Objetivos das Reuniões Mediúnicas

(Pixabay)(Reprodução)

No capítulo XXIX, item 324, de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec classifica as reuniões mediúnicas, segundo a natureza, em frívolas, experimentais e instrutivas.

As reuniões frívolas são constituídas de pessoas que se interessam predominantemente pelo aspecto do passatempo e do divertimento por meio das manifestações de Espíritos levianos que, nessas circunstâncias têm a inteira liberdade para espicaçarem a curiosidade e o interesse dos participantes com relação as coisas banais, adivinhando a idade das pessoas, o que trazem nas bolsas, fazendo previsões para o futuro, oferecendo pseudossoluções para os “casos de amor” e outros segredinhos de somenos importância.

As reuniões experimentais têm mais particularmente por finalidade a produção de manifestações físicas, de fenômenos objetivos. Kardec afirma que, para muitas pessoas, representam um espetáculo mais curioso que instrutivo, não sendo raro os incrédulos saírem delas mais espantados que convencidos. Essas reuniões são promovidas pelos Espíritos superiores para que sejam reveladas aos homens as leis que regem o mundo invisível e suas relações com o mundo físico, constituindo-se poderoso meio de convicção para muitos.

É importante observar que os Espíritos, ao promoverem tais experiências, utilizam-se da forma de expressão científica de cada época para chamarem a atenção dos homens.

Enquanto a percepção de mundo da Ciência não ia além do aspecto mecânico, os fenômenos espíritas evidenciavam-se por meio dos raps, apports e movimentos físicos de varia ordem. Voltou-se ela para o universo do homem, descobrindo as leis da genética e aprofundando o interesse pela compreensão da vida, já os Espíritos colocaram-se nessa direção, revestindo formas ectoplásmicas, transitórias, compostas a partir de material produzido pela célula humana, em condições especiais de manipulação. Na atualidade, ao abandonar a posição rígida do materialismo mecanicista para perceber os fenômenos cósmicos como manifestações de ondas e vibrações, criando a cibernética, as conquistas tecnológicas da eletrônica, dos computadores, e eis que os Espíritos passam a atuar nessa area, interferindo nos circuitos, inserindo suas faixas de pensamento na frequência desses aparelhos para revelar aos homens a indestrutibilidade da vida e a realidade espiritual.

As reuniões instrutivas, como o próprio nome indica, são as que ensejam orientações e experiências de crescimento intelecto-moral para as pessoas que delas participam. O ascendente moral da presença dos Espíritos nobres deve ser assegurado mediante interesse dos encarnados pelas questões sérias, o que denota aspiração sincera de se instruírem e melhorarem. Kardec reforça a seriedade como condição primordial, esclarecendo que, séria, na acepção integral da palavra, só o é a reunião que cogita de assuntos úteis com exclusão de tudo mais. A base de raciocínio do Codificador para tal assertiva é o não poder aliar-se o sublime ao trivial nem se obter o concurso dos bons Espíritos sem se criarem condições propícias para que eles venham as reuniões.

São nessas reuniões instrutivas e sérias que se pode receber os ensinos da Doutrina e aprofundá-los mediante exame das proposições morais dadas pelos Espíritos, do estudo dos fatos e da pesquisa sobre a teoria e causa das manifestações mediúnicas. Essas são as reuniões que, hoje, denominamos, no Movimento Espírita, de mediúnicas, e que serão objeto de uma série de reflexões para sinalizarmos alguns aspectos indispensáveis, à guisa de modesta contribuição, para quantos delas participam, no sentido de conscientiza-los melhor quanto as responsabilidades inerentes a essa participação.

Arguido, em seminário promovido pela USE, (abril/1980), Divaldo Franco declarou que existem pessoas que afirmam gostar das reuniões mediúnicas porque nelas vão fazer a caridade. Esse pensamento não é correto, porque, na verdade, ali é o lugar onde vamos aprender e receber a caridade, esclareceu o médium e tribuno baiano. Justificando o seu conceito, Divaldo elucida que o Espírito em sofrimento, a quem pressupomos estar socorrendo, é que nos esta fazendo a caridade, porque está dizendo sem palavras: Olhe o que aconteceu comigo. Ou você muda de comportamento ou vai acontecer com você a mesma coisa! 

