A política à luz da lei de sociedade

(Reprodução)

 

Aristóteles define a política como a ciência do exercício da ética e da busca da felicidade coletiva da pólis. O filósofo grego reconhece que nas comunidades, como nas famílias, as pessoas têm diferentes papéis, mas suas relações devem coexistir de forma harmônica. O legado de Aristóteles reverbera no espiritismo.

O Livro dos Espíritos (1857), obra seminal de Allan Kardec, nas questões de número 766 a 775, aborda a chamada Lei de Sociedade. No breve capítulo, o codificador apresenta as considerações dos espíritos, que afirmam ser imprescindível para a evolução espiritual a vida em sociedade, legado divino para a evolução moral tanto individual quanto coletiva, em que os relacionamentos humanos se contrapõem aos estilos de vida de isolamento, de silêncio e de ociosidade. Aprender a se relacionar com o outro é um traço incontornável da evolução social e espiritual.

Quando refletimos sobre as três revelações, as grandes premissas morais da humanidade, notamos paralelo com o processo de evolução das sociedades. Importa lembrar que o primeiro ordenamento moral para a Doutrina Espírita vem do Decálogo de Moisés, apresentando princípios de relacionamento entre o homem e Deus, e entre o homem e seus iguais, esclarecendo sobre a necessidade de se nortear a vida pelo respeito a Deus e suas leis, e à sanidade moral nas relações em família e em sociedade. Honrar os pais, não matar, não roubar são alguns dos princípios tão importantes como nutrir o amor divino. As lições de Jesus deram novo olhar aos princípios mosaicos, sintetizados no amor a Deus e ao próximo, que, em lugar de restringir, ampliam a acepção do amor para níveis mais universais. A Codificação veio reforçar as bases mosaicas e cristãs, trazendo atualidade às palavras de Jesus, afirmando a potência de seu discurso para a humanidade despertar para a consistência da vida moral, lições  expostas em suas mensagens, como da vida ultrapassando a limitação da experiência material. Os relatos dos espíritos, irmãos nossos em outra esfera de existência, traduzem os efeitos de suas experiências na vida corpórea, muitas  vezes submetidas a dores ante seus equívocos e desatinos morais. 

Não é possível conceber o exercício do amor ao próximo sem a abertura humana à construção de relacionamentos de qualidade com o outro e com a sociedade. Amar ao próximo não se limita em nutrirmos afeição aos nossos familiares ou aos nossos iguais, mas nos exige crescimento para adotarmos a tolerância com todos, inclusive com os que divergem de nossas opiniões.

É uma necessidade humana aprender a amar e viver coletivamente, seja em família, em comunidade, em sociedade, em uma nação ou em um planeta, e esse modo coletivo de vida é fortalecido pelo exercício saudável de princípios éticos e de trabalho consistente pelo bem comum. A vida amadurecida em comunidade exige ultrapassar a separação por bandeiras ou ideologias. Utilizar os princípios mosaicos, cristãos ou espíritas para justificar preconceitos e ações violentas contra os que pensam diferente é se diminuir moralmente e se omitir diante da premissa maior do necessário exercício do amor apregoado pelas principais religiões do planeta. Moisés sofreu por seu povo no Egito, Jesus padeceu ante o império romano, Kardec amargou o antagonismo de seus detratores. A história ensina que as crenças frágeis e seus agentes perecem, como os falsos ídolos, que sempre ruíram ao longo das gerações, mas prevalecem os defensores da verdade das leis divinas, que são incontestáveis e perenes.

As relações sociais estão transpassadas pela política, não as simples denominações partidárias, mas o trato ético entre os cidadãos, em bases legais e republicanas, em que o bem comum deve nortear o estado, suas ações e instituições.

A intolerância é o veneno dos relacionamentos pessoais e sociais, chaga que gera a violência e mina a evolução moral individual e coletiva, retardando a transformação planetária e prestando serviço apenas aos que se nutrem do atraso em suas mais diferentes máscaras.