Fluidos

Carlos Toledo Rizzini

  1. Fluido é a designação genérica de líquidos e gases. Dentro do Espiritismo, porém, a palavra ganhou um sentido especial, designando vários tipos de matéria mais rarefeita do que um gás. Ensinam os Espíritos, e admitem alguns cientistas (como Ernst Haeckel), que existe um princípio elementar, uma substância primária, no Universo, de cujas modificações e transformações procedem todos os corpos que conhecemos; é a matéria cósmica ou fluido cósmico universal (FCU), de Kardec. O fluido universal apresenta dois estados extremos: um estado de eterização, no qual ele se mostra como os vários tipos de energia que conhecemos (raio X, luz, eletricidade, etc.) e um estado de condensação, no qual vem a ser a nossa matéria densa, tangível. Vimos anteriormente que matéria e energia são estados relativos da substância, podendo-se passar de uma à outra; já não é só a unidade da matéria, mas a unidade da substância. Entre os dois extremos, há numerosos estados intermediários – que correspondem aos chamados fluidos; conquanto imponderáveis e etéreos, são tidos como formas rarefeitas de matéria, com outro padrão vibratório. É justamente dessa matéria que o perispírito é composto, tendo ele a propriedade de irradiá-la à certa distância. Para nós, são inconsistentes ou inexistentes; para os videntes, são feixes luminosos que escapam do corpo; para os espíritos, são tão compactos como a madeira é para nós e, por isso, é o material que usam em suas manipulações. Os fluidos mais próximos da matéria por sua constituição formam a atmosfera espiritual da Terra, que é, deste modo, pesada e sufocante, dizem os mentores; resulta esta das emanações da mente encarnada, sempre cheia de negras preocupações e intenções nem sempre dignas.

Impondo o pensamento por meio da vontade, os espíritos atuam sobre os fluidos. Orientam-nos, modificam-nos, dão-lhes formas, cores, mudam suas propriedades químicas, etc. Operando, assim, produzem aparências, roupas, objetos, que podem exibir aos homens, muitas vezes assustando-os com produções fluídicas terrificantes dadas como alucinações; por outro lado, os espíritos superiores empregam produções do mesmo tipo para o efeito oposto. Eles criam objetos de que gostam ou desejam, mesmo inconscientemente. Um espírito, por exemplo, que se julga vivo na Terra, pode gerar um ambiente fluídico se o seu pensamento permaneceu fortemente concentrado na vida que tinha antes de morrer: ele continua “doente” em sua cama e cuidando dos seus objetos e serviços como se fossem realidades físicas e não imagens mentais materializadas por meios de fluidos. A instrutora Yvonne A. Pereira descreve um notável caso assim (Recordações da Mediunidade). Tais construções fluídicas interpenetram as construções materiais terrenas: coexistem, no mesmo local, uma bela casa de alvenaria e um mísero casebre mental, ambos igualmente sólidos para os respectivos habitantes. “A criação mental sólida” deriva, pois, da fixação no passado; o espírito, vê-se novamente, precisa renovar-se constantemente pelo estudo e prática do bem, necessita expandir-se na direção de seus semelhantes, senão cai na estagnação que acaba de ser relatada.

  1. Possui o Espírito, encarnado ou não, uma atmosfera fluídica que irradia em torno do corpo, dita aura. A transfiguração de Jesus foi uma irradiação perispirítica, com grande aumento da aura. O perispírito de uma pessoa pode emitir emanações fluídicas mais fortes e orientadas numa dada direção se ela o quiser, se aplicar sua vontade a isso. Dirigindo, com as mãos, sobre outrem seus fluidos, com a intenção de beneficiar, realiza o que se chama passe. As emanações perispirituais têm influência sobre os outros; se enviam fluidos bons, são salutares; se veiculam fluidos escuros, procedentes de mentes perturbadas e de intenções menos dignas, são perniciosas. As pessoas sensíveis sentem logo uma impressão penosa à aproximação de um espírito mal-intencionado ou desequilibrado. Os pensamentos elevados e as palavras limpas, aliados a um corpo sadio, são indispensáveis ao passista.