Objetivos

Então, o primeiro objetivo das reuniões mediúnicas é a instrução dos participantes encarnados. Que seja, portanto, o nosso propósito constante o de aproveitar cada lição, cada depoimento, como uma oportunidade de aprender, uma instrução prática que os bons Espíritos estão nos ensejando. ]amais nos coloquemos diante do fato espírita como se o mesmo nada tivesse a ver conosco, como se, pretensiosamente, já tivéssemos superado totalmente aquele problema-lição que nos chega.

No livro O que é o Espiritismo, Capítulo II, item 50, Allan Kardec afirma: O fim providencial das comunicações é convencer os incrédulos de que tudo para o homem não se acaba com a vida terrestre, e dar aos crentes ideias mais justas sobre o futuro.  Mais uma vez aparece claramente a importância do aprendizado para os participantes das reuniões mediúnicas, os crentes, no dizer de Kardec.

Daí surge uma colocação adicional: o convencimento dos incrédulos, propiciado como decorrência das comunicações obtidas nas reuniões mediúnicas. Esse é o segundo objetivo dessas reuniões. Não deveremos entendê-lo como um proselitismo vulgar de arremessar informações espíritas contra as crenças alheias, sem qualquer preocupação com o respeito devido as liberdades individuais. Nem se entenda que para convencer os incrédulos devamos abrir as nossas reuniões mediúnicas aos negadores sistemáticos, materialistas e gozadores de todo jaez, sem o mínimo conhecimento do que ali se passa e totalmente desarmonizados para tão relevante cometimento, pois foi exatamente o contrário o que preconizou Kardec no item 34 de O Livro dos Médiuns, capítulo III, intitulado Do Método, e em todo o capítulo XXIX da monumental obra. No nosso entender, o que Kardec quis colocar é que as reuniões devem produzir comunicações convincentes, de qualidade, verdadeiras e instrutivas, de modo a revigorar o corpo da Doutrina e fazê-la avançar para que permaneça como farol norteando a caminhada evolutiva do homem.

Convencer os incrédulos é tarefa muito mais da Doutrina que do fenômeno, pois que aquela transcende a este, conferindo-lhe bases interpretativas legítimas e sólidas. Se fenômenos impressionantes aparecem na esfera de responsabilidade de alguns médiuns (uns de prova, outros em missão,) a Doutrina pode e deve brotar de cada grupo mediúnico sério (e todos devem sê-lo) como um minadouro de água cristalina.

Nas reuniões mediúnicas, os princípios revelar-se-ão nos detalhes, a lei mostrar-se-a nos exemplos, o substrato moral far-se-á remédio e orientação, tudo isso compondo uma massa crítica de informações e transformações energéticas que inevitavelmente ira irradiar-se, promovendo o progresso alvitrado por Kardec e pelos Espíritos.

O espiritista adestrado nas lides mediúnicas saberá expor os fatos espíritas com entusiasmo e critério. Por outro lado, em se transformando moralmente, mostrará a força equilibradora dos postulados abraçados, transformando-se num divulgador natural da Doutrina: a fé restaurada sob as bases do conhecimento imortalista.

Poderíamos dizer que os materialistas por sistema e os incrédulos de má vontade e de má fé, que Kardec situou claramente na obra e capítulo anteriormente citados, por enquanto inabilitados e bloqueados para o ensino direto da Doutrina, recebem benefícios indiretos por meio do progresso que o conhecimento espírita introjeta na Sociedade.

Mas, não somente esses são incrédulos. Também o são a imensa multidão dos desanimados, dos que perderam momentaneamente a esperança de encontrar um caminho para a fé no meio de tantas aflições que experimentam, e os ingênuos que, cansados do ludibrio e da exploração vil a que foram submetidos, batem as portas da Casa Espírita procurando o abrigo do Consolador.

