Mediunidade

(Pixabay (Reprodução))

Mas não acertamos ainda um modo de compreender o termo mediúnico. Que é isso?

Para que isso aconteça, temos de fazer um pouco de ginástica mental, o que, aliás, é muito bom para saúde da inteligência, assim como o exercício físico é bom para a saúde do corpo.

Mediúnico é uma palavra derivada de médium. Apesar do jeito meio latinizado da palavra, até eu sei que médium é algo que fica no meio, da mesma forma que média (aritmética ou geométrica) é uma certa grandeza que fica situada entre dois números extremos de uma série. Por exemplo: se a temperatura num determinado dia variou de 10 graus e a máxima de 20 graus, posso dizer que a temperatura média do dia foi de 15 graus. Certo?

O médium é, portanto, um intermediário, alguém que ‘fica no meio’ entre duas posições. Allan Kardec é que propôs a utilização da palavra, bem como de outras, como espírita, Espiritismo, perispírito, agênere, etc, porque entendia ele, acertadamente, a meu ver, que para designar coisas novas, precisamos de palavras novas e o Espiritismo era algo novo que ele estava explicando, tal como os Espíritos explicavam a ele.

Por isso, chamou ele de médium à ‘pessoa que pode servir de intermediária entre os Espíritos e os homens’. É o que se lê em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXXII, ao qual intitulou Vocabulário Espírita.

Pela definição proposta por Allan Kardec, e prontamente adotada, observamos que há três aspectos distintos no conceito de mediunidade, ou seja, na faculdade de que dispõem os médiuns: 1) os Espíritos; 2) o médium; e 3) os seres humanos encarnados.

É o médium, portanto, que serve de elemento de ligação entre os Espíritos (desencarnados) e as pessoas (encarnadas), funcionando como intermediário entre um lado e outro da vida. Os Espíritos precisam dele para se comunicar com as pessoas e nós que aqui estamos nesta última condição, de encarnados, precisamos deles para ver, ouvir, conversar com eles ou receber outras formas de mensagens de amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos desencarnados.

Na verdade, espíritos somos todos nós, tanto faz estarmos encarnados ou não, mas costumamos chamar de espíritos aos desencarnados.

Os corpos físicos são apenas instrumentos de trabalho que as leis naturais nos concedem por alguns anos. São máquinas de viver na Terra, da mesma forma que você tem de vestir um escafandro para descer ao fundo do mar ou uma roupa de astronauta para viajar numa nave espacial.

Antes da formação do corpo, durante os nove meses da gestação em nossas mães, já éramos espíritos. Somos espíritos enquanto estamos morando nesse corpo físico e continuaremos a ser espíritos depois que, abandonando como imprestável ao uso para o qual foi formado, o corpo morre e decompõe-se. Em suma: o corpo é uma residência provisória do espírito imortal. Por isso, ninguém deveria confundir a casa onde mora com a personalidade e a individualidade dos que moram nela. No entanto, muita gente fina faz essa confusão.

Acontece que, enquanto estamos encarnados, não vemos os espíritos. E é por isso que muita gente acha que eles nem existam, pois há os que somente acreditam naquilo que podem ver, pegar, cheirar, etc. E não vemos, porque nem todos dispomos de condições apropriadas, de faculdades mediúnicas, ou melhor ainda, nem todos somos médiuns suficientemente treinados para ver ou servir de intermediários entre espíritos e pessoas encarnadas. Daí a definição proposta por Allan Kardec, ou seja: médium é a ‘pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens’.

Consequentemente, fenômeno mediúnico é uma ocorrência natural, um fato ou evento observável, por meio do qual os espíritos desencarnados se comunicam com as pessoas encarnadas, utilizando-se de um médium, ou seja, de uma pessoa dotada de faculdades especiais suficientemente desenvolvidas para servir de instrumento de ligação, a fim de que o fenômeno possa ocorrer. Da mesma forma que o telefone, o rádio ou a TV são instrumentos de comunicação entre os encarnados. (A TV, às vezes, até apresenta ‘fantasmas’…).

Chama-se mediunidade a faculdade especial do ser humano encarnado através da qual se produz o fenômeno mediúnico. Acontece, porém, que a mediunidade se apresenta sob muitas maneiras, em diferentes pessoas ou de várias maneiras na mesma pessoa.

– Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos – escreveu Kardec em O Livro dos Médiuns, capítulo XIV – é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao ser humano; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo.   

Raras são as pessoas que não tenham alguma faculdade, pelo menos em estado latente, o que significa dizer que, em princípio, todos somos médiuns, com maior ou menor intensidade e desenvolvimento.

(Hermínio C. Miranda, O que é fenômeno mediúnico. São Bernardo do Campo, SP: Ed. Espírita Correio Fraterno, 3ª ed., 1995, pp. 13-15)