4º ano – aula 22

CURSO DE DOUTRINA ESPÍRITA

Expiações Coletivas

1-As Expiações Coletivas e a Lei de Destruição

“Com frequência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.

Consequência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que se revestem.(…)

Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte são resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto, lhes constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se.(…)

Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes significam justiça integral que se realiza.

Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.” (Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, “Após a Tempestade”,c.1)

2-Expiações Coletivas e Libertação Terrena

“Sob a crista de serra alcantilada e selvagem, destroços de grande aeronave guardavam consigo as vítimas do acidente. Adivinhava-se que o piloto, certamente enganado pelo traiçoeiro oceano de espessa bruma, não pudera evitar o choque com os picos graníticos que se salientavam na montanha, silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos torreões de fortaleza agressiva. (…)

Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque,  algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos  próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas,  gritavam desesperados. em crises de inconsciência.(…)

Hilário abriu campo livre ao debate, perguntando, respeitoso, por que motivo era rogado o auxílio para a remoção de seis dos desencarnados, quando as vítimas eram catorze.

Druso, no entanto, replicou em tom sereno e firme:

—O socorro no avião sinistrado é distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que se o desastre é o mesmo para todos os que  tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação.

Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito.

—Quantos dias? — clamou meu colega, incapaz de conter a emoção de que se via possuído.

—Depende do grau de animalização dos fluídos que que lhes retém o Espírito à atividade corpórea — respondeu-nos o mentor.

— Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias… Quem sabe?

Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O gênero de vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa morte.

Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos, nelas encontrando combustível para dilatados enganos nas sombras do campo carnal, propriamente considerado. E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos aconselham equilíbrio e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para a exoneração da carne em quaisquer emergências de que não possamos fugir por força dos débitos contraídos perante a Lei. Assim é que «morte física» não é o mesmo que «emancipação espiritual».(…)

—Todavia — reparou Hilário —, não serão atraídos por criaturas desencarnadas, de inteligência perversa, já que não podem ser resguardados de imediato?

Druso estampou significativa expressão facial e ponderou:

—Sim, na hipótese de serem surdos ao bem, é possível se rendam às sugestões do mal, a fim de que, pelos tormentos do mal, se voltem para o bem. No assunto, entretanto, é preciso considerar que a tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida, de dentro para fora. A junção de nossas almas com os poderes infernais verifica-se em relação com o inferno que já trazemos dentro de nós.

A explicação não poderia ser mais clara.” (F.C.Xavier/André Luiz, “Ação e Reação”, c.18)

Leitura Complementar

Os tempos são chegados

Essa expressão é muito antiga. Para dar um exemplo meio recente, na Revista Espírita, traduzida por Julio Abreu Filho para a Editora Cultural Espírita – EDICEL – Ltda., Allan Kardec, no mês de outubro de 1866, página 289, já comentava sobre o assunto. Dizia ele:

“Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem de todos os lados, nos quais grandes acontecimentos vão realizar-se para a regeneração da humanidade. Em que sentido devem ser entendidas essas palavras proféticas?”

“Para os incrédulos não têm qualquer importância. Aos seus olhos não passam de expressão de crença pueril, sem fundamento. Para o maior número de crentes tem algo de místico e sobrenatural que lhes parece o precursor do desmoronamento das leis da natureza. As duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira porque implica a negação da Providência quando os fatos realizados provam a verdade dessas palavras; a segunda porque a expressão não anuncia a perturbação das leis da natureza, mas a sua realização.”

Allan Kardec nos diz ainda que em tudo há harmonia na obra da criação; este é o sentido mais racional.

Certas profecias equivocadamente interpretadas, ou analisadas de propósito para estabelecer confusão e vantagens pessoais, pregam datas, circunstâncias, etc., envolvendo o final dos tempos. Um planeta novo como o nosso ainda em processo de aprimoramento, que deve ser brevemente um planeta de regeneração, não pode acabar melancolicamente, implodindo-se. A mais recente predição é a deste ano de 2012, preconizado como data do fim do mundo! Mais uma tolice!

Acreditamos mesmo que Deus dará algum aviso prévio sobre como se desenrolarão os ciclos planetários? Avisou ele sobre a era glacial e sobre a extinção dos dinossauros? E caso houvesse confidenciado à humanidade as suas intenções, que poderia ela fazer para enfrentar o estabelecido pelas Leis Divinas?

