busca de emprego, a resolução para problemas financeiros, amorosos, doença, ajuda para se livrar ou livrar alguém do uso de drogas, bebida, vão em busca de conselhos, de uma palavra de conforto em momentos de dificuldades, em busca de obter respostas para as crises existenciais sobre a morte, para saber de parentes que já se foram, como e onde estão. Assim alicerçados na esperança e na crença de que os médiuns têm o poder de promover a re-ligação entre o plano terrestre e o espiritual, onde tudo se sabe e onde há sempre a possibilidade de se obter ajuda e repostas.

Para além destes aspectos a umbanda também organiza e reflete relações sociais e as condições de existência de seus praticantes, tornando-se extremamente importante na formação da identidade destes, sendo um fator de preservação cultural e social das suas comunidades.

Fenômenos como a incorporação, o transe, as previsões feitas por médiuns videntes e entidades, os sonhos, os devaneios, visões, práticas como o benzimento, as rezas, as manipulações de objetos da natureza, os trabalhos efetuados para os orixás e entidades, ganham importância fundamental no exercício efetivo da religião e na própria manutenção de sua existência.

Fábio Ricardo Leme

(LEME, F. R. Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista. 164 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. )

OBSERVAÇÕES DESTE BLOG:

1-Cabe reflexão sobre a organização dos trabalhos, os temas de consultas, os eixos religiosos fundadores, a organização dos rituais e a estrutura hierárquica peculiar aos umbandistas.

2-Diferentemente de uma casa espírita assentada na Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, a umbanda adota as “giras” ou rituais, diferenciados quanto a dia, proposta e grupo de entidades atuantes, que seguem categorias próprias entre umbandistas e sem correspondentes no Espiritismo.

3-A estrutura do ritual de umbanda, com seu colorido, danças, comidas e aparatos, refere-se a suas raízes, que guardam histórico de saber popular e de legado de diversas fontes culturais, mas não representa o tipo de atividade mediúnica que se exerce em uma casa espírita kardecista, a qual dispensa paramentos, cantorias, adereços, curimbás, o contexto das “giras”, defumações, oferendas, trabalhos ritualísticos, festas de santos e as chamadas obrigações.

4-E cabe ainda citar:

“Há os que confundem o Espiritismo com práticas de umbanda, quimbanda e candomblé, por total ignorância, pois não tiveram oportunidade de tomar conhecimento da absoluta diferença. Mas, há, também, os que sabem dessa diferença; porém, levados pelo radicalismo e pela intolerância, insistem em pregar a vinculação.” (Alamar Régis Carvalho,  “Sob a Ótica Espírita” apud Carlos Eduardo Parchen, internet: http://www.carlosparchen.net/oquee291005.html)

Eurípedes Barsanulfo

Eurípedes Barsanulfo Nasceu em Sacramento, no estado de Minas Gerais, no dia 1º de maio de 1880.

Aluno do Colégio Miranda, auxiliava os professores, ensinando aos próprios companheiros de classe. Conquistou o respeito de todos os colegas e professores, pelo seu comportamento e extrema dedicação ao estudo. Graças à sua vontade de querer saber cada vez mais, ele conseguiu uma excelente formação cultural, nos mais variados campos do saber. Saindo do colégio, passou a trabalhar como guarda-livros, no escritório comercial de seu pai, auxiliando, assim, desde cedo, a manutenção do lar.

Aos 22 anos, com seus antigos professores, Dr. João Gomes Vieira de Melo, Inácio Martins de Melo e outros, fundou o Liceu Sacramento, onde lecionava, quando necessário, todas as matérias do curso. Alguns alunos do Liceu fundaram um serviço de assistência aos necessitados, denominado “Sociedade dos Amiguinhos dos Pobres”. Na mesma época, participou da fundação do jornal semanal “Gazeta de Sacramento”, em que publicava artigos sobre Economia, Literatura, Filosofia, etc, estreando, assim, como jornalista, tendo colaborado intensamente em outros jornais.

Possuía profundos conhecimentos de Medicina e Direito, além de Astronomia, Filosofia, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Literatura, sem ter cursado escola superior.

Tornou-se líder, em sua cidade, pelo seu trabalho no magistério, e na imprensa, pelo seu nobre caráter e bom coração pronto a ajudar os necessitados. Foi assim, eleito vereador, quando, durante seis anos, beneficiou a população de sua cidade com luz e bondes elétricos, água encanada e cemitério público. Nessa ocasião, Eurípedes Barsanulfo, como fervoroso católico, era o presidente da Conferência de São Vicente de Paulo.

