4º Ano – Aula 19 – Amparo Espiritual

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Objetivo: Levar o grupo a entender e esperar que apesar de nossos erros, todos somos amparados pela espiritualidade.

Bibliografia:

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Entre a Terra e o Céu”, cap. 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Missionários da Luz”, cap. 7

(*) F.C.Xavier/Emmanuel, “Seara dos Médiuns”, lição 34

(*) F.C.Xavier/André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 7

Entre a Terra e o Céu, c. 34

-Odila clama auxílio a Zulmira, enferma, Amaro, esposo, e Júlio, enteado recém-desencarnado. Zulmira, deprimida, carrega culpa pela morte acidental de Júlio.

Clarêncio, instrutor de André Luiz, aplica-lhe passes.

-Mário Silva, enfermeiro, também alimenta remorsos pelo desencarne de Júlio.

Duas freiras,  entidades de uma ordem  católica, iam até a casa de Mário orar por ele. Clarêncio, em apoio, aplicou passes em Mário, tranquilizando-o.

Missionários da Luz, c. 7

-Justina pede a Alexandre auxilio ao filho Antonio, adoentado e vítima dos próprios maus pensamentos.

Alexandre aconselhou Antonio, que, mesmo inconsciente, recebe seus conselhos. Em seguida, Alexandre ministrou tratamento de passes em áreas específicas da espinha dorsal, fígado e do córtex motor. O instrutor convocou o grupo do Irmão Francisco, uma equipe espiritual de auxílio. Recorreu-se também aos fluidos de Afonso, doados durante seu desdobramento no sono físico. Ocorreu, assim, reajustamento celular em Antonio.

Nos Domínios da Mediunidade, c. 7

Clementino auxilia o dirigente Raul Silva.

Frente aos Bons Espíritos, constituem méritos aspectos como moralidade, sentimento, educação e caráter.

O auxílio se estende a todos os trabalhadores, desde o dirigente e médiuns até os obreiros de sustentação.

Benfeitores desencarnados

Reunião pública de 12/12/60

Questão nº 267 – Parágrafo 17º

Perceberás, sem dificuldade, a presença deles.

Onde as vozes habituadas a escarnecer se mostram a ponto de condenar, eles falam a palavra da compaixão e do entendimento.

Onde as cruzes se destacam, massacrando ombros doridos, eles surgem, de Inesperado, por cireneus silenciosos, amparando os que caíram em desagrado e abandono.

Onde os problemas repontam, graves, prenunciando falência, eles semeiam a fé, cunhando valores novos de trabalho e esperança.

Onde as chagas se aprofundam, dilacerando corpo e alma, eles se convertem no remédio que sustenta a força e restaura a vida.

Onde o enxurro da ignorância cria a erosão do sofrimento, no solo do espírito, eles plantam a semente renovadora da elevação, regenerando o destino.

Onde os homens desistem de auxiliar, eles encontram vias diferentes de ação para a vitória do Amor Infinito.

Anseias pela convivência dos benfeitores desencarnados, com residência nos Planos Superiores, e tê-los-ás contigo, se quiseres.

Guarda, porém, a convicção de que todos eles são agentes do bem para todos e com todos, buscando agir através de todos em favor de todos.

Disse Jesus: “Quem me segue não anda em trevas.”

Se acompanhas os Bons Espíritos que, em tudo e por tudo, se revelam companheiros fiéis do Cristo, deixarás para sempre as sombras da retaguarda e avançarás para Deus, sob a glória da luz.

Essas outras mediunidades

Reunião pública de 29/4/60

Questão nº 185

Na expansão dos recursos medianímicos que te enriquecem a experiência, sob as diretrizes dos benfeitores desencarnados, não te despreocupes das faculdades edificantes, suscetíveis de te vincularem à elevação e à melhoria dos companheiros na Terra.

Pronuncias a palavra preciosa que os emissários da cultura e da inteligência te levam à boca, impressionando auditórios atentos.

Mas não negues o verbo da tolerância aos que te reclamam indulgência e carinho dentro de casa.

Doutrinas eficientemente os Espíritos transviados nas sombras da viciação e do crime, transmitindo conselhos e avisos da Esfera Superior.

Não recuses, porém, a conversação amorosa e paciente aos familiares ainda confinados à ignorância e à perturbação.

Escreves a frase escorreita, para entendimento do público, sob a influência de instrutores domiciliados no Plano Maior.

Grava, entretanto, no próprio caminho, a sinalização do bom exemplo, induzindo os semelhantes a que nobilitem a própria existência.

Contemplas quadros prodigiosos, através da clarividência, caindo em êxtase ante as alegrias sublimes que observas, por antecipação, na Glória Espiritual.

Não olvides, contudo, fitar as chagas dos que padecem, estendendo até eles migalha do teu conforto, por mensagem de auxilio.

Escutas vozes comovedoras do Grande Além, delas fazendo narrativas surpreendentes para os que te admiram as incursões no país do inabitual.

Busca, no entanto, ouvir as aflições dos irmãos sofredores, aprendendo a ser útil.

Estendes mãos fraternas, no passe balsamizante, em favor dos que te procuram, sedentos de alívio.

Não furtes, porém, os braços prestimosos ao trabalho de cooperação espontânea junto daqueles que o Senhor te confiou na intimidade doméstica.

Atende às faculdades múltiplas pelas quais se evidencie a bondade dos mensageiros divinos, mas não desdenhes essas outras mediunidades, tanta vez esquecidas, da renúncia e da paciência, da humildade e do serviço, da prudência e da lealdade, do devotamento e da correção, em que possas mostrar os teus préstimos diante daqueles que te partilham a luta, porque somente assim serás suporte firme da luz e chama da própria luz.

No diálogo de orientação

“Não se deve esquecer de que se trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação. Não é a força que age contra o Espírito, nem a elevação da voz, mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor. Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e violência em existências brutais em que o amor não floriu em seu coração.

Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual.

Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação.”

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”)

Bibliografia: Francisco Cândido Xavier, médium, Emmanuel, Espírito, “Seara dos Médiuns”, c.30 e 90.

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A respeito da premonição

PREMONIÇÕES

       “Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante O Sono?”

       “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo quer do outro.”

*

       “Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.”        (“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, Capítulo 8, pergunta 402.)

Há sido objeto de muita meditação, por parte dos estudiosos dos acontecimentos psíquicos transcendentais, os curiosos fenômenos de premonições, pressentimentos e mesmo os de profecia. Frequentemente, cada um de nós é avisado, pelos protetores espirituais, durante o sono natural ou provocado, de fatos que mais tarde se realizam integralmente, tais como foram vistos durante aqueles transes. Dar-se-á então o caso de que os su­cessos da existência sejam estabelecidos fatalmente, por um programa preestabelecido no Além, programa que nós mesmos, os humanos, podemos ver e analisar con­templando a sua, por assim dizer, maqueta espiritual, durante um sonho, e, assim, avisados do que acontecerá?

É possível que, de algum modo, seja assim. Os fatos capitais da existência humana: provações, testemunhos, reparações, etc., foram delineados, com efeito, até certo limite, como o revela a Doutrina Espírita, antes da reencarnação. Nós próprios, se pretendentes lúcidos à reencarnação, co-participamos da elaboração do pro­grama que deveremos viver na Terra, e, portanto, a ciência de certos acontecimentos a se desenrolarem em torno de nós, ou conosco, ficará arquivada em nossa consciência profunda, ou subconsciência. Durante a vigília ou vida normal de relação, tudo jazerá esquecido, calcado nas profundidades da nossa alma. Mas, advindo a relativa liberdade motivada pelo sono, poderemos lem­brar-nos de muita coisa e os fatos a se realizarem em futuro próximo serão vistos com maior ou menor cla­reza, e, ao despertarmos, teremos sonhado o que então virá a ser considerado o aviso, ou a premonição.

É  evidente que tais possibilidades derivam de uma faculdade psíquica que possuimos, espécie de mediuni­dade, pois a premonição não existe no mesmo grau em todas as criaturas, embora seja disposição comum a qualquer ser humano, a qual, se bem desenvolvida, po­derá conceder importantes revelações e provas do inter­câmbio humano-espiritual, tais como as profecias de caráter geral, a se cumprirem futuramente, ou mesmo de caráter restrito ao próprio indivíduo e a outro que lhe seja afim. Alguns casos de premonições pelo sonho parecem mesmo tratar-se da interessante e bela facul­dade denominada <(onírica» (mediunidade pelo sonho), tão citada na Biblia e tão comum ainda hoje. Em im­portantes obras espíritas de absoluto critério vemos esse fenômeno investigado, estudado e descrito por eminentes pesquisadores dos fatos relacionados com a alma hu­mana e suas forças de ação. Os fatos modernos de premonições já não poderão causar sensação, embora continuem despertando interesse, e apenas vem para testemunhar os poderes espirituais que conosco carre­gamos e as relações com o mundo dos Espíritos desen­carnados.

Léon Denis, por exemplo, o eminente colaborador de Allam Kardec, tantas vezes por nós citado nestas páginas, a cuja dedicação à Doutrina Espírita tantas belas e elucidativas lições devemos, no seu importante’ livro “No Invisível”, oferece-nos excelentes casos desse’ fenômeno, casos rigorosamente comprovados pelos acon­tecimentos posteriores e ocorridos com personagens importantes da História. Transcreve ele valiosas citações. de outros autores, no capitulo 13º — Sonhos pre­monitórios, Clarividência. Pressentimentos»:

— “Nos sonhos são com frequência registrados fe­nômenos de premonição, isto é, comprova-se a facul­dade, que possuem certos sensitivos, de perceber, du­rante o sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos:

— “Plutarco (Vida de Júlio César) faz menção do sonho premonitório de Calpúrnia, mulher de César. Ela presenciou durante a noite a conjuração de Brútus e Cássius e o assassínio de César, e fêz todo o possível por impedir este de ir ao Senado.

“Pode-se também ver em Cícero (De Divinatione, 1, 27) o sonho de Simonides; em Valério Máximo (VII, parágrafo 1, 8) o sonho premonitório de Atério Rufo e (VII, parágrafo 1, 4) o do rei Creso, anunciando-lhe a morte de seu filho Athys.

“Em seus Comentários, refere Montlue que assis­tiu, em sonho, na véspera do acontecimento, à morte do Rei Henrique 2º (da França), traspassado por um golpe de lança, que num torneio lhe vibrou Montgomery.

“Sully, em suas Memórias (VII, 383), afirma que Henrique 4º (da França) tinha o pressentimento de que seria assassinado em uma carruagem.

“Fatos mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatóriamente mencionados:

Abraão Lincoln sonhou que se achava em uma calma silenciosa, como de morte, únicamente perturbada por soluços; levantou-se, percorreu várias salas e viu, finalmente, ao centro de uma delas, um catafalco em que jazia um corpo vestido de preto, guardado por sol­dados e rodeado de uma multidão em prantos. (Quem morreu na Casa Branca?» — perguntou Lincoln. —«O presidente!» — respondeu um soldado; — foi as­sassinado!» Nesse momento uma prolongada aclamação do povo o despertou. Pouco tempo depois morria ele assassinado».

Prosseguindo nas interessantes relações dos fenô­menos aqui citados, Léon Denis lembra ainda um dos mais importantes, referido pelo astrônomo Camile Flam­marion em seu livro «O Desconhecido e os Problemas Psíquicos». O sensitivo aqui é o Sr. Bérard, antigo ma­gistrado e deputado:

— “Obrigado pelo cansaço, durante uma viagem, a pernoitar em péssima estalagem situada entre monta­nhas selváticas, ele (Sr. Bérard) presenciou, em sonhos, todos os detalhes de um assassínio que havia de ser cometido, três anos mais tarde, no quarto que ocupava, e de que foi vítima o advogado Vítor Arnaud. Graças à lembrança desse sonho é que o Sr. Bérard fêz descobrir os assassinos»“.

Cita também o caso romântico de uma jovem irmã de caridade (Nièvre) que viu em sonho o rapaz, para ela desconhecido, com quem depois se havia de casar. Graças a esse sonho, ela tornou-se Mnie. de la Bé­dollière».

Todavia, as obras mediúnicas espíritas e as obras clássicas do Espiritismo, particularmente, advertem que muitos detalhes, acidentes mesmo, enfermidades, contra­tempos, situações incômodas, etc., não foram progra­mados no Além, por ocasião da reencarnação do indi­viduo que as sofre, decorrendo, então, na Terra, em vista da imperfeição do próprio planeta ou por efeito do livre arbítrio do indivíduo, que poderá agir de forma tal, durante a encarnação, a criá-los e sofrer-lhes as consequências. O homem possui vontade livre, e, se não se conduz à altura da sensatez integral, poderá mesclar sua existência de grandes penúrias que seriam dispen­sáveis no seu presente roteiro, e que, por isso mesmo, serão apenas criação atual da sua vontade mal orien­tada e não programação trazida do Espaço, como fa­talidade.

Servindo-nos do direito que a Ciência Espírita con­cede ao seu adepto, de procurar instruir-se com os seus guias e amigos espirituais, sobre pontos ainda obscuros da mesma, como o fenômeno das premonições, para as quais não encontramos explicações satisfatórias em ne­nhum compêndio espírita consultado, certa vez interro­gamos o amigo Charles sobre a questão. Perguntámos, Valendo-nos da escrita:

—  “Podeis esclarecer-nos sobre o processo pelo qual somos avisados de certos acontecimentos, geralmente importantes e graves, a se realizarem conosco, e que muitas vezes se cumprem como os vimos em sonhos ou em visões?»

E ele respondeu, psicogràficamente:

      — “Existem vários processos pelos quais o homem poderá ser informado de um ou outro acontecimento fu­turo importante da sua vida. Comumente, se ele fêz jus a essa advertência, ou lembrete, pois isso implica certo mérito, ou ainda certo desenvolvimento psíquico, de quem o recebe, é um amigo do Além, um parente, o seu Espí­rito familiar ou o próprio Guardião Maior que lhe comu­nicam o fato a realizar-se, preparando-o para o evento, que geralmente é grave, doloroso, fazendo-se sempre em linguagem encenada, ou figurada, como de uso no Invi­sível, e daí o que chamais «avisos pelo sonho», ou seja, sonhos premonitórios». De outras vezes, é o próprio indivíduo que, recordando os acontecimentos que lhe ser­viriam de testemunhos reparadores, perante a lei da cria­ção, delineados no mundo Espiritual às vésperas da reencarnação, os vê tais como acontecerão, assim os casos de morte, sua própria ou de pessoas da família, desastres, dores morais, etc., etc. E os seus protetores espirituais, que”. igualmente conhecem o programa de pe­ripécias do pupilo, delineado no evento da reencarnação, com mais razão o advertirão no momento necessário, seja através do sonho ou intuitivamente. Pode aconte­cer que, num caso de traição de amor, por exemplo, provação que tanto fere os corações sensíveis e dedi­cados, e nos casos de deslealdade de um amigo, etc., o paciente, durante o sono, penetre a aura do outro, por quem se interessa, e aí descubra as suas intenções, lendo-lhe os pensamentos e os atos já realizados mentalmente, como num livro aberto ilustrado, tal a linguagem espiri­tual, e então verá o que o outro pretende concretizar em seu desfavor, como se fora a realização de um sonho, pois tudo foi habilmente gravado em sua consciência e as imagens fotografadas em seu cérebro, permitindo a lembrança ao despertar, não obstante empalidecidas. Futuramente o fato será realizado objetivamente e aí está o aviso…

       De outro modo, seguindo a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada, por deduções um amigo da espiritualidade se cientificará de um acontecimento que mais tarde se efetivará com precisão. Ele poderá comunicar o acontecimento ao seu amigo terreno e o fará de modo sutil, em sonho ou pressentimento. O es­tudo da lei de causa e efeito é matemática, infalível; concreta, para a observação das entidades espirituais de ordem elevada, e, assim sendo, ele se comunicará com o seu pupilo terreno através da intuição, do pressenti­mento, da premonição, do sonho, etc. O estudo da ma­temática de causa e efeito é mesmo indispensável, como que obrigatório, às entidades prepostas à carreira trans­cendente de guardiães, ou guias espirituais.