Os fluidos detêm apreciável poder curativo. A imposição das mãos é um método clássico de tratamento rápido. Vimos, antes, que o sábio médico Mesmer (2.6) introduziu tal método na época moderna, chamando de magnetismo animal a propriedade curativa do homem decorrente das suas emanações fluídicas aplicada a outros. Tanto o fluido do homem tem ação magnética e cura, quanto o fluido do Espírito; geralmente, porém, os espíritos espontaneamente cedem seus fluidos ao passista humano, combinando os dois tipos e reforçando a ação, que a prece intensifica mais ainda. Muitas vezes, o passe não objetiva uma cura que razões espirituais (ligadas a débitos) não permitiriam; serve, no comum dos casos, para descarregar fluidos deletérios que o sujeito absorveu ou fabricou no contato com os demais e para fortalecer disposições mentais e estruturas orgânicas menos firmes. Leiam-se André Luiz (Missionários da Luz e Nos Domínios da Mediunidade), A. e O. Worrall (O Dom de Curar, Ed. Pensamento), W. de Toledo (Passes e Curas Espirituais, Ed. Pensamento) e E. Armond (Passes e Radiações, Aliança E. Evangélica).

  1. Os fluidos humanos e animais atuam, também, sobre plantas. Busquemos entender como, a lógica do processo.

Sabemos, hoje, que os mecanismos da vida são precisamente os mesmos em todos os seres, sejam animais ou vegetais: constituição celular, princípios genéticos básicos, fatores e processos evolutivos, reprodução sexuada, síntese de proteínas e de enzimas, digestão, respiração e até o funcionamento nervoso na intimidade dos tecidos; atinge-se um nível no qual mesmo certos interferons (que são proteínas) humanos protegem células vegetais contra infecções de determinados vírus! Qualquer conjunto de células vegetais, sendo tocado exteriormente, ou seja, estimulado, recebe um pouco de energia e torna-se excitado – tal qual um tecido animal o faria. Semelhante excitação propagar-se-á para longe do ponto inicial e poderá ser detectada por meio de uma reação que o estímulo desencadeou; essa reação ou será motora (mediante órgãos móveis) ou elétrica (que ocorre em todos os tecidos e órgãos). Como as plantas, em geral, são imóveis, a verificação da excitação faz-se mediante a resposta elétrica, com um aparelho próprio e muito sensível (galvanômetro, que pode ser conectado a outros, fazendo-o inscrever sobre papel, por meio de uma agulha com tinta, a modificação que ele assinalar na intensidade elétrica).

Se examinarmos a resposta consistente no desdobramento de um pelo glandular (comuníssimo no reino vegetal), medindo os impulsos elétricos que descem ao longo dele quando tocado, veremos que o movimento do pelo decorre de súbitas alterações no potencial elétrico que atravessa as paredes celulares – alterações essas idênticas ao impulso nervoso que corre através de prolongamentos das células nervosas. O mecanismo, na intimidade, é semelhante nos dois tipos de seres vivos.

Agora, o outro lado da questão. Uma planta possui, também, um corpo fluídico. Ligada a um aparelho registrador (acima mencionado) suficientemente sensível, exibirá respostas (ou reações) a pensamentos, emoções e mesmo interações de um ser humano – e muito particularmente à morte de qualquer animal, por mais insignificante que seja (e até a células vivas isoladas, por exemplo, raspadas da face interna da boca). Vejam bem: respostas ou reações, pois ela é desprovida de sensações e de percepções por lhe faltarem os respectivos órgãos dos sentidos. Ainda assim, um vegetal mostra patente sensibilidade que é outra faculdade do corpo espiritual (ou organismo bioplasmático) – sensibilidade no sentido de capacidade de reagir a certos estímulos. O que não havia até uns 20 anos atrás era o aparelho adequado para revelá-la, mas Emmanuel, A. Luiz e A Grande Síntese (Ubaldi) já mencionavam tal propriedade, sem falar no cientista J. C. Bose, entre nós pouco conhecido. Cf. no jornal Desobsessão, RS, 388: 6 de dezembro de 1980, um extenso estudo sobre a questão aqui analisada, caso queira ampliar os horizontes intelectuais.

O que um homem e um animal enviam a uma planta são fluidos (matéria sutil emanada dos respectivos perispíritos). Estados mentais e emocionais mais intensos (uma crise de ódio, raiva, um sentimento mais afetuoso, um prazer forte, a morte violenta, etc.) fazem escapar cargas fluídicas mais energéticas ou mais densas ou mais leves, escuras, etc. Suponha um indivíduo que queira queimar uma folha ou que pretenda matar alguns peixes; tal disparará certa qualidade vibratória de fluidos, diferente das suas emissões habituais. O vegetal reage a tais fluxos fluídicos quando é atingido por eles; o seu psicossoma é primitivo, mas não inerte. É que o aparelho registra: a reação pela diferença de potencial elétrico; a planta não quedou indiferente – mas também não “viu” nem “sentiu” dor pelo que houve… A conclusão é que em a natureza tudo se encadeia, conforme afiança repetidas vezes O Livro dos Espíritos e que existe nela uma forma primária de comunicação instantânea entre todos os seres vivos.                   