Seu primeiro contato com a Doutrina foi em 1903, através do seu tio, conhecido como Sinhô, que, após tentar explicar os pontos básicos da Doutrina Espírita, emprestou ao sobrinho o livro “Depois da Morte”, de Léon Denis. Ocorre, então, uma transformação em sua vida. Mudou-se da casa de seus pais e fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade, em 1905, onde, além de realizar reuniões mediúnicas e doutrinárias, também prestava auxílio aos mais necessitados. Foi médium inspirado, vidente, audiente, receitista, psicofônico, psicógrafo, de desdobramento e de bicorporeidade. Como médium receitista, psicograva prescrições do Espírito Bezerra de Menezes.

Em 31 de janeiro de 1907, criou o primeiro educandário brasileiro com orientação espírita, o Colégio Allan Kardec, onde os alunos recebiam aulas de Evangelho, e, ainda, instituiu um Curso de Astronomia.
Essa conversão custou à incompreensão de toda a cidade, chegando mesmo a ser processado, em 1917, processo esse, que foi arquivado por falta de pronunciamento competente.

Mesmo com essas dificuldades, ele executou um trabalho de fé e caridade gigantesco, em Sacramento. As farmácias, o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita Esperança e Caridade foram apenas algumas das obras desse homem que foi chamado “O Apóstolo do Triângulo Mineiro”.
Desencarnou em Sacramento, no dia 1º de novembro de 1918, vitimado pela gripe espanhola, porém sua obra continua viva até hoje, não só em Sacramento, mas em todas as casas espíritas guiadas pelo seu nome.

Eurípedes Barsanulfo é mentor espiritual das reuniões de tratamento espiritual da quarta-feira na Feig.

(Fraternidade Espírita Irmão Glacus, http://www.feig.org.br/index.php/nstituicao/nossos-mentores/120-euripedes-barsanulfo)

Bittencourt Sampaio

Bittencourt_Sampaio

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio nasceu em Laranjeiras (SE) dia 11 de fevereiro de 1834 e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de outubro de 1895.

Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista, literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita.

Militante na política, filiou-se ao partido liberal. Foi eleito deputado para a Assembléia Geral Legislativa nas legislaturas 1864-1866 e 1867-1870. Neste último período foi Presidente do Espírito Santo, nomeado por carta imperial.

Em 1870 abraçou as idéias republicanas. Com Saldanha da Gama, Quintino Bocaiúva e outros assinou o célebre manifesto de 03 de dezembro de 1870, importantíssimo documento histórico. Foi um dos fundadores do Partido Republicano.

Jornalista, colaborou em diversos órgãos de imprensa no Rio e em S. Paulo. Não só era reputado pelo brilho de seus artigos mas também grandemente respeitado pela elevação, sinceridade e firmeza com que sustentava e defendia os seus ideais.

Foi o primeiro administrador da biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Autor de diversas obras em prosa e verso, foi considerado por Sylvio Romero e João Ribeiro o primeiro dos autores líricos brasileiros, logo depois de Gonçalves Dias.

Entre suas obras merece destaque “A Divina Epopéia de João Evangelista”. Trata-se de uma reprodução do Evangelho de João, em versos decassílabos, de rara beleza e grandiosidade.

Como espírita, desenvolveu sua mediunidade de receitista no “Grupo Confúcio”, no Rio de Janeiro.

Em 1876 fundou a “Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade”.

Antônio Luís Saião, convertido ao Espiritismo graças à mediunidade curadora de Bittencourt Sampaio, fundou o “Grupo Ismael”. Ali Bittencourt Sampaio recebeu belas e instrutivas mensagens de Espíritos Superiores.

Quando desencarnou José Bonifácio, o “Moço”, Bittencourt Sampaio dedicou-lhe os seguintes versos:

Sim! Ele entrou, de bênçãos radiantes,
Pelo portão de luz da eternidade,
Qual águia que dos céus na imensidade,
Livre revoa, tão de nós distante!

Depois de sua desencarnação, através do médium Frederico Júnior, Bittencourt Sampaio escreveu “Jesus perante a Cristandade”, “De Jesus para as Crianças” e “Do Calvário ao Apocalipse”.

No livro mediúnico “Voltei”, o Irmão Jacob, através do médium Francisco Cândido Xavier, revela que Bittencourt Sampaio colabora nos planos superiores da Espiritualidade, na supervisão do Espiritismo evangélico no Brasil.

Fonte: Livro “Personagens do Espiritismo”, de Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy – Edições FEESP.