       Estudo pro­fundo, científico, que se ampliará até prever o futuro remoto da própria Humanidade e dos acontecimentos a se realizarem no globo terráqueo, como hecatombes físi­cas ou morais, guerras, fatos célebres, etc., daí então advindo a possibilidade das profecias quando o sensitivo, altamente dotado de poderes supra-normais, comportar o peso da transmissão fiel aos seus contemporâneos. Ë um dos estudos, portanto, que requerem um curso completo de especialização. Outrossim, acresce a impor­tante circunstância de que todos esses acontecimentos de um modo geral se prendem ao lastro da evolução do planeta como do indivíduo, e o sábio instrutor deste, como os auxiliares do governo do planeta, estão aptos a perceber o que sucederá daqui a um ano, um século ou um milênio, pelo estudo e deduções científicas sobre o programa da evolução da Criação, pois o tempo é inexis­tente nas esferas da espiritualidade e a entidade sábia facilmente deduzirá, e com certeza matemática, os su­cessos em geral, subordinados ao trabalho da evolução, como se se tratasse do momento presente.

O individuo que sofrerá esta ou aquela provação ou o que terá de apresentar testemunhos de valor moral pela expiação, jamais o ignora no seu estado espiritual de semiliberdade através do sono ou do transe mediúnico (pode-se cair em transe mediúnico sem ser espírita, mor­mente quando se dorme), visto que consentiu em experi­mentar todas essas lições reparadoras. Mas, se não conserva intuições a tal respeito no estado normal humano, almas amigas e piedosas poderão relembrá-las em sonhos ilustrados, assim preparando-o e auxiliando-o a adquirir forças e serenidade para o embate supremo. Casos há em que o aviso virá por outrem ligado ao paciente, mais acessível às infiltrações espirituais premonitórias. Agra­decei a Deus as advertências que vos são concedidas às vésperas das provações. Elas indicam que não sofrereis sozinhos, que amigos desvelados permanecem ao vosso lado dispostos a enxugar as vossas lágrimas com os bálsamos do santo amor espiritual inspirado pelo amor de Deus».

Com essas pequenas indicações e estudando tão in­teressantes fenômenos, cremos que chegaremos a vis­lumbrar algo sobre o mecanismo dos avisos transcen­dentes que tantos de nós temos recebido do mundo in­visível às vésperas de acontecimentos importantes de nossas vidas.

A seguir o leitor encontrará pequena série de adver­tências dessa natureza, concedida a nós e a pessoas do nosso conhecimento, e que não será destituída de inte­resse para os estudos transcendentais. Certamente que nos seria possível organizar um volume com o noticiário completo que a respeito nos tem vindo às mãos, além daqueles fatos ocorridos conosco. Julgamos, porém, que para o testemunho que a Doutrina Espírita de nós exige, para mais essa face da verdade que tivemos a felici­dade de poder comprovar, serão suficientes os que aqui registramos.

*

       — “Eu era, como ainda sou, médium de premonições. Qualquer acontecimento grave, feliz ou desditoso, que me diga respeito ou à família e, menos frequente­mente, em que se refira a amigos e à coletividade, é-me descrito em sonhos através de quadros encenados ou parábolas, muito antes que aconteça, exatamente como o processo pelo qual obtenho os livros românticos, me­diúnicos.

No ano de 1940, por exemplo, quando Benito Mussolini, poderoso primeiro ministro do Rei da Itália, se encontrava no auge do poder, durante um sonho (transe onírico, ou mediunidade pelo sonho, a que a Bíblia tanto se refere) foi-me revelado o seu trágico desaparecimento, tal como se verificou, até mesmo o seu cadáver profanado, suspenso de um poste, e os seus pobres olhos esbugalhados de horror, fora das órbitas, como mais tarde os clichês da imprensa e os filmes cinematográficos reproduziram, ao relatarem os aconteci­mentos de Milão, em 1945. No dia seguinte a esse sonho, referi o fato às pessoas da família como se tra­tando de uma previsão, mas não fui acreditada, pois não havia, efetivamente, nenhuma razão para eu ser in­formada, espiritualmente, do futuro que esperava o po­deroso «Duce», como era chamada aquela personagem. Ao demais, como poderia ele decair tanto do seu pres­tígio de verdadeiro César?

Os anos se passaram, porém, e, ao findar a segunda guerra mundial, os fatos se realizaram como eu a eles assistira em sonho, mesmo nos seus detalhes.

Mas porque tal aviso a mim? Teria eu, porventura, assistido a alguma aula do curso de «Causa e Efeito», no Espaço, e retido aqueles acontecimentos na lembran­ça? Ou que estranha corrente me levara à percepção de acontecimentos implicando essa personagem? Seria uma profecia? Mas com que finalidade se eu, absolutamente, não a levaria à publicidade? Seria porventura a existência de correntes favoráveis ao fato, que me animavam os pensamentos, visto que, meditando frequentemente naquela figura de estadista, nela eu supunha entrever a reencarnação de certo Imperador Romano, cujas ca­racterísticas muito se coadunavam com as do altivo «Duce»?

São indagações para as quais não encontro solução… Um ano antes desse estranho acontecimento impli­cando o Sr. Benito Mussolini, ou seja, pelo mês de Ja­neiro de 1939, e residindo eu então em Minas Gerais, entrei a sonhar frequentemente com um cortejo fúnebre muito concorrido e com todas as características da reali­dade. A frente do mesmo seguia um homem carregando linda coroa de flores naturais. Eu acompanhava o fére­tro logo após o esquife mortuário, banhada em lágrimas e sentindo o coração se me despedaçar de angústia, mas ignorando a identidade do morto. Durante cerca de seis meses a mesma visão prosseguiu, em sonhos, sistemàtica­mente, incomodativa, irritante. Também durante os des­dobramentos em corpo astral eu via o mesmo féretro, acompanhava-o e chorava angustiosamente. Charles apa­recia então e me falava, de certo palavras consoladoras, mas das quais jamais recordava ao despertar. Uma noite, no entanto, ao acompanhar o cortejo, que persistia nos sonhos, vi que os acompanhantes pararam. Trouxeram uma banqueta e o caixão mortuário foi descansado sobre ela. Reconheci o local da cena: certa rua da cidade de Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, à margem da linha férrea da Central do Brasil, a qual se enca­minha para o cemitério local, e onde residia minha mãe.

Aproximei-me do esquife, como que movida por irresis­tível automatismo. Suspenderam a tampa do caixão sem que eu percebesse quem o fizera, e vi um cadáver co­berto de flores. Retirei o lenço que velava o rosto do morto e então reconheci minha mãe.

Com efeito, pelo mês de Setembro daquele mesmo ano minha mãe adoeceu gravemente. A 1 de Outubro, pela manhã, eu procurava repousar algumas horas, de­pois de uma noite insone velando a querida doente. Adormeci levemente e logo um sonho muito lúcido mos­trou-me meu pai, falecido quatro anos antes, aproximan­do-se de meu leito para dizer com satisfação e viva­cidade:

— Esperamos sua mãe aqui no dia 17… Faremos uma recepção a ela, que bem a merece… Está tudo bem…

A 18 de Outubro ela expirava sob nossas preces resignadas, porque durante todo o dia 17 apenas vivera da vida orgânica, sob a ação de óleo canforado. E os detalhes entrevistos durante a série de sonhos, com que eu fora informada dos acontecimentos a se realizarem, lá estavam: O cadáver de minha mãe foi rodeado de lin­das flores, oferecidas por suas amigas, e o cortejo idên­tico ao dos sonhos, mesmo com o homem à frente car­regando linda coroa de flores naturais, como de uso na localidade pela época, e o trânsito, a pé, pela mesma rua, a caminho do cemitério.

*

       Várias são as formas pelas quais os nossos amigos do mundo espiritual nos participam os grandes aconteci­mentos de nossa vida. Também a morte de meu pai foi descrita antes que ocorresse, mas através de suave pará­bola criada pelo Espírito Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

       Conforme se verá mais abaixo, a visão pelo sonho nem foi tão forte nem tão dramática como o foi a relativa à morte de minha mãe, embora encerrasse o mesmo aviso premonitório. Ao que parece, o caráter dos instru­tores espirituais muito influi na forma pela qual criam as visões ou advertências que nos concedem, nessas ou em outras circunstâncias, assinalando-as com a própria personalidade. O Espírito Charles, embora a sua eleva­ção moral-espiritual e inequívoco amor que consagra ao meu espírito, caracteriza-se pelo modo enérgico de agir, e, se relata fatos, se adverte, imprime o próprio tom positivo na forma de proceder. Como já tive oportuni­dade de relatar nestas páginas, no que me diz respeito ele exige o máximo das minhas forças mediúnicas, e, quanto às provações por que tenho passado, chegou francamente a declarar que não me pouparia nenhuma delas porque me são necessárias à reeducação do cará­ter, apenas prometendo sofrê-las comigo e ajudar-me a bem suportá-las. Os dois livros por ele a mim concedidos mediunicamente — Amor e Ódio e Nas Voragens do Pecado — se revelam como obras fortes, vigorosas na dramaticidade exposta, capazes de levarem a emoção à alma do leitor. O sonho premonitório anunciando a desencarnação de minha mãe caracterizou-se por cenas do mesmo tipo dramático, emocionantes pelo realismo e também pela persistência, visto que durante cerca de seis meses as visões me perseguiram de modo constante. Adolfo Bezerra de Menezes, porém, caráter doce e como que receoso de molestar o próximo, refere-se a assuntos igualmente dramáticos suavizando o enredamento com expressões mais delicadas. Assim são os seus livros mediúnicos a mim concedidos, assim também o anúncio do trespasse de meu pai para o mundo espiritual, anún­cio que dulcificou com a própria presença, como que a inspirar confiança e sugerir proteção. Assim foi que, um mês antes da morte de meu pai, ocorrida em Janeiro de 1935, eu me vi, durante um sonho, ao lado do mesmo excelente mentor espiritual e diante de uma tela que se diria cinematográfica. Meu pai adoecera havia já um ano, mas, por aquela ocasião, melhorara considerável-mente e ninguém esperava o seu desenlace tão cedo.

Eu me sentava diante da referida tela, junto de meu pai, enquanto Bezerra de Menezes, em plano mais elevado, se mantinha de pé, apontando para a tela, criando-a, certamente, com um pequeno bastão de ala­bastro. E disse:

— Verás agora o que sucederá a teu pai dentro de bem poucos dias… Esses fatos são naturais na vida de um Espírito e não devemos lamentá-los…

Apresentou-se então, na tela, um prédio, tipo de pequena mansão antiga, que possuía a sua beleza clás­sica, mas em ruínas. A cada momento o predio osci­lava ameaçando desmoronar. As paredes se mostravam fendidas, os vidros das janelas quebrados, a pintura enegrecida, enquanto ratos iam e vinham por dentro e fora da casa, vorazes, roendo as paredes e o madeira­mento e tudo perfurando. Súbitamente o prédio desmo­ronou com estrondo. Ouvi o ruído das paredes desabando até aos alicerces, vi a poeira levantar-se e o montão de escombros jazendo por terra.

Mas em seu lugar outro prédio ficara, o mesmo tipo de mansão, grandioso e belo, de linhas clássicas, porém, novo, leve, gracioso, como construído em doces neblinas cintilantes. Compreendi o significado da cena e pus-me a chorar. Mas o meu próprio pai, que se achava presente, em espírito, abraçou-me carinhosamente, ao mesmo tempo que exclamava, sorridente:

— Então, que é isso, minha filha? Pois não és espírita? Porque choras?..

Um mês depois meu pai morria repentinamente, vi­timado por um edema pulmonar agudo, que se rompera, sufocando-o no sangue. E eu, com efeito, muito sofri e chorei depois da sua morte, pois, dentre todos os filhos, eu, justamente, fui a que mais padeceu com a sua au­sência. Por sua vez, ele próprio, meu pai, ao adoecer, um ano antes, fora avisado de que dentro de um ano seria chamado à pátria espiritual e que, por isso mesmo, se preparasse para o inevitável evento.

Atendendo, or­ganizou papéis de família, pondo tudo em ordem e assim evitando preocupações da mesma após o seu decesso. O aviso, porém, viera através da vidência em vigília, durante a hemorragia nasal que tivera a duração de dezessete horas e que marcara o início da sua enfermi­dade. Tratava-se, portanto, de manifestação espírita, com o aviso premonitório. E os amigos espirituais que então o visitaram foram sua mãe e Charles, a quem ele chamava «Dr. Carlos».

Deduz-se que, com mais frequência, somos adverti­dos dos fatos dolorosos, pois muito mais raras são as notícias que temos de um feliz futuro.

O  fato que a seguir apresentamos, rodeia-se da dramaticidade observada naquele referente à desencar­nação de minha mãe. Dir-se-ia que o guia espiritual informante possuía o mesmo caráter enérgico e positivo de Charles. Todavia, suas particularidades apresentam certa dose de romantismo e beleza — pois existe beleza em tudo isso — de que não desejamos privar o leitor.

*

— Uma amiga de minha família, cujo poético nome era Rosa Amélia S. G., residente em antiga cidade flu­minense, estava para casar-se e encomendara o vestido, para a cerimônia do dia do casamento, a antiga casa de modas «Parc-Royal», do Rio de Janeiro. Faltavam apenas quinze dias para o auspicioso evento quando a feliz noiva, que contava apenas dezoito primaveras, em certa noite sonhou que recebera pelo Correio o volume esperado, com o enxoval. Muito satisfeita, levou-o para o interior da casa, vendo-se rodeada das pessoas da fa­milha, que acorreram, curiosas. Mas, ao abrir a caixa e retirar as peças, o que ela encontrara fora um traje completo para viúva, com o véu negro denominado «cho­rão, como de uso na época para as viúvas recentes. A jovem soltou um grito de horror, fechou a caixa violentamente e despertou em gritos, chorando convul­sivamente. Conservou-se consternada durante uns dois ou três dias. Mas a perspectiva feliz do próximo enlace, os preparativos para os festejos, a presença amável do noivo, que desfrutava boa saúde e se rira muito das preocupações e do nervosismo da prometida, que receava perdê-lo, a tranquilizaram em seguida, fazendo-a esque­cer o (pesadelo). Na semana do casamento, efetivamen­te, chegara o volume pelo Correio, e ela própria o rece­bera, tal como sonhara, não mais se recordando do sonho que tivera e constatando, encantada, a beleza do seu vestido de bodas, que era em cetim branco e todo ornado de flores de laranjeira, e o véu de tule vaporoso e lindo, e a grinalda simbólica. Realizou-se, finalmente, o casamento no sábado seguinte. Dois meses depois, no entanto, o jovem esposo, tendo necessidade de visitar o Rio de Janeiro, adquiriu ali uma infecção tífica, re­gressando a casa, já em estado grave, e morrendo alguns dias depois. E sômente quando já na missa do sétimo dia, foi que a jovem viúva se lembrou do sonho que tivera às vésperas das próprias núpcias, pois que se reconheceu trajada exatamente como o sonho pro­fetizara.

