Organização das Reuniões Mediúnicas

(Pixabay)(Reprodução)

Uma reunião mediúnica é trabalho que se desenvolve entre os dois planos da vida, o espiritual e o físico, havendo, portanto, duas equipes interagindo para a obtenção dos resultados. 

A natureza dos Espíritos que assessoram e participam das nossas reuniões mediúnicas é a que fazemos jus pelo processo de sintonia que sejamos capazes de oferecer. Se queremos a presença dos bons, temos que atraí-los pela elevação de nossos pensamentos e propósitos de edificação, como tão bem ensinava Kardec ao escrever, em O Livro dos Médiuns, capítulo XXIX, item 327: “Não basta que se evoquem bons Espíritos; é preciso, como condição expressa, que os assistentes estejam em condições propícias, para que eles assintam em vir”.

Assim sendo, todo esforço de organizar reuniões deve começar pela seleção adequada de seus integrantes. Ter sempre em mente esta colocação do Codificador, conforme se lê em O Livro dos Médiuns, capítulo XXIX, item 331: “Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá quanto mais homogêneo for”.

Como iremos conseguir essa coesão, essa unidade, com um grupo já desde o início excessivamente heterogêneo, se não temos critérios adequados para agregar novos elementos? Esperar que o valor da própria tarefa retifique características pessoais e psicológicas muito afastadas da média seria desconhecer os processos da natureza humana, que, normalmente, não da saltos.

 

Requisitos dos grupos mediúnicos

Ainda no capítulo XXIX, itens 329, 332, 333, 335 e 338 do primeiro tratado de paranormalidade humana, ao colocar o problema da homogeneidade, Kardec preocupou-se com inúmeras questões praticas, como o número de participantes, que não deveria ser excessivo, a regularidade das reuniões, a inconveniência da presença de médiuns obsidiados e a circunspecção que devemos ter na admissão de elementos novos, chegando mesmo a dizer: “As grandes assembleias excluem a intimidade, pela variedade dos elementos de que se compõem… Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor e há mais segurança quanto a eficácia dos elementos que para eles entram. O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família”.

Concluindo o seu excelente trabalho, listou no item 341, do capítulo já referido, os requisitos indispensáveis para o êxito de uma reunião mediúnica séria: “Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos; cordialidade recíproca entre todos os membros; ausência de todo sentimento contrario a verdadeira caridade cristã; o desejo único dos participantes de se instruírem e melhorarem por meio dos ensinos dos Espíritos; recolhimento e silêncio respeitosos; isenção, nos médiuns, de todo sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia”.

A essa tão ampla gama de requisitos, atrevemo-nos a acrescentar os seguintes: consciência clara dos objetivos da prática mediúnica; compreensão do papel a desempenhar, de acordo com a função de cada participante; esforços continuados de todos para se capacitarem; cooperação recíproca e motivação permanente.

Toda e qualquer atividade humana, para ter êxito, exige do candidato, sobretudo vocação para o empreendimento. Em seguida vêm os esforços do treinamento, da adaptação e valorização do trabalho, como formas de sustentar o interesse e liberar as forças criativas do indivíduo, latentes no imo de si mesmo. Porque no trabalho da mediunidade, onde lidamos com forças poderosas, desconcertantes mesmo e ainda não totalmente dominadas, teremos que improvisar e deixar que as coisas se resolvam por si mesmas?

 

Seleção dos participantes

Nos primeiros contatos com o Centro Espírita, as pessoas, via de regra, estão ansiosas, com feridas ainda não cicatrizadas oriundas dos relacionamentos sociais litigiosos, declarados ou não, sofrendo de neuroses, conflitos íntimos e incompreensões. Tem-se que permitir o asserenar dessas tensões, o amainar dessas tormentas psíquicas, a estabilização dessas energias descontroladas sob pena de se transformar tentativas de ajuda em maiores perturbações e dificuldades, daí advindo o desencanto e a apatia.