Inácio Bittencourt

inacio-bittencourt

Espírita bastante popular na terra carioca, homem de bem e incansável trabalhador na seara cristã, Inácio Bittencourt nasceu em Portugal aos 19 de Abril de 1862, desencarnando no Rio de Janeiro na madrugada de 18 de Fevereiro de 1943.

Muito moço, emigrou para o Brasil, não com idéias de riquezas, mas em busca de um ideal que a intuição lhe dizia estar na terra irmã.

Só, sem proteção nem amparo, a não ser a seriedade do seu caráter e a retidão do seu espírito, empregou-se em Botafogo, em 1875, dias após a sua chegada ao Rio de Janeiro.

Deixando as bancas escolares aos 10 anos, premido pela necessidade, que poderia ter aprendido? Todavia, esse pouco, aliado ao forte desejo de saber e à clarividência de sua razão, o libertou da ignorância. Autodidata, adquiriu muitos e variegados conhecimentos.

Aos vinte e um anos, era, como tantos outros rapazes de sua época, um livre-pensador. Contraiu matrimônio aos 22 anos e nesse mesmo ano – 1885 -, ao ler “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, se fez espírita.

Sua convicção firmou-se pelo estudo e ei-lo transformado em ardoroso propagandista das novas doutrinas, quer pela palavra escrita e falada, quer pela excepcional mediunidade curadora que nele abrolharia pouco tempo depois.

Bem cedo, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espiritistas e, mesmo, fora deles.

Fundou a 1o. de Maio de 1912 e dirigiu o memorável periódico “Aurora”, jornal que por muitos anos disseminou a doutrina espírita em todas as direções do País.

Sob a sua presidência foi fundado, em 1o. de Janeiro de 1919, o “Abrigo Teresa de Jesus”, velha casa de caridade até hoje funcionando no Rio de Janeiro, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas de ambos os sexos.

Colaborou ativamente para a fundação da União Espírita Suburbana e do Círculo Cáritas. Da “União” chegou a ser presidente por muito tempo, tendo sucedido, em 1919, ao grande espírita Fernandes Figueira, que dirigira os destinos daquela Casa até a sua desencarnação.

Durante dois anos foi vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, onde a sua palavra era sempre ouvida com acatamento.

Presidiu, ainda, O Centro Humildade e Fé, onde outrora nasceu a “Tribuna Espírita”, órgão que ele dirigiu por algum tempo.

Foi um dos diretores do Asilo Legião do Bem, para a velhice desamparada.

Embora pobre e sobrecarregado de numerosa família, não lhe faltava tempo para dedicar-se de corpo e alma ao Espiritismo e ao trabalho da caridade.

Por não possuir instrução acadêmica, escrevia com simplicidade, mas corretamente. Seus artigos eram bem concatenados e solidamente fundamentados.

“Reformador”, órgão da Federação Espírita Brasileira, o jornal “Aurora” e outros periódicos espíritas contêm vários escritos de Inácio Bittencourt.

Considerado “apóstolo e santo” pela boca do povo, sobre ele assim disse ilustre médico em sugestiva crônica publicada num vespertino carioca: “Perante a lei foi um contraventor – perante a Humanidade, um benfeitor!”.

Referia-se o ilustre médico à mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt, que foi processado algumas vezes por exercício ilegal da Medicina, sempre absolvido, como aconteceu, por exemplo, em 1923, por decisão do Supremo Tribunal Federal, em Acórdão de 27 de outubro.

Forte na fé, valoroso na humildade, impertérrito na caridade, tal se revelou constantemente este velho companheiro de lides espiritualistas e amigo muito benquisto.

Dissemos que a sua personalidade alcançara grande destaque e o seu nome enorme projeção nos meios espíritas e fora deles, pelo seu indefesso labor mediúnico, que foi realmente extraordinário e dos mais assinaláveis. Essa, com efeito, a verdade, porquanto, como médium receitista, Inácio Bittencourt se constituiu um como expoente, entre quantos, em nosso País, hão recebido, da misericórdia inesgotável do Pai celestial, o dom de veiculá-la para os sofredores, a fim de os livrar dos sofrimentos do corpo e da alma, ou de, pelo menos, proporcionar alívio a esses sofrimentos.

Apreciando em seu justo valor esse dom e em sua legítima significação, consciente da responsabilidade imensa com que lhe onerava o Espírito, exerceu-o o saudoso lidador como verdadeiro sacerdócio, disposto a todos os sacrifícios que lhe adviessem da necessidade de dar cumprimento ao dever, que a sua consciência cristã lhe impunha, ante o lema da doutrina a que servia com inteiro devotamento e abnegação – “Sem caridade não há salvação”.