Não fui informada se os trajes da viuvez chegaram pelo Correio, como os do noivado, expedidos pela mesma casa. O de que estou bem certa é que a jovem Rosa Amélia se conservou viúva durante vinte anos. Mas, por essa época, quando a conheci pessoalmente, encontrou aquele que deveria ser o seu verdadeiro esposo, pro­vindo da Europa, pois tratava-se de um estrangeiro, o qual como que era realmente a outra metade do seu coração e que permanecera ausente até àquela data. Casou-se com ele e viveu felicíssima outros tantos vinte anos, talvez mais, e, apesar do romantismo da sua vida, esta foi a expressão de uma realidade que em parte eu mesma presenciei, dela própria ouvindo a descrição do que aqui relato.

*

Dir-se-ia que a técnica espiritual para tais casos permite que se repitam os caracteres dos avisos, pois muitos deles se parecem uns com os outros, como os dois seguintes, que se assemelham, um com o citado pelo escritor espírita Léon Denis, relativo ao anúncio da morte do Presidente Abraão Lincoln, dos Estados Unidos da América do Norte, e o outro com o ocorrido a meu pai durante a noite em que adoecera, implicando não própria-mente um sonho, mas a manifestação espírita através da vidência, com a particularidade de ser uma partici­pação do desenlace já ocorrido:

— A boníssima Senhora B. C. M., residente em certa localidade fluminense, a duas horas de viagem do Rio de Janeiro, era mãe de nove filhos e esperava o décimo para dentro de um mês, aproximadamente. Nada fazia supor, no estado da dita Senhora, uma possibilidade fatal, pois a mesma se sentia bem, encontrava-se sob assistência médica e fora felicíssima em seus partos anteriores. Cerca de um mês antes do décimo sucesso, no entanto, ela sonhou que se encontrava no interior da casa e percebia um movimento desusado na mesma, choro continuado dos seus filhos e irmãos, pessoas tra­jadas de negro entravam na casa e dela saíam, silen­ciosas e consternadas.

Muito admirada, dirigiu-se ao salão de visitas a fim de se inteirar do que se passava, pois o fato insólito enervava-a. Ao chegar àquele com­partimento viu uma eça erguida e sobre ela um caixão mortuário, roxo, rodeado de velas; as paredes cobertas de coroas fúnebres, visitas chorosas e os próprios filhos dela rodeando a eça, desfeitos em pranto. Interrogou então a uma das visitas, mais admirada ainda:

— Que é isso? Quem morreu aqui em casa?

— Olha e vê! — respondeu a visita.

Ela chegou-se à eça, retirou o lenço que velava o rosto do morto e reconheceu-se a si mesma.

Um mês depois a Senhora B dava à luz o seu décimo filho, mas uma circunstância imprevista fê-la abandonar o fardo carnal para atingir as consoladoras estâncias espirituais. Ora, o movimento em sua residência, no dia dos seus funerais, mostrou-se exatamente como o entrevisto du­rante o sonho, consoante descrições dela própria à fa­mília e aos amigos, antes de morrer.

O  outro caso, não menos dramático e real, mostra-se, entretanto, inteiramente diverso, passando-se da se­guinte forma:

— A Senhora N. O. residia em famosa cidade mi­neira, mas fora ao Rio de Janeiro a fim de se submeter a melindrosa operação cirúrgica. Seu filho mais moço, jovem de quinze anos de idade, era aluno de conceituado colégio religioso da cidade, e, deixando-o ali interno, sob os cuidados dos mestres, a Senhora N. O. hospitali­zara-se naquela cidade, então capital da República, sub­metendo-se à necessária operação. Três dias havia que fora operada quando todo o colégio, onde internara o filho, aproveitando uma bela manhã de domingo, visi­tara a represa de água potável, que supria a cidade. Temeràriamente, os cento e vinte jovens, acompanhados dos mestres, pretenderam atravessar, em massa, a frágil ponte de madeira, para uso dos funcionários, a qual se estendia de uma margem à outra da represa. Mas a ponte não resistiu ao peso, ruiu ao meio, atirando às águas numerosos jovens, dentre os quais o jovem Ale­xandre, filho da enferma, que pereceu afogado com mais quatro rapazes. Temerosos de participarem à mãe en­ferma o trágico decesso do seu caçula, os familiares silenciaram, esperando pelo seu restabelecimento. Mas cinco dias depois do desastre, pela madrugada, a enfer­ma, ainda no quarto do hospital, em penumbra, confessa ter distinguido a formação de uma como que «cerração», que inundou o quarto. Ela própria era que narrava:

— Tive a impressão — dizia — de que a cerração se elevava do leito de um grande rio. Meu filho foi-se elevando lentamente, como surgindo do fundo das águas. Reconheci-o e ele me disse:

— Mamãe, venho participar à Senhora que no do­mingo, pela manhã, morri afogado na represa de…

E os familiares nada mais tiveram a fazer senão confirmar o acontecimento à pobre mãe, a qual, ao que parece, mereceu demência dos Céus, pois suportou com heroismo a grande provação.

*

Por minha vez, manifestação do mesmo gênero, mas com perspectivas diferentes, acaba de se apresentar em minha vida de médium praticante, com impressionante realismo:

— Meu irmão Paulo Aníbal, funcionário da Cia. Si­derúrgica Nacional, na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, adoecera gravemente em De­zembro de 1964. Tratava-se de antigo caso de nefrite que se agravara, tomando-o hipertenso com frequentes ameaças de edemas pulmonares e dispnéias muito dolo­rosas. Em Maio de 1965, seu estado se agravara de tal forma que tememos o desenlace imediato. Era ele o irmão caçula dentre uma prole de sete, o mais amado pelos seis irmãos que o viram nascer, e nossa tristeza se acentuava a cada dia que se passava, pois, conquanto a Doutrina Espírita seja consoladora, tornando o adepto compreensivo aos ditames das leis naturais, resignado ante as provações de cada dia, a morte na Terra ainda constitui provação para aqueles que vêem partir seus entes amados para o outro plano da vida, e nenhum de nós ficará, certamente, indiferente ante a perspectiva do inevitável fato.

Eu acompanhava o querido enfermo na sua perma­nência num leito de hospital, onde se viu retido durante treze meses, e a 25 do mês de Maio, pela madrugada, um tanto fatigada pelas inquietações da noite, insone, reclinei-me junto ao leito do enfermo e ligeira sono­lência sobreveio, verificando-se o estado de semitranse, tão próprio ao bom intercâmbio com o Invisível. vi então que minha mãe, falecida havia vinte e seis anos, se aproximava de nós, olhava atentamente o doente e depois se voltava para mim, dizendo com naturalidade:

— Fica descansada e pode repousar. Ele só mor­rerá em Janeiro de 1966.

E meu irmão Paulo Aníbal, com efeito, veio a fale­cer a 18 de Janeiro de 1966.

*

Mas outros avisos existem que trazem felicidade, os quais parecem antes revelações protetoras, encer­rando mesmo caridade para com aquele que os recebe e ainda provando as simpatias que uma pessoa possa inspirar aos seres desencarnados, não obstante ser en­carnada.

Alguns desses avisos, tal o que em seguida aqui relataremos, dir-se-iam como que intrigas, ou male­dicência, mas, se analisarmos o fato na sua verdadeira estrutura, constataremos que, em vez de intrigas, eles demonstram antes o espírito de justiça e de proteção ao ser mais fraco. Um exemplo bastará para meditar­mos todos, não só sobre a necessidade de nos dedicarmos ao cultivo do verdadeiro Espiritismo, cheio de vigor e sutis belezas, a fim de o praticarmos nobremente, tal como deve ser, como também sobre a cautela que nos cumpre observar ao decidirmos dar certos passos graves em nossa vida de relação, pois, conforme ficou dito, nem todas as provações que experimentamos na Terra foram programadas como necessidade irremovível da nossa jornada.

Muitas aflições, desgostos e sofrimentos são antes o fruto das inconsequências do momento, a displicência dos nossos atos sob a ação da nossa exclu­siva vontade livre, na presente existência.

— Uma jovem espírita do meu conhecimento, resi­dente em Minas Gerais, era médium e possuidora de grande espírito de caridade para com os Espíritos sofredores desencarnados. Sua ternura afetiva para com os obsessores, os suicidas, os endurecidos do mundo invisível, era comovente e digna de ser imitada. Ela os cercava de proteção e amor, orando por eles diàriamente, em súplicas veementes; lia trechos da Doutrina Espírita e do Evangelho, convidando-os a ouvi-la, com­partilhando da sua comunhão com o Alto; oferecia dá­divas aos órfãos, aos velhos e aos enfermos em home­nagem a eles mesmos, enfim, era coração sentimental e romântico, até na prática da Doutrina dos Espíritos, pois que lhes oferecia flores colhidas do seu jardim, assim como cultivava com as próprias mãos canteiros de margaridas, de rosas e de violetas, que lhes oferecia em prece afetuosa, dizendo-lhes em pensamento, enquan­to revolvia a terra ou espargia água sobre os arbustos:

— Vinde, meus queridos irmãozinhos, e vêde: Estas flores são vossas, cultivo-as para vós.

Vêde como Deus é bom e generoso, que, valendo-se de um pequeno es­forço nosso, permite que do seio misterioso da terra despontem estas lindas dádivas para o encantamento da nossa vida.

Tudo é belo, bom e generoso dentro da Natureza e ao nosso derredor, desde o Sol, que nos alumia e aquece, protegendo-nos a vida, até a terra, que nos presenteia com os frutos da sua fecundidade. Porque somente nós havemos de ser maus? Pratiquemos antes de tudo o que for belo e agradável, saibamos cultivar o amor em nossos corações para com todas as coisas, e veremos que tudo sorrirá em volta de nós, tornando-nos alegres e felizes, com horizontes novos em nossos des­tinos para conquistas sempre maiores e melhores.»

Ora, assim como os nossos maus pensamentos rea­gem em nosso próprio desfavor, infelicitando-nos, por atraírem correntes espirituais negativas, assim também os pensamentos bons, um sentimento suave, uma atitude afável reagirão benevolamente, atraindo correntes amo­rosas que nos suavizarão as peripécias de cada dia. E assim como as nossas más ações são vistas pelos desencarnados, atraindo os de ordem inferior para o nosso convívio diário, até, por vezes, ao extremo de uma obsessão, assim também as nossas atitudes boas igual­mente os alcançarão, atraindo os bons para o nosso convívio diário e reagindo sobre os inferiores por lhes tolher as tentativas menos boas contra nós, e reedu­cando-os com os nossos exemplos. A jovem em questão tornou-se, certamente, benquista no Além-Túmulo, mes­mo nas regiões menos felizes, em vista da dedicação demonstrada para com os sofredores, os quais passaram a estimá-la, nela reconhecendo uma amiga, uma abne­gada protetora. Graças à sua bondade, tomou ascen­dência sobre aqueles infelizes que se encontravam no seu raio de atividades mediúnicas, os quais gostariam de um dia lhe poderem demonstrar igualmente amizade e gratidão. O certo foi que essa jovem, cujo nome era Márcia, enamorou-se de um varão, o Sr. R.S.M., ao qual, no entanto, conhecia superficialmente, e tornou-se sua prometida quando foi por ele pedida em casamento. Dadas as circunstâncias prementes da sua vida, pois a jovem Márcia era órfã e sofria a angústia da própria situação social, visto não poder contar com sólida pro­teção de qualquer membro da família, entendeu ela que o matrimônio solveria todos os problemas que a afligiam, e que aquele homem, que tão dedicado se mostrava, seria, com efeito, o amigo dileto que o Céu lhe enviava para seu protetor na Terra, bênção que a consolaria de todos os desgostos por que vinha passando na sua qualidade de órfã pobre. Era sincera e agia certa de que o noivo também o era, sentimental e romântica, mes­clando todos os atos da própria vida com os delicados matizes do próprio caráter. Cerca de quinze dias após a oficialização do compromisso, no entanto, entrou a sonhar que um grupo de Espíritos de humilde categoria do Espaço, ou antes, de categoria moral sofrível, me­díocre, avisava-a contra as intenções do prometido e da espécie negativa do seu caráter, como das próprias ações da sua vida particular.

— É um hipócrita! — exclamavam em conjunto, indignados, apontando para o pretendente, que durante os sonhos aparecia a seu lado. — um hipócrita, capaz de todas as vilezas! Supõe-te herdeira de uma fortuna e é o interesse, ünicamente, que o move… Ele não te ama, pois é caráter incapaz de amar ninguém… e se insistires nesse compromisso grandes desordens afli­girão a tua vida sem razão de ser…

E passavam a enumerar as más qualidades do Sr. R.S.M. e a série de deslizes por ele já praticados.

Das primeiras vezes que tal sonho adveio, a jovem Márcia atribuiu-o às suas próprias preocupações e até a mistificações de Espíritos perturbadores, que deseja­riam prejudicá-la. Mas porque o mesmo se repetisse com insistência, impressionou-se de tal forma que providen­ciou melhores averiguações em torno do individuo a quem confiaria a própria vida, constatando então a jus­tiça dos avisos contidos nos sonhos que tivera, avisos que só poderiam partir de corações sensatos e amigos. O compromisso foi rompido… e a jovem espírita con­tinuou na sua doce tarefa de aconselhar os necessitados do mundo astral com as manifestações da sua ternura toda espiritual e evangelizadora…

 *

 Finalmente, concluindo a exposição, que já vai longa, o mais interessante de quantos sonhos premoni­tórios me advertiram, ocorrido em minha juventude, quando já eu adotara convictamente os compromissos com a Doutrina Espírita e os dezoito anos floresciam repletos de sonhos e aspirações ternas e lindas. Trata-se de uma parábola por mim vivida sob as sugestões da entidade espiritual designada para a advertência que me deveria fortalecer para renúncias muito dolorosas e difíceis, a tempo de maiores dissabores não infelicita­rem ainda mais os dias de minha existência.

Como ve­remos, a técnica usada pelos instrutores espirituais, a fim de me profetizarem as lutas e os sofrimentos por que eu deveria passar, foi semelhante às das demais premonições e também idênticas às encenações vividas para o recebimento dos livros românticos que me foram concedidos através da psicografia. É de notar que esse sonho, lúcido por excelência, mostrava cenários tão reais e cenas tão vivas que eu afirmaria que tudo era sólido, material», e não fruto de uma sugestão forte, durante a qual fora criado, pelo poder da vontade mental, O cer­to foi que eu me vi, pelos meus dezoito anos de idade, diante de uma grande ponte em ruínas, que eu deveria atravessar para galgar a margem oposta. Em baixo rolava em turbilhões um rio tenebroso, de águas en­cachoeiradas e revoltas, rugindo e sacudindo a ponte a cada novo embate das águas convulsionadas, que pa­reciam ocasionadas por uma grande enchente. Eu me via lindamente trajada com vestes vaporosas, como de gaze imaculada, que voejavam ao soprar dos ventos que subiam do leito das águas, cabelos soltos e coroada de rosas brancas. A noite, aclarada pelo plenilúnio, era bela e sugestiva, deixando ver o azul do céu e as estre­las que brilhavam, límpidas. Á meu lado percebi uma entidade elevada, que reconheci como sendo Bittencourt Sampaio, envolta em túnica romana vaporosa e luci­lante, e coroada de louros, como os antigos intelectuais romanos e gregos.

