Guias espirituais do povo judeu

(Festim de Baltazar, séc. XV/XVI, autor desconhecido)

Qualquer que seja a postura de quem a lê, a Bíblia é um conjunto de livros pontilhados de fenômenos mediúnicos da mais variada natureza, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Se há um povo que foi instruído, orientado, conduzido e estruturado ostensivamente pelos guias espirituais, esse povo é o judeu. Toda a sua história é um suceder contínuo de pregação mediúnica através de seus muitos videntes e profetas, desde que, movido por uma experiência mediúnica, o patriarca Abraão partiu de Ur rumo ao que para ele, era uma aventura no desconhecido, mas não para os Espíritos que supervisionavam a sua missão histórica. Parece que é ali que começa a desdobrar-se o projeto de criação de um povo destinado a acolher o conceito de um Deus único.

São inúmeras as passagens nas quais a interferência do fenômeno mediúnico é óbvia no rumo de relevantes acontecimentos e há evidência de que as faculdades responsáveis pela ocorrência do fenômeno são, usualmente, as principais características pessoais que protegem seus portadores e os põem como criaturas respeitáveis e dignas de serem ouvidas.

No já mencionado episódio de Baltasar (Daniel 5:1-31), o jovem médium judeu Daniel foi chamado a desvendar o enigma das palavras escritas na parede do palácio durante o festim. Corajosamente, anunciou o que significavam: o fim de Baltasar, cujos dias estavam contados e que nada tinha realizado de espiritualmente proveitoso, uma vez que fora pesado na balança e achado muito leve. Seu reino seria dividido e entregue aos medos e aos persas. Era o que queriam dizer as misteriosas palavras produzidas por escrita direta.  

Anos antes, contudo, Daniel, ainda jovem, estava sendo criado no palácio do rei com outros jovens judeus, lançara-se como figura destacada da corte ao interpretar corretamente um sonho de Nabucodonosor, pai de Baltasar e que antecedeu ao filho no trono.

A princípio, Daniel não entendeu a mensagem mediúnica do sonho. Pediu prazo ao rei, recolheu-se e orou, pedindo ajuda espiritual para acertar, com o sentido exato do sonho do rei, já que este decretara a morte de todos os profetas e adivinhos do reino que não haviam conseguido interpretá-lo.

– Então – diz a Bíblia, em Daniel 2:19 – o mistério foi revelado a Daniel em uma visão noturna. 

Tão satisfeito ficou o rei, que designou Daniel para um elevado cargo na hierarquia de seu governo e deu-lhe inúmeros e valiosos presentes.

(Hermínio C. Miranda, O que é fenômeno mediúnico. São Bernardo do Campo, SP: Ed. Espírita Correio Fraterno, 3ª ed., 1995, pp. 34-36)