A Reunião Mediúnica

Van Gogh. Comedores de batatas, 1885.

A Casa Espírita, que reconhecemos aqui como lugar que se organiza em torno do estudo e da aplicação do Doutrina Espírita, à luz da Codificação trazida a nós por Allan Kardec, possui campo para diversas atividades.

Palestras públicas, grupos de estudos, assistência social, eventos comunitários etc. fazem parte do universo de iniciativas de um Centro Espírita. Quando tratamos de grande público, não devemos incluir ações especializadas, que precisem de rigor e prévio conhecimento doutrinário, nem assim exigir dos frequentadores. Se quisermos tratar de um estudo científico, por exemplo, será demais para o grande público acompanhar os raciocínios e elaborações dos palestrantes. Possível é, mas se adequa melhor a grupos de estudos especializados, já devidamente inseridos no campo de discussões avançadas.

Semelhante cautela podemos encontrar nas tarefas mediúnicas, porque há certos cuidados para garantir o êxito em sua execução, atendendo ao princípio da caridade, mas nunca abrindo mão das diretrizes da Codificação e da disciplina que deve cercar esse tipo de reunião.

As normas gerais para as reuniões mediúnicas são simples:
1-Privacidade;
2-Horário, duração e frequência definidos;
3-Preparo de seus participantes (doutrinário e evangélico);
4-Assiduidade da equipe.

A privacidade recomendada para a reunião mediúnica se refere a respeitar a seriedade das tarefas que propõe, porque o sofrimento não deve ser um espetáculo público, nem a dor dos frequentadores encarnados que ali acorrem, nem mesmo os quadros de pesar dos irmãos desencarnados que participam e às vezes dialogam com a equipe de orientadores.  O espírito merece ser acolhido em um ambiente de caridade e respeito, que ofereça escuta sem julgamentos prévios, mas com a determinação de esclarecer com amor, propondo renovação de pensamentos, sentimentos e vontades.

A disciplina é eixo fundamental das tarefas mediúnicas, envolvendo regularidade de  atividades, com horários, dias e equipes definidas. A reunião mediúnica pode ter duração fixa de uma hora, hora e meia e até de duas horas, em dias certos na semana. A reunião conta com o apoio da espiritualidade, que tem muito trabalho a fazer, assim não estará a disposição para prorrogações desnecessárias de atividades, nem para ações inúteis ou vazias de fins caritativos. Às vezes a disponibilidade e a vontade do trabalhador em auxiliar são grandes, mas podem ser compartilhadas com outras iniciativas da Casa Espírita, como doação de seu tempo para reuniões públicas de divulgação doutrinária, trabalhos de passe, grupos de assistência. Discussão de assuntos gerais, corriqueiros e administrativos da instituição devem ter espaço próprio, não se confundindo com os momentos de assistência amparados pela espiritualidade.

O preparo dos participantes envolve não somente a equipe de trabalhadores da reunião mediúnica, como dirigentes, orientadores, médiuns de comunicação, e de sustentação, como também a assistência. O público que ali assiste também participa da reunião mediúnica e não pode ser leigo e desinformado a respeito da Doutrina Espírita fundamentada na Codificação organizada por Kardec. Por quê? Porque a reunião mediúnica é um momento de partilha de sentimentos, pensamentos, fluidos e energias, um todo em que contribuem os que ali acorrem, desencarnados ou encarnados. Curiosidade, displicência ou ceticismo, por exemplo, são posturas que não contribuem para a evolução de uma reunião mediúnica séria e de objetivos elevados. Lembramos que o Centro Espírita deve propiciar diferentes oportunidades para o público em geral, como palestras públicas, cursos de introdução à Doutrina, grupos de Evangelização Infantil, mocidade, eventos sociais de cunho caritativo, não se pautando única e exclusivamente nos fenômenos medianímicos e nem deles se utilizando como mero chamariz ou espetáculo.

O item disciplina é importantíssimo para os que abraçam funções na reunião mediúnica, devendo se respeitar a frequência nos dias e horários determinados, atendo-se rigorosamente ao período de duração das reuniões, porque a espiritualidade não fica à disposição a todo momento. Tarefas específicas exigem trabalhadores adequadamente preparados, assim ocorre no plano terreno como no espiritual. O campo de proteção invisível também é um trabalho da espiritualidade, sustentado pelos obreiros terrenos, mesmo fora do alcance visual ou de compreensão de muitos, mas é fator de garantia de ambiente propício ao êxito da tarefa.

Some-se a essas instruções o processo de educação do Centro Espírita, que deve promover cursos regulares sobre as obras da Codificação, também grupos de estudos específicos, contemplando além de aspectos mediúnicos, filosóficos e científicos.
Não nos esqueçamos que a reunião mediúnica é um dos muitos trabalhos a serem desenvolvidos pelo Centro Espírita, devendo se somar a ações de caridade, que podem envolver lides específicas, tais como manter um casa de assistência ou asilo, como também efetuar atividades regulares de auxílio ao povo de rua, visitas a favelas, orfanatos, presídios, hospitais.
Para quem tiver interesse em se aprofundar sobre o estudo do tema, recomendo, além da leitura do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, as obras: “Desobsessão”, de André Luiz, psicografia do nosso Chico Xavier; “O Centro Espírita” e “Mediunidade”, de J. Herculano Pires; e “Diretrizes de Segurança”, de Raul Teixeira e Divaldo P.  Franco.

Boa leitura e vibrações de luz para todos.