E ele dizia:

— «Será necessário que atravesses… É o único re­curso que tens… Serás auxiliada…»

Pus-me a chorar, desencorajada, pois. se ensaiava entrar na ponte, esta oscilava com o meu peso. Ele, então, Bittencourt Sampaio, tomou do meu braço, am­parando-me, e repetiu:

— «Vamos, sem temor! Tudo consegue. aquele que quer! Não sabes que «a fé transporta montanhas»? Serás ajudada, confia! »

Assim amparada, atravessei a ponte, timidamente, desfeita em lágrimas, enquanto as águas rugiam em baixo, ameaçando tragá-la e também a mim. A cada passo novas oscilações da ponte, cujo soalho em ruínas me deixava entrever o abismo que corria sob meus pés. Em chegando ao lado oposto, lembro-me ainda de que o grande amigo repetiu o aviso do futuro que me es­perava, o que não constituía novidade para mim, por­que outras profecias já eu tivera sobre o assunto:

— «É o único recurso que terás para poder vencer:

       Dedicar-se ao Evangelho do Cristo de Deus, à Doutrina dos Espíritos. Nada esperes do mundo, porque o mundo nada terá para te conceder. És espírito culpado, a quem a demência do Céu estende a mão para se poder reer­guer do opróbrio do pretérito. Não conhecerás o matrimônio, não possuirás um lar, e espinhos e lutas se acumularão sob teus passos… Mas, unida a Jesus e à Verdade, obterás forças e tranquilidade para tudo su­portar e vencer…»

Com efeito, a premonição realizou-se integralmente, dia a dia, minuto a minuto: minha existência há sido travessia constante sobre um caudal de dores que o Consolador amparou e fortaleceu.

 *

        Muitos outros exemplos poderíamos citar. Esse ca­bedal copioso, que todas as criaturas colhem do círculo das próprias relações de amizade ou da observação, po­deria resultar em um ou mais volumes interessantes, para deleite dos estudiosos dos fatos supranormais. Mas os que aqui foram colecionados, apesar de não oferece­rem novidades, pois esses fatos são comuns, bastam para lembrar a todos nós que, acima de tudo, eles nos oferecem grandes demonstrações da verdade eterna, que não convém desprezarmos, manifestações do mundo es­piritual, o qual se entrechoca e se relaciona conosco, tomando parte em todos os sucessos de nossa vida. Provam, ao demais, a existência da alma além da morte, suas complexas possibilidades, sua individualidade mar­cante após o desprendimento dos liames carnais, os di­reitos que lhe são concedidos, pela lei da Criação, de se entender com os homens, com estes mantendo rela­ções afetivas ou protetoras; seu humanitário interesse pelos mesmos, os novos poderes por ela adquiridos de­pois da morte; o amparo que nos dispensam aqueles caridosos seres que, com seus avisos às vésperas das nossas provações ou dos grandes acontecimentos que nos surpreendem, nos preparam para os embates inevitáveis da existência, prontos a suavizarem quanto pos­sível as dores dos nossos testemunhos. E de tudo tam­bém ressalta que uma Doutrina assim completa, como o é o Espiritismo, assim perfeita, que se rodeia de beleza nos mínimos detalhes examinados, realmente merece do nosso coração muita renúncia e devoção para que seja bem estudada, compreendida e praticada, pois o certo é que não será licito a nenhum de nós encarar com indiferença o alto padrão dessa Ciência Celeste que em hora feliz adotAmos para, sob suas diretrizes, atingirmos a finalidade gloriosa a que a Criação Suprema nos destina.

(Yvonne do Amaral Pereira, médium, Bezerra de Menezes, Espírito. Recordações da Mediunidade, c.9)

4º ano – aula 07

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 4º Ano – Aula 7 – Laboratório do Mundo Invisível

Objetivo:

Dotar os alunos de subsídios para melhor compreenderem e diferenciarem os vários tipos de fenômenos de efeito físico.

Tema: Ectoplasma.

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns” – cap. 8 (Laboratório do Mundo Invisível);

Allan Kardec, “A Gênese” – cap. 15 – itens 41, 44, 56 a 67;

(*) Hernani G. Andrade, “Espírito, Perispírito e Alma”, cap. 8;

(*) Zalmino Zimmermann, “Perispírito”,  cap. 11, pg. 282 a 291;

(*) F.C.Xavier, André Luiz. “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 28;

(*) Martins Peralva. “Estudando a Mediunidade”,  cap. XLII, XLIII e XLIV.

 Introdução

A partir do conteúdo estudado na última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-O que você entende por fenômenos anímicos?
2-Qual a relação entre as faculdades mediúnicas e o animismo?
3-Quais foram os precursores no estudo do animismo?
4-Cite alguns exemplos de fenômenos anímicos.

1-Recordando os Fluidos

1-1-Fluidos: “Chamamos fluidos aos estados da matéria em que ela é mais rarefeita do que no estado conhecido sobre o nome de gás.”

 (Gabriel Delanne. “O Espiritismo Perante a Ciência”, Rio de Janeiro, FEB,1993, 2 ª ed., p.281)

1-2-Fluido Cósmico Universal (FCU): Matéria elementar, primitiva, forma tudo o que há de material no universo, desde os objetos mais sutis até os mais tangíveis e densos.

O fluído cósmico que liga a criação ao criador, é fonte inexaurível, sempre ao alcance de todas as criaturas. É nele que a nossa mente espiritual busca e encontra a quintessência energética de que se sustenta, e é a partir dele que elabora a matéria mental que expede através do pensamento, sob a forma do fluído mentomagnético.” (Hernani T. Sant’Anna, médium, Espírito Áureo.“Universo e Vida”, FEB, 1994, 4ª ed., c.5,p.102)

1-3-Fluido Vital (FV): É o responsável pela força motriz que movimenta os corpos vivos.

2-Manipulação dos Fluidos

Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.

Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (Kardec, “A Gênese”, c. 14, it. 13 e 14)

3-Algumas Características dos Fluidos:

-Podem ser moldados pelo pensamento e pela vontade do Espírito;

-Podem variar entre o estado mais sutil e etéreo até o mais adensado e tangível;

-Combinam-se com a atmosfera e as características dos diferentes seres e mundos;

-Capacidade de transmitir vibrações, ondas, cargas elétricas etc.

4-Os Fluidos nas Manifestações Espirituais

-Fluidos Espirituais: Aqueles doados pelos Espíritos;

-Fluidos da Natureza: Fluidos encontrados no mundo, por exemplo, no orbe terrestre, em suas plantas, atmosfera, águas etc.;

-Fluidos do Médium: Fluidos com que a pessoa encarnada contribui para uma combinação fluídica e seus efeitos, durante o intercâmbio mediúnico.

5-Efeitos da Manipulação Fluídica:

-Vestuário dos Espíritos;

-Fenômeno de Voz Direta (Pneumafonia);

-Fenômeno de Escrita Direta (Pneumatografia);

-Formação Espontânea de Objetos Tangíveis;

-Modificação de Certas Propriedades da Matéria;

-Ação Magnética Curadora.

6-Ectoplasma e Materializações

Ectoplasma é o nome que se dá ao fluido, de natureza psicossomática, oriundo dos médiuns de materialização, e do qual se servem os Espíritos para tornar-se visíveis e tangíveis aos olhos e ao tato humanos. (Luciano dos Anjos, Hermínio C. Miranda, “Crônicas de Um e de Outro”, 1975, p. 254)

É matéria viva no seu estado mais indiferenciado, é notadamente sensível à ação do pensamento.(Jayme Cerviño, “Além do Inconsciente”, 1989, p. 182)

Substância incolor, ligeiramente vaporosa, fluida, sem cheiro, traços de detritos celulares e saliva.(Hermínio C. Miranda, “Reencarnação e Imortalidade”, 1991, p. 146)

No fenômeno da materialização, tão estudado pelo famoso físico inglês Willian Crookes e pelo prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, Charles Richet, os Espíritos tornam-se visíveis e palpáveis a todos os presentes à sessão de estudos. São percebidos e tocados em seus corpos espirituais. (…)

Embora a essência espiritual não tenha forma, pois é o princípio inteligente, os Espíritos possuem um corpo espiritual anatomicamente definido e com uma fisiologia própria da dimensão extrafísica.(…)

A energia cósmica universal ou fluído cósmico que banha ou permeia todo o universo é a matéria-prima que o comando mental dos Espíritos utiliza para a constituição dos objetos por eles manuseados. A este respeito, encontramos informações mais detalhadas reunidas por Kardec em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo – Do Laboratório do Mundo Invisível. (Ricardo di Bernardi, “Saúde e Anatomia do Corpo Espiritual” apud Portal do Espírito, www.espirito.com.br).

BIBLIOGRAFIA: Therezinha Oliveira, “Fluidos e Passes”, c.9; F.C.Xavier, André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, c.7.

4º ano – aula 06

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

4º Ano – Aula 6 – FACULDADES ANÍMICAS

Objetivo:

  • Informar ao aluno que todo o processo mediúnico apóia-se no sentido estrito do animismo (psiquismo) do médium, preparado para captar ou dar passagem ao pensamento do comunicante com possibilidade de sua interferência e explicar que fenômeno anímico, no sentido mais amplo, abrange todas as manifestações da alma, esclarecendo que os fenômenos anímicos e mediúnicos procedem de uma mesma causa: o espírito, diferenciando transe anímico do mediúnico.

Temas/ Bibliografia:

Animismo      e mediunidade:  fronteiras:   Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”,     cap. 24 – itens 224 e 225 e cap. 15 – itens 180 e 214;
Transe mediúnico e transe anímico: fronteira:      Divaldo P.Franco, “Mediunidade,  encontro com Divaldo”, MM Editora;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Mecanismo da Mediunidade”, cap. 23;
(*) Zalmiro Zimmermann, “Perispírito”.

Introdução
A partir do conteúdo estudado a última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como se dá a vidência?
2-Quais os tipos de médium vidente?
3-Toda ocorrência de vidência mediúnica é igual? Explique.
4-Qual é a importância da análise crítica das comunicações mediúnicas?

“Todas as percepções constituem atributos do Espírito e lhe são inerentes ao ser. Quando o reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam, porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.” (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, q. 249, item a.)

Os fenômenos anímicos e os espíritas

Segundo alguns autores, fenômenos espíritas seriam apenas os produzidos pêlos “mortos”; os produzidos pêlos “vivos” seriam os fenômenos anímicos.

Para Kardec, porém, “Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer durante a encarnação, quer no estado de erraticidade”. (Allan Kardec, “A Gênese”, cap. XIII, item 9.)

Em princípio, pois, os fenômenos espíritas englobam todos os fenômenos produzidos por ação de um espírito, quer encarnado, quer desencarnado.

Ao serem classificados quanto ao seu agente, os fenômenos espíritas poderão ser denominados de:

Fenômeno mediúnico: o produzido por um espírito desencarnado, através do concurso de um médium.

Fenômeno anímico: o produzido pelo encarnado com suas próprias faculdades espirituais, sem o uso dos sentidos físicos, graças à expansão do seu perispírito.

Quanto maior o grau de expansão do perispírito, mais expressivo poderá ser o fenômeno anímico, pois o encarnado passará a desfrutar de maior liberdade em relação ao corpo, agindo mais como um espírito liberto.

O estudo dos fenômenos anímicos

Alexandre Aksakof (sábio russo, primeiro a empregar o termo animismo); Charles Richet (criador da Metapsíquica), catalogou os fenômenos anímicos, dando-lhes denominação especial; Ernesto Bozzano (que afirmou “O animismo prova o Espiritismo”, nas conclusões do seu livro “Animismo ou Espiritismo?”).

 

Exemplos de fenômenos anímicos

 

l) Telepatia: É a transmissão ou recepção de pensamento à distância.

Termo composto das palavras gregas pathos (impressão exercida sobre a alma) e tele (que traduz distância), portanto: impressão exercida sobre a alma à distância.

Foi proposto por Frederic Myers, em 1882, e adotado nos tra­balhos da Societyfor Psychical Research (Londres).

Fenômeno conhecido pela humanidade desde as épocas mais remotas, não há quem não o tenha experimentado, ocasionalmente.

Nos tempos modernos, os estudos a respeito da telepatia apareceram ligados ao magnetismo e ao hipnotismo, na França (a partir de 1825). Atualmente, a Parapsicologia a inclui entre os fenômenos “psigama”.

Como se explica que duas pessoas, perfeitamente acordadas, tenham instantaneamente a mesma idéia?

São dois espíritos simpáticos que se comunicam e vêem reciprocamente seus pensamentos respectivos, embora sem estarem adormecidos. (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, q. 421.)

A rigor, a telepatia está entre os fenômenos anímicos. De encarnado para encarnado. Mas, no meio espírita, o conceito está se estendendo para o intercâmbio com o Além.

“(…) realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.” (F.C.Xavier/André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”.)

Porém, se for com desencarnados, ou sob estímulo deles, o fenômeno será mediúnico.

2) Clarividência e clariaudiência: Visão e audição sem o concurso dos olhos ou dos ouvidos, mesmo à distância e mesmo através de corpos opacos.

3) Ação sobre a matéria: Capacidade de movimentar objetos ou modificar substâncias, sem contato aparente e mesmo à distância.

Em parapsicologia se denomina psicocinesia, com as variedades de telecinesia, pirocinesia e levitação.

Ex.: Nina Kulagina, Uri Geller, fenômenos de combustão espontânea.

4) Ideoplastia: Projeção de imagens e até sua “materialização”.

Ex.: Ted Serios – obtinha fotografia de formas de pensamentos; estaria conseguindo impressionar as chapas fotográficas. Dr. Jule Eisenbud, professor da Universidade do Colorado, relatou, no seu livro “The World of Ted Serios”, série de experiências feitas com esse sensitivo, nos laboratórios daquela Universidade.

5) Bicorporeidade: Perispírito, em desdobramento, se tornando visível e, às vezes, tangível, inclusive à distância do corpo físico.

6) Precognição e retrocognição: Conhecimento prévio ou posterior de acontecimentos sem a possibilidade de acesso material aos fatos pêlos sentidos comuns.

Todos estes fenômenos são anímicos, desde que na sua produção não intervenham de alguma maneira outros espíritos, só o do próprio encarnado.

 

Animismo e mediunidade

 Ao lado dos fenômenos mediúnicos, ocorrem também os fenômenos anímicos, muitas vezes produção inconsciente dos médiuns.

“(…) é extremamente importante reconhecer e estudar a existência e a atividade desse elemento inconsciente da nossa natureza, nas suas variadas e mais extraordinárias manifestações, como as vemos no Animismo”, alerta Aksakof.

Podemos isolar o animismo da mediunidade, no fenômeno mediúnico?

Dificilmente, porque:

1) São as próprias faculdades anímicas dos médiuns que os fazem instrumento para as manifestações dos espíritos.

2) Nem sempre podemos definir, com exatidão, quando o fenômeno está ou não sendo provocado ou coadjuvado por espíritos.

Dessa íntima relação entre Animismo e Espiritismo, diz Bozzano: “Nem um, nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fenômenos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa única é o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espiríticos” (Leia-se, mediúnicos.)

 

BIBLIOGRAFIA: Thezinha Oliveira, “Mediunidade”.

