Destino

Rino Curti

A noção básica do Espiritismo, como já o dissemos em Espiritismo e Evolução, é a de que o Espírito evolui através das reencarnações, evolução que, na fase humana, lhe é entregue ao livre-arbítrio, passando a constituir-se em sua responsabilidade.

Kardec estuda em O Livro dos Espíritos, Cap. IX, do Livro 3º, sob o título “Lei de Igualdade”, esta questão.

Em primeiro lugar, estabelece uma noção de responsabilidade relativa ao grau de desenvolvimento de cada um: somos o resultado de nossas idealizações. A ideação, em cada um, é fruto de seu estágio evolutivo, de sua compreensão, suas concepções, seus sentimentos, desejos, do seu nível de aprendizado. Cada um se move dentro das dimensões que lhe são próprias. Pelas ideias que cultivamos, criamos os motivos que nos alegram ou entristecem, que nos animam ou deprimem, que nos trazem satisfação ou desalento e que, por sua vez, determinam as forças que nos levam à vitória ou ao fracasso, ao crescimento ou ao estacionamento.

Diz Emmanuel em Pensamento e Vida, Cap. 10:

“Todos somos compulsoriamente envolvidos na onda mental que emitimos de nós.

Categorizamo-nos bons ou maus, conforme o uso de nossos sentimentos e pensamentos…

Quando coléricos e irritadiços, agressivos e ásperos para com os outros, criamos por atividade reflexa o desalento e a intemperança, a crueldade e a secura para nós mesmos e, quando generosos e compreensíveis, prestimosos e úteis para com aqueles que nos cercam, criamos, consequentemente, a alegria e a tranquilidade, a segurança e o bom ânimo para nós próprios.

Responde-nos a vida em todas as coisas e em todas as criaturas segundo a natureza de nosso chamamento…”

À pergunta 851, O Livro dos Espíritos, Livro 3º, Cap. X: – Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida…? – é dada a seguinte resposta: 

“A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova: … no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito… é sempre senhor de ceder ou resistir.”

Diz Kardec, em comentário, após a pergunta 852: – “As ideias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar segundo o nosso caráter e a nossa posição social.”   

Diz Emmanuel em Roteiro, nº 5,

“… somos o que decidimos, possuímos o que desejamos, estamos onde preferimos e encontramos a vitória, a derrota ou a estagnação conforme imaginamos… Os acontecimentos obedecem às nossas intenções e provocações manifestas ou ocultas.

Encontramos o que merecemos, porque merecemos o que buscamos.

A existência, pois, para nós, em qualquer parte, será invariavelmente segundo pensamos.”

Diz ainda em Roteiro, nº 25, que a criatura, diante do destino e da dor, deve consagrar-se à apreciação do pensamento, da vida mental, assim como o fazemos diante do corpo, cuja investigação mobiliza verdadeiras legiões de cientistas.

Em Roteiro, nº 26, afirma: – “Em forma de impulsos e estímulos, a alma recolhe, nos pensamentos que atrai, as forças de sustentação que lhe garantem as tarefas no lugar em que se coloca… De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos.”  

(CURTI, Rino. Mediunato. São Paulo: LAKE, 2ª ed., 1997, p. 19)