O fenômeno no Novo Testamento

(Reprodução)

Precisamos, ainda, antes que o livro fique grande demais, dar uma espiada no Novo Testamento. Para isso, temos de ser econômicos em nossas citações, porque então seria necessário escrever outro volume. O relato dos Evangelhos sinóticos (os três primeiros, de Mateus, Marcos e Lucas, como sabe o Leitor) começam pelo nascimento de Jesus, precedido e seguido por manifestações mediúnicas. Seres espirituais apresentam-se à vidência de Maria ou conversam com José nas horas de repouso e desdobramento durante o sono.

O texto bíblico em geral (Antigo e Novo Testamentos) costuma chamar tais seres de anjo. É preciso lembrar, contudo, que o termo adquiriu, com o tempo, significado diferente do original, pois na língua grega – na qual foram traduzidos o Antigo e o Novo – a palavra quer dizer simplesmente mensageiro e não um ser espiritual semidivinizado. Da mesma forma daimon nada tinha a ver com demônio, e sim gênio ou espírito e só eventualmente tornou-se Demônio, no sentido de espírito do mal. Sócrates conversava habitualmente com o seu daimon, mas nada tinha de endemoninhado. Pelo contrário.

O ministério de Jesus é toda uma antologia de fenômenos insólitos – suas curas, o domínio sobre as forças da natureza, a transfiguração, materializações de espíritos, o retorno à vida de algumas pessoas, sua incrível capacidade de penetrar a mente das pessoas e, finalmente, o sepulcro vazio e a apoteose da ressurreição, seguida por várias aparições e até materializações de seu corpo perispiritual.

O regresso de Jesus às regiões superiores do mundo espiritual não significou, contudo, o abandono dos discípulos e amigos aqui deixados para dar continuidade ao trabalho por ele implantado. Os Atos dos Apóstolos e as diversas Estolas mantêm e até ampliam a tradição bíblica do intercâmbio com os seres invisíveis.    

(Hermínio C. Miranda, O que é fenômeno mediúnico. São Bernardo do Campo, SP: Ed. Espírita Correio Fraterno, 3ª ed., 1995, pp. 50-51)