Um número razoável de pessoas tem-se inutilizado no expressar de suas possibilidades mediúnicas, por um largo período, ao serem colocadas em reuniões praticas antes do tempo, despreparadas. Nada mais negativo do que tentar engajamentos precipitados de pessoas com distúrbios psicológicos, ainda que relacionados com a eclosão da mediunidade. Se há mediunidade em afloramento e efetivo interesse do portador em educa-la, acolhe-se o neófito, da-se-lhe assistência fraterna, orienta-se-lhe o estudo, facilita-se—lhe a integração no trabalho da Casa, a fim de que ele, na ocasião oportuna, possa canalizar suas forças medianímicas de uma forma segura.

Colocando a questão da seleção dos participantes para as reuniões mediúnicas, diremos com Nilson de Souza Pereira, presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção, que devemos selecioná-los pelo seu empenho, assiduidade, carater, devotamento e interesse em querer participar ativa e responsavelmente do grupo. Esta colocação de Nilson remete-nos a ideia de que trabalho mediúnico é para pessoas integradas a vida do Centro Espírita.

Devemos entender integração como uma realização permanente, um esforço continuado de vivência do ideal e de convivência fraterna. E preciso descobrir o prazer de estar junto, de construir solidariamente a seara de amor que o Senhor nos confiou, e esses estar e caminhar juntos significam, sobretudo, um compromisso de trabalho com alegria.

 

Atitudes sempre necessárias

Lembraríamos alguns programas integrativos de real valor para as nossas equipes mediúnicas:

Participação nas atividades do Centro — Essa é uma responsabilidade grande dos dirigentes de reuniões que, além de participar, devem estimular todo o grupo para esse mister. De relevância, nesse particular, os trabalhos assistenciais da Casa, pois, refletindo com André Luiz, os Espíritos acompanham os trabalhadores da mediunidade examinando lhes os exemplos.

Na opinião de Suely C. Schubert, com a qual concordamos plenamente, o grupo mediúnico não pode se constituir um corpo isolado dentro da Instituição.

Conversação Edificante — Bastam os seguintes conselhos de André Luiz: Claro que, terminada a reunião, se sintam os integrantes do grupo inclinados a entrelaçar pensamentos e palavras na conversação construtiva… Falemos cultivando bondade e otimismo. Importante que a palavra não descambe para qualquer expressão negativa

Nunca é demais esclarecer que a conversação deve passar-se fora da sala onde se desenrolam os trabalhos, pois que a saída dos participantes dar-se-a, necessariamente, em clima de absoluta harmonia e silêncio.

Estudo — Poucas coisas integram mais do que o estudo. A desmotivação geralmente toma corpo quando as pessoas, não tendo ânimo para o estudo metódico dos assuntos pertinentes a mediunidade, deixam de apreender, o quanto poderiam as lições e os resultados auferidos nas reuniões. Há um aprendizado muito rico que se adquire na conversação sadia, na troca de experiências, o qual, muitas vezes, deixa-se de absorver dada a pressa de retorno ao lar ou de voltar mentalmente para as faixas comuns em que habitualmente nos movimentamos.

Esse aprendizado pratico obtido pela reflexão, pelos questionamentos que façamos aos mais experientes, e tão importante quanto o estudo metódico organizado que a Instituição, ou o grupo, devera promover, mas do qual se incumbirá, também, o seareiro, por iniciativa pessoal, num esforço de autodidatismo dos mais valiosos.

Culto do Evangelho no Lar — As diretrizes para a sua correta feitura podem ser encontradas no livro Messe de Amor, psicografia de Divaldo Franco, do Espírito Joanna de Ângelis, capítulo 59. André Luiz coloca a sua necessidade, tendo em vista atender os Espíritos que habitualmente estacionam em nossos lares e os que para ali são conduzidos antes ou após as tarefas da desobsessão. O trabalhador da mediunidade precisa manter, no lar, a lâmpada da oração permanentemente acesa.