E as curas, por seu intermédio, se multiplicavam, assumindo não poucas o caráter de assombrosas. Inúmeras vezes, considerado perdido o caso, um apelo a Inácio Bottencourt era o recurso extremo, e a volta da saúde ao enfermo se verificava, com espanto dos que, desanimados, já descriam do seu restabelecimento, operando-se, em conseqüência e em muitíssimas ocasiões, surpreendentes conversões ao Espiritismo. Tornou-se ele, desse modo, um ponto de convergência das vistas de toda gente, quer dos que de certa forma já simpatizavam com a Doutrina dos Espíritos, ou para seus ensinos propendiam, quer dos seus adversários e inimigos de todas as espécies. Crescia assim, continuamente, o número dos que se faziam espíritas.

Mas, como era natural, também crescia, do mesmo passo, contra o Espiritismo e, em particular, contra o seu destemeroso servidor, a onda dos ódios que a ignorância e a maldade geram nas almas dos que se comprazem na treva, por aborrecerem a luz e a verdade, donde aquela se irradia. Daí, conseguintemente, sem falar das tribulações intimas que lhe assaltavam o coração, as perseguições de que se viu alvo o infatigável trabalhador, os vários processos que lhe moveram por exercício ilegal da medicina, rematados todos, aliás, graças à bondade divina, com a sua absolvição, processos e perseguições que ele enfrentou invariavelmente com a serenidade e a humildade do lídimo cristão, que sabe só existir uma justiça reta e perfeita, a pairar soberana, dando a cada um, no momento oportuno, segundo suas obras, infinitamente acima da dos homens, sempre falha, claudicante e incongruente, porque justiça de pecadores cegos.

Entretanto, não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração que lhe cercavam a personalidade, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu ministério mediúnico, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava à tribuna doutrinária, conforme de contínuo sucedia na Federação, a cujas sessões públicas de estudo comparecia assíduo, até pouco antes de se lhe tornar difícil locomover-se. Era então de causar pasmo, e pasmo geral, ouvi-lo, a ele, que não lograra dispor de ampla cultura intelectual, discorrer de maneira fluente, até com eloqüência muitas vezes, sobre o ponto em estudo, proferindo discursos ricos de belas imagens e de conceitos profundos, que seriam de impressionar e abalar os ouvintes, mesmo quando enunciados por mentalidades de vasta erudição científica e filosófica.

Amigo da Federação, que entrou a freqüentar com marcada assiduidade, quando, contando já essa instituição alguns anos de existência, nela atuava, como seu presidente, o apóstolo sem igual, Bezerra de Menezes; partilhando de muitas das vicissitudes e provas a que se tem visto sujeita a Casa de Ismael, que, todavia, não teve a dita de contá-lo entre os seus fundadores, conservou-se-lhe sempre ligado pelos laços de uma afeição, que ela sobrestimava vivamente, jamais deixando de o arrolar entre os obreiros de mais vulto e de maior devotamento que há contado entre nós a sementeira evangélica, a seara do bem e da verdade, que é a de N.S. Jesus-Cristo; em suma, entre aqueles que mais abnegadamente hão trabalhado pelo ideal cristão, cheios do espírito do Cristianismo do Cristo, do qual só se enriquecem as almas dos que se fazem, qual ele se fez, seguidores do Evangelho em espírito e verdade.

(WANTUIL, Zêus. Grandes Espíritas do Brasil. Brasília: FEB, 4ª ed., 1990, p.384-388)

Terezinha Oliveira

(Fonte: Site do CEAK)

Na última quarta-feira, 28/8/13, retornou à pátria espiritual a médium e escritora Therezinha Oliveira.

Dirigente do Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, dedicou mais de 50 anos de sua vida à divulgação da Doutrina Espírita, tendo ministrado inúmeras aulas, palestras, cursos e seminários no Brasil e nos EUA.

Em nota, o site do Centro Espírita Allan Kardec dedicou a Therezinha: “[…] é hora de lembrarmos da Therezinha amiga e trabalhadora espírita, com serenidade e paz, envolvendo-a com pensamentos de amor e gratidão pela vida dedicada à divulgação das verdades espirituais, com simplicidade, clareza, coragem, disposição e alegria […]”.

Therezinha escreveu dezenas de livros, entre eles “A Doutrina e o Movimento”, “Na Luz do Evangelho”, “Parábolas que Jesus Contou” a coleção de obras  “Estudos e Cursos”, dentre outras. Um de seus últimos escritos foi “Na Luz da Reencarnação, A Vida é sempre vida”.

Abaixo trechos de seus vídeos:

[vimeo http://vimeo.com/10645199]
 
[youtube=http://youtu.be/rx6Skv8TxYo]