Neuroses e Vidas Passadas

Jorge Andréa dos Santos

Na multiplicidade das reações que o ser humano apresenta, as de origem psíquica são bastante complexas, pelas correlações com as vivências pretéritas; isto é, reações que se mostram principalmente em face das atitudes do passado, onde outras personalidades (reencarnações) fizeram parte da estrutura de determinada vivência.

Bem claro que todas essas reações são bem apropriadas a cada ser, considerando-se, ainda, a intensidade com que as mesmas forem desencadeadas. São tão vivas certas demarcações, que elas são transplantadas para outras vidas, a fim de que o processo seja absorvido integralmente. Nas estruturas desarmônicas as experiências das reações, geralmente dolorosas, funcionam como mecanismo burilador das fontes espirituais em desalinho. Nos casos positivos, onde virtudes foram o palco dos fatos, o acréscimo nas raízes do Espírito é como que imediato. Em qualquer das posições, reações negativas ou positivas, os resultados experienciais serão sempre benéficos ao plano evolutivo, com as naturais variações de tempo que cada ser em particular deve responder.

É bem mais comum do que parece, e merecedor de anotações, que certos tipos de reações psíquicas, de caráter doentio, despontam em indivíduos cujas atitudes de vivências não mostram imediatas correlações com os sintomas; estes, muitas vezes, insidiosos e aflitivos. Isto porque a correlação está quase sempre ligada a fatos pregressos, ou mesmo pequenos fatos do presente que não encontram respaldo explicativo com a intensidade dos sintomas desencadeados. Ocorre que os pequenos fatos do presente são, sem sombras de dúvidas, mecanismos despertadores das reações pregressas. É por isso que tanto a Psicologia, quanto a Psiquiatria, encontram imensas dificuldades de avaliação diante de certas e determinadas posições psíquicas.

No caso específico da Psiquiatria, gostaríamos de lembrar dois tipos de sintomas que se enquadram nessa assertiva – neuroses e vidas passadas – as reações histéricas e fobias.

Os sintomas histéricos e fóbicos, assim, representariam autênticas sinalizações da zona espiritual, na tela psíquica física (zona consciente), como expressão de algo que não pode ser retido.

O afloramento de sintomas histéricos, fóbicos ou associados quase sempre se apresentam complexos e tão complicados que os fundadores da psicologia profunda organizaram métodos avaliativos, alargando o campo do psiquismo, criando modelos variáveis: a Psicanálise, método psicanalítico e outros, sendo que, hoje, perante visão mais criteriosa, estão presentes nos modelos transpessoais.

Os sintomas histéricos têm-se mostrado sob forma de amnésias (perda temporária de memória), paralisias, zonas anestésicas pelo corpo, espasmos, contraturas musculares, estados crepusculares, até mesmo sob forma de crises catalépticas (rigidez muscular, dando a impressão de morte aparente). Na área sensorial registram-se, habitualmente, surdez, afonia, distúrbios da palavra e da visão. Os sintomas podem alcançar a área sexual com hiperativação da função ou mesmo redução, mostrando frigidez sexual. Devido aos desvios na área sexual, muitos pacientes mostram certo grau de erotização das relações interpessoais.

Toda essa múltipla sintomatologia sofre constantes oscilações, como que sem fixação das respostas psicogênicas (sintomas). Seu despertar na zona física convencionou-se denominar de conversão histérica. Em linguagem psicanalítica diz-se que os sintomas histéricos possuem um sentido oculto, cuja mensagem foi censurada na tela consciente por ser componente indesejável. Preferimos dizer que a tela consciente, pelos seus limites, concentra o processo vindo da zona espiritual e o faz exteriorizar sob forma de sintomas (geralmente dores psicológicas – neuroses), a fim de colher, nessas difíceis vivências, o equilíbrio interno e respectiva impulsão evolutiva do ser. 