Nina Kulagina


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=L61RptUUEqU&w=420&h=315]

Uri Geller
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=M9w7jHYriFo&w=420&h=315]
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Vidência ou Visão dos Espíritos

 CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 VIDÊNCIA

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”, cap. 14 (Médiuns Auditivos) – item 165; cap. 14 (Médiuns Videntes) – item 167; e cap. 6 – item 100 – q. 16, 26, 28 e item 105;
Eliseu Rigonatti, “A mediunidade sem lágrimas”;
(*) Marlene Nobre, “O Dom da Mediunidade”, parte III – item 24;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Mecanismos da Mediunidade”,  cap. 20;
(*) F.C.Xavier, André Luiz, “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 14.

Introdução

A partir do conteúdo estudado na última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como se dá a interação entre a entidade comunicante e o médium?
2-Toda mediunidade audiente é semelhante? Explique.
3-Quais são os tipos de mediunidade escrevente?
4-Explique os tipos de psicofonia?
5-Qual o papel da sintonia nas comunicações mediúnicas?
6-O que é o ajuste de vibrações na mediunidade?
7-Quais são as qualidades de um bom médium?

  

OS INSTRUMENTOS DA MEDIUNIDADE

A mediunidade é uma faculdade humana que envolve diversos instrumentos das esferas intelectuais, morais, espirituais e materiais.
No âmbito intelectual, temos o preparo e o estudo. As leituras necessárias são, antes de tudo a Codificação de Kardec, e, a seguir, obras dos autores devidamente afinados à Doutrina, como Gabriel Delanne, Leon Denis, Ernesto Bozzano.
No viés moral, sobressai a conduta moralizada do médium. O médium precisa ter consciência de que é exemplo de moralidade, dentro e fora das atividades medianímicas. Sem se deixar incorrer na afetação, deve preservar-se de vícios, por menores que sejam, e de vida social intensa.
As ferramentas espirituais da mediunidade podem ser ilustradas pela fé, sendo esta raciocinada, robusta
“A fé robusta nos confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas.” (Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, c.XIX, it.2)
E também há os aspectos materiais. O médium deve viver consoante o trabalho honesto, dentro de suas possibilidades, evitando sempre a ambição imoderada e se lembrando de que o homem não é mais do que um mordomo dos bens que lhe confere o Senhor.

OS MÉDIUNS VIDENTES

Faculdade da pessoa encarnada que, em estado normal e perfeitamente desperta, vê os Espíritos, mesmo que estes não tenham a intenção de ser vistos. A vidência não é contante, ocorrendo de forma momentânea e passageira.
A mediunidade, como diz André Luiz, é sintonia e filtragem. Assim, cada mente tem uma capacidade peculiar de percepção dos fenômenos. O mesmo contato medianímico pode ser percebido de maneiras diversas por um mesmo grupo mediúnico. Para certo médium, pode parecer um vulto, para outro, uma forma feminina, e outro, ainda, pode identificar o Espírito de uma mulher, descrevendo inclusive aspectos fisionômicos, trajes e detalhes bem minuciosos.
Segundo Divaldo P. Franco, na obra de co-autoria com Raul Teixeira, “Diretrizes de Segurança”, a utilidade da vidência é a de desvelar os painéis do mundo espiritual, sabendo observá-los, e, melhor ainda, mantendo discrição no traduzi-los, para não a transformar num informativo de leviandades.
Há três tipos de médium vidente:
1-médiuns videntes que vêem, tanto com os olhos abertos como com eles fechados;
2-médiuns que vêem somente com os olhos abertos;
3-os médiuns de visão mental.
No primeiro caso, é o perispírito do médium que recebe a imagem do espírito. Assim, o médium tanto pode estar com os olhos abertos como com eles fechados que verá os espíritos. A visão não lhe chega através dos olhos e sim através do perispírito. Estes médiuns são chamados clarividentes e a mediunidade que possuem chama-se clarividência. São raríssimos.
No segundo caso, a causa da vidência reside nos olhos do médium. Os olhos se tornam sensíveis sob a ação fluídica do espírito que se quer deixar ver e, nesse estado de sensibilidade ótica, o médium o vê em pensamento.
Os médiuns videntes são raros e a vidência nunca é permanente. Geralmente é uma mediunidade de curta duração.
Os médiuns videntes facilitam o estudo do mundo espiritual pelas descrições que fazem de seus habitantes. Entretanto, é preciso muito cuidado para que não sejamos vítimas da imaginação.

Considerações necessárias

 
Ensina-nos Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte – Questão 167:
O médium vidente acredita ver pelos olhos físicos; mas na realidade é a alma quem vê, e essa é a razão pela qual vêem tão bem com os olhos fechados como com os olhos abertos.
Martins Peralva, em “Estudando a Mediunidade”, assevera: Quantas vezes, tentando sustar uma visão desagradável, produzida por um Espírito menos esclarecido, o médium fecha os olhos e, quanto mais aperta, a visão se torna mais nítida e melhor se definem os contornos da entidade?
Bastaria isso, para a comprovação plena de que pela vidência não se vê os espíritos com os olhos corporais. Como disse Kardec, o médium vê através da mente, que, nesse caso, funciona à maneira de um prisma, de um filtro que reflete, diversamente, quadros e impressões, idéias e sentimentos iguais na sua origem.
Como desenvolver a mediunidade vidente:
Aos que já perceberam indícios de possuir este tipo de sensibilidade mediúnica, podem desenvolver esta mediunidade, procedendo-se, segundo Eliseu Rigonatti, em “A Mediunidade sem Lágrimas”, da seguinte maneira: concentrados, procurando ver, ora com os olhos abertos ora com eles fechados.
Depois de continuados exercícios, começaremos a perceber qualquer coisa, como que uma névoa rala e luminosa; essa névoa, aos poucos, adquirirá forma até que distinguimos os traços dos espíritos que estão presentes.
A visão mental se apresenta ao médium como se ele estivesse revendo alguém em pensamento. A princípio são apenas imagens vagas, que se tornarão nítidas à medida que o desenvolvimento progride.

Mundo material e sua estrutura

 

(Joseph Wright of Derby, “O alquimista descobrindo o fósforo”, 1771) (Reprodução)

Átomo Divino

Se você, leitor amigo, queimar lenha, observará vários fenômenos, que ocorrem na combustão:

Chamas – o fogo a se expandir.

Estalos – a água a ferver.

Fumaça – o ar a se agitar.

Cinzas – a terra a absorver.

Teríamos, portanto, quatro elementos primordiais:

Fogo, água, ar e terra.

Essa a teoria de Empédocles (490-430 a.C.), filósofo grego. Concebia que, a partir deles, ocorrem todos os fenômenos físicos e se formam os todos seres da Natureza, na fauna e na flora.
Deu o nome de raízes a esses elementos.
De suas combinações tudo nasceria e pereceria.
Empédocles pode ser considerado um precursor da teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882), que situa o aparecimento do Homem como a culminância de longa jornada evolutiva.
Teve início com o esfriamento da crosta terrestre e o aparecimento de organismos elementares que se desenvolveram em complexidade ao longo de bilhões de anos, até atingir a complexidade necessária ao aparecimento do homo sapiens.
Para um arranjo melhor de sua teoria, faltou a Empédocles assimilar as idéias de Demócrito (460-370 a.C.), seu contemporâneo, que dizia ser a matéria constituída de microscópicas partículas – os átomos.
Ar, fogo, terra e água seriam arranjos atômicos e não elementos básicos da matéria.

***

Além de estudioso dos fenômenos naturais, Empédocles era uma alma sensível.
Guardava poética visão do Universo.
Imaginava que os quatro elementos combinam-se ou se separam, a partir de duas forças imutáveis – o amor e o ódio.
Representam a convergência e a divergência, o bem e o mal.
A Doutrina Espírita nos oferece uma visão mais realista.
Os fenômenos naturais, mesmo aqueles que implicam em desagregação, como a morte, não se subordinam aos embates de forças antagônicas, agregadoras ou desagregadoras.
Obedecem à regência de leis divinas, segundo os desígnios insondáveis do Criador.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec concebe, sob inspiração dos mentores que o assistiam, uma Lei de Destruição que é sinônimo de renovação.
A questão 728 esclarece:

Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e a melhoria dos seres vivos.

Nesse contexto, a única força desagregadora é o ser pensante da Criação, quando pretenda sobrepor-se aos desígnios divinos, enveredando por tortuosos caminhos de rebeldia.
Compromete-se, então, com sentimentos negativos como o ódio, a ambição, a inveja, o ciúme, passíveis de conturbar o ambiente em que se situa e aqueles com quem se relaciona.
Mas, ainda que detenha atilada inteligência e optando por guerrear a obra divina, assumindo a postura de um ser demoníaco, o Espirito jamais supera os limites de sua condição – a criatura diante do Criador, o relativo subordinado ao Absoluto.

***

Os átomos que compõem um pedaço de madeira podem arder em chamas, entrar em ebulição, difundir-se no ar, derramar-se em cinzas na terra, mas permanecerão íntegros em sua essência, aptos a compor outras formas.
Também o Espírito, ainda que se deixe arder em paixão, ferver em desatino, expandir-se em inconseqüência ou reduzir-se à indiferença, jamais perderá sua condição de átomo divino, destinado a brilhar na glória da Criação, sob as bênçãos de Deus.
Como tal, é regido por leis soberanas que disciplinam suas emoções e renovam suas idéias, reajustando seus caminhos e reconduzindo-o aos roteiros do Bem.
Assim, mesmo os seus desatinos acabarão por funcionar em seu próprio benefício, porquanto colherá sempre as conseqüências de suas iniciativas.
Aprenderá, à custa de sofrimentos e dores, a corrigir seus impulsos, ajustando-se à harmonia do Universo para atingir sua destinação suprema:

Co-participante na obra divina, filho perfeito de Deus!

RICHARD SIMONETTI, in “Luzes no Caminho”.

Psicografia e Psicofonia – a Escrita e a Fala na Comunicação Mediúnica

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

PSICOGRAFIA E PSICOFONIA

Introdução
A partir do conteúdo estudado a última aula, procure refletir a respeito dos seguintes pontos:
1-Como você definiria uma casa espírita?
2-Como deve ser a sala e trabalho mediúnico?
3-O que ocorre durante a atividade mediúnica?
4-A disciplina e o preparo de trabalhadores e frequentadores do grupo mediúnico é imprescindível. Como você pode exemplificar as possíveis interferências à tarefa do grupo medianímico?
5-Segundo André Luiz, há faixas magnéticas protetoras aos trabalhos mediúnicos. De que se trata?
6-No passado, muitos denominavam a atividade mediúnica kardecista como “mesa branca”. Comente.

 

MÉDIUNS PSICÓGRAFOS E PSICOFÔNICOS

A interação medianímica se vale dos recursos perispirituais do médium, da receptividade de certas regiões de seu corpo físico, como pontos especiais do córtex cerebral, seus plexos ou centros de força, braços, mãos, garganta ou boca.  A partir da interação fluídica do perispírito da entidade comunicante com as áreas mais sensíveis e propícias do médium, dar-se-á o tipo de mediunidade externada pelo trabalhador encarnado.

1-MÉDIUNS AUDIENTES

1.1-Os que ouvem a voz dos Espíritos, como se estivessem ouvindo a fala de uma pessoa. Ação  sobre o cérebro e nervos auditivos do médium.

1.2-Os que ouvem a voz dos Espíritos dentro de si mesmos. Voz interior. É muito comum.

 

2-MÉDIUNS ESCREVENTES

Ação sobre porção do córtex cerebral ou ao braço e à mão.

2.1-MECÂNICOS: Não sabem o que os Espíritos escrevem durante a manifestação. São raros.

2.2-SEMI-MECÂNICOS: Sabem o que os Espíritos escrevem, à medida que se formam as palavras. São comuns.

 

3-MÉDIUNS FALANTES

Ação do Espírito sobre o aparelho vocal do médium ou a partir do córtex cerebral vinculado à fala.

3.1-CONSCIENTES: Sabem o que o Espírito manifestante está falando, à medida que as palavras estão sendo ditadas. Estes médiuns são comuns.

3.2-INCONSCIENTES ou SONAMBÚLICOS: Não sabem o que o Espírito manifestante diz.

 

4-MÉDIUNS INTUITIVOS

Os intuitivos captam os pensamentos e sentimentos dos Espíritos. Não sofrem o mesmo envolvimento que ocorre com os médiuns audientes.

O Mecanismo das Comunicações

1-SINTONIA: Entendimento, harmonia, compreensão de idéias; Familiaridade (intelectual, cultural, planetária, quadros mentais); Mesma faixa de pensamento e vontade; Harmonia psíquica; afinidade. Duas pessoas sintonizadas estarão, evidentemente, com as mentes perfeitamente entrosadas, havendo, entre elas, uma ponte magnética a vinculá-las, imantando-as profundamente.

2-RESSONÂNCIA: Frequências vibratórias coincidentes; Formação de uma corrente.

3-VIBRAÇÕES COMPENSADAS

Equivalentes tanto no médium quanto no Espírito comunicante;

Compensação: redução ou aumento da frequência vibratória;

Redução do padrão vibratório: Espírito superior se impregna de matéria sutil colhida no próprio ambiente;

Elevação do tom vibratório: o Espírito usará sua própria concentração para elevar suas vibrações.

Os Espíritos podem ver no íntimo de cada indivíduo seus pensamentos, suas preocupações, suas dores e desilusões. Quando um Espírito superior toma um médium e se dirige aos ouvintes sabe exatamente quais os pontos a abordar. E depois de lhe ouvirmos a sábia exortação, quantos pensamentos tristes se dissiparam; quantas preocupações desapareceram; quantas dores se mitigaram; quantas desilusões se esqueceram; quantas esperanças se renovaram!

Se tu, meu irmão ou minha irmã, possuís a mediunidade falante, roga ao Pai que a transforme em fonte de consolo para todos os que sofrem.

Eliseu Rigonatti

Leitura Complementar:

Qualidades de um bom médium

Rigorosamente falando, os bons médiuns são raros.

A maioria, geralmente, apresenta um ou outro defeito que lhes diminui a qualidade de bons.

O defeito, por pequeno que seja, é sempre de origem moral. Entretanto, o médium que reunir as cinco virtudes seguintes pode ser qualificado de bom: SERIEDADE, MODÉSTIA, DEVOTAMENTO, ABNEGAÇÃO e DESINTERESSE.

A seriedade é a virtude que um médium possui de utilizar sua mediunidade para fins verdadeiramente úteis, exercendo-a como um nobre sacerdócio.

A modéstia é a virtude pela qual um médium reconhece que é um simples instrumento da vontade do Senhor e, por isso, não se envaidece nem se orgulha de sua mediunidade.

Não faz alarde das comunicações que recebe, porque sabe que foi apenas um simples intermediário. Não se julga ao abrigo das mistificações e, quando é mistificado, compreende que isso aconteceu em virtude das falhas de seu caráter ou devido a algum erro de sua conduta; procura, então, corrigir-se para afastar de si os espíritos mistificadores.

O devotamento é a virtude pela qual um médium se dedica ardentemente ao benefício de seus irmãos que sofrem. O médium devotado considera-se um servo do Senhor e, por isso, não despreza nenhuma oportunidade de servi-lo, auxiliando a todos quantos necessitam dos cuidados dos espíritos de Deus.

A abnegação é a virtude pela qual um médium leva seu devotamento até ao sacrifício. O médium abnegado não hesita em renunciar a seus prazeres, a seus hábitos, a seus gostos, quando se trata de prestar socorros mediúnicos a quem quer que seja.

O desinteresse é a virtude pela qual um médium dá de graça o que de graça recebeu. O médium desinteressado nem mesmo esperará um agradecimento dos homens.

