Precisamos entender a umbanda

(Wikipedia) (Reprodução)

NOTA: Atendendo aos alunos do Curso de Doutrina, trago este texto, trecho de tese de psicologia, abordando a umbanda.

A umbanda, religião nascida em solo brasileiro, é marcada pelo sincretismo oriundo de matrizes religiosas européias (catolicismo popular e kardecismo), africanas (crenças e rituais trazidos pelos escravos da África) e ameríndias (cultos e crenças dos índios nativos do Brasil). Contemporaneamente, podemos constatar a inserção de elementos religiosos orientais em alguns terreiros, como os do hinduismo e budismo, e de movimentos espiritualistas da “nova era”, o que demonstra a fluidez e permeabilidade desta religião em sua constituição e constante reformulação. Tradicionalmente, há a predominância dos três eixos religiosos citados acima, os quais dão a marca característica dos terreiros com os quais se trabalha nesta pesquisa.

Outra importante característica da umbanda é que esta se constitui como uma prática religiosa que estrutura vínculos entre a vida terrena e o “mundo espiritual” . Toda estrutura do culto, que é chamado de “gira” pelos praticantes, os rituais inicíaticos e o desenvolvimento dos médiuns, é organizada em função da crença na possibilidade de atuação das entidades espirituais no plano terreno, a partir da incorporação, destas, pelos médiuns. Com isto acreditam que médiuns e entidades poderão, por um lado fornecer ajuda àqueles que os procuram, e, por outro se beneficiarem desta prática para sua evolução no plano espiritual. Esta crença, a da incessante meta da evolução espiritual, é o eixo fundamental do sentido da vida para esta religião.

Em consonância com estas crenças, os consulentes procuram os guias e entidades devido a problemas cotidianos como: a busca de emprego, a resolução para problemas financeiros, amorosos, doença, ajuda para se livrar ou livrar alguém do uso de drogas, bebida, vão em busca de conselhos, de uma palavra de conforto em momentos de dificuldades, em busca de obter respostas para as crises existenciais sobre a morte, para saber de parentes que já se foram, como e onde estão. Assim alicerçados na esperança e na crença de que os médiuns têm o poder de promover a re-ligação entre o plano terrestre e o espiritual, onde tudo se sabe e onde há sempre a possibilidade de se obter ajuda e repostas.

Para além destes aspectos a umbanda também organiza e reflete relações sociais e as condições de existência de seus praticantes, tornando-se extremamente importante na formação da identidade destes, sendo um fator de preservação cultural e social das suas comunidades.

Fenômenos como a incorporação, o transe, as previsões feitas por médiuns videntes e entidades, os sonhos, os devaneios, visões, práticas como o benzimento, as rezas, as manipulações de objetos da natureza, os trabalhos efetuados para os orixás e entidades, ganham importância fundamental no exercício efetivo da religião e na própria manutenção de sua existência.

Fábio Ricardo Leme

(LEME, F. R. Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista. 164 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. )

OBSERVAÇÕES DESTE BLOG:

1-Cabe reflexão sobre a organização dos trabalhos, os temas de consultas, os eixos religiosos fundadores, a organização dos rituais e a estrutura hierárquica peculiar aos umbandistas.

2-Diferentemente de uma casa espírita assentada na Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, a umbanda adota as “giras” ou rituais, diferenciados quanto a dia, proposta e grupo de entidades atuantes, que seguem categorias próprias entre umbandistas e sem correspondentes no Espiritismo.

3-A estrutura do ritual de umbanda, com seu colorido, danças, comidas e aparatos, refere-se a suas raízes, que guardam histórico de saber popular e de legado de diversas fontes culturais, mas não representa o tipo de atividade mediúnica que se exerce em uma casa espírita kardecista, a qual dispensa paramentos, cantorias, adereços, curimbás, o contexto das “giras”, defumações, oferendas, trabalhos ritualísticos, festas de santos e as chamadas obrigações.

4-E cabe ainda citar:

“Há os que confundem o Espiritismo com práticas de umbanda, quimbanda e candomblé, por total ignorância, pois não tiveram oportunidade de tomar conhecimento da absoluta diferença. Mas, há, também, os que sabem dessa diferença; porém, levados pelo radicalismo e pela intolerância, insistem em pregar a vinculação.” (Alamar Régis Carvalho,  “Sob a Ótica Espírita” apud Carlos Eduardo Parchen, internet: http://www.carlosparchen.net/oquee291005.html)