Observou-se que os sintomas histéricos, nos dias atuais, como que deslocou-se das camadas sociais mais abastadas para as inferiores, inclusive tornando-se mais comum no meio rural. Isto está a mostrar que os componentes de aquisição intelectual parecem intervir no processo propiciando defesas. Quanto mais desenvolvido, intelectualmente, o indivíduo, menos seria atingido pelos fanatismos e seitas religiosas pouco recomendáveis, como, também, toda coorte de sintomas fabricados no medo e nos quadros fantasiosos de sonhos inatingíveis. 

Por tudo, estamos a sentir que a personalidade do histérico é oscilante, ora obedecendo ao grupo dos passivos dependentes, ora fazendo parte daquilo que se convencionou denominar de personalidade histriônica (fatos teatralizados com forte componente de dramaticidade), até mesmo com predominância de mitomania (mentiras bem articuladas) o que se aproxima de certos sintomas psicóticos. O histérico, de modo geral, carrega uma espécie de imaturidade afetiva, o que explica seu habitual egocentrismo, refletido em acentuada falta de lucidez.

Os sintomas fóbicos mostram nos pacientes, como ponto culminante, o pânico incontrolável diante de certos fatos do cotidiano. Não deve ser encarado como fobia certos temores, como chuva acentuada, tempestades magnéticas, medo de altura etc.; são reações, variáveis de indivíduo a indivíduo, com tendência a serem suplantadas.

A fobia desencadeia-se diante de determinado objeto ou fato, tendo o paciente, quase sempre, a solução no evitar o encontro. Isto difere de obsessão espiritual, que se caracteriza pelo assédio da ideia, tentando destruir as defesas psicológicas do raciocínio.

A fobia mostra-se, também, em formas bastante complexas pelas variações individuais. Entretanto, podemos anotar várias condições de fobia situacional: agorafobia (fobia dos espaços abertos); a claustrofobia (aversão aos espaços fechados); eritrofobia (medo de enrubescer em público – ter de fazer um discurso); fobia de animais; fobia do vazio; fobias dos adolescentes etc.

As reações fóbicas de pequena intensidade podem, com a tácita aceitação do processo, principalmente nos adultos, transformar-se em neurose de difícil remoção. Daí a necessidade de luta, com forte dose de vontade por parte daquele que consigo carrega estas explosões anímicas, a fim de evitar a fixação de um processo obsessivo (auto-obsessão).

A vida sexual dos fóbicos, com suas imensuráveis equações, são semelhantes a dos histéricos, refletindo-se em sua própria personalidade.

Pelo visto, tanto os sintomas histéricos quanto os fóbicos mostram-se em graus variáveis, definindo reações neuróticas onde a participação da zona espiritual é inconteste. A maioria dessas neuroses somente encontra explicação como reações desencadeadas em conjunturas pretéritas. É na catarse desses mecanismos espirituais, portanto no escoar de suas estruturações energéticas, que o processo pode esgotar-se, permitindo, dessa maneira, fertilização das fontes do próprio Espírito, pelas experiências daí decorrentes. Isto é, os componentes psicológicos dolorosos, provocados pelo quadro neurótico em ação, ocuparão as zonas emissoras das energias desarmônicas, devolvendo a ordem e o equilíbrio  – a dor (psicológica) funcionando como ajuste do ser.

O tratamento deve ser instituído com as possibilidades dos modelos existentes em vigor. Entretanto, salientamos a importância de também procurar-se neutralizar esses focos sombrios do Espírito com novas realizações e trabalhos produtivos, a fim de que os espaços provocados pelo processo catártico (desague das energias doentes) possam ser ocupados positivamente. Com isso, haverá equilíbrio entre Espírito e matéria, entre centro e periferia, entre meio interno e externo. É neste equilíbrio – entrechoque biológico entre ser encarnado e meio ambiente – que a evolução se afirma e avança, e o ser, com a sua imortalidade, vai sendo impulsionado para o Infinito sem fim na busca de constantes criações.

(SANTOS, Jorge Andréa dos. Busca do campo espiritual pela ciência. Rio de Janeiro: Sociedade Ed. Espírita F. V. Lorenz, 2ª ed., 1997, pp. 139-143)