Eis expostas as cinco virtudes que devemos cultivar,  se quisermos merecer o qualificativo de bons médiuns. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade sem Lágrimas”)

Melhoramento moral e as paixões humanas

As paixões: Uma breve análise filosófica e espírita
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(Eugène Delacroix (1798-1863), “A barca de Dante” (1822))(Reprodução)

Silvio Seno Chibeni

Resumo:

Neste trabalho desenvolve-se um estudo das paixões da alma com base na seção intitulada “Paixões” do capítulo “Da perfeição moral” de O Livro dos Espíritos, bem como em tópicos da obra de René DescartesAs Paixões da Alma.

1. Introdução

Abrindo a seção sobre as paixões de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta: [2]

907. Será intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na Natureza?

Antes de analisarmos a resposta dos Espíritos, detenhamo-nos um pouco sobre a própria questão.

O primeiro ponto a ser notado é que Kardec indaga acerca do princípio originário das paixões, e não delas próprias, ou seja, procura esclarecimento sobre a origem, a fonte de onde promanam as paixões.

A segunda observação importante é que há, na pergunta, uma afirmação categórica: esse princípio do qual provêm as paixões está na Natureza, isto é, faz parte da ordem natural das coisas.

Ora, o conceito ordinário de paixão, adotado pelo homem comum, traz consigo uma conotação negativa evidente: associa-se paixão a desequilíbrio, tumulto emocional ou desvios patológicos do sentimento, sendo mesmo freqüente ouvir-se frases como ‘Isto não é amor, é paixão’, ou ‘Fulano está cego de paixão’.

A questão proposta por Kardec motiva-se exatamente pelo conflito entre essa acepção vulgar do termo ‘paixão’ e a análise filosófica das paixões (de que trataremos na seção seguinte), que indica serem elas provenientes de causas naturais. Considerando que tudo aquilo que pertence à ordem natural obedece a uma sabedoria e a uma bondade supremas, tendo, em outras palavras, sido instituído por Deus, como poderia essa fonte sábia e boa levar, em última instância, a sentimentos intrinsecamente maus?

Vejamos o que respondem os Espíritos:

“Não, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.”

A resposta corrobora, portanto, aquilo que está implícito na afirmação de Kardec: o princípio originário das paixões é bom, tendo sido “posto no homem para o bem”. O mal que vulgarmente se associa às paixões é o resultado de uma distorção do sentimento original. Do contexto é justo depreender que essa distorção corre por conta do livre arbítrio humano na condução de seus sentimentos, não podendo ser imputada à fonte natural e neutra de onde provêm.

Na questão seguinte, de número 908, Kardec indaga como se pode “determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más”, obtendo esta resposta:

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.”

Vemos, pois, que o limite natural das paixões se estabelece com base em dois critérios: 1) a capacidade de seu controle; e, 2) os males que possam causar a terceiros ou àquele próprio que as vivencia.

2. A natureza das paixões

Inegavelmente, dada a ordinária carga negativa associada ao conceito de paixão, a afirmativa de Kardec e dos Espíritos de que a fonte original das paixões é boa tende a causar estranheza na maioria das pessoas. Por tal motivo julgamos importante fazer uma incursão, ainda que breve e simplificada, nos domínios da filosofia, que tem as paixões como um de seus temas mais discutidos. Os fundamentos dessa afirmativa serão, desse modo, elucidados.

Como ocorre com boa parte dos vocábulos das línguas naturais, a palavra ‘paixão’ comporta diversos significados. Na acepção popular em nossos dias, ela designa certos sentimentos fortes, exacerbados, tumultuados, que em geral se associam à afeição votada a pessoas e mesmo a coisas e atividades: ‘Matou-se por paixão’, ‘É apaixonado por carros’, ‘Tem paixão pelo futebol’.

Do ponto de vista filosófico, porém, o termo ‘paixão’ possui significados mais amplos e neutros quanto ao bem e ao mal. Em seu significado etimológico, paixão se contrapõe a ação. Isso fica mais claro nas línguas inglesa e francesa, em que esses vocábulos, passion e action, estão mais próximos de sua origem latina. Ação atuar, agir; paixão sofrer a ação, recebê-la passivamente.

Nesse sentido básico, e hoje em dia em desuso, poder-se-ia dizer que ação e paixão são como as faces de uma mesma moeda. Sempre que algo age, alguma outra coisa sofre paixão. Eu bato na mesa ação; a mesa recebe a pancada paixão. O mesmo fenômeno que para mim é ação, para a mesa é paixão.

Aqui estamos interessados não em coisas em geral, mas no ser humano, que pode, ele também, agir e sofrer paixão. Nesse caso, porém, o conceito de paixão se tornará mais específico, como veremos.

Na visão de homem estabelecida pelo Espiritismo, ele é um ser dual, composto de corpo (matéria) e alma (espírito). Embora remonte à Antigüidade, essa visão dualista tornou-se proeminente na filosofia a partir da contribuição de René Descartes (1596-1650). Um dos maiores filósofos e cientistas de todos os tempos, Descartes foi o principal responsável pela inauguração da filosofia moderna, renovando amplamente as teorias e conceitos filosóficos anteriores. Esteve ainda entre os criadores da ciência moderna, ao lado de Galileo e Newton, Boyle e Huygens, entre outros.

Em sua doutrina, o sábio francês dissociou da alma a função de mantenedora da vida orgânica, tomando-a unicamente como o ser pensante, independente da matéria. Uma análise cuidadosa revela muitos pontos comuns entre as visões espírita e cartesiana do homem. Não podemos adentrar esse vasto e difícil assunto neste pequeno texto. Iremos apenas destacar alguns elementos mais diretamente ligados à questão das paixões. O último livro de Descartes publicado durante sua vida trata especificamente das paixões, intitulando-se justamente As Paixões da Alma (Les Passions de l’Âme, 1649). Essa obra exerceu grande influência no futuro das discussões filosóficas acerca das paixões, só sendo rivalizado, no século seguinte, pelas obras do grande filósofo escocês David Hume (1711-1776), escritas dentro de perspectiva filosófica bastante diversa.

Dadas as grandes transformações por que passou a física em nosso século, não é possível expressar em linguagem ordinária como a ciência contemporânea caracteriza a matéria. Na concepção cartesiana, que prevaleceu e influenciou profundamente toda a ciência por quase trezentos anos, matéria é a substância extensa, com forma e movimento, que preenche todo o universo e atua exclusivamente por forças mecânicas de contato. No nível dos objetos com que lidamos enquanto homens comuns, podemos pensar na matéria aproximadamente ao longo dessas linhas, mas apenas para fixar idéias, conscientes de que essas noções não mais bastam às novas teorias físicas.

Quanto ao espírito, para Descartes ele era, como já indicamos, a substância pensante, a sede do pensamento, da vontade e dos sentimentos. Ao contrário de sua concepção de matéria, essa idéia de espírito mostra-se perfeitamente adaptável ao que conhecemos hoje, não mais pelas ciências acadêmicas, que por sua natureza não se ocupam com isso, mas pela ciência espírita, inaugurada por Allan Kardec.[3]

Podemos, para os nossos propósitos aqui, considerar a alma ou espírito como tendo três “faculdades” (termo de Descartes):

1. vontade;
2. pensamento;
3. percepção.

A vontade se exerce quando a alma quer algo; o pensamento, quando ela raciocina, duvida, compara, abstrai etc. Pensamento e vontade assim definidos são, por assim dizer, as “dimensões” ativas da alma. A percepção seria, por outro lado, sua dimensão passiva. Isso fica mais claro quando enumeramos as formas gerais dessa percepção:

a. sensações dos corpos (formas, solidez, cores, sons etc.);
b. percepções das operações da própria alma (percepção de que está raciocinando, duvidando, querendo, imaginando, sentindo etc.); e
c. sentimentos (amor, ódio, tristeza, alegria etc.)

Em um sentido filosófico um pouco mais específico do que aquele já apontado, ligado à etimologia do termo ‘paixão’, todos esses três tipos de percepção poderiam ser ditos (e o são por Descartes) paixões da alma, porque ao contrário dos atos volitivos e intelectuais, acontecem passivamente à alma quando ela se encontra em determinadas situações. Quando o corpo a que está associada tem seus sentidos despertos e em bom funcionamento, postos em contato com uma vela acesa, por exemplo, a alma sentirá, quer queira, quer não, uma certa forma, uma certa luz, um certo calor (sensações). Quando a alma se auto-examina, ou, em linguagem filosófica, reflete, introspecta, não pode deixar de perceber que está raciocinando, ou duvidando, ou querendo algo, se de fato estiver (percepções das operações da alma). Por fim, diante de um gesto amigo ou de um carinho, sentirá a alma o amor; diante de uma ofensa, poderá sentir ódio ou mágoa; recebendo uma boa notícia, perceberá sua alegria, e assim por diante (sentimentos).

Chegamos, finalmente, ao ponto pretendido. Em seu sentido filosófico mais estrito a palavra ‘paixão’ denota exatamente esta última modalidade de percepções da alma: sentimentos como o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a admiração e o desejo.

Descartes considerava que as seis paixões que acabamos de enumerar eram básicas, enquanto que as demais, tais como o orgulho e a humildade, a veneração e o desdém, a esperança e o desespero, o medo e a coragem, a vergonha e a cólera, o remorso e a piedade seriam derivadas das paixões fundamentais por combinações e variações.

Não haveria espaço para explicar ou reproduzir aqui a complexa teoria cartesiana das paixões. Tampouco nos deteremos sobre a interessante análise que faz de cada paixão em particular, análise que ocupa boa parte do livro As Paixões da Alma. Ressaltaremos, entretanto, alguns pontos que podem contribuir para a nossa compreensão da natureza desses sentimentos.

No referido livro, assim como em outras obras, Descartes elabora detalhada teoria fisiológica que, embora hoje em dia possa parecer tosca e quimérica em muitos aspectos, representou um trabalho pioneiro, exercendo significativa influência no posterior desenvolvimento da ciência biológica.

A teoria cartesiana descrevia o corpo humano, como aliás todo universo material, em termos de um conjunto incrivelmente complexo de corpúsculos que agem sob leis mecânicas, leis que o próprio Descartes havia deduzido de pressupostos racionalistas na obra Os Princípios da Filosofia, de 1644. Ele foi um dos primeiros cientistas a reconhecer a teoria da circulação do sangue, proposta por William Harvey no início do século XVII. Descartes mantinha (de forma não totalmente original) que no sangue havia certos corpúsculos materiais extremamente pequenos e móveis, chamados espíritos animais. Não obstante o nome, não se tratava de modo algum de espíritos no sentido de seres inteligentes, mas de matéria pura e simples. Essas partículas diminutas eram como que “filtradas” nos “poros” do cérebro, passando a percorrer os nervos. O fluxo dos espíritos animais no sistema nervoso é a chave para explicar, na teoria cartesiana, fenômenos fisiológicos e psico-fisiológicos fundamentais, como o funcionamento dos sentidos, as motricidades voluntária e involuntária, e as próprias paixões da alma. Embora as paixões sejam percepções da alma, tinham, segundo essa teoria, uma contraparte fisiológica essencial. Infelizmente não poderemos fornecer detalhes aqui.

Abrimos um parêntese para mencionar um aspecto da teoria psico-fisiológica de Descartes que chama a atenção de pesquisadores espíritas: o papel central atribuído à glândula pineal, ou epífise, situada na base do cérebro. Até bem recentemente, a ciência acadêmica considerava que essa glândula não exercia nenhuma função relevante no homem adulto, julgando, pois, errônea a teoria de Descartes. No entanto, descobertas recentes vêm levando uma revisão dessa posição; a pineal parece ter determinante influência no controle de outras glândulas importantes, e portanto em toda a economia orgânica. Décadas antes que se começasse a perceber isso nos círculos oficiais, o cientista espírita desencarnado André Luiz recuperou e desenvolveu os elementos aproveitáveis da teoria cartesiana. Ambos, Descartes e André Luiz, atribuem à pineal o papel mais importante na ligação alma-corpo; seria, nas palavras do primeiro deles, como que a “principal sede da alma”, o lugar do mundo orgânico onde a alma “exerce imediatamente suas funções” (As Paixões da Alma, § 32).

Voltando à análise do conceito restrito de paixão, enfatizemos que ele preserva o elemento essencial da noção abrangente: a passividade. Amor, ódio, alegria, tristeza e demais paixões são algo que “se apodera” de nós de forma involuntária: pelo menos na sua gênese imediata não temos nenhuma participação voluntária. Embora Descartes não se tenha servido desta expressão, poderíamos dizer, simplificadamente, que para ele as paixões eram o resultado de uma espécie de automatismo psico-fisiológico. Na esfera fisiológica, esse automatismo envolvia, de forma essencial, o fluxo dos espíritos animais e sua interação com a pineal; na mente, manifestava-se como as percepções de amor, ódio etc., que cada homem sabe o que são por experiência direta.

Desnecessário notar que a ciência contemporânea não mais utiliza a noção de espíritos animais. No entanto, temos aqui mais um caso típico da história da ciência em que, embora rejeitados pela evolução da ciência, conceitos e teorias do passado aparecem ainda, embora bastante modificados, refinados e complementados, nas teorias mais recentes. A idéia geral de que algo percorre os nervos, trazendo as informações sensoriais para o encéfalo e conduzindo para os órgãos motores os impulsos nele originados mostrou-se fecunda e sustentável, estando presente na teorias científicas contemporâneas, que descrevem esse algo em termos de correntes elétricas.

Também a associação das paixões a um certo automatismo pode ser mantida até hoje. Estendendo de maneira profunda e segura a investigação do ser humano, o Espiritismo modificou e complementou a descrição desse automatismo, que deixa de estar centrado na estrutura fisiológica, residindo antes no próprio espírito, em sua existência que antecede e sucede à do corpo denso, com possíveis influências também do seu envoltório perispiritual. Assim é que se constata por observação direta que os Espíritos desencarnados continuam tendo sentimentos aparentemente semelhantes às nossas paixões. Isso indica que a causa imediata das paixões não se pode reduzir a processos referentes ao corpo denso, como achava Descartes. O fato de que diante de determinados estímulos externos ou internos a alma é automaticamente objeto daqueles sentimentos que chamamos paixões deve-se a uma faculdade inerente à própria alma, que tem uma razão de ser providencial, conforme vimos na introdução deste trabalho. (Retomaremos esse tópico mais adiante.)

Detenhamo-nos agora sobre as causas mediatas ou primeiras das paixões. Estas eram por Descartes classificadas em três grupos (As Paixões da Alma, § 51):

i. os objetos dos sentidos: alguém escuta uma boa notícia e sente alegria;  uma criança sendo maltratada e sente indignação ou cólera; cheira fumaça e sente medo de incêndio;

ii. as ações da alma: alguém pensa em suas qualidades e sente orgulho ou humildade; duvida da sinceridade de um amigo e sente tristeza; imagina os efeitos de uma tragédia e sente pena dos envolvidos;

iii. o “temperamento do corpo” e as “impressões que se encontram fortuitamente no cérebro”. São desse tipo, por exemplo, as paixões que temos “quando nos sentimos tristes ou alegres sem que possamos dizer o motivo”.

