Como surgiu o Decálogo

(Pixabay (Reprodução))

 

Todos nós sabemos da importância do Decálogo, mais conhecido como Os Dez Mandamentos. É um dos códigos de moral mais antigos, mais respeitados e difundidos do mundo. As normas de procedimento nele contidas continuam válidas hoje e continuarão no futuro. Quando o Cristo disse que não veio revogar a lei, mas cumpri-la, referia-se aos preceitos do Decálogo, documento básico de toda a estrutura religiosa, política e social do povo judeu.

Em Lucas (Capítulo 10), um doutor da lei pergunta a Jesus o que deve fazer para ganhar a vida eterna e Jesus responde com outra pergunta: ‘O que está escrito na Lei?’ ‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a tua mente’ – responde o doutor. Jesus limitou-se a comentar: ‘Bem respondido. Faze isso e viverás.’

A versão de Marcos (Capítulo 12) é ainda mais explícita e direta. Um escriba aproxima-se do Cristo e lhe pergunta qual, na sua opinião, seria o mandamento mais importante. Jesus respondeu-lhe citando o primeiro mandamento: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças’.

– O segundo (mandamento) – prossegue Jesus – é ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Não há maiores mandamentos do que estes. 

Nessas e em outras passagens, Jesus deixou bem claro o testemunho do seu respeito e acatamento pelo Decálogo, que, acima de divergências doutrinárias desta ou daquela religião, é um roteiro seguro de bom procedimento entre os seres humanos. Nem todos, porém, sabem ou admitem que o Decálogo resulta de um fenômeno mediúnico, como se pode ver nos textos bíblicos, em Deuteronômio, Capítulo 5 e Êxodo, Capítulos 20 e 34.

Em resumo, a história passou-se da seguinte maneira: dispunha Moisés de faculdades que hoje chamaríamos de mediúnicas, como se pode comprovar de uma simples leitura dos primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco, que falam dele. Certa vez, Javé mandou que ele fosse sozinho ao Monte Sinai. Lá, diz o texto (Êxodo 31:18) ‘Depois de falar com Moisés no Monte Sinai, (Javé) lhe deu as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.

Essa é a maneira da época para informar que as palavras escritas na pedra (seriam ardósias?) foram recebidas mediunicamente, de um Espírito Superior que atuava como guia do povo judeu, pelo qual era considerado um ser divino. Ante a sumária informação contida no texto não poderíamos hoje determinar com precisão como foram grafadas as palavras nas duas placas de pedra; supomos, contudo, que haja ocorrido um fenômeno mediúnico de efeitos físicos, provavelmente com a materialização das mãos do Espírito manifestante, uma vez que o texto diz que as pedras foram ‘escritas pelo dedo de Deus’, e não com os de Moisés. Neste último caso, teria sido um fenômeno de psicografia, audiência, vidência ou inspiração, todos de natureza intelectual. 

Seja como for, o texto não era de autoria de Moisés, por uma razão muito simples de apurar. É que, ao descer do monte, com as tábuas nas mãos, depois de passar lá em cima quarenta dias e quarenta noites, Moisés foi encontrar o povo de volta aos cultos da idolatria. Seu próprio irmão Aarão havia concordado em fundir um bezerro de ouro para que o povo tivesse um ídolo visível que servisse de deus e aceitasse os sacrifícios e oferendas e os rituais que Moisés havia proibido desde que haviam saído do Egito. Suponho que esse bezerro fosse uma representação do boi Apis, importante divindade egípcia.

Moisés ficou de tal maneira transtornado que, num ímpeto de cólera, atirou as placas de pedra no chão, quebrando-as em pedacinhos. Só depois lhe teria ocorrido que não seria capaz de reconstituir pessoalmente, com seus recursos, o texto que elas continham. Por isso, recorreu novamente a Javé, que lhe transmitiu a seguinte ordem:

– Prepara outras duas pedras como as primeiras, sobe para onde estou eu e eu escreverei nelas as palavras que haviam nas primeiras que você quebrou.

Assim foi feito, repetindo-se o fenômeno mediúnico já narrado.   

(Hermínio C. Miranda, O que é fenômeno mediúnico. São Bernardo do Campo, SP: Ed. Espírita Correio Fraterno, 3ª ed., 1995, pp. 18-20)