André Luiz refere-se (Nosso Lar e Ação e Reação) a fluidos vegetais retirados de certas árvores por atendentes espirituais e aplicados em doentes como remédios eficazes, o que significa que podemos sentir-lhes os efeitos. Certas pessoas, dotadas de almas elevadas e poderes psíquicos igualmente avançados, denotam a capacidade de modificar o comportamento de suas plantas cultivadas tão só expressando os seus desejos de que cresçam melhor. Temos notícias de que Edgar Cayce conseguia isso no seu jardim, do qual gostava de cuidar pessoalmente. A eminente médium-vidente e curadora da igreja de Monte Washington (Estados Unidos), Olga Worrall, certa feita, querendo levar algumas cristas-de-galo imaturas a uma exposição de flores, pediu-lhes gentilmente que crescessem mais uns 2 cm até o dia seguinte. Ora, para espanto do esposo, ao nascer o novo dia as inflorescências estavam 25 mm maiores ela obteve o primeiro lugar… O pastor (também químico) Franklin Loehr, em numerosos testes usando grande número de seus audientes, empreendeu experiências sobre a ação da prece na aceleração da germinação de sementes, conseguindo 20% de ampliação do fenômeno. Eis o que comenta o ilustrado escritor Hermínio C. Miranda (Anuário Allan Kardec, 1970, pág. 15):

“Para nós, espíritas, as notáveis experiências do Dr. Loehr têm o significado de uma confirmação. A planta é um ser vivo que responde ao amor e às vibrações simpáticas emanadas de um espírito bem intencionado.”

Ainda pode praticar-se, com sucesso, a oração negativa, desejando que nada cresça.

Não deixa de ser importante transportar para aqui alguns dos vários resultados experimentais registrados na literatura e aceitos como cientificamente válidos. Eles demonstram que os fluidos humanos podem agir, deveras, sobre animais e plantas. Vejamos um exemplo típico de cada, configurando aquilo que a Parapsicologia, sob outro aspecto, chama de psicocinese, ou ação da mente sobre a matéria.

O Coronel Oskar Estebany, antigo oficial do exército húngaro, aos poucos desenvolveu a capacidade de curar pela imposição das mãos; começando com cavalos, foi ampliando o campo de ação para incluir outros animais e até o ser humano. Tornou-se conhecido graças à faculdade citada. Reformado, mudou-se para o Canadá. Acreditava veementemente em seus poderes e aceitou o convite para participar de experiências científicas, feito pelo Dr. Bernard Grad, bioquímico do Allan Memorial Institute of McGill University. O Dr. Grad queria comprovar, mediante testes seguros, em laboratório, se era possível influenciar seres vivos, sem contato.

Em 1960, tiveram início os experimentos com camundongos. Destes, pequeno retalho de pele era retirado do dorso. Foram, depois, distribuídos em três grupos: 1) animais sobre cuja gaiola o Coronel Estebany simplesmente colocava a mão espalmada por cima, do lado de fora; 2) animais tratados da mesma maneira por uma pessoa sem dotes curativos; 3) animais que não receberam nenhuma imposição de mão. Isso durante alguns dias apenas. Em duas séries de tais ensaios, evidenciou-se que os camundongos tratados pelo oficial curaram-se significativamente mais depressa.

Daí por diante, B. Grad passou a investigar o processo germinativo. Em numerosos testes, sementes de centeio embebidas em água cujas garrafas o Coronel segurara entre as mãos foram comparadas com outras tantas embebidas em água não tratada. As pessoas que realizaram as contagens e medições das plântulas ignoravam quais delas tinham recebido a água influenciada por O. Estebany. Os achados confirmaram as experiências mencionadas anteriormente: houve crescimento significativamente mais rápido das plantinhas germinadas na água fluidificada pelo referido curador militar (1965).

Muitos outros experimentos científicos foram levados a cabo com o mesmo, inclusive para acelerar reações químicas e aumentar a hemoglobina no sangue. Na França, um biólogo queria o contrário, retardar o crescimento de certo fungo cultivado no seu laboratório; três indivíduos deram conta do recado, cada um por sua conta (acima mencionei a oração negativa para vegetais). Na Islândia, o já citado Erlendur Haraldsson verificou que sensitivos podem apressar a multiplicação da levedura em tubo de ensaio…  

(RIZZINI, Carlos Toledo. Evolução para o terceiro milênio: tratado psíquico para o homem moderno. Sobradinho, DF: EDICEL, 14ª ed., 2003, pp. 76-82)