Este último item enseja aos pesquisadores espíritas outra oportunidade de complementar o que afirmou Descartes. Pelas investigações científicas dos fenômenos espíritas, conhecemos inúmeros fatos e leis da realidade espiritual que o filósofo aparentemente ignorava. É indubitável que alterações diversas do corpo, especialmente do sistema nervoso, podem de fato fazer surgir sentimentos ou paixões na alma. No entanto, sabemos que em muitas ocasiões em que não encontramos sua causa última naquilo que explicitamente observamos, quer no mundo exterior e em nossos corpos, quer em nossa alma, podem dever-se a fatores espirituais, tais como as vivências no mundo espiritual durante o sono, as influências obsessivas e telepáticas de um modo geral, ou a emersão parcial de nosso pretérito remoto.

3. O controle das paixões

Chegamos agora a um ponto saliente do estudo das paixões, enfatizado na seção de O Livro dos Espíritosque estamos analisando, e que recebeu também grande atenção da parte de Descartes: a questão de seu controle, domínio ou governo. Dada a própria conceituação de paixão, ou seja, de algo que acontece involuntariamente em nossa alma, uma impressão preliminar poderia ser a de que as paixões escapam, por sua própria natureza, a toda possibilidade de controle voluntário. No entanto, o assunto é complexo, e exige exame mais detido. Comecemos transcrevendo o item 909 de O Livro dos Espíritos:

909. Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?

“Sim, e, por vezes, fazendo esforços pequenos. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”

Embora não se fale aqui explicitamente em paixões, está claro a partir do contexto que as referidas “más inclinações” estão associadas ao desvirtuamento dos sentimentos naturais que estão na origem das paixões. Temos, por exemplo, uma tendência que parece natural, maior ou menor conforme a pessoa, de sentir orgulho quando nos elogiam, mágoa quando nos ofendem, inveja quando vemos alguém possuir aquilo que queríamos para nós próprios. Nos itens 910 e 911 a referência às paixões se torna explícita. No primeiro deles assevera-se que os bons Espíritos podem nos auxiliar a vencer as más paixões, pois que “é essa a missão deles.” O segundo vai agora transcrito em sua íntegra:

911. Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis, que a vontade seja impotente para dominá-las?

“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito satisfeitas ficam que não seja como “querem”. Quando o homem crê que não pode vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em conseqüência de sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.”

Repare-se que nessas passagens o conceito de paixão está sendo restringido ao seu uso mais ordinário, de algo com conotação negativa, que requer controle ou superação. Isso não implica que devamos dissociá-lo de sua significação filosófica original, esboçada na seção precedente. Tudo o que nela foi visto aplica-se também aqui, onde se trata de paixões particulares, aquelas que redundam em um mal qualquer para algo ou alguém.

Feitas essas ressalvas, retomemos o cerne desses três quesitos de O Livro dos Espíritos. Neles se afirma resolutamente que as paixões negativas podem ser controladas pela vontade. Como fica então a conclusão a que havíamos chegado pela análise filosófica de que as paixões são aparentemente incontroláveis? Veremos agora que esse é um conflito apenas aparente, que se dissolve diante de um exame mais acurado. Descartes empreendeu ele próprio esse exame, e podemos aproveitá-lo quase que integralmente aqui, com as necessárias simplificações. Esses estudos de grande beleza e profundidade encontram-se principalmente nos parágrafos 44 a 50, e 137 a 148 de As Paixões da Alma.

Iniciemos pelo parágrafo 46. Quando sofremos uma paixão qualquer, embora seu afloramento seja espontâneo, involuntário, dado o automatismo que opera em nós, podemos, por nossa vontade, não consentir em seus efeitos e reter muitos dos movimentos aos quais ela dispõe o corpo. Por exemplo, se a cólera faz levantar a mão para bater, a vontade pode comumente retê-la; se o medo incita as pernas a fugir, a vontade pode detê-las, e assim por diante. [4]

Eis, portanto, uma constatação simples, porém altamente relevante para o controle das paixões: sustar os seus efeitos maléficos sobre as coisas e pessoas. Isso está em nosso poder, desde que tenhamos vontade firme e discernimento moral para reconhecer quais os efeitos bons e quais os ruins. (Abordaremos o assunto do senso moral na próxima seção.)

No entanto, ainda que exercida eficazmente essa limitação das manifestações externas das más paixões resta o fato de que elas continuam existindo enquanto fenômenos de nosso mundo íntimo, ou seja, os sentimentos continuam presentes em nossa alma, prejudicando-nos a paz interior. O que fazer agora?

Descartes enfatiza que a vontade não tem o poder de excitar ou suprimir diretamente as paixões (§ 45). Um pouco de reflexão leva-nos a concordar com ele. Bastará ao orgulhoso simplesmente querer ser humilde? De alguma coisa adiantará ao que está triste dizer para si próprio: ‘Ficarei alegre agora’? Vencerá alguém a mágoa simplesmente desejando alijar-se dela? Parece que não; falta algo além da vontade.

O que seria esse algo não se explicita na seção em exame de O Livro dos Espíritos. A resposta está implícita no conjunto da obra e suas complementações. Um dos méritos do texto de Descartes é justamente o de enfocar o problema de forma quase explícita. (Dissemos quase porque o que exporemos a seguir é fruto de uma elaboração de várias observações e asserções de Descartes.)

O filósofo francês afirma, notemos bem, que não temos controle direto sobre as paixões. Isso não significa que não possamos controlá-las indiretamente, mediante certos artifícios. Consideremos uma útil analogia de que Descartes lança mão no parágrafo 44. Constitui fato patente que há certos movimentos corporais sobre os quais a vontade é incapaz de atuar diretamente, como a abertura ou fechamento das pupilas: ninguém as abre ou fecha voluntariamente. No entanto, podemos facilmente fazê-las se fechar ou abrir indiretamente, voltando nossos olhos para uma região mais clara ou outra mais escura. Sobre os movimentos dos olhos, pálpebras e face temos pleno controle e, explorando o automatismo fisiológico, logramos controlar a abertura das pupilas de forma indireta. As paixões, diz Descartes (§ 45), podem, de forma análoga, ser excitadas ou suprimidas indiretamente pela representação das coisas que costumam estar unidas às paixões que queremos ter, e que são contrárias às que queremos rejeitar. Assim, para excitarmos em nós a coragem e suprimirmos o medo, não basta ter a vontade de fazê-lo, mas é preciso aplicar-nos a considerar as razões, os objetos ou os exemplos que persuadem de que o perigo não é grande; de que há sempre mais segurança na defesa do que na fuga; de que teremos a glória e a alegria de havermos vencido, ao passo que não poderemos esperar da fuga senão o pesar e a vergonha de termos fugido, e coisas semelhantes.

Como no caso da abertura das pupilas, podemos estudar o automatismo das paixões e colocá-lo a nosso serviço. O exemplo dado por Descartes refere-se à paixão do medo. Tentemos ver como seria no caso da mágoa. Diante de uma ofensa, pode acontecer de ficarmos magoados, quer queiramos ou não. Reconhecendo porém os malefícios desse sentimento, aplicamo-nos em combatê-lo. Para tanto, temos que nos “representar” coisas que sabemos estar unidas ao perdão e que são contrárias à mágoa. Podemos, por exemplo, ponderar que o ofensor é uma pessoa infeliz; que não teve ainda a glória de ascender a um patamar comportamental melhor; que pode ter agido sob o peso de problemas que desconhecemos; que pode não ter encontrado na infância pais devotados e bons que lhe ensinassem a virtude por palavras e atos; que ele colherá frutos amargos de sua ação; que, de nosso lado, havemos de possuir em nosso passado fatores que determinaram a necessidade ou conveniência de enfrentarmos semelhante provação. Examinando as obras espíritas voltadas à orientação moral, é fácil encontrar muitas considerações desse teor. Os bons autores espíritas sabem que a melhoria moral da criatura não é uma questão de prescrições, de proibições, mas de esclarecimento e de substituição de hábitos.

Falamos em hábitos e isso nos conduz a outro tópico da análise cartesiana. Quando recorremos à noção de automatismo para explicar o mecanismo das paixões devemos esclarecer mais sua natureza, se é permanente e inalterável ou não. Pois bem: Descartes sustentava que esse automatismo das paixões (embora, repitamos, não tenha usado essa expressão) podia ser alterado. Essa possibilidade era por ele entendida em termos das associações de pensamentos e movimentos corporais com os fluxos dos espíritos animais. Ele assumia que a Natureza determinava essas associações, mas que podíamos até certo ponto alterá-las “por hábito” (§ 50). Lembra, por comparação, que mesmo os animais podem ter suas reações naturais parcialmente alteradas por condicionamento (como diríamos hoje). O cão, que por uma disposição natural é levado a correr na direção da perdiz para apanhá-la, pode ser treinado para deter-se quando a vê, esperando pelo caçador. E conclui (§ 50):

Ora, essas coisas são úteis de saber para nos encorajar a aprender a regrar nossas paixões. Pois dado que se pode, com um pouco de engenho, mudar os movimentos do cérebro nos animais desprovidos de razão, é evidente que se pode fazê-lo melhor ainda nos homens, e que mesmo aqueles que possuem as almas mais fracas poderiam adquirir um império bem absoluto sobre todas as suas paixões, se empregassem bastante engenho em domá-las e conduzi-las.

Deve estar claro que o “engenho” ou habilidade a que se refere Descartes é precisamente a aludida técnica de a alma “representar” para si as coisas que tendam a diminuir as paixões que quer combater e a incrementar as que lhe são contrárias. Desse modo, novas associações mentais se estabelecem (para ele seriam associações psico-fisiológicas), e as más paixões se vão amainando, até voltarem à sua condição natural e primitiva, incapaz de produzir males. A cólera, por exemplo, iria se transmudando em mágoa, e esta depois se reduziria à mera desaprovação, ao mero desagrado, natural e decorrente do próprio senso moral, de que não se pode nem deve abdicar.

4. As paixões e a moral

Até aqui tentamos analisar as paixões dos pontos de vista fisiológico, psicológico e anímico. Utilizamos as noções de paixões boas e más, de efeitos bons e maus, de malefícios e benefícios sem questionar a distinção do bem e do mal. É evidente que para aplicarmo-nos ao controle de nossas paixões é preciso antes saber distinguir o bem do mal. Isso cabe à área da filosofia denominada moral ou ética. Descartes e a maior parte dos grandes filósofos atribuíram grande importância ao estudo da moral, procurando determinar o critério do bem e do mal e os fundamentos nos quais se apóie. Não podemos adentrar esse assunto aqui. Iremos nos ater unicamente a alguns aspectos das relações entre as paixões e a moral, tratados em As Paixões da Alma.

No parágrafo 47, Descartes fornece uma explicação para o fenômeno psicológico do conflito entre aquilo que a alma quer e o que sente como paixão.[5] Não se trata, diz Descartes, de um combate entre a “parte inferior” e a “parte superior” da alma, conforme se costuma imaginar. A alma é una, não se concebe que tenha partes. A explicação do fato liga-se àquilo que, em adaptação da terminologia cartesiana, vimos denominando automatismo das paixões. Não desceremos aos detalhes dessa complexa explicação. Notemos apenas que é fácil entender o referido conflito quando se nota que a alma responde às situações, no nível das paixões, segundo reflexos parcialmente incondicionados e parcialmente condicionados, conforme vimos anteriormente. No plano intelectual e moral, porém, essas mesmas situações passam por exames via de regra conscientes e deliberados, podendo daí resultar serem apreendidas de modo diverso. Quando tratamos do controle das paixões estava implícito esse descompasso entre senso moral e paixões, pois o controle só é percebido como necessário quando as paixões não se harmonizam com aquilo que se julga ser correto ou bom.

O parágrafo 48 aborda a questão do esforço que a alma faz para superar esse conflito íntimo. Inspecionemos na íntegra esse interessante parágrafo (os destaques são nossos):

Ora, é pelo desfecho desses combates que cada qual pode conhecer a força ou a fraqueza de sua alma. Pois aqueles cuja vontade pode, naturalmente, com maior facilidade, vencer as paixões e sustar os movimentos do corpo que os acompanham têm, sem dúvida, as almas mais fortes. Há, porém, os que não podem comprovar a própria força porque nunca levam a combate sua vontade juntamente com suaspróprias armas, mas apenas com as que lhes fornecem algumas paixões para resistir a algumas outras. O que denomino próprias armas da vontade são os juízos firmes e determinados sobre o conhecimento do bem e do mal, consoante os quais ela resolveu conduzir as ações de sua vida. E as almas mais fracas são aquelas cuja vontade não se decide assim a seguir certos juízos, deixando-se arrastar continuamente pelas paixões presentes, que, sendo muitas vezes contrárias umas às outras, puxam-na sucessivamente cada uma para o seu lado e, fazendo-a combater contra si mesma, colocam-na no estado mais deplorável possível. Assim, por exemplo, quando o medo representa a morte como um extremo mal, que só pode ser evitado pela fuga [do perigo], e a ambição, de outro lado, representa a infâmia dessa fuga como um mal pior que a morte, essas duas paixões agitam diversamente a vontade, que, obedecendo ora a uma, ora a outra, se opõe continuamente a si própria, tornando assim a alma escrava e infeliz.

A “força” da alma é definida com referência à sua vontade. As pessoas de vontade fraca deixam-se simplesmente levar pelas paixões, tão amiúde contrárias umas às outras, do que resulta o mais deplorável estado de alma. No entanto, só a vontade forte não basta; é necessária a utilização das “armas” da vontade, que são “juízos firmes e determinados sobre o conhecimento do bem e do mal”. Ou seja, a alma precisa saber distinguir de forma segura o bem do mal. Tem de possuir critérios morais sólidos, caso contrário poderá aplicar sua vontade sobre alvos errados, dando combate a paixões boas ou cultivando paixões más, como acontece, por exemplo, com quem alega que a humildade não se coaduna com a dignidade humana, ou que o ciúme é necessário ao amor.

No parágrafo seguinte (49), Descartes observa que “há pouquíssimos homens tão fracos e irresolutos que nada queiram senão o que suas paixões lhes ditam”. Isso, porém, não é tudo:

Há, entretanto, grande diferença entre as resoluções que procedem de alguma falsa opinião e as que se apóiam tão-somente no conhecimento da verdade, visto que se seguirmos estas últimas estaremos certos de não ter jamais do que nos lamentar nem arrepender, ao passo que o teremos sempre, se seguirmos as primeiras, quando lhes descobrimos o erro.

O conhecimento moral é, pois, de capital importância para que a alma alcance o equilíbrio interior, pela indispensável iluminação do processo de controle das paixões. E nesse particular o Espiritismo tem contribuições de alta relevância para fazer. De modo pioneiro na história do pensamento, forneceu à moral um embasamento seguro e objetivo, a partir da análise racional dos fatos da vida humana, vistos de uma perspectiva muito ampliada e detalhada com relação àquelas do materialismo ou das religiões dogmáticas. À luz do conhecimento espírita, o critério do bem e do mal, do certo e do errado, dos deveres e direitos, não é mais uma questão de gosto, de prescrições, de cultura ou de época, nem se funda “em algumas paixões pelas quais a vontade se deixou anteriormente vencer ou seduzir” (ibid., § 49). Resulta, antes, do exame objetivo das conseqüências de nossas ações, com vistas à aproximação gradual da felicidade.[6]

Para exemplificar o raciocínio, consideremos as paixões do amor e do ódio, da humildade e do orgulho, da piedade e da dureza, da esperança e do desespero, da coragem e do medo. Se perguntarmos quais delas devem ser cultivadas e quais reprimidas, a resposta pressuporá um certo critério moral. Evidentemente existe na humanidade terrena, em seu presente estado evolutivo, uma multiplicidade de critérios morais, capazes de levar a diferentes classificações das paixões enumeradas. Há quem julgue, por exemplo, que a humildade rebaixa a criatura; que a piedade é apanágio das almas frágeis; que a desesperança é a postura correta diante da triste situação do mundo e da natureza humana…

Com sua ética objetiva, o Espiritismo pode pôr termo a tais disparidades de opinião, indicando claramente quais as paixões e atitudes que melhor conduzem o homem à almejada felicidade, concebida em termos amplos e perenes. Na lista que demos, por exemplo, são as primeiras paixões de cada par, nunca as segundas, aquelas que devemos permitir que vicejem em nossas almas.