O tempo material é diferente do espiritual, onde não há passado, presente ou futuro, porque tudo é simplesmente AGORA. Somente quando encarnados é que precisamos dos relógios e calendários para administrar nossa vida física. Temos a hora de dormir, de comer e de trabalhar e tudo deve ser feito comedida e equilibradamente.

Já que a Terra progride, como tudo o mais, à medida que ela melhora geologicamente é preciso que sua humanidade se aprimore moral e espiritualmente. Os tempos chegados para que haja uma seleção de seus habitantes, com expurgos e exílios, mas também com a chegada de espíritos mais evoluídos. Esse é o momento que está se instalando há muito tempo. Acontece todos os dias, sem dar-nos conta. Cada ser que desencarna e cada criança que chega ao planeta, acontecimentos naturais do cotidiano, são parte desse processo que identifica que o avanço dos tempos que são chegados.

Ninguém que seja equilibrado pode admitir que uma mudança desta grandeza possa operar-se de imediato. Como numa festa de ano novo em que abominamos o ano velho em 31 de dezembro para acreditar que tudo será diferente no dia 1o de janeiro. Mais uma das tantas ilusões que enganam os homens místicos e imprevidentes e beneficiam os oportunistas. Muita gente enriquece com tais balelas que chamam de profecias, simpatias, talismãs e semelhantes.

Não se negue que o mundo caminha acelerado na direção dos tempos chegados, apesar de fazê-lo quase que somente na área tecnológica. Quando a moral for do tamanho da ciência, o homem estará equilibrado e com suas duas asas completas, pronto para voar.

Com a chegada do Espiritismo, essa orientação deixou de ser restrita para abarcar toda a humanidade. Não muda apenas um país, um povo, uma raça, porque é um movimento universal que se opera no sentido do progresso moral. A humanidade, diz Allan Kardec, é um ser coletivo no qual se operam as mesmas revoluções morais que em cada indivíduo. As partes compõem o todo.

Estamos vivendo um dos muitos momentos de transformação moral dos que sempre chegam a humanidade quando se faz necessário o seu crescimento. Não serve para os dias atuais a moral deturpada dos homens do passado. Nestes novos tempos todos os valores precisam ser revistos enérgica e corajosamente e só uma profunda reforma do homem poderá qualificá-lo a viver melhor nestes difíceis tempos do Apocalipse.

Sem perceber, os homens foram, ao longo do tempo, criando armas de autodestruição. E não são as bombas nucleares que nos causam mal; nem os tsunamis. São as armas de calibre moral. O culto ao corpo, a vaidade, os gastos descontrolados que levam o homem ao desequilíbrio e à desonestidade, à prepotência e à busca de privilégios sem que cada um se dê conta que nada tem de especial porque para Deus somos todos iguais. Sem mencionar a poluição química e a consequente destruição física.

Quanto mais o ser humano humilha o semelhante mais ele se enrola na corda da própria forca. Mais tarde implorará, como o Lázaro da parábola, para que o Senhor alerte seus descendentes para que não cometam os mesmo erros dele.

A quem mais é dado mais é pedido. Espíritas! Já que temos o privilégio do conhecimento ainda não alcançado pela maioria, façamos dele nosso roteiro de libertação e progresso. Já não podemos mais exigir privilégios materiais ou espirituais, recebendo na Terra as glórias que nos farão falta no céu. Não podemos mais ser prepotentes nem menosprezar o que sabe menos como se fôssemos pós-graduados em religião e moral. Não sejamos os fariseus do mundo moderno porque em vez de sermos chamados discípulos do Senhor não passaremos também de túmulos caiados.

Os tempos realmente são chegados; há muito tempo. Atualmente apenas se aceleraram. Importante, então, avaliar qual é o nosso comportamento para aproveitar as oportunidades desta transição da Terra na sua caminhada de transformação planetária de mundo expiatório para mundo de regeneração. Reencarnaremos por aqui quando o planeta já estará renovado ou seremos exilados repetindo-se o episódio de Capela? A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Octávio Caúmo Serrano

(Revista Internacional de Espiritismo, Matão: Clarim, Junho/2012)

Bibliografia: Allan Kardec, “Obras Póstumas”, Primeira Parte, Questões e Problemas; “O Livro dos Espíritos”, questões nºs. 165 e 548; Francisco Cândido Xavier, médium, André Luiz, Espírito, “Ação e Reação”, c.18; Divaldo P.Franco, médium, Joanna de Ângelis, Espírito, “Após a Tempestade”, c.1.