É uma boa prática o grupo mediúnico fazer o culto do Evangelho, periodicamente, na residência de cada um de seus membros, mediante revezamento entre os que desejam. Convém manter, nessas ocasiões, um compromisso de simplicidade, servindo tão somente agua fluidificada, para evitar que o evento transforme-se num acontecimento social, com lanches e outras iguarias, o que inibe, naturalmente, os que não podem oferecê-los ao nível dos demais. Reforçar, sobretudo, nesses encontros, a inconveniência das comunicações ostensivas.

 

Preparo dos participantes

Uma outra questão a tratar, ainda que de passagem, é a preparação dos participantes. Habilidade e esforços fazem-se necessários para superar o cansaço natural decorrente das lutas e preocupações existenciais, de modo a assegurar a condição de recolhimento íntimo preconizado por Kardec.

João Cléofas, Espírito, na obra Suave Luz nas Sombras, psicografia de Divaldo Franco, adverte-nos contra as ciladas contínuas da insensatez, do cansaço, da desmotivação, da rotina, além de outros inconvenientes imagináveis, como forma de se evitar que a mente sonolenta e indisposta perturbe o fluxo da corrente vibratória do mundo espiritual para a Terra e desta para aquele, comprometendo o resultado da reunião.

Há problemas compreensíveis gerados pela agitação da vida moderna, principalmente nos grandes centros urbanos. Como são raras as pessoas que se podem colocar a salvo dessas dificuldades, paga-se o ônus correspondente. A solução para a problemática passa por uma decisão séria: economizar forças, não gastar energias com o culto a inutilidade; jamais se afadigar por coisas e valores dispensáveis; meditar, o quanto possível, buscando colocar a mente em temas superiores quanto edificantes.

Manoel Philomeno de Miranda recomenda-nos dormir um maior número de horas no dia que antecede o compromisso mediúnico, como um pré-operatório, usando expressão de Divaldo Franco, que também nos ensina que a frequência as reuniões doutrinárias e um dos recursos para superar esses impedimentos, porque o trabalhador já se vai ajustando ao circuito de forças do labor mediúnico.

 

Características da sala de reuniões mediúnicas

Uma outra condição importante a se considerar seria o cuidado com o ambiente, que, segundo a maioria dos autores especializados no assunto, deveria ser o mais confortável possível (ventilado, amplo, asseado, etc.). Sobretudo considerar, com André Luiz, que os labores da desobsessão — e por que não dizer das reuniões mediúnicas em geral — “requerem o ambiente do templo espírita para se desenvolverem com segurança”. Reservá-lo, portanto, exclusivamente, para tal mister e atividades afins. Não seria preciso aprofundar o quanto é prejudicial a harmonia do trabalho realizado pelos Espíritos, muitos deles antecipadamente, a utilização desse santuário para outras atividades incompatíveis com o labor mediúnico, em que nossa mente pudesse distraidamente prejudicar as operações permanentes da Equipe Espiritual ou impregnar aquele espaço dedicado a oração e a enfermagem espiritual com vibrações mentais de teor menos digno.

 

Recomendações

Finalizando, abordaremos a questão da assiduidade, que merece uma atenção especial dos participantes do grupo mediúnico, uma vez que os Benfeitores Espirituais, no dizer de Andre Luiz, esperam que “estejamos atentos às obrigações que depositam em nossas mãos e nas quais não devemos falhar”. A ausência de um companheiro, entre outros prejuízos, causa apreensão no grupo, contribuindo para a indisciplina mental.

Assumido o compromisso, coloquemo-lo na pauta de nossas prioridades e, a não ser por motivo justificável pela nossa consciência, jamais deixemos de comparecer, no horário previsto, ao labor do intercâmbio espiritual.

(AZEVEDO, G. de, NEVES, J., FERRAZ, J. e CALAZANS, N. Reuniões mediúnicas. Projeto Manoel P. de Miranda (Reuniões mediúnicas), Salvador: LEAL, 5ª ed., 1993, pp. 23-30)