Ao mesmo tempo em que nos esclarece acerca do bem e do mal, o Espiritismo fornece os meios para podermos executar o controle das “más inclinações”, ao longo das linhas sugeridas por Descartes. Na seção anterior, exemplificamos esse processo no caso da mágoa. Procedendo de modo semelhante com as demais paixões, elas serão reconduzidas ao seu estado de pureza original, conforme se expressa nas questões 907 e 908 de O Livro dos Espíritos. Nos judiciosos comentários que as seguem, Kardec afirma que as paixões “são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência”. A finalidade boa das paixões é destacada em termos equivalentes por Descartes no parágrafo 52 de As Paixões da Alma: “o emprego de todas as paixões consiste apenas no fato de disporem a alma a querer coisas que a Natureza dita serem úteis a nós, e a persistir nessa vontade, assim como a mesma agitação dos espíritos [animais] que costuma causá-las dispõe o corpo aos movimentos que servem à execução dessas coisas”. (Ver também os parágrafos 137 e 138.)

Detenhamo-nos ainda um pouco sobre esse tópico. À primeira vista, é fácil reconhecer que o amor, a coragem e alegria, por exemplo, provêm de princípios bons e concorrem para o nosso bem. No entanto, mesmo essas paixões boas podem ser mal conduzidas e desvirtuadas, levando, respectivamente, ao ciúme, à temeridade e ao estouvamento.

Por outro lado, não é imediata a identificação de origens boas e providenciais das quais paixões como a cólera ou o orgulho possam provir. Descartes, Kardec e os Espíritos que com ele colaboraram nos asseguram que os há, todavia. Ensaiemos uma busca.

A cólera é o sentimento violento de desagrado e revolta que costuma surgir de ofensas físicas ou morais graves, não raro desaguando em ações retaliatórias variadas. Examinando o caso, percebemos que a face moralmente insustentável da cólera é a vingança, bem como o tumulto interior a que arroja. Entretanto, em suas origens podemos localizar algo bom: a desaprovação da agressão. Ora, tal desaprovação deflui naturalmente do senso moral, da faculdade de discernir o certo do errado, de que não podemos abdicar sem retroceder ao estágio da animalidade. O perdão que a ética espírita e cristã recomenda de modo algum significa a aprovação moral das ofensas.

O orgulho, por sua vez, é o sentimento de superioridade em relação aos semelhantes, capaz de induzir-nos a desprezá-los e até mesmo a subjugá-los, quando temos poder para tanto. Embora patentemente injustificável frente ao conhecimento espírita, remontando aos seus princípios talvez possamos identificar algo como a confiança nas próprias potencialidades. Sentimento benéfico, essa auto-confiança é indispensável para que não nos amolentemos, não descreiamos de nosso aprimoramento físico, intelectual, artístico e moral. É somente quando, por excesso, ultrapassa seus limites naturais, que ela se transmuda em orgulho pernicioso.

5. Na direção do Infinito

Não poderíamos concluir este pequeno trabalho sem mencionar que no final da terceira parte de seu livro Descartes apresenta brevemente um outro aspecto das percepções da alma, complementar ao das paixões, tais quais as entendia. Vimos que para ele estas últimas tinham sempre uma “contraparte” orgânica. Sugerimos, por nossa vez, que esse aspecto talvez não seja central nas paixões, que parecem antes ser inerentes à própria alma.

De qualquer modo, dentro do referencial que elaborou, Descartes também notou que há percepções da alma que radicam nela própria, ou, em suas palavras, “emoções interiores que são excitadas na alma apenas pela própria alma” (§ 147; grifamos). Um dos exemplos que dá é a “alegria intelectual” que sentimos quando lemos um romance ou assistimos a uma peça teatral em que as situações excitam em nós diversas paixões, como a alegria, a tristeza, o ódio, o amor, trazendo-nos todas uma espécie de prazer de ordem superior.

Vejamos estas belas passagens do parágrafo 148, em que Descartes desenvolve o tema:

Ora, visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma.

Descartes aponta, assim, uma espécie de sublimação dos sentimentos, na direção da alegria perene e sem mácula que resulta tão-somente da prática da virtude. Essa a alegria que viveremos um dia, quando, pelos nossos esforços, lograrmos alcançar a excelsa condição de Espíritos puros.

Notas

1. Gostaria de agradecer a Márcio Corrêa, Cosme Massi e Matthieu Tubino pelos comentários feitos a versões preliminares deste trabalho.

2. Nesta e demais citações do Livro dos Espíritos utilizamos o texto original, aproveitando em grande parte a tradução de Guillon Ribeiro, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

3. Sobre a ciência espírita, ver nossos artigos “O paradigma espírita” e “A excelência metodológica do Espiritismo”, bem como as referências neles contidas.

4. Nesta e demais citações desse livro utilizamos o original francês, aproveitando, quando possível, a tradução brasileira indicada na lista bibliográfica.

5. Essa tensão já havia aliás sido comentada, em termos diversos, por Paulo no capítulo 7 da Epístola aos Romanos.

6. Para uma análise sucinta desse ponto ver nosso artigo “Os fundamentos da ética espírita”.

Referências

 CHIBENI, S.S. “Os fundamentos da ética espírita”, Reformador, junho de 1985, pp. 166-9.

• —-. “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-33, e dezembro de 1988, pp. 373-78.

• —-. “O paradigma espírita”, Reformador, junho de 1994, pp. 176-80.

• DESCARTES, R. Les Passions de l’Âme. In: Adam, C. e Tannery, P. (eds.) Oeuvres de Descartes. Tomo XI, pp. 291-497. Paris, Vrin, 1967. (As Paixões da Alma. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. In: Descartes – Obra Escolhida, pp. 295-404. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.)

• KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 64a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.)

(Artigo publicado em Reformador, abril/1998, pp. 112-15 e 125-7.)

Texto base para o Seminário desenvolvido por Cosme Massi Sobre as paixões, em Umuarama, Paraná, ao ensejo da realização do 9º Endesp – Encontro de Dirigentes Espíritas, promovido pela Inter-Regional Noroeste, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2008.

Da página da Federação Espírita do Paraná

O Preparo Espiritual da Sala

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

 

O Preparo Espiritual da Sala

Objetivo:

Levar os alunos a compreenderem sua responsabilidade em relação ao ambiente em que se dará a reunião, o papel do evangelho como auxiliar no fortalecimento moral do médium e perceber a necessidade de vivenciar as normas da conduta nele contida.

Bibliografia:

Allan Kardec, “O Livro dos Médiuns”,  2ª parte – cap. XXIX – item 341; (*) Suely Caldas Schubert, “Transtornos Mentais”,  cap. 2 (Estrutura Espiritual da Reunião); (*) F. C. Xavier, André Luiz,  “Desobsessão”, cap. 4 (Preparo para a Reunião) e cap. 27 (Livros para Leitura).

Introdução

A partir do estudo da última aula, reflita sobre os seguintes pontos:

1-O que é espiritualismo?
2-O que é mediunismo?
3-Como você pode conceituar o homem de bem?
4-Que reflexão fez o filósofo Platão sobre a origem da vida terrena?
5-Qual a importância da concentração no desenvolvimento medianímico?
6-À luz do que vimos sobre a orientação mediúnica, podemos acreditar em todos os espíritos?

1-A Casa Espírita

Segundo Herculano Pires, o Centro ou Casa Espírita não é um templo nem um laboratório, mas um ponto de convergência da Doutrina Espírita.

2-A sala de trabalho mediúnico

A sala é o local da reunião mediúnica. É preparada por trabalhadores encarnados (as equipes do Centro) e desencarnados, como os protetores da instituição, os benfeitores associados às tarefas, aos grupos de tarefeiros ou às pessoas atendidas.

3-Atividades na sala mediúnica

-Coleta, manipulação e direcionamento de energias;

-Cirurgias perispirituais;

-Anulação de fixações mentais;

-Terapia sobre registros mentais atuais ou pretéritos.

4-Recursos da espiritualidade

 

-Painéis ou quadros fluídicos;

-Instrumentos de apoio da equipe espiritual;

-Aparatos que lembram instalações hospitalares terrenas, etc.

5-Interferências

-Maus pensamentos e má vontade dos participantes, encarnados ou não;

-Vibrações deprimentes;

-Ideoplastias;

-Sentimentos como raiva, revolta, orgulho etc.

FAIXAS MAGNÉTICAS PROTETORAS

As faixas magnéticas servem para proteger os trabalhos e manter a pureza fluídica necessária ao tratamento dos Espíritos atendidos nas reuniões mediúnicas.

Primeira Faixa: proteção à mesa, ao grupo de trabalho, à assistência e aos Espíritos em tratamento naquela tarefa.

Segunda Faixa: envolve as pessoas e os desencarnados não atuantes na reunião, fora do recinto, mas ainda dentro da Casa Espírita.

Terceira Faixa: circunda toda a Casa Espírita, a parte exterior do edifício, contando com apoio da vigilância de sentinelas da espiritualidade, isolando magneticamente toda a instituição de uma multidão de Espíritos, muitas vezes hostis.

Entre uma e outra faixas, há rede energética de proteção, para amparo e controle de algum Espírito mais rebelde ou teimoso. (F.C.Xavier, Médium, Efigênio S. Vitor, Espírito,“Mensagens Psicofônicas”, Um irmão de regresso)

Corrente e Semi-corrente

Quando os médiuns estão sentados à mesa e firmemente concentrados, emitem um forte fluxo de fluidos que se ligam e formam uma espécie de nuvem mais ou menos luminosa e altamente magnetizada: é a corrente magnética. Ela é fortificada pelos espíritos que velam pela sessão e constitui uma poderosa fonte de fluidos curadores.

Se, durante a sessão, um médium rogar ao Pai por uma pessoa que esteja enferma ou em aflição, os espíritos curadores podem fazer chegar até essa pessoa a força magnética capaz de curá-la ou aliviá-la. É o que se chama um passe a distância. Da mesma maneira, se os assistentes da sessão orarem com fé atrairão para si os benefícios que a corrente magnética lhes pode proporcionar.

semi-corrente é formada na primeira fileira, logo atrás dos médiuns, e é composta dos médiuns que não tiveram lugar na mesa e pelos doentes que necessitam serem banhados pelos eflúvios magnéticos que se irradiam diretamente da corrente. (Eliseu Rigonatti, “A Mediunidade Sem Lágrimas”, Ed.Pensamento, 2000, p.75)

A Mesa nas Sessões Espíritas

Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não obstante, há quem considere esse ato puramente místico e mágico, lembrando a evocação e a prece.

Não nos sentamos em torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito, mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da doutrinação.

É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos, de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos. Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos. Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a conversação necessária e logo depois eles desaparecem como apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite.

(J.Herculano Pires, “Mediunidade”, pp. 49-50)

A questão das materializações e da percepção medianímica

Materialização

SAULO – Pois parece, podemos dizer ao telespectador, que uma etapa do mundo israelita aqui está presente. É o professor Beni, que, em nome deste grupo de São Paulo, formula a sua pergunta. Ele tem um pouco de sotaque, porque não se trata de brasileiro.

PROFESSOR BENI – Tenho grande prazer de estar aqui, porque me interesso muito pelo estudo do espiritismo, não?
Gostaria de saber, eu fui convidado por umas pessoas do professor Herculano Pires para assistir um trabalho de materialização, e eu cumpri as recomendações que me foram concedidas previamente. Eu presenciei alguma coisa, vi algo lá, não me lembro, aqui num bairro de São Paulo. A pessoa que foi comigo, uma outra pessoa israelita, eu vi tudo isto lá, e ele me disse que não viu, absolutamente, e me acusou de mistificador.
Eu gostaria de saber porque que eu vi esta manifestação, e esta pessoa não viu?

ALMIR – Entendeu, Chico? Ele participou de uma sessão de fenômenos de materialização, ele assistiu, viu as pessoas, viu os espíritos se materializarem, e o amigo não viu, e o amigo então o tachou de embusteiro, de mistificador. Ele quer saber porque em sessões desta natureza, algumas pessoas podem observar a verificação destes fenômenos, e outras não?

CHICO XAVIER – Cremos que o problema estará filiado à sensibilidade visual do ponto-de-vista psíquico, de nosso amigo, porque muitas vezes temos ido pessoalmente a reuniões, verificamos a presença de determinadas entidades, que muitos amigos não as vêem. Acreditamos que o nosso amigo é portador do que nós chamamos clarividência mediúnica, talvez não muito desenvolvida, por enquanto, mas suscetível de encontrar um grau muito elevado de evolução, propiciando a ele mesmo ensinamentos muito grandes e lições que serão para ele verdadeiras bênçãos da espiritualidade superior.

(F.C.Xavier, “Dos Hippies aos Problemas do Mundo”. São Paulo: LAKE, 4ª.ed, 2003, pp. 78-79)

Comentário:
O texto acima é um fragmento da entrevista de Chico Xavier que deu vez à sua segunda participação no programa “Pinga-Fogo”, da TV Tupi, Canal 4 de São Paulo, que foi ao ar em 20/12/1971.
A respeito dos fenômenos de materialização, lembramos que semelhante evento é de extrema raridade.
Em primeiro lugar, a pouco ocorrência se deve à enorme quantidade de recursos da espiritualidade que se precisa reunir para realizar o fenômeno.
Em segundo lugar, todo fenômeno de materialização exige, além do médium adequado, recursos da espiritualidade e do grupo, que lhe permitam consumar-se. Não basta o interesse do grupo e a presença do medianeiro adequado, mister se fará criar as condições fluídicas e vibratórias propícias ao evento e o devido apoio espiritual.
Vale lembrar que há de prevalecer sempre a utilidade do fenômeno na senda do bem e a moralidade elevada em toda tarefa espiritual séria.

Conhecemos vários casos relevantes, como as materializações de Irmã Josefa, de Katie King e do cavalheiro com a tabaqueira, este citado por Kardec na “Revista Espírita”, em sua edições de março de 1859 e em maio de 1861.
Para melhor ilustrar o comentário, reproduzo trecho de artigo do sítio Lampadário Espírita:
Alexandre Aksakof, na obra “Um Caso de Desmaterialização Parcial do corpo dum Médium”, define como três as espécies de materializações:
1º – Materialização invisível – que envolve movimentos de objetos e sensações de contacto que se experimenta nas sessões e que se atribui a uma mão invisível;
2º – Materialização visível e tangível – aparição de forma parcial e incompleta de mãos, cabeças, etc.

3º – Materialização completa – de uma forma humana completamente visível e tangível que, para a vista comum, não difere em nada de um corpo humano vivo. É o fenômeno mais elevado da materialização, durante o qual o médium acha-se geralmente em transe (sono magnético).
Aksakof vai mais além, afirmando que toda materialização necessita de uma desmaterialização correspondente do médium. Daí, as vezes, o Espírito materializado apresentar semelhança com o médium.
O que se verificou com o Espírito Katie King e a médium que lhe cedia os necessários fluidos de materialização, Florence Cook.