Esses incrédulos podem e devem receber os benefícios diretos da fé. Muitos deles estão desencarnados e constituem a nossa clientela de trabalho nos labores mediúnicos, onde recebem as terapias desalienantes quanto consoladoras de que carecem. Outros tantos estão encarnados e igualmente acorrem as nossas Casas com as mesmas motivações e necessidades. Recebidos e aclimatados, aliviados e esclarecidos, podem pleitear, se o desejarem, o labor mediúnico onde se esclarecerão em profundidade enquanto servem.

Não passou despercebido a Kardec um outro aspecto das reuniões mediúnicas, a finalidade complementar da instrução e sua consequência lógica, ou seja: a ação benfazeja, a oportunidade de sermos úteis aos nossos semelhantes enquanto nos instruímos. Foi por isso que ele escreveu no capítulo XXV de O Livro dos Médiuns, item 281: a evocação dos Espíritos tem, além disso, a vantagem de nos pôr em contato com Espíritos sofredores, que podemos aliviar e cujo adiantamento podemos facilitar por meio de bons conselhos...

Este é o terceiro objetivo das reuniões mediúnicas, decorrente dos demais. Esta finalidade esta perfeitamente embasada em posições religiosas, pois Jesus definiu claramente a importância das terapias socorristas aos Espíritos sofredores da Erraticidade ao recomenda-las aos seus discípulos, conforme anotou Mateus no capítulo 10, versículo 4: “Tendo chamado os doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades” e, também no versículo 8: “curai enfermos, ressuscitai os mortos, purificai leprosos, expeli demônios,- de graça recebestes, de graça dai…”

Desse modo, aponta-se como tarefa precípua do Cristianismo, hoje restaurado em sua essência pelo Espiritismo, pelo menos nessa fase histórica em que vivemos, de planeta de expiações e provas, a cura das feridas morais dos indivíduos e a desobsessão coletiva da Sociedade, sem o que o progresso social e moral tornar-se-a mais difícil e demorado.

 

Na mensagem intitulada Enfermagem Espiritual Libertadora, constante do livro Temas da Vida e da Morte, psicografia de Divaldo Franco, diz o autor espiritual, Manoel P. de Miranda, que as terapias de socorro aos Espíritos sofredores já eram praticadas no plano espiritual, como ainda hoje o são, antes do advento do Espiritismo. Com a sua chegada ao universo dos homens, criaram-se regras e orientações seguras para o exercício mediúnico, e as reuniões de objetivos elevados passaram a ser realizadas de modo vasto, no plano físico, com o intuito de acelerar a marcha de regeneração da Humanidade.

Esses apontamentos do Amigo Espiritual fazem-nos recordar o Pai-nosso que nos leva sempre a repetir: seja feita a tua vontade na Terra como no céu.

Isso significa uma transferência de qualidade, uma proposta de trabalho para que sejamos capazes de implantar em nosso plano o que já existe nas esferas da Vida Maior. Portanto, fazer reuniões mediúnicas entre nós, multiplicá-las em quantidade e, sobretudo, em qualidade, esta no contexto desse grande projeto divino de fazer com que seja assim na Terra como no céu.

Assim, o lidador das tarefas mediúnicas deve ter sempre em mente os magnos objetivos do intercâmbio espiritual: instruir-se e aperfeiçoar-se moralmente com vistas ao futuro espiritual; produzir comunicações convincentes para que a Doutrina possa convencer os incrédulos e, por fim, colaborar com os Espíritos superiores na tarefa de aliviar e aconselhar os Espíritos sofredores, facultando-lhes o burilamento moral mediante bons conselhos e exemplos salutares. 

(AZEVEDO, G. de, NEVES, J., FERRAZ, J. e CALAZANS, N. Reuniões mediúnicas. Projeto Manoel P. de Miranda (Reuniões mediúnicas), Salvador: LEAL, 5ª ed., 1993, pp. 15-22)